A Neurose da Religião

A NEUROSE DA RELIGIÃO - ANOTAÇÕES

O propósito da Bíblia não é só transmitir a mensagem, mas também refletir uma imagem. As imagens da Bíblia são apresentadas primeiramente por intermédio da vida de seus personagens. Essas imagens não só ficam penduradas na parede como um retrato mostrando com quem devo me parecer, mas também servem como um espelho para me mostrar com quem realmente me pareço. Se não me vejo retratado na Bíblia, então, para mim, seu valor diminui tremendamente ou se perde totalmente.

Enquanto leio a Bíblia, devo comparar e contrastar a mim mesmo com os vários personagens ali apresentados. Em algumas ocasiões, posso me ver em um discípulo, em um seguidor de Jesus obediente ou desobediente, em um cristão comum, em um defensor da fé ou em um pecador arrependido, como Davi. Alguns personagens bíblicos, contudo, são caricaturados de forma tão mordaz que não consigo me ver como um deles - é o caso dos fariseus.

Surpreendentemente, este grupo de pessoas mencionado na narrativa bíblica tão frequentemente quanto os discípulos me motivou esta noite. Eles jamais foram mencionados no Antigo Testamento. Porém, nos evangelhos, eles estão em toda parte. Por alguma razão, Deus colocou esses vilões bem próximos do centro da mensagem do evangelho. Quem foram os fariseus? Qual a origem deles? Como eram eles? Em que eles acreditavam? Como se comportavam?

A caricatura judia dos fariseus é muito puritana; a cristã, muito diabólica. Um vê a bondade sem as falhas; e o outro, as falhas sem a bondade. O resultado final é o mesmo para essas duas caricaturas - ambas não passam de ilusão! As duas impedem que sirvam de espelho para a sua alma. As duas nos distanciam de Deus, em vez de nos aproximar dele.

A caricatura do cristão moderno - que domina a cultura popular - é também um ponto em questão: Somos muitas vezes retratados como um grupo monolítico de fanáticos de direita que buscam, até mesmo por imposição, fazer prevalecer, na cultura, nossa vontade e nossos valores. Somos popularmente classificados como intolerantes e mercadores do ódio, tacanhos e ignorantes, a direita radical e o tipo errado de próximo.

As seguintes palavras foram mencionadas numa pesquisa que pediu as pessoas que sugerissem sinônimos para farisaísmo: hipócritas; contra Jesus; consideram-se extremamente justos; orgulhosos; legalistas; viviam procurando defeitos e fazendo críticas. Outros responderam: “O tipo de pessoa que sempre acha que está certa; e o outro totalmente errado”; “Conheciam a Lei, mas não a praticavam”; “Rejeitavam a todos”; “Exigentes”; e: “Os que mataram Cristo”.

A maioria dos cristãos, indubitavelmente, tem consciência dos nomes que Jesus e João Batista usavam para os fariseus, inclusive: “cego” (Mt 23.16,17,19,24,26); “serpentes” (Mt 23.33); “filho do inferno” (Mt 23.15); e, isso mesmo, “hipócritas” (Mt 6.2,5,16; 15.7; 22.18; 23.13-15,23,25,27-29; Lc 13.15). Embora os insultos sejam descaradamente bíblicos, muitos deles ocorrem em um capítulo (Mt 23), em que Jesus também repreende os líderes religiosos, chamando-os de “insensatos” (v. 17) e “sepulcros caiados” (v. 27). Talvez por causa da agudeza da crítica de Jesus em Mateus 23, muitos se esquecem de outras afirmações, implicações e exemplos positivos do Novo Testamento.

Os fariseus se tornaram proeminentes durante o período dos macabeus (c. 160-60 a.C.), e os dois principais rabinos deles, Hillel e Shammai, apareceram durante as décadas finais antes do nascimento de Cristo. Suas respectivas escolas dominaram a cena religiosa em Israel pelos dois séculos seguintes. Shammai era conservador; e Hillel, moderado.

