A Neurose da Religião
A NEUROSE DA RELIGIÃO - ANOTAÇÕES
O propósito da Bíblia não é só
transmitir a mensagem, mas também refletir uma imagem. As imagens da Bíblia são
apresentadas primeiramente por intermédio da vida de seus personagens. Essas
imagens não só ficam penduradas na parede como um retrato mostrando com quem
devo me parecer, mas também servem como um espelho para me mostrar com quem
realmente me pareço. Se não me vejo
retratado na Bíblia, então, para mim, seu valor diminui tremendamente ou se perde
totalmente.
Enquanto leio a Bíblia, devo
comparar e contrastar a mim mesmo com os vários personagens ali apresentados.
Em algumas ocasiões, posso me ver em um discípulo, em um seguidor de Jesus
obediente ou desobediente, em um cristão comum, em um defensor da fé ou em um
pecador arrependido, como Davi. Alguns personagens bíblicos, contudo, são
caricaturados de forma tão mordaz que não consigo me ver como um deles - é o
caso dos fariseus.
Surpreendentemente, este grupo de
pessoas mencionado na narrativa bíblica tão frequentemente quanto os discípulos
me motivou esta noite. Eles jamais foram mencionados no Antigo Testamento.
Porém, nos evangelhos, eles estão em toda parte. Por
alguma razão, Deus colocou esses vilões bem próximos do centro da mensagem do
evangelho. Quem foram os
fariseus? Qual a origem deles? Como eram eles? Em que eles acreditavam? Como se
comportavam?
A
caricatura judia dos fariseus é muito puritana; a cristã, muito diabólica. Um
vê a bondade sem as falhas; e o outro, as falhas sem a bondade. O resultado
final é o mesmo para essas duas caricaturas - ambas não passam de ilusão! As
duas impedem que sirvam de espelho para a sua alma. As duas nos distanciam de
Deus, em vez de nos aproximar dele.
A caricatura
do cristão moderno - que domina a cultura popular - é também um ponto em questão:
Somos muitas vezes retratados como um grupo monolítico de fanáticos de direita
que buscam, até mesmo por imposição, fazer prevalecer, na cultura, nossa
vontade e nossos valores. Somos popularmente classificados como intolerantes e
mercadores do ódio, tacanhos e ignorantes, a direita radical e o tipo errado de
próximo.
As
seguintes palavras foram mencionadas numa pesquisa que pediu as pessoas que
sugerissem sinônimos para farisaísmo: hipócritas; contra Jesus; consideram-se
extremamente justos; orgulhosos; legalistas; viviam procurando defeitos e
fazendo críticas. Outros responderam: “O tipo de pessoa que sempre acha que
está certa; e o outro totalmente errado”; “Conheciam a Lei, mas não a
praticavam”; “Rejeitavam a todos”; “Exigentes”; e: “Os que mataram Cristo”.
A
maioria dos cristãos, indubitavelmente, tem consciência dos nomes que Jesus e
João Batista usavam para os fariseus, inclusive: “cego” (Mt 23.16,17,19,24,26);
“serpentes” (Mt 23.33); “filho do inferno” (Mt 23.15); e, isso mesmo,
“hipócritas” (Mt 6.2,5,16; 15.7; 22.18; 23.13-15,23,25,27-29; Lc 13.15). Embora
os insultos sejam descaradamente bíblicos, muitos deles ocorrem em um capítulo
(Mt 23), em que Jesus também repreende os líderes religiosos, chamando-os de “insensatos”
(v. 17) e “sepulcros caiados” (v. 27). Talvez por causa da agudeza da crítica
de Jesus em Mateus 23, muitos se esquecem de outras afirmações, implicações e
exemplos positivos do Novo Testamento.
Os
fariseus se tornaram proeminentes durante o período dos macabeus (c. 160-60
a.C.), e os dois principais rabinos deles, Hillel e Shammai, apareceram durante
as décadas finais antes do nascimento de Cristo. Suas respectivas escolas
dominaram a cena religiosa em Israel pelos dois séculos seguintes. Shammai era
conservador; e Hillel, moderado.
