Amor em Vaso Quebrado
Minha tradução foi feita de forma amadora e sem qualquer pretensão de publicação. Também não tem finalidade econômica. Se você gostou da história aconselho a adquirir os livros de Mesu Andrews (atualmente disponíveis apenas em inglês). Algumas editoras brasileiras tem se esforçado para traduzir romances ambientados nas Escrituras, e recomendo que adquira os livros destas editoras (cuja tradução foi realizada por profissionais treinados e, portanto, são bem melhores que esta.
preâmbulo
Quando você pensa em ler a história de Gômer e Oséias, que romance lhe vem à mente? Redeming Love de Francine Rivers, certo? Acho que já o li pelo menos quatro vezes.
É um dos meus livros favoritos. Francine Rivers é de longe a minha autora favorita.
Então por que ousaria escrever um romance que pudesse ser comparado a um clássico como este? Porque o Amor em Vaso Quebrado é ficção bíblica, e o Amor Redentor é uma história bíblica ambientada num romance de pradaria.
Equiparar as duas histórias seria como comparar maçãs e laranjas - ambas são frutas, mas de sabores muito diferentes.
Minha esperança é que os leitores gostem de cada um destes livros pela sua singularidade.
O gênero de ficção deve ser uma história crível, mas sejamos sinceros - é difícil entender um homem justo de Deus que se casa, ama e perdoa repetidamente uma prostituta.
No entanto, ao mergulhar na história de Oséias e Gômer, lembre-se que a Bíblia diz que Oséias se casou com uma prostituta chamada Gômer por ordem de Deus. E a história reflete a tentativa desesperada de Deus de converter os corações de Israel a Si mesmo.
A história pode não ter acontecido exatamente como escrevi neste romance, mas aconteceu.
Trata-se do mistério do amor e da misericórdia de Cristo antes da encarnação de nosso Salvador.
Em relação às partes não-fictícias: não há dados históricos ligando os profetas Jonas, Amós e Oséias.
No entanto, Amós era mesmo um apanhador de figos de Tecoa, e é possível que Jonas ainda estivesse vivo durante o tempo das profecias de Amós e de Oséias.
Escolhi tecer a vida deles juntos num acampamento de profetas - uma espécie de escola para aspirantes a mensageiros do Senhor.
Embora, novamente, não tenha encontrado base factual para um acampamento de profetas em Tecoa, a Bíblia geralmente se refere a uma comunidade de profetas tão antigo quanto as próprias tribos.
Siló era o local de reunião dos profetas com a arca de Deus.
Em 1 Samuel 19, Saul enviou mensageiros a Naiote para prender Davi - que se achava abrigado em uma companhia de profetas, e 2 Reis 6 traz o relato da queixa de alguns profetas mal-humorados que seus aposentos eram muito apertados.
As Escrituras também descrevem os detalhes da lepra do rei Uzias, mas não indicam a localização da casa alugada onde ele viveu sua vida enquanto Jotão reinava em Jerusalém.
A Bíblia também não declara o relacionamento exato entre Uzias, Isaías e Amoz.
As Escrituras nos dizem que Isaías era filho de Amoz (2 Reis 19; 20) e, de acordo com a tradição talmúdica (texto hebraico antigo), Amoz era tio de Uzias (Meg. 10b).
Esse dilema resume a beleza e o desafio da ficção bíblica - reunir as verdades das Escrituras em uma reconstrução histórica.
O ministério de Oséias começou aproximadamente 180 anos após a morte do rei Salomão.
O filho de Salomão, Roboão, irritou as dez tribos do norte com altos impostos e trabalho duro, e por isso eles se rebelaram contra a autoridade do jovem rei.
O reino de Israel se dividiu em duas nações.
As tribos rebeldes do norte se tornaram a nação de Israel, enquanto a tribo de Judá formou uma nova nação, mantendo sua capital em Jerusalém e reivindicando a tribo de Benjamim como seu único apoio.
O povo cananeu disperso entre Israel e Judá continuou adorando deuses pagãos, traçando falsos paralelos entre El, o pai dos deuses, e o Deus dos hebreus, o SENHOR.
O reino do norte estabeleceu postes-ídolos em formato de bezerro de ouro em Betel e Dan, atraindo israelitas para a idolatria e alimentando a ira do SENHOR.
Esta atitude "˜partiu o coração"™ do Senhor.
O povo escolhido de Deus rejeitou Seu amor.
É aí que começa a história de Oséias e Gômer.
Prólogo
Oséias 1:2
Quando o Senhor começou a falar por meio de Oséias, disse-lhe: “Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor. As pessoas nesta terra agiram como prostitutas e abandonaram o Senhor."
A casa vazia de Oséias permanecia em doce silêncio.
Ele a absorveu, permitindo-se nutrir como a última mordida de pão quente no ensopado de lentilha.
Seu estômago roncou e ele percebeu que já era hora do jantar.
A mesa de pedra diante dele em sua sala principal.
Cestos cobertos pendurados na parede, cheios de pão dormido e queijo duro.
Os magros ingredientes seriam suficientes até a refeição de amanhã.
Ele se aproximou da mesa, notando poeira dançando no raio de luz dourada do crepúsculo.
Uma segunda olhada no brilho o atraiu mais profundamente para a contemplação.
Só consigo ver a poeira quando a luz brilha através da janela.
Oséias acenou com a mão através da luz, mexendo o pó, mas não sentiu resistência.
Visível e real, mas sem som ou peso. O pó estava presente, mas não podia ser medido.
Um sorriso lento e satisfeito surgiu em seus lábios.
Esse parece ser um bom tópico para a classe dos profetas de amanhã.
Jonas apreciaria o...
Uma brisa varreu a casa, assustando-o, balançando as ervas penduradas.
Oséias virou-se para a porta da frente, confuso.
O vento conseguiu abrir a porta?
A porta estava fechada.
“O que é que foi isso?" ele perguntou para ninguém.
O vento voltou a agitar a casa, desta vez não uma brisa, mas um vendaval e sacudiu o manto ao redor das pernas.
O vento falou.
Case-se com uma prostituta.
Oséias engasgou.
Senhor?
Case-se com uma prostituta e tenha filhos com ela.
O vento ficou mais forte, e Oséias cobriu o rosto, caiu de joelhos, ouvindo.
Israel agiu como uma prostituta e abandonou o Senhor.
O vento parou.
Todos permanecem em silêncio.
Tudo estava tranquilo novamente.
1
Oséias 1:1
Palavra do Senhor que veio a Oséias, filho de Beeri, durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e de Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel.
Gômer correu de seu quarto através de uma passagem e entrou na cozinha do bordel.
Jarah, uma das criadas, pegou alguns figos secos e, com a mão trêmula, ofereceu-os a Gômer.
Gômer pegou duas frutas e fechou a mão da garota com as que restavam.
“Coma você mesma, Jarah. Não deixe que Tamir os encontre e os entregue a outra pessoa" Gômer se afastou, notando que a menina enfiou um na boca, e tentou se lembrar da última vez que sentiu o cheiro de pão quente assado naquela cozinha.
Seu estômago roncou com a lembrança.
Ela emergiu no pátio ensolarado do bordel de Tamir, vendo a velha Merav cuidando de três crianças brincando no quintal.
Gômer olhou para os lados, evitando um confronto com o dono do bordel.
A mulher mais rica de Samaria, Tamir construíra seus negócios com determinação, astúcia e favor dos deuses.
E Gômer.
Sim, Gômer era a prostituta mais lucrativa de Tamir desde que fora abandonada na porta da mulher aos doze anos.
“Por que tenho que ir ao sacrifício esta manhã?" Gômer falou enquanto caminhava em direção a Merav.
“Por que as meninas mais jovens não podem ir sem mim? Eu só dormi um momento e estou cansada, Merav."
A velha pressionou o dedo nos lábios e apontou para a criança adormecida em seus braços.
Merav, a parteira do bordel, amava todas as crianças, tanto as nascidas dentro do bordel ou abandonadas às suas portas.
Gômer ajustou o volume da voz, mas não o tom.
Gômer ajustou o volume, mas não o tom. “Por que Tamir exige que eu acompanhe as meninas? Elas são bastante capazes e podem trabalhar a multidão tão bem quanto eu." Desgostosa, ela pegou uma das crianças nos braços, dando-lhe um pequeno banho de cuspe para limpar a bochecha manchada.
“Tamir sabe que você representa bem a casa dela, e as outras garotas procuram sua liderança enquanto estão nas ruas." A voz de Merav era gentil, e Gômer se perguntou quanto de seu calmante era para o bebê adormecido em seus braços e quanto servia para acalmar o mau humor de Gômer.
“Aqui, coma sua pele de romã." A velha parteira estendeu a casca seca e deu um sorriso irônico.
Ela não ouviria mais as queixas de Gômer.
Gômer colocou a criança de volta no chão e pegou a casca de romã - mas beijou a mão de Merav antes de soltar.
A velha roçou sua bochecha.
“Leve algumas sementes de romã com você. Não quero ter que cuidar do seu bebê no próximo ano."
Uma onda de emoção tomou conta de Gômer com a ideia.
“Bem, eu não saberia se fosse meu bebê, saberia?" A pergunta soou mais acusatória do que ela pretendia e, quando viu a mágoa nas feições de Merav, ajoelhou-se ao lado da velha.
“Sinto muito."
Você sabe que eu não quis ofender com isso.
Ela procurou as palavras, tentando desvendar o nó que havia feito esta manhã.
“Você me conhece, Merav. Tento esquecer o dia de ontem e não me preocupar com amanhã. Se não fosse por você e essas romãs, eu já deveria uma dúzia de filhos agora." A velha encarou seus olhos e acariciou sua bochecha.
“O que a incomoda esta manhã, pequena Gômer?"
“Acordei com uma terrível sensação de pavor. Talvez os deuses estejam me alertando sobre o perigo."
“Ou talvez você bebeu muito vinho na noite passada." Seus olhos brilharam com malícia.
“Estou falando sério!" Gômer gritou, fazendo o bebê adormecido se mexer.
Um olhar de advertência da velha lembrou-a de abaixar a voz.
Estou ficando mais velha, Merav.
Ja passei por dois partos e uma crise de melancolia.
Não importa quantas romãs você me dê, estou quase certa que irei engravidar novamente com o número de clientes que vejo todas as noites.
Tamir diz que vai me ensinar como administrar o bordel, mas até agora... "
“Mas até agora ela não começou a lhe ensinar o lado comercial da prostituição." A velha terminou a frase de Gômer.
“Está certo." Seus olhos travaram em compreensão.
“Ela não me ensinou nada! Só você me ensinou, Merav. Você me ensinou as ervas, raízes e chás que impedem a semente de um homem crescer dentro de mim. Você me ensinou como dar à luz. Observei outras garotas sonhando com os bebês em seu ventre e se tornando menos humanas a cada criança que é tirada delas. Preciso saber por que Tamir dispensa todos os bebês do sexo masculino, mas decidiu ficar com esse."
“Eu também não sei, pequena Gômer. Conheço Tamir desde que ela comprou esta casa, mas ela esconde o que há de especial sobre esse menino. " A velha acariciou seu cabelo preto felpudo e aconchegou-o mais perto de seu coração.
“Então me diga por que ela se recusa a deixar uma ima saber qual bebê é dela." Gômer olhou para os pequenos brincando com paus e pedras aos pés de Merav.
“Algum desses é meu?"
Os olhos de Merav se encheram de lágrimas, mas sua voz era sólida.
“Você sabe que não posso responder a isso." Ela ergueu o queixo e enxugou as lágrimas.
“Você sabe o quanto eu me esforço para impedir que qualquer uma das meninas de Tamir engravide. Se elas comessem as sementes que eu dou e bebessem o chá regularmente, não teríamos que pegar os bebês ou dar-lhes aquela poção para induzir ... "
“Eu sei", disse Gômer, colocando a cabeça no colo de Merav.
“Não estou acusando você, minha amiga. Estou apenas frustrada e, pela primeira vez, tentando imaginar meu futuro - mas o caminho é muito escuro."
Merav acariciou os cabelos de Gômer e começou a cantarolar uma melodia familiar enquanto segurava o bebê em seu outro braço.
A mente de Gômer vagou nas lembranças de sua infância em Betel.
Parecia séculos atrás.
Ela lembrou de suas três irmãs mais novas encolhidas durante um ataque de fúria bêbada de abba Diblaim.
Ele era sacerdote no templo de Betel - e um porco em casa.
Então ela contemplou o rosto de Oséias.