Na época de Jesus, os fariseus já haviam se tornado os líderes religiosos de Israel. Eles controlavam a sinagoga e tinham representantes no sinédrio. Tinham como aliados um grupo cada vez maior de estudiosos da Bíblia, homens zelosos pela Lei de Deus. Embora os fariseus fossem estudiosos leigos das Escrituras, eles, por fim, superaram os sacerdotes como intérpretes autorizados da Lei.

Ao examinar as raízes históricas dos fariseus, é possível perceber semelhan­ças surpreendentes com a Reforma Protestante e também algumas similaridades com os movimentos evangélicos fundamentalistas de hoje. À medida que a cultura clerical e religiosa do judaísmo se aproximou cada vez mais do secularismo, um grupo de leigos piedosos (pietistas) levantou-se para reclamar a identidade dos judeus como o povo da Palavra de Deus. Eles estavam determinados a se “voltar para a Bíblia”. Esses puristas em relação às Escrituras foram os maiores responsáveis pelo estabelecimento de um novo centro de reunião para a sua religião, as “casas de estudo”, e nós as conhecemos pelo nome de sinagogas. Ali, os judeus podiam, de forma meticulosa, estudar a Bíblia e aplicá-la em todos os aspectos da vida. Eles eram os principais proponentes de uma sólida educação fundamentada na Bíblia (pioneiros de nossa ênfase na educação cristã). Os fariseus afirmaram a responsabilidade de todo judeu, não apenas dos sacerdotes e dos escribas, de conhecer e praticar a Lei. Eles foram, por assim dizer, os primeiros a afirmar a doutrina do “sacerdócio para todos os crentes”. Eles também protestaram (“protestantes”) contra a corrupção da religião e resistiram ao “humanismo” de sua época, o helenismo.

VIRTUDES DOS FARISEUS:

A doutrina correta: Jesus afirmou a ortodoxia teológica básica dos fariseus quando disse: “Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observar (Mt 23.2,3a; grifos do autor).

A interpretação correta da Bíblia: Jesus concordou com a compreensão dos fariseus em relação à importância central do Shema e o mandamento para amar ao próximo (Mt 22.34-40; Lc 10.25-28). É interessante observar que a atitude dos fariseus em relação às Escrituras se equipara às dos conservadores de hoje. Nós, como eles, temos as Escrituras em alta consideração e nos orgulhamos de nossa fidelidade à Palavra. Em todas as esferas da igreja, das crianças até os cidadãos seniores, encorajamos e honramos o estudo da Bíblia.

Estilo de vida justo: “Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 3.20). Qualquer pessoa de uma audiência judia do primeiro século que ouvisse Jesus proferir essas palavras se sentiria incapaz de alcançar tal padrão, pois os fariseus eram ícones culturais da justiça.

Embora a sinagoga não tenha suplantado o templo até ele ser destruído, em 70 d.C., ela era basicamente o local de encontro daqueles que se interessavam mais pela fé bíblica que pela ritualística.

Quem eram os fariseus? Isso agora deve ficar claro: os fariseus eram pessoas boas, como nós. Eles surgiram em reação ao helenismo, o humanismo secular daquela época. Em resposta às pressões da assimilação cultural, eles se tornaram “os separados”. Resistindo à corrente liberal dos sacerdotes e levitas, eles insistiram na teologia ortodoxa. Em vez de entrar de cabeça na concessão cultural e na religião profissional, eles organizaram um movimento de base, liderado por leigos, para o retorno do judaísmo aos “valores tradicionais”. Em resposta ao foco nos rituais do templo realizados pelos líderes religiosos oficiais, eles enfatizaram o estudo e a aplicação das Escrituras. Em resposta ao paganismo que se introduzia sutilmente no meio deles, eles aumentaram a vigilância para ser puros.

Jesus tratou os fariseus de forma muito “rude” não porque eles estavam longe da verdade, mas porque eles estavam próximo demais.

Escondidos nos textos dos evangelhos há, pelo menos, três fariseus que tiveram a gentileza e coragem de convidar Jesus para jantar (Lc 7.36-50; 11.37-53; 14.1-14). A hospitalidade naquela cultura era um passo relevante. Ela implicava o oferecimento de aceitação e a extensão de amizade.