Na
época de Jesus, os fariseus já haviam se tornado os líderes religiosos de
Israel. Eles controlavam a sinagoga e tinham representantes no sinédrio. Tinham
como aliados um grupo cada vez maior de estudiosos da Bíblia, homens zelosos
pela Lei de Deus. Embora os fariseus
fossem estudiosos leigos das Escrituras, eles, por fim, superaram os sacerdotes
como intérpretes autorizados da Lei.
Ao
examinar as raízes históricas dos fariseus, é possível perceber semelhanÂças
surpreendentes com a Reforma Protestante e também algumas similaridades com os
movimentos evangélicos fundamentalistas de hoje. À medida que a cultura
clerical e religiosa do judaísmo se aproximou cada vez mais do secularismo, um
grupo de leigos piedosos (pietistas) levantou-se para reclamar a identidade dos
judeus como o povo da Palavra de Deus. Eles estavam determinados a se “voltar
para a Bíblia”. Esses puristas em relação às Escrituras foram os maiores
responsáveis pelo estabelecimento de um novo centro de reunião para a sua
religião, as “casas de estudo”, e nós as conhecemos pelo nome de sinagogas.
Ali, os judeus podiam, de forma meticulosa, estudar a Bíblia e aplicá-la em
todos os aspectos da vida. Eles eram os principais proponentes de uma sólida
educação fundamentada na Bíblia (pioneiros de nossa ênfase na educação cristã).
Os fariseus afirmaram a responsabilidade de todo judeu, não apenas dos
sacerdotes e dos escribas, de conhecer e praticar a Lei. Eles foram, por assim
dizer, os primeiros a afirmar a doutrina do “sacerdócio para todos os crentes”.
Eles também protestaram (“protestantes”) contra a corrupção da religião e
resistiram ao “humanismo” de sua época, o helenismo.
VIRTUDES
DOS FARISEUS:
A doutrina correta: Jesus afirmou a ortodoxia teológica básica dos fariseus
quando disse: “Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus.
Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observar (Mt 23.2,3a;
grifos do autor).
A interpretação correta da Bíblia: Jesus
concordou com a compreensão dos fariseus em relação à importância central do Shema
e o mandamento para amar ao próximo (Mt 22.34-40; Lc 10.25-28). É
interessante observar que a atitude dos fariseus em relação às Escrituras se
equipara às dos conservadores de hoje. Nós, como eles, temos as Escrituras em
alta consideração e nos orgulhamos de nossa fidelidade à Palavra. Em todas as
esferas da igreja, das crianças até os cidadãos seniores, encorajamos e
honramos o estudo da Bíblia.
Estilo de vida justo: “Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a
dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 3.20).
Qualquer pessoa de uma audiência judia do primeiro século que ouvisse Jesus
proferir essas palavras se sentiria incapaz de alcançar tal padrão, pois os
fariseus eram ícones culturais da justiça.
Embora
a sinagoga não tenha suplantado o templo até ele ser destruído, em 70 d.C., ela
era basicamente o local de encontro daqueles que se interessavam mais pela fé
bíblica que pela ritualística.
Quem eram os fariseus? Isso agora deve ficar
claro: os fariseus eram pessoas boas, como nós. Eles surgiram em reação ao helenismo, o humanismo secular
daquela época. Em resposta às pressões da assimilação cultural, eles se
tornaram “os separados”. Resistindo à corrente liberal dos sacerdotes e
levitas, eles insistiram na teologia ortodoxa. Em vez de entrar de cabeça na
concessão cultural e na religião profissional, eles organizaram um movimento de
base, liderado por leigos, para o retorno do judaísmo aos “valores
tradicionais”. Em resposta ao foco nos rituais do templo realizados pelos
líderes religiosos oficiais, eles enfatizaram o estudo e a aplicação das
Escrituras. Em resposta ao paganismo que se introduzia sutilmente no meio
deles, eles aumentaram a vigilância para ser puros.
Jesus
tratou os fariseus de forma muito “rude” não porque eles estavam longe da
verdade, mas porque eles estavam próximo demais.
Escondidos
nos textos dos evangelhos há, pelo menos, três fariseus que tiveram a gentileza
e coragem de convidar Jesus para jantar (Lc 7.36-50; 11.37-53; 14.1-14). A hospitalidade
naquela cultura era um passo relevante. Ela implicava o oferecimento de
aceitação e a extensão de amizade.