Ele tinha dez anos e ela seis quando se viram pela última vez - naquele dia no templo, quando caiu das vigas.
Ela nem chegou a se despedir quando seu abba o levou de Betel.
Oséias tinha sido seu único amigo e protetor.
Quando abba Diblaim a vendeu para uma sacerdotisa de Aserá em Samaria, anos depois, ela aprendeu sobre os dias amargos de uma sacerdotisa e as noites solitárias com homens bêbados.
Uma vez ela acreditou em um sacerdote de Baal que disse que a amava.
Que tolice.
Destituída de seus deveres rituais, ela foi chamada de prostituta e largada no portão de Tamir.
Merav acalmou seu coração partido e cuidou de suas feridas.
A pobre mulher não merecia o linguajar afiado que Gômer lhe oferecera esta manhã.
“Estamos juntas há quase sete anos - Gômer sussurrou, deixando suas lágrimas molharem o manto de Merav. “Sei melhor do que ninguém como você ama as meninas nesta casa, e quero garantir que nós duas tenhamos um lugar para morar quando eu estiver velha demais para conseguir comida e abrigo como prostituta."
“Preciso saber com quem Tamir fala no templo quando uma de nossas meninas chega na idade para trabalhar no bosque de Aserá. E como Tamir decide quais meninas se tornam sacerdotisas e quais trabalham como prostitutas de rua ou empregadas domésticas? De que outras maneiras ela traz comida e renda para esta casa além do pagamento das prostitutas de rua?"
“Ora, ora, ora", ouviu-se uma voz sedosa atrás delas.
“Alguém teve uma conversa importante esta manhã."
Gômer notou o medo nos olhos de Merav e percebeu que Tamir ouvira demais.
Ela ficou de pé e encarou a dona do bordel.
“Eu estava contando a Merav as perguntas que pretendia fazer a você quando voltei do sacrifício de hoje." Ela podia ouvir o tremor em sua voz e se amaldiçoou por isso.
Ela era hábil em fingir para os homens, mas vacilava ao mentir para Tamir.
“Há algo em que eu possa ajudar antes de sair? Alguma instrução especial?"
Os olhos de Tamir se estreitaram e ela cerrou os punhos nos quadris delgados.
“Sim, tem uma coisa que você deve saber antes de sair esta manhã. O sacrifício de hoje será uma novidade em Israel. A seca que experimentamos nos últimos dois anos afetou até os depósitos de grãos do rei Jeroboão. " Ela olhou para a direita e para a esquerda, baixando a voz.
“Finalmente ele está desesperado bastante para mostrar verdadeira devoção aos deuses. Quem sabe ele alcance a glória do primeiro Jeroboão de Israel, que nos deu os bezerros de ouro em Betel e Dã. Ele construiu um novo altar para o sacrifício."
Ela girou uma mecha de cabelo ruivo de Gômer no dedo.
“O fogo do altar brilhará nos seus cachos, e os tambores despertarão os adoradores. Certifique-se que você e o resto das meninas estejam perto do altar no momento do sacrifício. Espero um dia inteiro de comemoração e quero todo o pagamento em grãos. " Ela largou o cabelo de Gômer e a enxotou como uma mosca.
“Estamos com pouco grão, e não podemos fazer pão com prata."
Tudo dentro de Gômer gritava indignação, mas que outras opções ela tinha? Para onde mais ela poderia ir? “Claro, Tamir. Vou fazer exatamente o que você pedir. " Ela engoliu em seco e moderou a voz, determinada a encontrar uma maneira de escapar.
“Existe alguma outra maneira de te servir, minha senhora? Ela curvou-se, esperando esconder a raiva estampada em sua cara. “Sim."
Vá para o sacrifício.
Agora!" A dona da casa saiu correndo, gritando instruções para uma das criadas do outro lado do pátio.
Gômer tremeu de raiva e sussurrou para Merav, embora esta não se atrevesse a olhar em sua direção: “Irei como ela ordena, mas quando voltar hoje à noite, minha amiga, terei prata suficiente para nós duas deixarmos esse galinheiro."
Merav pegou a mão dela.
“Só tenha cuidado, pequena. Já vi esse olhar nos olhos de Tamir antes. O rei Jeroboão não é o único que está desesperado."
2
Amós 8:11
“Estão chegando os dias", declara o Senhor , o Soberano, “em que enviarei fome a toda esta terra; não fome de comida nem sede de água, mas fome e sede de ouvir as palavras do Senhor."
As pernas de Oséias queimavam a cada passo na colina rochosa de Samaria, e ele observou os passos vacilantes de seu antigo professor.
Jonas se apoiou nas bengalas.
Por que Oséias não pediu a Isaías que ficasse para ajudar Jonas, em vez de enviá-lo à frente ao norte da cidade?
Oséias colocou um braço em volta dos ombros de Jonas, mas o velho profeta deu sua resposta familiar.
“Senhor e minhas bengalas são toda a ajuda de que preciso, obrigado." Ele encolheu os ombros e afastou o braço de Oséias, oferecendo um meio sorriso, garantindo ao aluno sua gratidão - e recusa.
Eles deixaram a fazenda de Amós em Judá, quatro dias atrás.
A força de Jonas estava diminuindo.
Seu bom humor não.
Oséias suspirou, sacudiu a cabeça e deixou Jonas ir na frente.
Quando mais jovem, ele viajou para Nínive e conseguiu voltar. Sobreviveu três dias na barriga de um peixe e pregou arrependimento para uma geração de assírios.
Quem era Oséias para insistir que precisava de ajuda? Senhor, dá-lhe força.
Tu sabes o quanto ele significa para mim.
Oséias deixou seu professor aos cuidados do Senhor, concentrando-se no reluzente palácio branco, impressionado com a capital de sua terra - uma cidade que ele nunca tinha visto, uma terra que ele deixara doze anos atrás.
Ele lançou um olhar esgueiro para Jonas e o notou seu tremor.
Oséias removeu seu manto e o lançou nos ombros de seu amigo.
Dessa vez, Jonas não protestou, mas puxou a capa de lã para o pescoço.
A brisa do inverno deve parecer mais fria para um velho.
Jonas estava agora coberto da cabeça aos pés, escondendo sua pele branca - evidência duradoura de sua lição de três dias na barriga do peixe.
“A que distância de Samaria fica sua cidade natal, Jonas?" Oséias decidiu conversar, em vez de encarar o pobre homem, esperando que ele desabasse.
“Quase à mesma distância ao norte que sua cidade natal, Betel, está ao sul." Sua voz tremeu como seus ombros.
Oséias assentiu, mas permaneceu em silêncio.
Ele fechou os olhos com força, brigando consigo mesmo por ter deixado Jonas vir.
Ele temia que a jornada da fazenda de Amós em Tecoa fosse demais para ele, mas Jonas insistiu em acompanhar Oséias em sua primeira missão.
A noite da primeira revelação do Senhor havia sido o começo de uma tempestade de três dias, dando a Oséias uma visão de onde, para quem e como transmitir a mensagem do Senhor.
Mas as instruções não incluíam a presença de Jonas na missão.
“Você precisa do cobertor extra?"
Estou bem - disse Jonas, com a voz abafada sob as dobras do roupão.
“Pare de se agitar como uma ima autoritária." Oséias notou um leve brilho em seus olhos.
“Não tenho certeza se estou com frio ou nervoso por você, mas não consigo parar de tremer." Ele puxou o manto apenas o suficiente para dar uma piscadela encorajadora.
Oséias percebeu o orgulho nos olhos de Jonas, e jogou o braço sobre seu ombro.
“Não diga que não quer ajuda", disse Oséias antes que seu mentor pudesse protestar.
“Estou descansando meu braço em você porque preciso de apoio."
Jonas riu e eles caminharam em silêncio pelo caminho íngreme e rochoso.
Oséias lembrou-se da primeira vez em que ele viu “o profeta dos peixes", como Gômer o chamara quando eram crianças.
Ela o convencera a entrar sorrateiramente nas vigas do templo, espionando os deveres sacerdotais de seus abbas, quando Amós, acompanhado por Jonas, chegou para entregar a mensagem de juízo do Senhor sobre Israel.
Oséias nunca se esqueceria das palavras de Amós: “Uma fome da Palavra de Deus está vindo a Israel". O sumo sacerdote Amazias zombou da ameaça.
Mas Beeri, abba de Oséias acreditou naquela palavra. Ele deixou Israel com outros fiéis seguidores do Senhor e levou Oséias à fazenda de Amós para ser ensinado com outros aspirantes a profetas.
“Eu já agradeci a você e a Amós pela escola dos profetas em Tecoa?" Oséias manteve os olhos à frente, com medo de que suas emoções sufocassem suas palavras se ele encarasse o olhar de Jonas.
“Sinto muito que seu abba Beeri não esteja aqui para vê-lo profetizar. Acho que ele ficaria satisfeito de você ser o primeiro a profetizar em Israel desde que o Senhor declarou a fome de Sua palavra há doze anos."
O coração de Oséias ficou apertado.
Ele sentia falta do seu abba em momentos como este.
Jonas era seu guardião desde a morte de abba dois anos depois que chegaram à fazenda de Amós.
Jonas era seu mentor desde então.
“Sinto falta de abba Beeri, mas você tem sido um abba fiel para mim, meu amigo."
Jonas parou de andar e se endireitou, forçando Oséias a encara-lo.
“O dia em que você me contou do seu primeiro encontro com o Senhor - foi o dia mais feliz da minha vida. Dancei de alegria - sem as bengalas! "
Os dois homens riram, lembrando o espetáculo.
“Eu me lembro", disse Oséias, enxugando lágrimas de alegria.
“Senhor lhe disse que me ordenaria que tomasse uma esposa? Antes de partir naquele dia, você disse que eu não deveria tomar uma esposa a menos que Senhor ordenasse. Você sabia que ele falaria comigo?"
A alegria de Jonas aumentou.
“O Senhor não fala comigo há algum tempo. Percebo alguns cutucões - tendências. Mas você, Oséias - você é o profeta do Senhor para este momento da história de Israel. Fale com coragem, meu filho. Fale com a autoridade que Senhor deu a você. " Seus olhos penetrantes fixados naquela estranha pele branca fariam qualquer homem estremecer.
Permaneceram em silêncio enquanto viajantes cansados cruzaram por eles.
Oséias parecia criança, mas precisava perguntar.
“Senhor me disse para casar com uma prostituta, mas Ele não disse exatamente como encontrar uma ou como fazer - bem, garantir o acordo dela." Sentindo o calor subir em suas bochechas, ele arrastou a sandália no caminho empoeirado.
“E se eu encontrar uma prostituta, mas ela me recusar? Não sou tão bonito quanto Isaías. Ele não teria dificuldade em conquistar o coração de uma mulher. Ele já ganhou Aya. " Ele ergueu o olhar, expressando o medo mais profundo de sua alma.
“E se eu não conseguir conquistar nem uma prostituta?"
Ainda de pé no meio da horda de viajantes, Jonas pegou Oséias pelo braço e começou a caminhar mais uma vez pela colina de Samaria.
“Sua prostituta pode até te recusar."
“O que?" Oséias parou, mas Jonas puxou o manto e o trouxe de volta pelo braço para continuar a caminhada.
“Eu disse que ela pode te recusar, mas você deve se lembrar por que está aqui. O coração do Senhor está partido pela infidelidade de Israel. Você deve se tornar vulnerável ao carinho da pessoa com quem procura se casar. Você deve declarar publicamente suas intenções para ela e, assim, arriscar-se ser rejeitado."
“Isso não está me fazendo sentir melhor, Jonah." Ele continuou repetindo a dança feliz de Isaías após as negociações da noiva de Aya, encolhendo-se por nunca sentir aquele doce triunfo.
“Minha intenção não é fazer você se sentir melhor, meu filho. Minha esperança prepará-lo para o chamado do Senhor. Sua luta, suas emoções, suas alegrias e tristezas muitas vezes espelham os sentimentos do próprio Senhor. "
Oséias se calou mais uma vez, olhando novamente para o palácio de calcário branco de Samaria.
Ele percebeu que seus dias como estudante na escola dos profetas haviam terminado, mas o tempo de aprender a ser profeta do Senhor estava apenas começando.
Ele engoliu seco, reunindo coragem para arriscar outra pergunta, feliz por Isaías não estar com eles.
Embora Oséias e Isaías tenham sido criados juntos no acampamento dos profetas, Isaías era quatro anos mais novo e sabia ser tão irritante quanto qualquer irmão mais novo.
E por ter crescido na realeza, Isaías poderia não entender as preocupações de Oséias.