Em Lucas 5.17-26 (cf. Mc 2.1-12; Mt 9.1-8), lemos que alguns fariseus que, por curiosidade, vieram ouvir Jesus e questionaram as afirmações sobre o perdão por causa daquilo em que sinceramente acreditavam. Entretanto, as Escrituras registram que eles saíram dali glorificando a Deus e dizendo: “Hoje vimos coisas extraordinárias!” (v. 26). Alguns fariseus foram genuinamente tocados pela vida e pelo ministério de Jesus. Eles tinham sensibilidade espiritual e desejo de aprender.

Dois nomes muito conhecidos nos evangelhos são de fariseus: Nicodemos e José de Arimatéia. O evangelho de João identifica Nicodemos como um fariseu que ocupava algum cargo muito alto, talvez de liderança (Jo 3.1,10). Indubitavelmente, ele era um homem de poder e influência. Nicodemos parecia alguém que genuinamente buscava a verdade (Jo 3.1-4). Por fim, ele falou a favor de Jesus e foi criticado por isso (Jo 7.45-52). Depois da crucificação, Nicodemos pediu o corpo do Senhor e gastou uma quantia considerável de dinheiro para comprar especiarias para o sepultamento de Jesus (Jo 19.39).

Entremeado no texto do Evangelho de João, há outra referência a fariseus que ficaram do lado de Jesus. Lemos no capítulo 9 que a cura no sábado de um homem que nasceu cego não só separou o homem de seus pais e da sinagoga, mas também dividiu os fariseus. O versículo 16 registra: Alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.

O legalismo foi um dos inimigos mais prevalentes do cristianismo autêntico nesses últimos 1.900 anos. Os fariseus servem de constante lembrete espiritual de que a religião pode ser uma falsificação e, inevitavelmente, o será. Da época de Jesus em diante, as perversões sutis do farisaísmo invadiram de forma persistente a igreja. Tradições, separatismo, o considerar-se justo e o cerco ao desempenho são algumas de suas manifestações na igreja hoje.

Quando a correção leva ao erro

a moralidade nos cega. Os fariseus, em geral, por serem boas pessoas, são muito estimados na sociedade (Lc 16.15). Quando nos comparamos de forma favorável a nossos iguais, achamos que estamos nos saindo bem.

a religião nos cega. O fariseu a quem Jesus se dirigiu em Lucas 18.11,12 considerava-se justo porque era religioso; ou seja, ele fazia coisas religiosas e evitava comportamentos irreligiosos. Contudo, sua religião, embora fosse possível de produzir bom comportamento externo, não conseguia transformar seu coração.

o conhecimento nos cega. O conhecimento bíblico pode mascarar a consciência de nossa depravação. Um dos perigos de ter grande habilidade com a Bíblia é achar que, porque conhecemos a Palavra de Deus, conhecemos o Senhor.

A moralidade, a religião e o conhecimento conspiram para fazer que não vejamos o fato de que nos consideramos justos. Portanto, como podemos ver?

Sinal de alerta número 1: Uma visão desdenhosa dos outros

Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano, ou coletor de impostos, para algumas pessoas que se consideravam extremamente justas e olhavam os outros com desdém (Lc 18.9).

Sinal de alerta número 2: Um senso superficial de perdão

Certo dia, Jesus aceitou um convite para jantar na casa de um fariseu (Lc 7.36-50). Uma pecadora local, que não fora convidada, compareceu e causou escândalo ao lavar e ungir os pés de Jesus. O anfitrião, perplexo com o desenrolar dos fatos, murmurou entre dentes que Jesus não poderia ser um homem santo ou conheceria a magnitude do pecado daquela mulher. Jesus, por conhecer o pensamento dos fariseus, contou uma história sobre um credor e dois devedores. Como nenhum dos devedores podia pagar a dívida, o credor perdoou a dívida de ambos, uma enorme e a outra pequena. A seguir Jesus perguntou: “Qual deles, pois, o amará mais?”