Em
Lucas 5.17-26 (cf. Mc 2.1-12; Mt 9.1-8), lemos que alguns fariseus que, por
curiosidade, vieram ouvir Jesus e questionaram as afirmações sobre o perdão por
causa daquilo em que sinceramente acreditavam. Entretanto, as Escrituras
registram que eles saíram dali glorificando a Deus e dizendo: “Hoje vimos
coisas extraordinárias!” (v. 26). Alguns fariseus foram genuinamente tocados
pela vida e pelo ministério de Jesus. Eles tinham sensibilidade espiritual
e desejo de aprender.
Dois
nomes muito conhecidos nos evangelhos são de fariseus: Nicodemos e José de
Arimatéia. O evangelho de João identifica Nicodemos como um fariseu que ocupava
algum cargo muito alto, talvez de liderança (Jo 3.1,10). Indubitavelmente, ele
era um homem de poder e influência. Nicodemos parecia alguém que genuinamente
buscava a verdade (Jo 3.1-4). Por fim, ele falou a favor de Jesus e foi
criticado por isso (Jo 7.45-52). Depois da crucificação, Nicodemos pediu o
corpo do Senhor e gastou uma quantia considerável de dinheiro para comprar
especiarias para o sepultamento de Jesus (Jo 19.39).
Entremeado
no texto do Evangelho de João, há outra referência a fariseus que ficaram do
lado de Jesus. Lemos no capítulo 9 que a cura no sábado de um homem que
nasceu cego não só separou o homem de seus pais e da sinagoga, mas também
dividiu os fariseus. O versículo 16 registra: Alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o
sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia
dissensão entre eles.
O
legalismo foi um dos inimigos mais prevalentes do cristianismo autêntico nesses
últimos 1.900 anos. Os fariseus servem de constante lembrete espiritual de que
a religião pode ser uma falsificação e, inevitavelmente, o será. Da época de
Jesus em diante, as perversões sutis do farisaísmo invadiram de forma
persistente a igreja. Tradições, separatismo, o considerar-se justo e o cerco
ao desempenho são algumas de suas manifestações na igreja hoje.
Quando a correção leva ao erro
a moralidade
nos cega. Os fariseus, em geral, por serem boas pessoas, são muito
estimados na sociedade (Lc 16.15). Quando nos comparamos de forma favorável a
nossos iguais, achamos que estamos nos saindo bem.
a religião
nos cega. O fariseu a quem Jesus se dirigiu em Lucas 18.11,12
considerava-se justo porque era religioso; ou seja, ele fazia coisas religiosas
e evitava comportamentos irreligiosos. Contudo, sua religião, embora fosse
possível de produzir bom comportamento externo, não conseguia transformar seu
coração.
o conhecimento
nos cega. O conhecimento bíblico pode mascarar a consciência de nossa depravação.
Um dos perigos de ter grande habilidade com a Bíblia é achar que, porque
conhecemos a Palavra de Deus, conhecemos o Senhor.
A
moralidade, a religião e o conhecimento conspiram para fazer que não vejamos o
fato de que nos consideramos justos. Portanto, como podemos ver?
Sinal de alerta número 1: Uma visão
desdenhosa dos outros
Jesus
contou a parábola do fariseu e do publicano, ou coletor de impostos, para
algumas pessoas que se consideravam extremamente justas e olhavam os outros com
desdém (Lc 18.9).
Sinal de alerta número 2: Um senso
superficial de perdão
Certo
dia, Jesus aceitou um convite para jantar na casa de um fariseu (Lc 7.36-50).
Uma pecadora local, que não fora convidada, compareceu e causou escândalo ao
lavar e ungir os pés de Jesus. O anfitrião, perplexo com o desenrolar dos
fatos, murmurou entre dentes que Jesus não poderia ser um homem santo ou
conheceria a magnitude do pecado daquela mulher. Jesus, por conhecer o
pensamento dos fariseus, contou uma história sobre um credor e dois devedores.
Como nenhum dos devedores podia pagar a dívida, o credor perdoou a dívida de
ambos, uma enorme e a outra pequena. A seguir Jesus perguntou: “Qual deles,
pois, o amará mais?”