“E se eu não quiser obedecer ao chamado de Senhor, Jonas? E se eu não quiser casar ... ma prostituta?" Até a palavra tinha um gosto amargo em sua língua.
Jonas sorriu e Oséias se sentiu envergonhado.
“Não vejo qual é a graça!"
Jonas levantou uma sobrancelha enrugada.
“Você está me perguntando sobre desobedecer ao Senhor?"
Oséias percebeu a ironia de sua pergunta ao profeta fujão, e suas defesas enfraqueceram.
“O propósito de Deus seguirá seu curso - com ou sem a nossa participação. Se não estivermos dispostos a obedecer, Ele usará outra circunstância ou encontrará outra pessoa para servir ao Seu propósito. Mas o propósito de Deus seguirá seu curso porque, afinal, Seu caminho é o melhor. "
Oséias assentiu, e eles continuaram sua caminhada em silêncio, atentos à multidão que afluía à cidade do rei Jeroboão.
Samaria, como Jerusalém, fora escolhida como capital do país por um soldado devido à sua vantagem militar.
O rei Omri tinha valorizado a posição de Samaria: localizada no alto de uma colina íngreme e tendo como muro posterior a encosta da montanha.
O filho de Omri, Acabe, ampliou as construções da cidade; de fato, foi a extravagância e os presentes de Acabe à sua esposa, Jezabel, que fizeram os mercadores fluírem ao palácio de marfim de Samaria.
Oséias parou, protegendo os olhos do brilho.
Olhou para o palácio e os pátios que ocupavam quase um terço da colina de Samaria.
Mansões de dois andares a leste das propriedades reais testemunhavam o luxo e o excesso dos líderes de Israel.
O coração de Oséias apertou dentro de seu peito.
Jonas parou, observando ansiosamente aqueles que passavam apressados, e puxou a manga de Oséias: “O que você está fazendo? Se os relatos dos mercadores forem verdadeiros, o sacrifício pode começar no templo a qualquer momento. "
Oséias girou em círculo, encantado pela vista.
“Sou israelita de nascimento, Jonas, mas nunca vi Samaria."
Um homem cultivava o solo com sua mula e seu arado.
Crianças corriam por um campo de oliveiras, rindo.
A garganta de Oséias apertou de emoção.
“Tudo isso será destruído se Jeroboão não ouvir a mensagem do Senhor."
“Lembre-se de seu treinamento, Oséias. Você é o profeta de Deus. Você não é Deus."
Jonas colocou o braço em volta do ombro de Oséias e apoiou-se em sua muleta enquanto os dois passavam pelos portões da cidade.
Uma vez dentro da capital de Israel, eles foram para o oeste, subindo a famosa colina de Samaria.
No centro da rua corria a vala de drenagem da cidade.
Até mesmo os dois profetas sabiam que deveriam ficar longe da vala.
O cheiro quase fez Oséias vomitar.
Quando a multidão diminuiu, ele olhou para trás e viu casas mais pobres ao pé da colina, o destino natural de drenagem para todo o lixo e esgoto da cidade.
Mais razão pela qual os ricos e poderosos vivem no topo da colina, em mansões de dois andares.
“Temos que nos separar", disse Jonas, acenando com a cabeça na direção da multidão paralisada.
“Você precisará chegar o mais perto possível do rei Jeroboão e não conseguirá chegar tão longe se estiver arrastando um velho aleijado." Oséias começou a protestar, mas Jonas o silenciou com a mão levantada.
“O Senhor escolheu você para entregar a mensagem, meu filho. Ele deixará claro o caminho e lhe dará sabedoria."
Jonas empurrou Oséias, não deixando espaço para discussão.
Com o coração trovejando no peito, Oséias deu os primeiros passos em direção a um grande edifício no lado leste do palácio.
Acima do pórtico estava empoleirado o deus fenício Melqart - construído por Acabe para sua rainha, Jezabel.
Oséias olhou para trás várias vezes, observando a distância de Jonas ficar cada vez maior - até finalmente não conseguir mais ver seu professor.
O impressionante templo branco de dois andares estava diante dele.
Jardins adornavam suas bordas exteriores, e imagens de pedra de todos os tamanhos pontilhavam no pátio.
Ele se manteve caminhando, enquanto a multidão o empurrava para frente.
Já no santuário principal, Oséias engasgou
No lugar do touro de ouro de sua casa em Betel, um ídolo enorme ocupava grande parte do templo de Samaria.
A imagem brilhante de bronze de um homem com cabeça de touro chegava quase ao teto do templo.
Sua barriga estava incandescente, lançando fumaça do fogo que queimava em seu interior.
Oséias ouvira histórias desse deus - para os moabitas, ele era Quós; para os amonitas, Moloque.
Os cananeus o chamaram de Mot e ensinaram aos israelitas que ele deveria ser aplacado quando a seca avançasse pela terra.
As histórias locais contavam sobre Mot conquistando o doador de chuva, príncipe Baal, e levando-o ao submundo até que um sacrifício fosse feito.
Não importava o nome daquela abominação, Oséias sabia o que aquele altar significava.
Uma criança estava prestes a morrer.
3
Oséias 4:1,3
“Israelitas, ouçam a palavra do Senhor."
“A fidelidade e o amor desapareceram desta terra, como também o conhecimento de Deus. Por isso a terra pranteia , e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo."
Gômer atravessou a multidão com uma habilidade carregada de experiência e propósito.
As garotas atrás dela mantiveram o ritmo, e ela notou que os outros olhos adornados de kohl a seguiam a cada movimento.
“Você. Fique à esquerda do mezanino do rei", ela instruiu.
Em seguida, apontando para uma garota alta e mais experiente, Gômer acrescentou: “Fique perto dela até ver o cliente pagar um preço agradável de grãos". Ambas as garotas assentiram e saíram correndo, sinos de bronze tilintando em seus tornozelos a cada passo.
Gômer designou locais para as demais garotas de Tamir - longe o suficiente de outras prostitutas para evitar confrontos, perto o suficiente do altar para atrair adoradores.
Após designar o ponto das outras meninas, Gômer examinou o santuário do templo para encontrar seu próprio ponto.
O ponto variava conforme o evento, mas as premissas eram as mesmas: o local mais discreto, perto dos oficiais de mais alto escalão.
Um ancião ou juiz - até mesmo um sacerdote - não tinha escrúpulos em levar uma prostituta para sua cama.
Mas um oficial poderia ser ridicularizado se pagasse por prazer com muita frequência.
Ou se a mulher fosse feia.
Gômer sabia que não era feia; alguns dos homens mais poderosos de Samaria haviam dito isso a ela.
Repetidamente.
A discrição era essencial se ela quisesse atrair aqueles que pudessem fornecer prata suficiente para a fuga desta noite com Merav.
Os tambores do templo começaram a bater bem devagar, fazendo a alma de Gômer vibrar e seus pés se moverem.
Ela começou a dançar e balançar, movendo-se com a batida em direção a uma área sombreada perto do mezanino do rei.
Jeroboão estava sentado no trono do templo com seu recém-nomeado general de Israel ao seu lado.
Menahem era um soldado cruel e um líder exigente.
Como o rei Jeroboão, ele exigia lealdade inquestionável daqueles que comandava.
Gômer sentira o estalo do chicote do general duas noites atrás, quando demorou a servir o vinho dele.
Ela nunca cometeria esse erro novamente.
À direita do rei estava Amazias, sumo sacerdote de Betel durante a infância de Gômer.
Ela o vira centenas de vezes desde que chegara a Samaria, ressentindo-se de sua promoção como sumo sacerdote de Israel.
Ela se sentia com seis anos de novo e, em sua mente, viu Amazias se enfurecer com o profeta Amós, que havia vindo de Judá para profetizar contra Israel - e ainda trouxe aquele profeta com ele.
O profeta dos peixes.
Ele foi o responsável por Oséias ter ido embora.
A lembrança do rosto gentil de Oséias apertou seu coração.
Ela não pensava em seu amigo de infância há anos - até esta manhã.
Por que ele atormentou seus pensamentos hoje?
Gômer cobriu os ouvidos, tentando calar a memória, concentrando-se na flauta e no tambor da celebração que começava.
Mas ela podia sentir os braços de Oséias em volta dela.
Ele era apenas um garotinho, mas era como um irmão mais velho, forte e protetor.
Quando seu abba Beeri anunciou que estava levando Oséias a Judá - longe do culto pagão de Israel - Gômer lembrou-se do quanto chorou.
O mundo dela ficou escuro.
Quando ela acordou, Oséias havia partido - e logo sua inocência também seria tomada.
Os tambores no templo do rei Jeroboão continuavam batendo, mas Gômer permaneceu como o ídolo diante dela, encarando Amazias.
De alguma forma, ele era o responsável por sua dor.
O ódio profundo e contorcido aumentou dentro dela enquanto observava aquele tolo pomposo bater palmas.
Ela tinha dez anos quando seu abba Diblaim a vendeu para a sacerdotisa de Samaria - no mesmo dia em que Amazias foi nomeado sumo sacerdote de Israel.
Naquele mesmo dia, abba Diblaim tornou-se sumo sacerdote em Betel.
A ascensão de alguns homens foram construídas com base na beleza das meninas.
O pensamento de que havia sido trocada por um favor político de seu abba a consumia com ódio e desespero.
Um calafrio a atravessou.
Gômer balançou a cabeça, tentando limpar a cabeça.
Ela deve estar no seu melhor, se espera ganhar prata suficiente para fugir com Merav esta noite.
Ela fechou os olhos, desejando desfrutar a batida dos tambores, sentir a vibração da batida sob seus pés.
Ela retomou sua dança em direção ao mezanino do rei, passando pelo altar, a imagem de um homem com cabeça de touro, sentado com as pernas cruzadas.
Chamas âmbar e banco queimavam sua barriga, o calor chamuscante.
Ela deu uma boa olhada na besta de bronze um espaço amplo, maravilhada com seu tamanho.
Duas vezes mais alta que um homem, a imagem era larga o suficiente para um camelo ficar dentro de sua câmara.
Ela nunca tinha visto nada parecido em Samaria - ou mesmo em Betel.
Os cananeus tinham muitos deuses, e Gômer se sentiu enganada por sua adoração israelita a El e Aserá, Baal e Anate.
Aserá era sua padroeira, abençoando e amaldiçoando os ritos de fertilidade de homens e mulheres.
Gômer dera aos deuses de Israel o respeito que eles mereciam, mas algo nessa fornalha de bronze a excitava.
Os tambores bateram mais rápido, e ela abriu bem os braços.
Inclinou a cabeça para trás, abandonando-se a rir e dançar.
Os guizos ao redor de sua cintura, tornozelos e pulsos tocavam no tempo dos tambores, e ela estava perdida na emoção de tudo que esse novo deus poderia oferecer.
“Ouçam a palavra de Senhor, vocês israelitas." Uma voz masculina profunda acabou com seus nervos, ressoou na bateria e silenciou a multidão barulhenta.
“o Senhor tem uma acusação contra vocês."
O feitiço da dança de Gômer foi quebrado.
Ela não ouvira falar daquele deus desde Betel, desde Oséias. . .
“Quem ousa interromper o santo sacrifício do rei?" Amazias levantou-se de seu sofá dourado e ficou na beira do estrado, procurando no mar de rostos.
A multidão se espremeu e se agitou até que um homem ficou sozinho - cercado por espectadores curiosos e cautelosos.
“A fidelidade e o amor desapareceram desta terra, como também o conhecimento de Deus", continuou o intruso, mas Gômer não conseguiu se aproximar o suficiente para ver seu rosto.
“Só se veem maldição, mentira e assassinatos, roubo e mais roubo, adultério e mais adultério Por isso a terra pranteia, e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo."
“Não coloque a culpa nos líderes de Israel quando são as pessoas que cometem esses crimes hediondos". O volume do sumo sacerdote aumentou, assim como as pequenas corcovas onde seus ombros pertenciam.
Gômer sempre pensou no corpo de Amazias mais como uma serpente que homem.
Ela costurou através da multidão.
Mais uma pessoa e finalmente verei o profeta do Senhor.
“É o Senhor que diz a Amazias: Minha acusação é contra os sacerdotes. Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes. uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos.. "
Gômer emergiu da multidão e se viu frente a frente com o profeta.
Pelos seios de Aserá - não!
“Oséias?" A palavra escapou no sussurro e, graças aos deuses, ele não a ouviu.
Mas era ele.
Durante a infância ela sempre fora a mais corajosa.
Olhe para ele agora.
Seu tímido amigo agora era profeta do Senhor.