“Suponho que é aquele a quem mais perdoou”, respondeu o fariseu Simão. Jesus elogiou a compreensão de perdão que Simão tinha, mas, logo em seguida, expôs sua cegueira quanto à aplicação pessoal desse ponto. Suas palavras finais para Simão foram estas: “[...] mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (v. 47). Há uma conexão íntima entre nosso senso pessoal do perdão de Deus e a profundidade de nosso amor por ele.

Nossa bondade, riqueza, habilidade para controlar muitas facetas de nossa vida, propensão para racionalizar, capacidade de transferir a culpa e de nos justificar, foco em alguns pecados em particular, e não no pecado em si - tudo isso contribui para uma consciência superficial de nossa necessidade crítica do perdão de Deus.

Sinal de alerta número 3: Um senso equivocado de graça e justiça

Graça e a justiça não se misturam. A graça, por definição, é injusta. Ela estende favor para pessoas que não merecem. Observe bem o que aconteceu na alma do filho bonzinho, o que se sentia extremamente justo, quando o filho pródigo, o mais moço, volta para casa, e o pai idoso, graciosamente, dá uma festa (Lc 15.11-32). Ele ficou ressentido. Todo o veneno guardado a sete chaves em sua alma foi lançado sobre o pai. O filho mais velho não conseguiu se alegrar. A graça de seu pai para com seu irmão que se desviara trouxe à tona o veneno do filho mais velho, pois este se sentia extremamente justo.

Sinal de alerta número 4: Uma visão doentia de fracasso

Na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-46), Jesus deixa implícito a intenção dos fariseus de tramar sua execução. Ele descreve os fariseus como aqueles que planejaram matar o filho do dono da vinha e que rejeitaram a pedra angular. A parábola era um severo aviso cuja intenção era produzir arrependimento. Mas os fariseus, em vez de entender a admoestação como um aviso para se voltarem para Deus, se voltaram contra o Senhor e tentaram prendê-lo (v. 45,46). A exposição do coração deles não produziu arrependimento, mas revanche; não clamores de arrependimento, mas clamores para matá-lo.

O que fazemos quando somos expostos, quando falhamos ou somos descobertos?

Desprezo, perdão, lealdade, falha. Cada um deles é um sinal revelador de que nos sentimos extremamente justos, um sinal de alerta no painel de nossa vida. Cada um deles nos ajuda a ver o senso de justiça pessoal que existe em nosso íntimo.

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Como os fariseus surgiram

Para compreender os fariseus é preciso conhecer os movimentos políticos e culturais que deram origem a eles e os alimentaram. Os fariseus emergiram como um grupo reconhecido durante o período chamado de intertestamentário, o período entre o fim do Antigo Testamento e o começo do Novo Testamento. Durante esses mais de 400 “anos de silêncio”, entre Malaquias e Cristo, Israel foi predominantemente governada por vários poderes estrangeiros, exatamente como Daniel profetizara (Dn 7). Embora muitos do povo judeu tenham sido assimilados pelas culturas que os rodeavam, alguns, como Daniel e outros jovens hebreus (Dn 1; 3), recusaram-se a comprometer sua identidade e estilo de vida. Esses “puristas” agarraram-se com tenacidade às Escrituras, ao passo que outros, inclusive membros do clero (sacerdotes e levitas), fizeram concessões à cultura.

O precursor religioso e filosófico dos fariseus é Esdras, cuja intensa devoção à Lei (Ed 7.10) estabeleceu o padrão para os escribas que vieram depois dele. Esdras, de linhagem sacerdotal (Ed 7.1-5), era um homem piedoso com um intenso desejo de transmitir e de aplicar a Palavra de Deus às pessoas comuns em cenários de mudança cultural. De acordo com a tradição, Esdras também foi o fundador da sinagoga. Portanto, ele definiu o trabalho, a devoção e o ambiente que, posteriormente, foi copiado pelos fariseus.