“Suponho
que é aquele a quem mais perdoou”, respondeu o fariseu Simão. Jesus elogiou a
compreensão de perdão que Simão tinha, mas, logo em seguida, expôs sua cegueira
quanto à aplicação pessoal desse ponto. Suas palavras finais para Simão foram
estas: “[...] mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (v. 47). Há uma
conexão íntima entre nosso senso pessoal do perdão de Deus e a profundidade de
nosso amor por ele.
Nossa
bondade, riqueza, habilidade para controlar muitas facetas de nossa vida,
propensão para racionalizar, capacidade de transferir a culpa e de nos
justificar, foco em alguns pecados em particular, e não no pecado em si - tudo
isso contribui para uma consciência superficial de nossa necessidade crítica do
perdão de Deus.
Sinal de alerta número 3: Um senso equivocado
de graça e justiça
Graça e
a justiça não se misturam. A graça, por definição, é injusta. Ela estende favor
para pessoas que não merecem. Observe bem o que aconteceu na alma do filho
bonzinho, o que se sentia extremamente justo, quando o filho pródigo, o mais
moço, volta para casa, e o pai idoso, graciosamente, dá uma festa (Lc
15.11-32). Ele ficou ressentido. Todo o veneno guardado a sete chaves em sua
alma foi lançado sobre o pai. O filho mais velho não conseguiu se alegrar. A
graça de seu pai para com seu irmão que se desviara trouxe à tona o veneno do
filho mais velho, pois este se sentia extremamente justo.
Sinal de alerta número 4: Uma visão doentia
de fracasso
Na
parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-46), Jesus deixa implícito a intenção
dos fariseus de tramar sua execução. Ele descreve os fariseus como aqueles que
planejaram matar o filho do dono da vinha e que rejeitaram a pedra angular. A
parábola era um severo aviso cuja intenção era produzir arrependimento. Mas os
fariseus, em vez de entender a admoestação como um aviso para se voltarem para
Deus, se voltaram contra o Senhor e tentaram prendê-lo (v. 45,46). A exposição
do coração deles não produziu arrependimento, mas revanche; não clamores de
arrependimento, mas clamores para matá-lo.
O que fazemos quando somos expostos, quando
falhamos ou somos descobertos?
Desprezo,
perdão, lealdade, falha. Cada um deles é um sinal revelador de que nos sentimos
extremamente justos, um sinal de alerta no painel de nossa vida. Cada um deles
nos ajuda a ver o senso de justiça pessoal que existe em nosso íntimo.
===
Como
os fariseus surgiram
Para compreender os fariseus é preciso conhecer os
movimentos políticos e culturais que deram origem a eles e os alimentaram. Os
fariseus emergiram como um grupo reconhecido durante o período chamado de
intertestamentário, o período entre o fim do Antigo Testamento e o começo do
Novo Testamento. Durante esses mais de 400 “anos de silêncio”, entre Malaquias
e Cristo, Israel foi predominantemente governada por vários poderes
estrangeiros, exatamente como Daniel profetizara (Dn 7). Embora muitos do povo
judeu tenham sido assimilados pelas culturas que os rodeavam, alguns, como
Daniel e outros jovens hebreus (Dn 1; 3), recusaram-se a comprometer sua
identidade e estilo de vida. Esses “puristas” agarraram-se com tenacidade às
Escrituras, ao passo que outros, inclusive membros do clero (sacerdotes e
levitas), fizeram concessões à cultura.
O precursor religioso e filosófico
dos fariseus é Esdras, cuja intensa devoção à Lei (Ed 7.10) estabeleceu o
padrão para os escribas que vieram depois dele. Esdras, de linhagem sacerdotal
(Ed 7.1-5), era um homem piedoso com um intenso desejo de transmitir e de
aplicar a Palavra de Deus às pessoas comuns em cenários de mudança cultural. De
acordo com a tradição, Esdras também foi o fundador da sinagoga. Portanto, ele
definiu o trabalho, a devoção e o ambiente que, posteriormente, foi copiado
pelos fariseus.
HELENISMO, O HUMANISMO DAQUELA
ÉPOCA
Um dos principais expoentes no
processo de “criar” a necessidade para o surgimento dos fariseus foi Alexandre,
o Grande. Este construiu seu impéÂrio, que incluía a Palestina, de 336 a 323
a.C. Embora Alexandre seja mais bem conhecido por suas conquistas militares,
seu legado mais duradouro em Israel foi cultural. Quando os gregos conquistaram
os persas, que dominavam a Palestina, Alexandre aprovou políticas que eram
aceitáveis em Israel, particularmente em meio à elite governante e à religiosa.