Com o coração batendo mais forte do que os tambores, ela observou o antigo amigo.
Ele parecia era o mesmo.
Cabelo encaracolado.
Olhos castanhos claros - tão inocentes quanto ha doze anos atrás.
Então ele cruzou o olhar de Gômer.
Ela viu sua inocência se despedaçar.
Oséias inclinou-se para a frente, apertando o estômago como se tivesse levado um golpe.
Ouviu-se algum murmúrio na multidão e ele soube que precisava continuar com a mensagem de Deus, mas como?
Ele permitiu que seus olhos vagassem pelo piso de mosaico até os pés pintados de hena da prostituta que estava a frente.
Lentamente, quase dolorosamente, seus olhos observaram aquela forma escandalosa diante de si.
Cada pulseira, véu e guizo tinha sido habilmente colocados para acentuar a pele e as curvas perfeitas da menininha que ele conhecera em Betel.
Ela estendeu a mão meio sem jeito, cobrindo a cicatriz na testa.
Mas era possível esconder a bela pinta ao lado da narina esquerda.
Quando criança ela odiava aquilo e esfregava purê de pepino e seiva de pinheiro.
Não tinha funcionado, e agora a distinguia como uma beleza rara e exótica.
Oséias sentiu uma mão em seu ombro e pulou como um garoto assustado.
A multidão riu, depois ofegou, mas antes que ele se virasse, ele viu ódio nos olhos de Gômer quando ela contemplou o velho profeta atrás dele.
Jonas havia tirado o capuz, revelando sua pele coalhada e, logo, sua identidade.
“Meu filho, você deve continuar", ele sussurrou.
“Você ficou distraído..."
“Você não entende, Jonas. Ela é..."
“O Senhor sabe, Oséias. Nem mesmo o menor detalhe escapa de Seu conhecimento ou plano. " Ele recuou então, dando ao aluno a liberdade de escolher.
Ministério ou distração.
Ele olhou novamente na direção de Gômer, com o coração partido quando ela se virou.
E então sua ira explodiu.
“Quanto mais aumentaram os sacerdotes, mais eles pecaram contra mim rocaram a Glória deles por algo vergonhoso. Eles comerão, mas não terão o suficiente. eles se prostituirão, mas não aumentarão a prole."
Ele viu a cabeça de Gômer se mover em sua direção, um olhar perverso indicando que deveria parar.
Ele não podia - nem mesmo com o pedido de sua amiga amada.
“Um espírito de prostituição os leva a desviar-se; Eles cometem adultério, entregando-se a outros deuses."
Amazias começou a rir e disse a Jeroboão e Menaém: “Parece que este jovem não aprova nosso adorável Gômer". A multidão se juntou à zombaria, pateando e investindo contra as jovens prostitutas espalhadas entre elas.
Oséias empurrou o homem que havia tomado Gômer nos braços.
Fique longe dela!
Fique longe de mim! ela gritou e se aninhou no peito do homem.
Ela olhou sobre o ombro para Oséias, como se desafiando a defendê-la novamente.
O que eles fizeram com ela? Por que Gômer correria para os braços de um homem que abusaria dela, quando Oséias poderia ajudá-la e restaurar sua amizade? Seu peito doeu com a dor de sua traição.
“O Senhor sabe", Jonas disse ha um minuto atrás, quando pensou que Oséias simplesmente estava distraído com a forma de uma prostituta.
Finalmente, Oséias entendeu.
Ele entendeu a dor indescritível do Senhor por uma nação que recusou Suas tentativas de cortejá-los, optando por se deitar com outros amantes.
A indignação fez crescer sua paixão.
“Sacrificam no alto dos montes e queimam incenso nas colinas, debaixo de um carvalho, de um estoraque ou de um terebinto É por isso que suas filhas se tornam prostitutas e suas noras cometem adultério. " Suas últimas palavras pareceram acalmar a multidão.
Evidentemente, a menção de filhas adúlteras tocava o coração enquanto as prostitutas humildes passavam despercebidas.
“Não castigarei suas filhas por se prostituírem, nem suas noras por adulterarem porque os próprios homens se associam a meretrizes e participam dos sacrifícios oferecidos pelas prostitutas cultuais um povo sem entendimento precipita-se à ruína! Embora você adultere, ó Israel, que Judá não se torne culpada!"
Mal a palavra Judá escapou quando o rei Jeroboão saltou do trono.
Já ouvi o suficiente desse vidente.
Reconheço você, Jonas.
Seu velho conivente.
Como se atreve a se esconder atrás de um garoto de bochechas rosadas para pronunciar condenação no reino que você ajudou a construir?
Jonas deu um passo à frente e curvou-se enquanto soldados se aproximaram.
“Tu estás certo, rei Jeroboão, sou eu, Jonas. Mas você está errado quando diz que ajudei a construir o seu reino. " Um sorriso sereno esticou a pele manchada do velho.
Entreguei a mensagem do Senhor a ti e a seu abba Jeoás.
Elohim é quem restaurou as fronteiras de Israel de Hamate ao Mar Morto.
Não foi o rei Jeoás.
“Está dizendo que eles não entraram aqui com você?"\n
E certamente também não fui eu.
Dê ao Senhor a glória somente - ou prepare esta nação para enfrentar Sua ira. "
Os guardas chegaram naquele e agarraram os braços de Jonas.
“Ele é um homem velho", disse Oséias, empurrando um soldado para longe.
“Não precisa forçá-lo."
Ele colocou um braço em volta dos ombros de Jonas e caminhou na direção ao pátio, gritando: “Os israelitas são rebeldes como bezerra indomável. Efraim aliou-se a ídolos; deixem-no só! Mesmo quando acaba a bebida, eles continuam em sua prostituição; seus governantes amam profundamente os caminhos vergonhosos. “Tirem-nos do meu santuário!" Jeroboão gritou.
“Que os tambores retornem!"
Oséias ouviu o barulho recomeçar e olhou para Jonas, preocupado que os guardas o tivessem ferido.
Em vez disso, ele recebeu um sorriso e um aceno de aprovação.
“Nããão!" O grito de uma mulher rompeu o momento amável.
Os profetas foram empurrados do santuário enquanto uma velha arranhava e chutava os soldados que a levavam.
Sangue escorria do nariz dela e um corte acima do olho.
Ela havia sido espancada - provavelmente pelo enorme soldado à sua frente.
Segurava uma criança chorando, enrolada e erguida acima da cabeça como uma oferenda.
Velha demais para ser mãe do bebê, seria ela a savta, protegendo o neto?
O pânico excitou a força de Oséias, e ele fez uma tentativa para escapar de seus captores.
Um dos soldados golpeou sua face com o punho da espada, e Jonas segurou o antebraço de Oséias antes que pudesse revidar.
“Não, meu filho", disse Jonas.
“Somos obedientes à vontade do Senhor. Israel deve escolher se arrepender e obedecer ou se envolver no ato mais abominável da humanidade. Se sacrificarem essa criança não serão melhores que os cananeus e serão expulsos da Terra Prometida para o exílio. "
Oséias não teve tempo para pensar, nem para decidir.
Os soldados arrastaram os dois profetas para fora do pátio do templo e os jogaram na vala da rua principal de Samaria.
Eles sentiram o cheiro, ouvindo os tambores baterem mais rápido e a multidão gritar mais alto.
Parece que ia durar uma eternidade.
E então os tambores pararam.
Um único lamento se ouviu pelo ar e Oséias imaginou a velha espancada.
Quando a voz foi silenciou abruptamente, ele se perguntou o que teria acontecido com a única pessoa que ousou desafiar a nação.
4
Êxodo 22:29-30
[O Senhor disse a Moisés:] “Consagrem-me o primeiro filho de vocês...
Durante sete dias a cria ficará com a mãe, mas, no oitavo dia, entreguem-na a mim.
Gômer assistiu horrorizada o capitão de Menahem desfilar pela multidão, segurando o bebê enrolado acima da cabeça.
Ela havia se deitado com os soldados mais influentes de Israel, mas aquele homem, Eitan, era o segundo mais cruel, perdendo apenas para o próprio Menahem.
Os tambores tocaram mais alto, mais rápido, e ela observou o ritmo do guarda para seu óbvio destino.
Ela atravessou a multidão, chegando ao altar um segundo antes de Eitan.
“Por favor, por favor ..." Ela se ajoelhou diante dele, o calor da fornalha quase acendendo seus véus.
Antes que ela pudesse continuar, ele a afastou com um chute. Ela caiu desajeitadamente de lado.
Merav a viu deitada ali e parecia dividida sobre quem proteger - o bebê destinado ao sacrifício, ou Gômer, a garota que amava há tanto tempo.
O momento passou e Gômer soube.
Merav estava se despedindo.
Eitan levantou a criança no alto, encarando a imagem.
Ele estava a poucos passos das chamas, enquanto dois guardas seguravam Merav entre eles.
Ela parou de lutar, mas a lâmina de uma adaga ainda brilhava no seu lado esquerdo.
Gômer inclinou a cabeça e chorou.
“Não deixe um jovem amargurado e um profeta vingativo desiludir você, Israel." Amaziah ergueu os braços e gritou acima do barulho.
A multidão se aquietou, mas os tambores continuavam batendo.
“Os sacerdotes de Israel conhecem a lei de Moisés, assim como Jonas, mas ele escolhe pregar as leis que servem a seu propósito.
Pois El também não disse ao nosso grande profeta Moisés: 'Você deve me dar seus filhos primogênitos; eles podem ficar com seus imas por sete dias, mas no oitavo dia você deve dá-los para mim '? É El, o benigno, que permitiu que Mot derrotasse o príncipe Baal e impedisse a chuva de nós.
Esteja, pois, avisado, ó piedoso Mot, que o temível Anate contempla a batalha.
Faremos o que nos foi pedido e ofereceremos um primogênito aos deuses.
Possam nossas notícias despertar a fúria de Anate e o desejo de seu amante, Baal.
Deixe o cavaleiro das nuvens encher os céus com trovões e relâmpagos.
Receba, ó Baal, esta oferta e derrame chuva da janela do seu palácio. " O sumo sacerdote de Israel baixou os braços e os tambores silenciaram.
Eitan arremessou o bebê enrolado nas chamas do altar, e no mesmo momento Merav foi trazida.
Gômer observou a adaga do guarda afundar profundamente na lateral de sua amiga.
Merav desvaneceu onde estava, incapaz de emitir um som.
“Nããão!" Gômer gemeu e tentou rastejar até ela, mas Eitan agarrou os cabelos de Gômer e colocou o joelho em sua barriga.
Ela perdeu o fôlego.
“Tire esta velha daqui", sussurrou entre os dentes para seus homens.
“Vou cuidar da prostituta."
A música começou a tocar novamente, e a multidão comemorou.
Flautas e liras juntaram-se aos tambores, reacendendo o culto frenético, enquanto Gômer estava ofegante.
Ao seu redor, pés dançavam e os guizos das prostitutas tocavam.
“Alegrem-se", Amazias exaltou.
“Alegrai-vos comigo, povo de Israel! Certamente nossos deuses ouviram nossas orações e nos responderão rapidamente. Desfrute do prazer onde o encontrar, e que os férteis bosques de Aserá satisfaçam todos os seus desejos."
Eitan puxou Gômer pelos cabelos e agarrou sua orelha.
“Você deveria saber que não pode atrapalhar o grande momento de Amazias. Receio que você terá que pagar por seu julgamento pobre. " Ele a segurou sob um braço e a arrastou em direção à saída do pátio.
Ela tentou se libertar, mas ele apertou suas costelas.
Mal conseguindo recuperar o fôlego por causa da dor, ela resmungou as palavras: “O que vai acontecer com o corpo de Merav?"
Eitan não respondeu.
Ela entendeu que ele estava ignorando sua preocupação, e depois de atravessar o pátio lotado e virar numa rua deserta ao lado do templo ele perguntou: “Quem?"
“Merav, a velha..."
Antes que ela pudesse terminar, ela compreendeu suas feições.
“Você estava lamentando pela velha bruxa, não pela criança? Eu deveria saber que uma mulher como você não teria instinto maternal. " Ele riu e a empurrou para um canto.
A rua terminava na parede do pátio.
Ela não tinha para onde fugir.
“Por favor, Eitan. Sou a única família que Merav tinha. Preciso lavar e embrulhar seu corpo para o enterro."
Ele ergueu uma sobrancelha.
“Então você se lembra do meu nome? Fico lisonjeado."
Ela sentiu alguma coragem e deu um passo em sua direção estendendo a mão para acariciar sua bochecha.