HELENISMO, O HUMANISMO DAQUELA ÉPOCA

Um dos principais expoentes no processo de “criar” a necessidade para o surgimento dos fariseus foi Alexandre, o Grande. Este construiu seu impé­rio, que incluía a Palestina, de 336 a 323 a.C. Embora Alexandre seja mais bem conhecido por suas conquistas militares, seu legado mais duradouro em Israel foi cultural. Quando os gregos conquistaram os persas, que dominavam a Palestina, Alexandre aprovou políticas que eram aceitáveis em Israel, particularmente em meio à elite governante e à religiosa. Ele permitiu que os judeus tivessem alguma autonomia e estimulou a prosperidade econômica, o que os deixou propensos a aceitar outras inovações culturais. Alexandre e seus sucessores encorajaram a adoção de vários aspectos da cultura grega: a literatura, as instituições, o entretenimento, as ideias, os nomes, as normas, as moedas e a língua; e tudo isso ajudou a corroer ainda mais a identidade única dos judeus. O helenismo, o humanismo daquela época, era uma tentação tão forte quanto a idolatria o fora anteriormente na história do povo judeu. Alexandre promoveu a cultura grega, e isso estabeleceu o cenário para uma subsequente resistência realizada pelos piedosos.

Depois do reinado breve de Alexandre, seu império foi dividido. Israel foi governado primeiro pelos Ptolemeus (301-198 a.C.). Israel, sob o comando desses governantes egípcios, desfrutou de paz, prosperidade e relativa autonomia religiosa. O destino dos judeus, no entanto, sofreu um revés quando, em 203 a.C., Antíoco III (o Grande), um governante sírio, conquistou Jerusalém. Assim começou mais de um século de governo selêucida na Palestina. Os selêucidas tinham muito menos disposição de conceder autonomia aos judeus e muito mais intenção de promover a cultura grega, o helenismo. Foi durante esse período que os fariseus quase certamente foram organizados em um grupo identificável.

UM CONFLITO DE CULTURAS

Durante o reinado do notório Antíoco IV, chamado de Epífanes (175-164 a.C.), os eventos da Palestina pioraram, e novas forças estimularam a emergência dos fariseus. O resultado foi o surgimento de um conflito de culturas entre os judeus ortodoxos e os helenistas. A cultura de direita resistia ao helenismo; e a de esquerda defendia a aculturação. O conflito chegou a seu ápice com a seleção do sumo sacerdote. Os ortodoxos viam o sacerdócio como uma posição espiritual conseguida com o chamado divino. Outros eram coniventes para tornar o sumo sacerdócio uma posiçáo política oferecida para o concorrente que apresentasse a melhor proposta. Antíoco, que queria transformar Jerusalém em uma cidade grega modelo, concordou que o posto deveria ser político. Ele ofereceu a posiçáo para aqueles que, conforme achava, melhor apoiavam seus objetivos. Alguns judeus rebelaram-se, e Antíoco, pressionado por Roma, decidiu tomar uma atitude mais decisiva e brutal contra os ortodoxos.

As ações que Antíoco inaugurou em 167 a.C. buscavam remover todos os traços da fé judia ortodoxa. Ele tentou ligar Júpiter, dos gregos, com Deus. Ofereceu um suíno em sacrifício no altar, ato comumente mencionado como “[...] abominação da desolação” (Mt 24.15; Mc 13.14). Ele proibiu os judeus,

sob pena de morte, de praticar a circuncisão, de guardar o sábado ou de celebrar as festas do calendário judeu. Ordenou que cópias das Escrituras fossem destruídas. As leis eram impostas com extrema crueldade. Fleazar, um escriba idoso, foi açoitado até a morte porque se recusou a comer carne de suíno.

O comportamento abominável de Antíoco IV, Epífanes, foi a gota d’água que resultou na revolta dos macabeus126 contra o poder dos selêucidas na Palestina. Quando a revolta acabou, os macabeus, sob a liderança de Judas Macabeu, arrancaram o controle da Palestina das mãos dos sírios e o entregaram nas mãos de judeus, pela primeira vez, em 400 anos. Em dezembro de 164 a.G , o templo de Jerusalém foi dedicado de novo a Deus, e deu-se início a uma celebração de oito dias, a festa da dedicação, também conhecida como Hanuca ou Festa das Luzes; essa celebração era uma recordação permanente em meio aos judeus. Assim, em Israel, embora o conflito externo diminuísse, o conflito interno entre ortodoxos/conservadores e helenistas/liberais continuava. Esse conflito ocasionalmente resultava em derramamento de sangue.