Ele permitiu que os judeus tivessem alguma autonomia e estimulou a prosperidade
econômica, o que os deixou propensos a aceitar outras inovações culturais.
Alexandre e seus sucessores encorajaram a adoção de vários aspectos da cultura
grega: a literatura, as instituições, o entretenimento, as ideias, os nomes, as
normas, as moedas e a língua; e tudo isso ajudou a corroer ainda mais a
identidade única dos judeus. O helenismo, o humanismo daquela época, era uma
tentação tão forte quanto a idolatria o fora anteriormente na história do povo
judeu. Alexandre promoveu a cultura grega, e isso estabeleceu o cenário para
uma subsequente resistência realizada pelos piedosos.
Depois do reinado breve de
Alexandre, seu império foi dividido. Israel foi governado primeiro pelos
Ptolemeus (301-198 a.C.). Israel, sob o comando desses governantes egípcios,
desfrutou de paz, prosperidade e relativa autonomia religiosa. O destino dos
judeus, no entanto, sofreu um revés quando, em 203 a.C., Antíoco III (o
Grande), um governante sírio, conquistou Jerusalém. Assim começou mais de um
século de governo selêucida na Palestina. Os selêucidas tinham muito menos disposição
de conceder autonomia aos judeus e muito mais intenção de promover a cultura
grega, o helenismo. Foi durante esse período que os fariseus quase certamente
foram organizados em um grupo identificável.
UM CONFLITO DE CULTURAS
Durante o reinado do notório
Antíoco IV, chamado de Epífanes (175-164 a.C.), os eventos da Palestina
pioraram, e novas forças estimularam a emergência dos fariseus. O resultado foi
o surgimento de um conflito de culturas entre os judeus ortodoxos e os
helenistas. A cultura de direita resistia ao helenismo; e a de esquerda
defendia a aculturação. O conflito chegou a seu ápice com a seleção do sumo
sacerdote. Os ortodoxos viam o sacerdócio como uma posição espiritual
conseguida com o chamado divino. Outros eram coniventes para tornar o sumo
sacerdócio uma posiçáo política oferecida para o concorrente que apresentasse a
melhor proposta. Antíoco, que queria transformar Jerusalém em uma cidade grega
modelo, concordou que o posto deveria ser político. Ele ofereceu a posiçáo para
aqueles que, conforme achava, melhor apoiavam seus objetivos. Alguns judeus
rebelaram-se, e Antíoco, pressionado por Roma, decidiu tomar uma atitude mais
decisiva e brutal contra os ortodoxos.
As ações que Antíoco inaugurou em
167 a.C. buscavam remover todos os traços da fé judia ortodoxa. Ele tentou
ligar Júpiter, dos gregos, com Deus. Ofereceu um suíno em sacrifício no altar,
ato comumente mencionado como “[...] abominação da desolação” (Mt 24.15; Mc
13.14). Ele proibiu os judeus,
sob
pena de morte, de praticar a circuncisão, de guardar o sábado ou de celebrar as
festas do calendário judeu. Ordenou que cópias das Escrituras fossem
destruídas. As leis eram impostas com extrema crueldade. Fleazar, um escriba
idoso, foi açoitado até a morte porque se recusou a comer carne de suíno.
O comportamento abominável de
Antíoco IV, Epífanes, foi a gota d’água que resultou na revolta dos macabeus126
contra o poder dos selêucidas na Palestina. Quando a revolta acabou, os
macabeus, sob a liderança de Judas Macabeu, arrancaram o controle da Palestina
das mãos dos sírios e o entregaram nas mãos de judeus, pela primeira vez, em
400 anos. Em dezembro de 164 a.G , o templo de Jerusalém foi dedicado de novo a
Deus, e deu-se início a uma celebração de oito dias, a festa da dedicação, também
conhecida como Hanuca ou Festa das Luzes; essa celebração era uma
recordação permanente em meio aos judeus. Assim, em Israel, embora o conflito
externo diminuísse, o conflito interno entre ortodoxos/conservadores e
helenistas/liberais continuava. Esse conflito ocasionalmente resultava em
derramamento de sangue.