“Claro que lembro de você. Você é o único homem ... - Enquanto seu rosto queimava de dor, ela se viu no chão olhando para o homenzarrão."
Ele a levantou e a puxou para perto.
“Adoraria ouvir todas as coisas maravilhosas que você diria sobre mim, mas não posso deixar suas ações impunes. Porque gosto de você, mandarei o corpo da velha para o bordel de Tamir." Ele sorriu e o estômago de Gômer deu um nó.
“Infelizmente, duvido que você possa preparar o corpo para o enterro."
Então começaram os golpes. Gômer esperou que a doce escuridão a resgatasse.
“Eu não posso fazer isso, Jonah." Oséias cortou uma fatia de queijo duro e ofereceu ao amigo.
“Além disso, o Senhor não disse que eu deveria me casar com Gômer. Ele disse que eu devo casar com uma prostituta e ter filhos com ela. Eu nem sabia que Gômer era uma prostituta. " O coração de Oséias estava na garganta só de reconhecer o fato.
Jonas cortou uma fatia de queijo, colocou em um pedaço de pão e deu uma mordida. Acenando. Mastigando.
Olhou para o sol vespertino na encosta sombria de Samaria.
Eles haviam escapado da cidade quando ouviram a cerimônia recomeçar no templo de Jeroboão e esperaram pelas instruções do Senhor.
Jonas deu outra mordida.
Mastigado.
Viajantes passavam por eles.
Deu outra mordida.
“Diga algo!" A frustração de Oséias chamou a atenção de uma família próxima, que rapidamente juntou suas coisas e partiu para a cidade.
“Eu sei que você tem uma opinião, e talvez o Senhor tenha enviado alguma mensagem para mim?"
Jonas deixou de lado a refeição e apoiou o cotovelo no joelho.
“Tudo que você acaba de dizer é uma ilusão. Primeiro, você gostaria que o Senhor falasse comigo porque deseja que outra pessoa lhe diga o que fazer. Mas você é o profeta de Deus neste momento na história de Israel, meu filho. Você deseja uma prostituta que não conhece, porque se a amar, ela poderá lhe machucar. Mas não é o objetivo da profecia de Deus que você deve sentir Seu amor e Sua dor? Parece-me que Gômer é a única mulher que ocupa o mesmo lugar em seu coração que Israel ocupa com Deus. Quem mais você poderia amar como essa garota?"
“Eu não amo Gômer", disse ele, com indignação crescente.
“Mais pensamento positivo." Jonah pegou o queijo e a faca e começou a comer novamente.
“Ela era como uma irmã para mim em Betel. Éramos inseparáveis desde a morte de nossas imas no parto. Seu abba e o meu eram sacerdotes, mas seu abba tinha fama de violência e bebedeira. Foi ela que caiu das vigas no dia em que Amós profetizou, lembra?"
Jonas começou a lembrar.
“Era ela a garota por quem você implorou ao seu abba para levar a Tecoa, mas seu abba não permitiu."
A garganta de Oséias apertou e ele engoliu suas emoções.
“Ela tinha seis anos quando deixei Betel, Jonas. O que aconteceu com ela?"
“Ela é uma mulher linda, Oséias, e era uma criança linda." Jonah pigarreou, mantendo a cabeça baixa.
Oséias sabia que seu amigo do coração estava lutando para controlar suas emoções.
“Se o abba dela recusou am proposta de noivado de Beeri e o dote, podemos presumir que ele estava certo de uma oferta melhor estava por vir."
Oséias ficou em silêncio, imaginando as terríveis possibilidades do passado de Gômer.
“Eu nem a conheço mais. Seus olhos brilhavam de raiva. E você viu os sinos na cintura dela, nas mãos e nos pés? Onde ela conseguiu todas aquelas pulseiras de ouro e o anel no nariz e— "
“Parece", interrompeu Jonas, “que você olhou bastante para um homem que não tinha o menor interesse nessa prostituta em particular."
Oséias levantou-se abruptamente.
Desse ângulo, seu mentor parecia frágil enrolado na capa que costumavam compartilhar - mas ele ainda tinha o poder de desmascarar a alma de Oséias.
“E se ela não me aceitar? E se ela se recusar a se casar comigo?"
Jonas levantou-se para encará-lo.
“Já falamos sobre isso." Ele procurou as janelas da alma de Oséias, falando mais suavemente.
“Se ela te recusar, você experimentará como é o coração partido do Senhor pela prostituição de Israel. Mas você perseguirá Gômer novamente - até que ela venha até você de boa vontade. " Ele embrulhou o pão e o queijo restantes em um pequeno pano e o enfiou na mochila.
“É o que os profetas fiéis fazem. Continuamos obedecendo, e Senhor resolve os detalhes. " Ele deu um tapinha no ombro de Oséias e então pegou suas bengalas.
“Precisamos encontrar sua Gômer, mandar o sinal para Isaías nos túmulos e sair de Samaria antes que eles fechem os portões da cidade durante a noite."
Oséias quase se esqueceu de Isaías.
“E se alguém encontrou Isaías e roubou todas as nossas provisões? Não deveríamos ter certeza de que ele está seguro antes de prometer um preço por Gômer que não podemos pagar?" Seu coração disparou com seus pensamentos.
“E onde começamos a procurar Gômer? Nós nem mesmo sabemos— "
“O Senhor nos trouxe até aqui, meu filho. Você acha que Ele vai nos abandonar agora?" Jonas colocou o embornal no ombro e começou a subir a colina.
“Nós a encontraremos e enviaremos o sinal a Isaías para trazer nossa prata e nossos grãos. Pagaremos por Gômer, se necessário, e deixaremos Samaria. Agora vamos."
Eles se juntaram ao fluxo constante de viajantes, percorrendo o caminho sinuoso em direção aos portões de Samaria pela segunda vez no mesmo dia.
Por cinqüenta côvados na entrada da cidade, músicos e dançarinos se espalhavam pelas ruas.
Oséias se viu encarando todas as mulheres com pouca roupa que passavam.
Nenhuma delas era tão bonita quanto Gômer.
“E se fôssemos ao bosque de Aserá", disse ele, incerto se Jonas pudesse ouvir.
“Ela não estava vestida como uma sacerdotisa do templo, Oséias." O velho profeta continuou andando, virando à direita na rua principal da cidade, na direção oposta ao templo.
Oséias temia que aquelas bengalas se enroscassem na multidão e Jonas caísse na encosta leste da rua principal de Samaria, mas ele costurava e balançava entre os foliões.
Oséias mal continuou.
Como você sabe que estamos indo na direção certa? ele gritou por trás do velho profeta, que aparentemente se sentia fortalecido pela refeição.
A resposta de Jonas veio quando ele parou uma garotinha na rua.
O roupão estava gasto e esfarrapado, mas era o rosto que a entregava como serva de bordel.
Uma corrente de bronze ligava um pequeno anel no nariz a um brinco.
“Aqui, pequenina", disse ele, pegando o queijo duro e o pão do embornal.
Ela olhou para cima com os olhos de um pássaro assustado preso numa armadilha.
“O que devo fazer meu senhor?"
Oséias pensou que seu coração se partiria.
“Você deve me dizer a verdade." A voz de Jonah era severa, mas a garota não parecia mais temerosa do que antes.
“Primeiro, eu preciso saber seu nome."
Ela olhou para a direita e para a esquerda e depois ergueu os ombros.
“Primeiro quero comer um pouco de pão."
Oséias escondeu um sorriso e observou Jonas comprar sua primeira verdade.
“Meu nome é Jarah", ela sussurrou, “eu direi toda a verdade se você me der a porção inteira de pão e queijo."
Jonas esfregou o queixo branco como se estivesse pensando profundamente, e Oséias ficou maravilhado com o fato de uma menina assustada ser tão esperta.
Um pechincha, esta poderia ser confiável.
“Tudo bem, Jarah, desejo encontrar uma certa prostituta."
A garota riu.
“Meu senhor, há muitas prostitutas ao seu redor. Escolha uma."
O olhar severo de Jonas a silenciou.
Quero a prostituta com cabelos cor de cobre.
Ela tem uma marca na bochecha esquerda e é conhecida pelo nome Gômer.
O sorriso de Jarah caiu e levou as esperanças de Oséias.
Ela afastou o pão e o queijo que Jonas havia oferecido.
“A mulher que você procura não vai atender clientes por muito tempo - se é que volte a atender. Ela pertence ao meu bordel, e a senhora Tamir me enviou para procurar um médico. Se ele puder curar Gômer, minha senhora pagará pelos remédios dela."
Ela encolheu os ombros como se a vida de Gômer estivesse tão perdida quanto o pão e o queijo.
5
Oséias 8:5-6
Lance fora o seu ídolo em forma de bezerro. . . .
Até quando serão incapazes de pureza? Este bezerro procede de Israel! Um escultor o fez. Ele não é Deus. Será partido em pedaços o bezerro de Samaria.
Não é um deus.
Será partido em pedaços.
Leve-nos até ela! Oséias empurrou Jonas e sacudiu os ombros de Jarah.
“O que aconteceu com Gômer? Por que ela precisa de um médico?"
Jonas se interpôs e protegeu a garota, que estava tão pálida quanto o velho profeta.
“Não posso voltar ao bordel sem um médico ou serei espancada. Já perdi muito tempo e provavelmente vou sentir a correia de Tamir. " Com um último olhar de saudade para o pão e o queijo, ela passou por eles e entrou na multidão agitada.
Oséias estendeu a mão para contê-la, mas Jonas o impediu.
“Mova seus pés e não sua boca", ele sussurrou, partindo atrás da garota.
“Nós a vigiaremos até que ela retorne ao bordel com o médico. Vamos entrar e conversar com a proprietária. É esta tal de Tamir que detém o futuro de Gômer em suas mãos, não Jarah."
Acompanhar a criada não era uma tarefa fácil.
Eles a perderam de vista várias vezes nas ruas lotadas.
Oséias contornou os cantos, à frente de Jonas tentando encontrá-la.
Finalmente, avistaram Jarah correndo colina abaixo, acompanhados por um velho curvado carregando um embornal.
Senhor, dê-lhe sabedoria, orou Oséias, imaginando que o homem deveria ser o médico.
Eles diminuíram a velocidade, observando à distância enquanto a garota conduzia o homem por um portão no bordel.
Jonas parou, sua respiração estava irregular e ofegante.
Ele se inclinou, escorando em suas bengalas.
“Você está bem?" Oséias o segurou e sentiu a túnica do velho encharcada de suor.
Assentindo, Jonas se levantou e encostou na parede.
“Eu só preciso recuperar o fôlego e ter certeza de que você está ouvindo Senhor e não apenas o seu coração." Ele estendeu a mão e colocou a mão firme no peito de Oséias.
“Considere o propósito de Deus em tudo o que está acontecendo antes de reagir por medo, raiva, ou ambos. Lembre-se de que você está em Samaria para se casar com uma prostituta. Viemos preparados para comprar a liberdade de uma mulher de seu dono, mas se Gômer se machucou além da utilidade, essa Tamir pode dar a moça gratuitamente, e então podemos usar o dinheiro para ficar em Samaria até que Gômer esteja bem o suficiente para viajar. De qualquer maneira, você precisará de uma mente clara para negociar e ouvir as instruções do Senhor."
Com uma respiração profunda Oséias tentou se firmar.
“Jonas estava certo. Ele teria avançado pelos portões do bordel e feito qualquer coisa, dito qualquer coisa, pago qualquer coisa para tirar Gômer daquele lugar."
“Salvou de quê?"
Senhor, se Gômer é a prostituta que Tu queres que eu tome por esposa, deixe seu coração amolecer o suficiente para que ela se case de bom grado.
Ele voltou os olhos para Jonas e encontrou o olhar de seu mentor apenas se abrindo.
Parecia que suas orações haviam subido juntas ao trono de Deus.
“Pelo menos agora tenho certeza de que quero me casar com Gômer." Oséias deu um sorriso triste e Jonas acenou com a cabeça em aprovação.
“Saúdem o porteiro, e vamos negociar o dote da sua noiva."
“Shalom nesta casa!" Oséias gritou e olhou através do portão, suas tábuas de cedro reforçadas por chapas de ferro e uma única janela com grades ao nível dos olhos.
Oséias espiou por dentro e encontrou o pátio interior deserto e bagunçado.
O conteúdo dos potes de água e cestas de alimentos havia sido derrubado.
Ele bateu com mais força na porta.
“Estou a procura de uma das suas prostitutas!"
O bordel era uma casa de dois andares, vários corredores convergindo para o pátio aberto.