A ENTRADA EM CENA DOS FARISEUS E DOS SADUCEUS

Nesse cenário, os fariseus tornaram-se proeminentes. Os macabeus, por fim, fundaram uma dinastia política,127 e durante o reinado de João Hircano I (134-104 a.C.), Josefo citou os fariseus como um partido oficial.128 Ele observou que os fariseus conservadores tiveram um desacordo com Hircano porque resistiram à reivindicação do rei de também ser sacerdote. Portanto, Hircano aliou-se aos saduceus, pois eles eram mais liberais. Isso resultou no domínio dos saduceus na elite governamental e no domínio dos fariseus sobre as massas.

Portanto, cerca de 150 anos antes do ministério público de Jesus Cristo, surgiram os dois grandes partidos do judaísmo sobre os quais lemos no Novo Testamento, os fariseus e os saduceus. Os dois eram proeminentes na época de Cristo, e o farisaísmo continua até hoje.

Os fariseus representavam o partido que continuou com a ideologia do movimento patriótico dos macabeus, os primeiros a tomar uma posição em defesa da Lei e da integridade religiosa do judaísmo. Os saduceus tornaramse o partido dos sacerdotes e levitas, e os levitas com inclinações helenistas gravitavam em volta deles. Os saduceus enfatizavam a centralidade do templo e dos rituais. A base de operações dos fariseus era a sinagoga.

O destino dos fariseus e dos saduceus no século anterior ao nascimento de Cristo mudou com a mudança dos ocupantes do poder político de Israel. Alexandre Janeu (103-76 a.C.), o rei guerreiro asmoniano, iniciou a política de expansão territorial (utilizando muitos mercenários estrangeiros) e demonstrou pouco respeito por suas responsabilidades sacerdotais. Portanto, ele alienou ainda mais os fariseus e começou a desprezá-los. Alexandre, abertamente, desafiou os escrúpulos dos fariseus e, até mesmo, chegou a crucificar 800 fariseus enquanto festejava com suas concubinas. Josefo, entretanto, relata que, de forma surpreendente, Alexandre Janeu, em seu leito de morte, instruiu sua esposa a distanciar-se dos saduceus e a reinar com a ajuda dos fariseus. Salomé Alexandra (76-67 a.C.) seguiu o conselho de seu marido e aproximou-se dos fariseus, evitando mais disputas civis. Ela iniciou o que passou a ser conhecido como “A era de ouro do farisaísmo”.

Durante esse período, os fariseus exerceram considerável poder político e influência social e causaram grande impacto religioso. Josefo deixou implícito que os fariseus possuíam a autoridade real, ao passo que Alexandra ficava apenas com os fardos.130 Na esfera judicial, eles insistiram que aqueles que perpetraram as crucificações sob o domínio de Alexandre deveriam ser executados. Na esfera social, eles enfatizaram a educação, fundamentada nas Escrituras. Na esfera religiosa, eles exerceram sua influência nas sinagogas espalhadas por toda a nação. Embora os fariseus fossem estudiosos leigos das Escrituras, eles, por fim, superaram os sacerdotes como intérpretes autorizados da Lei. Os fariseus, verdadeiramente, passaram a dominar a temperatura da vida religiosa da nação.

TENSÕES ENTRE OS FARISEUS E OS SADUCEUS

As tensões entre os fariseus e os saduceus continuaram. Os fariseus fomentavam o ressentimento por aqueles que foram mortos por Alexandre Janeu, e os saduceus tinham muitas suspeitas quanto ao fato de os fariseus conseguirem ganhar o poder político. Ao longo desse período, os dois partidos competiam para ganhar o controle do sinédrio. A contínua “guerra cultural” entre os dois principais partidos comprometeram a nação e contribuíram para a tomada de poder pelos romanos, liderados por Pompeu, em 63 a.C.