A ENTRADA EM CENA DOS FARISEUS E
DOS SADUCEUS
Nesse cenário, os fariseus
tornaram-se proeminentes. Os macabeus, por fim, fundaram uma dinastia
política,127 e durante o reinado de João Hircano I (134-104 a.C.), Josefo citou
os fariseus como um partido oficial.128 Ele observou que os fariseus
conservadores tiveram um desacordo com Hircano porque resistiram à
reivindicação do rei de também ser sacerdote. Portanto, Hircano aliou-se aos
saduceus, pois eles eram mais liberais. Isso resultou no domínio dos saduceus
na elite governamental e no domínio dos fariseus sobre as massas.
Portanto, cerca de 150 anos antes
do ministério público de Jesus Cristo, surgiram os dois grandes partidos do
judaísmo sobre os quais lemos no Novo Testamento, os fariseus e os saduceus. Os
dois eram proeminentes na época de Cristo, e o farisaísmo continua até hoje.
Os fariseus representavam o
partido que continuou com a ideologia do movimento patriótico dos macabeus, os
primeiros a tomar uma posição em defesa da Lei e da integridade religiosa do
judaísmo. Os saduceus tornaramse o partido dos sacerdotes e levitas, e os
levitas com inclinações helenistas gravitavam em volta deles. Os saduceus
enfatizavam a centralidade do templo e dos rituais. A base de operações dos
fariseus era a sinagoga.
O destino dos fariseus e dos
saduceus no século anterior ao nascimento de Cristo mudou com a mudança dos
ocupantes do poder político de Israel. Alexandre Janeu (103-76 a.C.), o rei guerreiro
asmoniano, iniciou a política de expansão territorial (utilizando muitos
mercenários estrangeiros) e demonstrou pouco respeito por suas
responsabilidades sacerdotais. Portanto, ele alienou ainda mais os fariseus e
começou a desprezá-los. Alexandre, abertamente, desafiou os escrúpulos dos
fariseus e, até mesmo, chegou a crucificar 800 fariseus enquanto festejava com
suas concubinas. Josefo, entretanto, relata que, de forma surpreendente,
Alexandre Janeu, em seu leito de morte, instruiu sua esposa a distanciar-se dos
saduceus e a reinar com a ajuda dos fariseus. Salomé Alexandra (76-67 a.C.)
seguiu o conselho de seu marido e aproximou-se dos fariseus, evitando mais
disputas civis. Ela iniciou o que passou a ser conhecido como “A era de ouro do
farisaísmo”.
Durante esse período, os fariseus
exerceram considerável poder político e influência social e causaram grande
impacto religioso. Josefo deixou implícito que os fariseus possuíam a
autoridade real, ao passo que Alexandra ficava apenas com os fardos.130 Na
esfera judicial, eles insistiram que aqueles que perpetraram as crucificações
sob o domínio de Alexandre deveriam ser executados. Na esfera social, eles
enfatizaram a educação, fundamentada nas Escrituras. Na esfera religiosa, eles
exerceram sua influência nas sinagogas espalhadas por toda a nação. Embora os
fariseus fossem estudiosos leigos das Escrituras, eles, por fim, superaram os
sacerdotes como intérpretes autorizados da Lei. Os fariseus, verdadeiramente,
passaram a dominar a temperatura da vida religiosa da nação.
TENSÕES ENTRE OS FARISEUS E OS
SADUCEUS
As tensões entre os fariseus e os
saduceus continuaram. Os fariseus fomentavam o ressentimento por aqueles que
foram mortos por Alexandre Janeu, e os saduceus tinham muitas suspeitas quanto
ao fato de os fariseus conseguirem ganhar o poder político. Ao longo desse
período, os dois partidos competiam para ganhar o controle do sinédrio. A
contínua “guerra cultural” entre os dois principais partidos comprometeram a
nação e contribuíram para a tomada de poder pelos romanos, liderados por
Pompeu, em 63 a.C.