Oséias pensou ter visto alguém se mexendo em uma dos corredores escuros.
“Vocês! Quem quer que você seja. Vá dizer à sua senhora que eu venho negociar Gômer. Eu posso ajudar a pagar pelos cuidados dela. " Com isso, ele viu o farfalhar de um manto e ouviu passos fugindo.
Jonas apertou seu ombro, e eles esperaram em silêncio.
Mas não por muito tempo.
Uma mulher de meia-idade emergiu de um corredor escuro. A cabeça coberta por um lenço roxo e um círculo de tranças negras que se estendiam em um turbante intricadamente tecido.
Ela veio com passos rápidos e agitados, carregando uma caneca fumegante - como se Oséias tivesse interrompido sua tarde de lazer com um amigo.
“Que negócio é este de alguém oferecer pagar pelos cuidados com Gômer?" perguntou.
Um servo forte a acompanhou e abriu o portão.
Oséias deu um passo à frente, mantendo Jonas escondido atrás do muro de pedra.
A mulher examinou o jovem profeta da cabeça aos pés e sorriu com um canto da boca.
Sou Tamir, dona desta casa, e você deve ser um dos clientes de Gômer para ser tão generoso.
Não gostaria de desfrutar de uma das outras garotas enquanto Gômer está se recuperando do acidente de hoje.
A oferta de mulheres como se fossem bugigangas fez o sangue de Oséias ferver.
Um homem grosseiro teria dado um tapa naquele rosto pintado.
Em vez disso, ele disse com rigoroso controle: “Primeiramente, tomarei conhecimento dos acontecimentos de hoje, antes que a senhora veja um shekel da minha bolsa."
Tamir encarou, enfrentando o desafio.
“Eu direi a você o que pertence a Gômer e nada mais." Ela deu um passo para trás e estendeu a mão em boas-vindas, rindo sem humor.
“Mas, como sempre, o que diz respeito a Gômer era mais que suficiente para inventar uma história convincente."
Oséias fez um gesto para Jonas, e ele passou despercebido pelo portão do bordel.
A criada trancou o portão e Tamir conduziu seus convidados pelo pátio.
“Preciso saber dos detalhes agora, antes de vê-la", disse Oséias, parando perto do corredor.
“Suponho que você esteve no sacrifício desta manhã", disse ela, virando-se casualmente.
Foi aí que ela viu Jonas.
“Vocês!" ela disse ao profeta pálido enquanto sua caneca escorregou e despedaçou.
“Saia! Vocês dois! Se o sumo sacerdote ou rei descobrir que você esteve aqui, eles vão me fechar. "
O servo pegou o velho profeta pelo braço, mas Oséias o empurrou para longe e olhou para Tamir.
“Entregue Gômer e vamos embora. Pelo que ouvimos, ela não tem mais utilidade para você."
Ela fez um sinal para o servo se afastar e encarou Oséias.
Deixe-me contar os fatos sobre a sua prostituta, Profeta.
Depois que você e seu amigo medonho foram arrastados do templo, vi minha parteira lutar para salvar uma criança que não significava nada para ninguém.
Gômer se importava demais com essa parteira, e tentou tolamente interromper primeiro sacrifício real de Jeroboão aos deuses.
Então o general Menahem teve que dar uma lição a Gômer.
Ela empurrou Oséias, conduzindo-o de volta para o portão.
Agora, pelo bem de todos nós, saia de minha casa e deixe Samaria.
Seu envolvimento com Gômer mexe na casa real e em seus funcionários.
E se você continuar a jorrar previsões ridículas da morte de Israel, você derrubará a fúria de Mot sobre todos os que ama. " Ela acenou com a cabeça em direção ao porteiro, e o servo corpulento agarrou a nuca de Oséias.
Quase imobilizado, Oséias virou-se e caminhou para fora.
Sua última tentativa foi um grito.
“Ela não terá valor para você se morrer, e eu vim da companhia dos profetas de Judá com riqueza suficiente para comprar uma noiva." Ele não ouviu resposta, mas o servo parou de empurrar, então ele acrescentou outro apelo.
“Se você tiver que pagar um médico ficará sem recursos. Por que não a dá para mim e se livra logo dela?"
Ainda ao alcance do gigante do portão, Oséias ouviu a voz de Tamir como uma trombeta.
“Se eu a der, estarei do lado errado dessa briguinha entre você e o sumo sacerdote. Construí este negócio a partir do meu relacionamento com Amazias. Sacerdotisas do templo, prostitutas de rua e agora bebês do sexo masculino para o sacrifício. " De repente, livre da mão em seu pescoço, Oséias se virou e encontrou Tamir esperando na entrada do corredor.
“Por que eu desistiria do meu bezerro de ouro?"
Uma rápida olhada em Jonas confirmou que o velho profeta havia captado a ironia de sua pergunta.
O Senhor disse que um dia destruiria os ídolos de Samaria: os líderes corruptos, os israelitas espiritualmente infiéis e as imagens literais de bezerros de ouro nos templos de Betel e Dã.
Senhor, Você acabou de usar um dono de bordel para me assegurar de Sua presença neste momento? Oséias exalou sua admiração.
Deu um passo em direção a Tamir, falando com confiança renovada, estendendo a mão.
“Vamos acompanhá-la na conversa com o médico. Se ele disser que Gômer se recuperará, iremos embora, mas se ela não for mais útil como prostituta, permita-me pagar um dote por ela."
A mulher olhou para ele por um longo tempo - e virou-se abruptamente, caminhando pelo mesmo corredor escuro de onde viera.
Ele lançou um olhar para Jonas e fez uma nova oração, seguindo a mulher pelos corredores sinuosos.
Senhor, que os ferimentos de Gômer sejam graves o bastante para salvar sua vida.
Gômer ouviu sons ao seu redor.
Vozes abafadas.
Homens e uma mulher.
Então dor. Bem na cabeça.
Parecia que sua cabeça estava partida em mil pedaços.
Ela tentou se ajeitar.
Nada se moveu.
Seus braços e pernas pareciam pedras gigantes presas ao corpo sem vida.
O pânico penetrou quando as memórias do espancamento a assaltaram.
“Eitan?" Aqueles punhos enormes.
Seus chutes repetidos e como ela abraçou as pernas para se defender.
Agora tentando focar o olhar, ela viu quatro silhuetas em pé ao lado de sua esteira.
Ela olhou através de uma fenda, e identificou Tamir - mas quem eram os outros?
“Não posso avaliar a gravidade dos ferimentos até que ela acorde", dizia um velho.
“O sangue nos ouvidos dela é um mau sinal."
As extensas contusões no pescoço e nas costas também indicam danos permanentes.
A voz de Gômer parecia um coaxar, mas foi o suficiente para chamar a atenção das figuras no quarto.
Tamir se ajoelhou à sua direita e Gômer agora reconheceu o velho à sua esquerda: era o médico de Samaria.
Sua respiração parou ao ver Oséias e o profeta dos peixes, Jonas, um pouco adiante.
Ofegante, ofegante, ela tentou se afastar, mas tudo que ela podia fazer era gritar: “Não! Não!" Certamente eles viriam para pronunciar o julgamento sobre ela assim como eles condenaram o rei e os sacerdotes de Israel.
Oséias empurrou Tamir para o lado e consolou Gômer, pressionando gentilmente os lábios na testa dela.
“Shh, pequenino. Eu sei que você está com medo, mas Senhor nos enviou aqui para resgatá-lo. " Ele falou em um sussurro, mas agora ele ergueu a voz para os outros.
“Como podemos determinar a gravidade dos ferimentos?" Ela sentiu o hálito quente em seu rosto, mas não percebeu os braços dele na sua cintura.
Gômer observou por cima do ombro de Oséias e viu Tamir parada.
Ela parecia zangada.
Gômer virou-se para ver o que o médico estava fazendo.
Ele estava ajoelhado ao lado dela...
“Pelos deuses, afaste-o de mim!" ela gritou.
Todos os olhos miravam o médico agachado ao lado de Gômer, segurando seu braço, fazendo um único e longo corte com sua adaga.
O sangue fluía, mas ela não sentiu nada.
O pânico deu lugar a uma espécie de fascínio mórbido.
“Como é possível não sentir isto?" ela sussurrou.
“Chega!" Oséias pegou a adaga da mão do médico e a lançou pela pequena sala.
O médico também parecia intrigado.
“Nunca vi alguém sobreviver a uma surra tão grave. Não consigo imaginar uma forma dessa garota recuperar o movimento de braços ou pernas. Precisarei manter visitas regulares para acompanhar a evolução. "
O cômodo girou, e Gômer sentiu que iria devolver todo o café-da-manhã que tinha tomado.
Sua visão ficou turva e ouviu um zumbido.
Talvez ela estivesse morrendo.
“Eu gostaria de toma-la como minha noiva."
As palavras de Oséias foram como uma aspersão de água fria, despertando sua atenção para o presente sombrio.
“Quanto você está disposto a pagar por essa beleza?" Tamir caminhava em círculos, a tensão esticando seus lábios em um sorriso forçado.
“Espere", Gômer sussurrou, todos ouviram.
Mais uma vez, Oséias beijou sua testa.
“Esperei por muito tempo. Queria organizar nosso noivado antes de deixar Betel, Gômer, mas seu abba não permitiria. Agora, quero que você seja minha esposa."
A cabeça dela girou.
A luz da lamparina apagou.
Com certeza ela estava sonhando.
Oséias teria ido embora novamente quando ela acordasse?
6
Oséias 5:4
Suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus.
Um espírito de prostituição está no coração deles; não reconhecem o Senhor.
Gômer inclinou a cabeça para trás, os olhos fechados. O coração de Oséias parou.
“Gômer?" Ele a puxou para o peito e a embalou.
“Você não pode morrer! Acabei de te encontrar de novo. " Soluços violentos o sacudiram enquanto ele enterrava o rosto em seus cachos endurecidos de sangue.
Um discreto gemido escapou de seus lábios e ele engasgou.
“Deite-a de costas no tapete." O médico estendeu a mão para ajudar, mas recuou ao olhar ameaçador de Oséias.
Oséias sentou-se com as pernas estendidas e a tomou em seu colo.
“Gômer?"
Ela gemeu novamente, os olhos inchados tremulando.
O olho direito estava inchado demais para abrir, ela espiou pela fenda estreita do olho esquerdo.
“Estou sonhando?" ela sussurrou, uma única lágrima rolando.
Ele engasgou para responder, em parte pelo soluço, em parte pelo riso.
“Bem, isso depende. Você sonhou que eu te pedi em casamento?" Ele limpou a lágrima, mas em vez das boas-vindas que esperava, ela desviou os olhos dele.
“Vá embora, Oséias. Esqueça que me viu e finja que ainda sou a garota inocente que você conheceu." Ela se deitou em seus braços porque não podia afastá-lo.
O médico segurou o braço de Gômer.
Oséias a abraçou e empurrou o homem para longe.
“Você não a tocará novamente."
“O ferimento precisa ser tratado", disse ele, apontando para as bandagens na mão.
“Preciso embalá-lo com ervas para parar o sangramento."
Oséias permitiu com um aceno e colocou Gômer de volta na esteira.
Enquanto o médico trabalhava, Oséias se inclinou sobre ela e sussurrou: “Quando éramos crianças, deixei você liderar nossas aventuras, e muitas vezes nos encontrávamos em apuros por causa disso". Ele sorriu, esperando que o espírito dela se iluminasse com a memória.
Como ela não respondeu, ele chegou ainda mais perto.
“Desta vez, não deixarei você liderar, Gômer. Devo obedecer a Senhor e você deve obedecer a mim. " Ele viu um brilho nos olhos dela - uma pequena rebelião que lhe disse que o ímpio Gômer que ele conhecia ainda vivia por trás daqueles lindos olhos castanhos.
“Ordeno que você viva, Gômer, e pretendo fazer de você minha esposa hoje à noite."
Ela fechou os olhos, liberando outra lágrima e soltou um longo suspiro.
Pelo menos ela não disse 'não'.
Ele deu mais um beijo em sua testa e virou-se para Tamir.
Vou lhe pagar um dote justo, e não vou negociar.
Sei que a seca atingiu Israel com força. Darei quinze moedas de prata mais o equivalente em cevada.
É a minha única e última oferta.
Ele notou a transpiração no lábio superior da mulher.
“E Raabe?"\n
Oséias levantou a mão para silenciar a negociação.
“É minha única e última oferta." Ele se virou para o médico, notando que o braço de Gômer havia sido tratado e enfaixado.