As décadas finais antes do nascimento de Cristo testemunharam o surgimento dos dois maiores rabinos, Shammai e Hillel. Shammai era conservador. Suas regras eram estritas e, algumas vezes, severas. Quanto à questão do divórcio (Mt 19.9), Jesus parecia apoiar a interpretação sem adaptações de Shammai. Hillel era moderado. Era conhecido por sua compaixão e buscava reconciliar a lei das Escrituras com as situações reais da vida. Alguns estudiosos chegaram até mesmo a dizer que Jesus era discípulo de Hillel.

When the United States was founded in 1776, it thought of itself as a Christian nation, by which it meant a Protestant nation. The constitutional ban on the establishment of religion probably meant that no one Protestant denomination would have official standing over others, unlike the case in many European countries. There was a substantial Roman Catholic population in several of the states, and there was never a question of their being fully accepted as American citizens. One of my favorite factoids of American history is that at the celebration of American independence in Philadelphia in July 1776, there was a massive outdoor party with food and drink, at which there was a section of kosher food so that Jewish citizens would feel fully recognized as members of the new nation.

This bit of theological self-understanding worked well enough until the 1840s, when famine in Ireland and violent clashes among the several principalities of Italy as they moved toward unification sent an influx of Roman Catholics to these shores. Numerically, they did not change the demographics of the United States, and politically they had minimal impact, but psychologically they shook the foundations of our self-image as a tolerant Protestant nation. There were anti-Catholic riots, anti-Catholic discrimination in hiring (“No Irish Need Apply”), and, in rare instances, the setting on fire of Catholic convents. It would take decades for Catholics to achieve full acceptance, and even then the level of acceptance at the margins was incomplete. I was living in Lawton, Oklahoma, serving as a military chaplain at the local army post in 1960, when John F. Kennedy, a Roman Catholic, was elected president, and I remember the nervous jokes my neighbors were making, seeing Kennedy’s election as the opening wedge of an effort to have the pope take control of American life.

But the conflict settled down, Protestant America came to understand that their Catholic neighbors were really a lot like them (it often boiled down to a question of which church you stayed home from on Sunday morning), and America came to see itself as a Christian nation, embracing its Protestant and Catholic citizens alike and writing Christmas and Easter observance into the calendar.

This self-image was next challenged in the years following the assassination of the czar of Russia in 1881. Riots and anti-Semitic pogroms throughout the early years of the twentieth century drove large numbers of Russian, Polish, and Lithuanian Jews (my parents and my wife’s parents among them) to board ships for a new life in America. Again, these ethnic newcomers encountered obstacles to full acceptance.

 If not as violent as the anti-Catholicism of the mid-nineteenth century, the discrimination was at least as intense and thorough, magnified by the fact that Eastern European Jews, unlike Irish immigrants, looked and dressed differently than their American neighbors and often did not speak English. There was discrimination in housing and discrimination in employment (the latter of which drove Jewish immigrants into lines of work where they could be their own bosses, leading to impressive success in such fields as retailing and the movie industry). There were limits to further immigration during the Depression, when there weren’t enough jobs for people who were already here. The discrimination did not ease until after World War II, when young men from the farms and small towns of the Midwest served in the armed forces alongside young Jewish men from Brooklyn (every military unit in a World War II movie seemed to have a Jew from Brooklyn in it) and found that they were like everyone else. At that point, America’s self-definition changed and we began to speak of ourselves as a “Judeo-Christian nation.” There were prominent Jews in public office, on the Supreme Court, and in the upper echelons of higher education. Then, as the twentieth century gave way to the twenty-first, we became aware of a sizable and growing Muslim population in our midst, increasingly assertive when it came to their religious needs (professional athletes playing while fasting during Ramadan) and political preferences (community positions on issues of Middle East politics have received particular attention). The self-definition of the United States as a Judeo-Christian nation left them out, and slowly but steadily, mainstream culture has tended toward greater inclusivity. First on the part of public spokesmen and then filtering down to the average person, American Christians and Jews are gradually learning to speak of themselves as “heirs of the Abrahamic tradition,” since Christians, Jews, and Muslims all look back to Abraham as their spiritual founder.

Bibliografia consultada:

A Neurose Da Religiao - Tom Hovestol

Nine Essential Things I've Learned About Life - Harold Kushner