As
décadas finais antes do nascimento de Cristo testemunharam o surgimento dos
dois maiores rabinos, Shammai e Hillel. Shammai era conservador. Suas regras
eram estritas e, algumas vezes, severas. Quanto à questão do divórcio (Mt
19.9), Jesus parecia apoiar a interpretação sem adaptações de Shammai. Hillel
era moderado. Era conhecido por sua compaixão e buscava reconciliar a lei das
Escrituras com as situações reais da vida. Alguns estudiosos chegaram até mesmo
a dizer que Jesus era discípulo de Hillel.
When the
United States was founded in 1776, it thought of itself as a Christian nation,
by which it meant a Protestant nation. The constitutional ban on the
establishment of religion probably meant that no one Protestant denomination
would have official standing over others, unlike the case in many European
countries. There was a substantial Roman Catholic population in several of the
states, and there was never a question of their being fully accepted as
American citizens. One of my favorite factoids of American history is that at
the celebration of American independence in Philadelphia in July 1776, there
was a massive outdoor party with food and drink, at which there was a section
of kosher food so that Jewish citizens would feel fully recognized as members
of the new nation.
This bit of
theological self-understanding worked well enough until the 1840s, when famine
in Ireland and violent clashes among the several principalities of Italy as
they moved toward unification sent an influx of Roman Catholics to these
shores. Numerically, they did not change the demographics of the United States,
and politically they had minimal impact, but psychologically they shook the
foundations of our self-image as a tolerant Protestant nation. There were
anti-Catholic riots, anti-Catholic discrimination in hiring (“No Irish Need
Apply”), and, in rare instances, the setting on fire of Catholic convents. It
would take decades for Catholics to achieve full acceptance, and even then the
level of acceptance at the margins was incomplete. I was living in Lawton,
Oklahoma, serving as a military chaplain at the local army post in 1960, when
John F. Kennedy, a Roman Catholic, was elected president, and I remember the
nervous jokes my neighbors were making, seeing Kennedy’s election as the
opening wedge of an effort to have the pope take control of American life.
But the
conflict settled down, Protestant America came to understand that their
Catholic neighbors were really a lot like them (it often boiled down to a
question of which church you stayed home from on Sunday morning), and America
came to see itself as a Christian nation, embracing its Protestant and Catholic
citizens alike and writing Christmas and Easter observance into the calendar.
This
self-image was next challenged in the years following the assassination of the
czar of Russia in 1881. Riots and anti-Semitic pogroms throughout the early
years of the twentieth century drove large numbers of Russian, Polish, and
Lithuanian Jews (my parents and my wife’s parents among them) to board ships
for a new life in America. Again, these ethnic newcomers encountered obstacles
to full acceptance.
If not as violent as the anti-Catholicism
of the mid-nineteenth century, the discrimination was at least as intense and
thorough, magnified by the fact that Eastern European Jews, unlike Irish
immigrants, looked and dressed differently than their American neighbors and
often did not speak English. There was discrimination in housing and discrimination
in employment (the latter of which drove Jewish immigrants into lines of work
where they could be their own bosses, leading to impressive success in such
fields as retailing and the movie industry). There were limits to further
immigration during the Depression, when there weren’t enough jobs for people
who were already here. The discrimination did not ease until after World War
II, when young men from the farms and small towns of the Midwest served in the
armed forces alongside young Jewish men from Brooklyn (every military unit in a
World War II movie seemed to have a Jew from Brooklyn in it) and found that
they were like everyone else. At that point, America’s self-definition changed
and we began to speak of ourselves as a “Judeo-Christian nation.” There were
prominent Jews in public office, on the Supreme Court, and in the upper
echelons of higher education. Then, as the twentieth century gave way to the
twenty-first, we became aware of a sizable and growing Muslim population in our
midst, increasingly assertive when it came to their religious needs
(professional athletes playing while fasting during Ramadan) and political
preferences (community positions on issues of Middle East politics have
received particular attention). The self-definition of the United States as a
Judeo-Christian nation left them out, and slowly but steadily, mainstream
culture has tended toward greater inclusivity. First on the part of public
spokesmen and then filtering down to the average person, American Christians and
Jews are gradually learning to speak of themselves as “heirs of the Abrahamic
tradition,” since Christians, Jews, and Muslims all look back to Abraham as
their spiritual founder.
Bibliografia consultada:
A Neurose Da Religiao
- Tom Hovestol
Nine Essential Things I've Learned About Life -
Harold Kushner