Vou pagar um preço justo pelo seu serviço, mas você nunca mais tocará em minha esposa.
Ela estará sob meus cuidados a partir de agora.
“Quero cinco shekels pelos cuidados que ela recebeu hoje."
Oséias levantou uma sobrancelha.
“Te pagarei três shekels. Somos generosos, mas não tolos."
Os israelitas gananciosos resmungaram seu descontentamento, sugerindo alguma retaliação e argumentando para obter mais.
O silêncio obstinado de Oséias venceu, e o médico empacotou seus suprimentos, sussurrando palavrões.
Ele saiu da sala sem escolta - familiarizado com os corredores sinuosos do bordel.
Tamir se colocou atrás de Oséias e depois se inclinou por cima do ombro.
Gômer abriu o olho esquerdo, parecendo sentir a presença de sua dona.
Tamir falou com Oséias, mas mirou sua voz aguda para Gômer.
Aceitarei sua oferta, e não quero nunca mais receber notícias dela.
Quando ela deixar estes portões, estará morta para mim.
Gômer fechou os olhos e se virou.
Tamir se endireitou em pé.
“Estamos de acordo?"
Oséias assentiu. Um calafrio percorreu sua espinha.
Ele olhou para Gômer e, vendo outra lágrima rolar no canto do olho dela, sentiu uma crescente pena.
Alguém já te amou, Gômer?
Tamir virou-se para sair, mas Jonas a parou na porta.
“Precisamos ficar em Samaria até Gômer se recuperar o suficiente para viajar. Você faria a bondade de deixar alguém fazendo companhia para Gômer enquanto Oséias e eu procuramos uma casa para alugar?"
“Não", disse categoricamente.
“Eu não faria tal bondade. Todos nesta casa trabalham para viver. " Tamir passou por ele em direção à porta.
“E aquela garota ..." Oséias começou, mas Jonas fez sinal para ele se calar e não mencionar o nome de Jarah.
Tamir parou, virou-se lentamente, como um predador.
“E você teria alguma garota em mente, Profeta?"
Oséias se apressou para proteger Jarah.
“Uh... talvez a garota que você me ofereceu quando pensou que eu fosse um dos clientes de Gômer?"
Os olhos dela se estreitaram enquanto ela tentava interpretar a resposta dele.
“Se você quiser pagar pelos serviços de outra garota, não me importo com o que você fará com ela. Caso contrário, Gômer espera sozinho. " Tamir saiu furioso da sala e Jonah e Oséias soltaram um suspiro simultâneo.
“Eu irei sozinho", sussurrou Jonas.
“Usarei o cobertor para enviar um sinal a Isaías nos túmulos, como planejado. É mais ou menos a hora do dia em que dissemos a ele para assistir. " O velho profeta colocou uma mão reconfortante no ombro de Oséias.
“As circunstâncias são bem diferentes do que imaginávamos, mas Isaías ainda servirá como padrinho enquanto eu recitar suas bênçãos do casamento. Senhor é fiel, meu filho. " Ele acenou em despedida e saiu da sala, fechando a cortina atrás de si.
“Você deveria ter ido com ele." A voz de Gômer era baixa e áspera.
“Um velho sozinho não está seguro nesta cidade." Ela manteve o olho bom fechado para não ter que olhar para Oséias.
Ela não conseguia olhar para ele.
Jonas viajou sozinho para Nínive e voltou.
Acho que ele é capaz de se virar nas ruas de Samaria.
Ela ouviu a ironia na voz dele e ficou furiosa.
Abriu os olhos até onde o inchaço permitia, rangendo os dentes numa explosão de dor.
“Por que você está fazendo isso? Apenas me deixe morrer."
A emoção em seu rosto era difícil de interpretar.
Ele estava ajoelhado, meio desajeitado, até que finalmente encostou na parede.
Talvez ele finalmente tenha desistido.
Ela engoliu um pequeno suspiro quando ele se arrastou e deitou ao lado dela, puxando-a para mais perto.
“O que você está fazendo?" Seu corpo era com peso morto, entorpecido e imóvel.
“Você ouviu o médico. E se eu nunca voltar a usar meus braços ou pernas? Eu não posso ser uma esposa, Oséias. "
Ele se apoiou em um cotovelo, inclinando-se e sussurrando sua promessa em seus ouvidos.
“Não vou deixar você morrer porque assim que Jonas voltar com o preço da noiva, você será minha esposa." Seus lábios roçaram seu ouvido levemente.
O Senhor falou comigo, Gômer.
Ele me mandou vir a Israel para me casar com uma pros ... Ele tropeçou na palavra.
“Como você espera se casar comigo se nem consegue completar a palavra?" A emoção tomou conta dela, mas ela forçou as palavras.
“Você não sabe o que eu sou nem o que eu fiz!" Seu estômago revirou.
Ela amaldiçoou seus membros inertes, desejando poder correr para longe daquele homem piedoso que não conseguia entender as coisas que uma mulher precisa fazer para sobreviver.
O toque da respiração lenta e profunda em seu pescoço era ao mesmo tempo torturante e sedutora.
Ele se inclinou e sussurrou: “O Senhor disse: 'Case-se com uma prostituta e tenha filhos com ela'. Creio que o Senhor planeja te curar e nos dar uma casa cheia de filhos, Gômer. Deste momento em diante, amarei você - como Senhor ama Israel. " Ele se inclinou para trás, procurando seu rosto, seu desejo tão inocente que a penetrou.
“Você entende o que esse tipo de amor significa?"
“Eu entendo que você foi enganado." Sua voz estava ficando mais forte, talvez alimentada pela raiva nascida da desesperança.
“Você pagou o dote por uma prostituta que nunca sentirá seu toque nem satisfará seu desejo. Como você ousa aparecer do grande além depois de me deixar em Betel à mercê da minha abba? Você espera que eu confie em você agora, Oséias? Se tiver sorte, morrerei antes que Jonas volte com o dote, e você poderá voltar para junto dos profetas em Judá, casar com uma esposa chata, e criar bebês gordos"! Suas últimas palavras escaparam em uma torrente de soluços.
O abraço de Oséias a consumiu, enquanto seus braços inúteis sequer puderam afasta-lo.
Oh, que humilhação absoluta de estar à mercê de outro! Quando ela tomaria as decisões? Quando ela teria escolha?
Com uma voz tão dura quanto seu coração, ela disse: “Saia de cima de mim."
Assustado, Oséias a segurou nos braços.
Uma imagem contraditória: o coração duro como granito e o rosto cheio de lágrimas.
A expressão confusa de Oséias trouxe certa satisfação.
“Você perguntou se eu entendia o que era um relacionamento matrimonial. A resposta é 'sim'. Sou uma prostituta, mas não sou imbecil."
Ela ergueu as primeiras paredes do muro coração dele.
Ele se sentou, deixando a emoção fluir.
“Bom."
Talvez ele não seja tão tolo quanto eu pensei.
Ela desviou o olhar, preparando suas emoções caso a compaixão dele retornasse.
“Sinto muito, Gômer", disse com a voz controlada, “mas você não entendeu minha pergunta. Eu não disse nada sobre o relacionamento do casamento.. Perguntei se você conhecia o tipo de amor que Senhor sente por Israel. "
Um constante e tedioso curso sobre o cansativo deus de Oséias? “Estou familiarizada com o casamento dos deuses", disse ela, na esperança de interromper seu sermão.
“Fui treinada no templo de Aserá desde os dez anos quando abba Diblaim me vendeu. Eu sei que quando El se casou com Asherah, eles se respeitaram, mas mantiveram sua independência. " A culpa mordiscou as bordas de seu coração.
“Sei que posso ter sido menos do que respeitoso com você ..." Suas palavras foram perdidas no silêncio.
Ela se perguntou por que seu companheiro ficou mudo de repente. A seguir se surpreendeu ao ver uma tempestade se formando em seus traços.
“Independência?" Oséias disse, sua voz exibia traços da adolescência.
“Você acha que o assunto deste relacionamento sagrado é independência?"
“E respeito", acrescentou.
“Não!" ele disse antes que ela pudesse falar mais bobagens sobre seus deuses tolos.
“Você não tem idéia do que significa o amor do Senhor. Ele adora Israel e o chama de tesouro. Ele não quer nada além de ser objeto de seu amor e devoção. Seu coração se parte quando Israel corre atrás de outros deuses ou é enganado por falsos sacerdotes e profetas, acreditando que outros deuses podem prover a mesma bênção que Ele deseja derramar sobre Seu povo. "
Gômer fechou os olhos, mordendo os lábios em um sorriso zombeteiro.
“Se o Senhor ama tanto Israel, por que você disse a Amazias que Ele iria destruir todos nós? Às vezes, as pessoas vão muito longe para voltar. " Seu sorriso irônico morreu naquele lindo rosto machucado.
“Algumas pessoas simplesmente não merecem ser amadas."
Naquele momento, a voz de Deus ressoou como um shofar no espírito de Oséias: As maldades cometidas pelo meu povo impediram que voltassem seus olhos para Elohim.
Ele sabia que a insensibilidade de Gômer era como uma armadura. Ela estava muito assustada com as batalhas da vida para ser amada.
Ele acariciou a bochecha dela com as costas da mão na tentativa de dissipar aquela fúria.
Gômer recuou, mas desta vez não ficou com raiva.
“Descanse agora", disse ele.
“Quando Jonas voltar, quero que você seja minha esposa."
Ela não respondeu.
Ele se deitou ao lado dela novamente, mas não encostou mais.
Em vez disso, ele colocou um cobertor sobre ela e beijou sua bochecha.
“Durma. Estarei aqui quando acordar."
Gômer acordou com o som das vozes em seu quarto, a luz fraca da lâmpada e o ar frio da noite.
O gosto do sangue permaneceu em sua boca, e sua cabeça ainda latejava - agora uma dor persistente e chata.
Alguém estava aplicando uma compressa fria na sua testa.
“Oséias?"
“Não, sou eu", gritou uma garotinha.
Ela abriu os olhos e descobriu que tudo estava em ordem.
Jarah, a empregada, ajoelhou-se ao lado dela, lavou-a e vestiu sua melhor túnica.
Antes que Gômer questionasse a garota, Oséias se ajoelhou a esquerda da sua esteira.
“Você parece melhor. O inchaço diminuiu e os dois olhos estão abertos."
“Que é aquele?" O olhar dela apontou para o jovem bonito ao lado do profeta dos peixes.
Oséias pareceu entender e tirou o cabelo da testa.
“Jonas trouxe meu amigo Isaías do cemitério. Pagamos a Tamir o preço combinado e Jonah alugou uma pequena casa do outro lado da cidade. " Ele fez uma pausa, olhou em seus olhos com alguma emoção indecifrável.
“Está tudo pronto para a realização de uma cerimônia de casamento simples. Isaías servirá como padrinho. Jonas vai pronunciar a bênção, e Jarah "- ele fez um gesto para a menina ajoelhada a um côvado deles -“ será o seu assistente virgem ". Ele se inclinou para perto, um sorriso irônico vincando seus lábios.
“Tivemos alguns problemas para encontrar uma donzela entre os suas... colegas... qualificadas para ser damas de honra. "
Gômer sorriu e notou as bochechas rosadas de Jarah.
“Estou feliz que você a escolheu. Ela é minha favorita."
A garota abafou um pequeno suspiro.
“Obrigada, senhora Gômer."
Ela voltou-se para Oséias, notando que o sorriso dele havia fugido.
“Acredito que Senhor escolheu você para ser minha esposa, Gômer, mas não vou forçá-la a se casar comigo." Ele ergueu a voz para que todos ouvissem.
“Você aceita, de vontade própria, ser minha esposa?"
O coração de Gômer trovejou em seu peito, sua batida retumbou em seus ouvidos como os tambores no templo esta manhã.
Ela estava chateada por não ter liberdade de tomar as próprias decisões.
Como Oséias sabia do que ela precisava - quando ela precisava? De repente, uma estranha calma tomou conta dela, como sempre acontecia quando eles eram crianças.
Oséias costumava pegar a mão dela e dedilhar os dedos como uma harpa.
Ele estava fazendo do mesmo jeito agora...
“Oséias!" Ela levantou a cabeça e olhou para a mão paralisada que estava ao seu lado.
Ele realmente estava dedilhando seus dedos.
“Senti o seu toque! Toque meus dedos de novo!"
Ele riu e chorou e dedilhou os dedos, regozijando-se com ela na esperança de recuperação.
Enquanto os outros celebravam, Oséias a levantou nos braços e a beijou.
Não era mais o beijo de um garoto de dez anos, mas a doce paixão de um noivo que anseia por sua noiva.
Sem fôlego, ela sussurrou: “Sim, eu me caso com você."
7
Isaías 2:1
Foi isto que Isaías, filho de Amoz, viu a respeito de Judá e de Jerusalém.
Gômer estava sentada à sombra em sua pequena casa alugada no lado nordeste de Samaria, ouvindo o canto dos pássaros - e o ronco de Jonas.
O profeta dos peixes disse que tinha contemplado setenta verões.
Gômer tinha certeza de que ele havia dormido pelo menos cinquenta.
“Aperte com mais força, Oséias."
Isaías pegou a tira de couro da mão de seu amigo.
O jovem mandão trabalhava no projeto de carrinho que Oséias estava construindo e Gômer desenhou.
Seus ferimentos haviam melhorado bastante nos últimos três sábados, mas ela ainda não estava forte o suficiente para serrar, amarrar ou levantar.
Então Oséias deixou Isaías “dar uma mão".
“Oséias estava indo muito bem", ela gritou do outro lado do pátio.
“Se você apertar muito a alça, os cestos não funcionarão como apoio para as costas e a alça quebrará."
Jonas soltou uma lufada de ar e se assustou em seu banquinho.
Oséias riu, enquanto Isaías lançou um olhar desafiador para Gômer.
“Se você acha que pode fazer melhor ..." Ele deu um passo para trás e a convidou com um movimento de sua mão.
Ela recusou a intimação e pegou uma das bengalas de Jonas para se levantar.
Oséias correu para ajudar, mas ela o empurrou.
“Me deixe em paz." Ela quase não percebeu a dor em seus olhos mais.
O que ele esperava? Uma prostituta de rua num dia, uma esposa amorosa no outro?
Alguns passos adiante, e ela estava cara a cara com o amigo de seu marido que a desprezava.
“Diga o que deseja me dizer, e então não vejo necessidade de falarmos novamente." Ela ergueu o queixo, satisfeita com sua expressão chocada.
Oséias estava entre eles, suor escorrendo pela testa.
“Ela é minha esposa."
“Ela é uma prostituta." A palavra saiu de sua boca como vômito.
“Ela é um símbolo de tudo o que Senhor despreza em Israel, mas você a trata como se ela fosse uma excelente cerâmica do Egito." Ele voltou seu sorriso zombeteiro para Gômer.
“Sou grato a você por uma coisa. Seu coração sujo me mostrou tudo o que minha adorável Aya não é. Vou me casar com uma donzela pura e santa quando voltarmos para Tecoa, uma mulher cujo coração está bem com Deus e que sabe amar. "
Gômer não tinha palavras.
Ela começou a tremer e sabia que precisava escapar ou perderia todo o controle na frente daquele moleque que tentava remover camadas de armaduras cuidadosamente colocadas.
Um aceno foi sua resposta.
Ela se virou e foi para a casa.
Jonas estava parado na porta, com os olhos cheios de lágrimas.
Eu não preciso da sua pena! ela queria gritar.
Então ela sentiu a mão de Oséias em seu braço.
Não me toque! Ele obedeceu, parando no pátio enquanto ela se recolhia na única câmara privada da casa.
A vida como esposa de um profeta deveria ser melhor? Pelo menos como uma meretriz, ela tinha o respeito de seus pares.
Ela sabia que não merecia o amor, mas havia também desistido de toda esperança de amizade?
“Como você pôde, Isaías?" Oséias perguntou quando Gômer entrou na casa.
Ele girou nos calcanhares e correu para ele. Agarrou o colarinho da túnica de Isaías e o levantou do chão.
“Como você pôde dizer essas coisas?" ele gritou.
“Fomos ensinados que os profetas devem dizer coisas difíceis às vezes."
Oséias o soltou sem fôlego. E sem palavras.
Ele sentiu a mão de Jonas em seu ombro, puxando-o para o lado.
“Como a voz do Senhor se manifestou a você, Isaías?" o velho perguntou.
“Que provas o Espírito do Senhor lhe deu para confirmar sua vocação?"
O rosto de Isaías estava profundamente vermelho.
“Eu não ouvi a voz do Senhor palavra por palavra, mas..."
“Isso não é profecia, Isaías", a voz de Jonas trovejou.
“Foi o seu ciúme e preconceito falando, desejando que tivesse recebido uma missão profética antes de Oséias."
“Eu não tenho ciúmes dele. Por que eu iria querer me casar com uma prostituta?"
O coração de Oséias ficou em frangalhos.
Jonas fez uma pausa, fazendo com que o silêncio enfatizasse suas palavras.
“Você deixou claro seu desdém por Gômer. Sua birra infantil e sua incapacidade de compreender o amor do Senhor revelam sua imaturidade. Você não está pronto para o chamado do Senhor, Isaías."
O rosto de Isaías empalideceu.
Ele e Oséias observaram Jonas mancando até o interior da casa com uma bengala.
Oséias cruzou as pernas e ficou sentado, entorpecido demais para lutar.
Seu amigo sentou-se ao seu lado.
“Um pedido de desculpas dificilmente bastante - mas é por onde vou começar."
Oséias assentiu, mas não conseguiu aceitar as desculpas de Isaías.
Como ele poderia dizer aquelas coisas? “Você estava errado. Ela não simboliza tudo o que o Senhor despreza em Israel. Ela é tudo o que Ele busca redimir - o quebrantamento, a confusão, o cordeiro perdido que precisa de um pastor. " Isaías esfregou o rosto e suspirou profundamente, acenando com a cabeça no que Oséias esperava ser uma promessa de vê-la novamente.
“Você estava certo em uma coisa sobre Gômer. Ela ainda não sabe amar. Acho que o Senhor quer que eu a ensine."
Isaías inclinou a cabeça e franziu a testa.
“Parece que você já começou. Por favor, não interprete mal o que estou prestes a dizer, mas... ela não disse uma palavra civilizada para você desde que a trouxemos daquele bordel. E você insiste em cuidar dela. Como pode ser isto?"
Oséias balançou a cabeça, formando um sorriso.
Ele olhou para o jovem amigo e bateu a mão no seu ombro.
“Eu devo ter uma queda por pessoas que precisam de perdão."
Gômer olhou para a lã e o fuso caído no chão e xingou o fio irregular.
O que Oséias estava pensando? Uma meretriz não fiava lã.
Se ele quiser que ela pinte as unhas com hena ou aplique kohl nos olhos, ela ficaria feliz em ajudar.
Hoje era seu quarto dia na câmara particular, e ela estava feliz em morrer lá.
Ela não queria ver Isaías tão cedo.
Como ele poderia descrevê-la com tanta precisão depois de conhecê-la por apenas três sábados? Ela era tudo o que o deus Iavé desprezava, se tudo o que Oséias dissera no sacrifício de Jeroboão fosse verdade.
Mas quando Isaías expôs sua incapacidade de amar - uma adaga partiu seu coração.
Seu coração sujo.
“Gômer?" A voz de Isaías veio do outro lado da porta.
Ela não respondeu nada, esperando que ele pensasse que ela tinha morrido.
“Gômer, por favor. Preciso falar com você. Quero me desculpar."
Seu coração disparou.
Se ela o deixasse entrar, para onde ela poderia escapar? Este era seu santuário, seu único refúgio.
Ele abriu a porta e a indignação substituiu o medo.
“Eu não lhe dei permissão para entrar!"
“Eu sei, eu sei. “Quem você pensa que é - um rei? Eu não sou mais uma prostituta ... "
“Não, mas eu sou primo do rei de Judá."
Sua boca ficou seca e as palavras vacilaram.
Ela odiava o sorriso em seu rosto, mas não se atrevia a acumular mais condenações em sua longa lista de crimes.
Se Isaías fosse da realeza, sem dúvida ela seria executada assim que chegassem a Jerusalém.
Ele entrou e sentou-se de frente pra ela.
“Oséias ama você." Uma pequena pausa.
“E eu amo Oséias como um irmão. Percebi que a maneira como te tratei machucou os dois - e sinto muito, Gômer."
Ela tentou não virar os olhos, mas falhou na tentativa de esconder seu desdém.
“Porque você faz isso?"
Primo do rei, primo do rei.
Ela precisa tentar ser respeitosa.
Não havia muito tempo desde que abandonara a prostituição.
Isso não seria diferente.
Ela suavizou o tom, fingindo um sorriso, humilhada.
“Por favor, me perdoe, meu senhor. Eu não sou a mesma desde o espancamento. Peço sua paciência e farei um esforço melhor no futuro. " Ela manteve a cabeça baixa para esconder sua raiva desmascarada.
O silêncio se transformou em constrangimento.
Finalmente, a voz de Isaías tremeu enquanto ele falava.
“É por isso que você me assusta."
Gômer chamou a atenção, encontrando o jovem da realeza olhando para ela - como se ela fosse o deus Mot.
“Eu assusto você?" ela perguntou.
“Você é um sujeito justo, criado na segurança do mundo perfeito dos profetas."
Mas Isaías não sacou sua língua dessa vez.
Sua expressão parecia quase... vulnerável.
“Você tem tanta facilidade para enganar, e eu pude ver a destruição que o engano e a idolatria fazem a uma nação e a uma família."
“O que um jovem da realeza poderia saber sobre idolatria?"
O rei Uzias é meu primo, sobrinho do meu abba.
Por serem praticamente da mesma idade, eles cresceram como irmãos.
Abba Amoz odiava o engano e a política do palácio, por isso se mudou para Laquis e aprendeu o ofício de oleiro.
Quando o abba de Uzias, o rei Amazias, voltou-se para a idolatria, conspiradores em Jerusalém tentaram tirar sua vida, e ele fugiu para Laquis para o abrigo de abba.
Assassinos seguiram Amazias até lá e o mataram.
Abba sempre se sentiu responsável."
“Mas ele não era", protestou Gômer.
“Foram aqueles fanáticos - aqueles que não permitiam que o rei Amazias adorasse outros deuses."
“Gômer ..."
Tio Amazias foi responsável.
Cada um de nós deve escolher quem - ou o que - adora. "
O sangue de Gômer gelou.
“Como você pode ser tão tacanho? Então, certo de que Senhor é o único deus?"
“Ele prova a Si mesmo para cada um de nós - se estamos dispostos a deixar de lado as distrações e desejos que nos afastam Dele. Por isso Uzias ordenou que abba Amoz se aproximasse de Jerusalém. Ele temia que abba sucumbisse à idolatria de Laquis enquanto lamentava a morte da minha ima - ela morreu no parto."
“Sinto muito, Isaías." A simpatia de Gômer foi despertada, mas ela ainda não estava pronta para uma trégua.
Além disso, parte de sua história não fazia sentido.
“Se o rei Uzias ordenou que seu abba se mudasse para Jerusalém, por que você foi criado com Oséias no acampamento dos profetas?"
Um sorriso discreto apareceu, mas sumiu antes que franzisse seus olhos.
“O Senhor abençoou o reinado de Uzias nas campanhas militares e de construção. Ele comprou terras no sopé de Jerusalém e começou a construir torres e cisternas no deserto para fortalecer a nação de Judá. Ele passou algum tempo no deserto de Tecoa e sabia que havia argila suficiente para abrir uma olaria. Sabendo que abba odiava política, Uzias perguntou ao profeta Amós se ele poderia construir uma olaria em sua fazenda. Um acordo foi feito e eu cresci no acampamento. " Um sorriso triste surgiu em seus lábios, e Gômer viu mil palavras não ditas por trás de seus olhos.
“Sinto muito por você nunca ter conhecido sua ima, mas parece uma vida bastante perfeita para mim, Isaías."
Ele segurou o olhar dela, ponderando, e então ele levantou, estendendo a mão.
Ela aceitou, sentindo-se um pouco melhor com aquele amigo hostil de Oséias.
Ele pegou a cortina, puxou para o lado, mas parou logo antes de deixar o aposento.
Tenho uma vida boa, Gômer.
Pelo menos você sabe por que seu abba o dispensou.
Vivemos no mesmo campo, mas ele deixou que outros me criassem - não tenho a menor ideia do porquê.
8
Oséias 6:3
Conheçamos o Senhor.
Vamos conhecer o SENHOR.
Ele virá até nós tão certo quanto a manhã vem.
Oséias olhou para trás para garantir que não estava sendo seguido antes de entrar no pátio.
Eles viveram em Samaria sem serem detectados por dois ciclos de lua cheia.
Amanhã eles partiriam para Judá.
Depois de fechar e trancar o portão, ele deu um único passo...
Cabum!
Ele se encolheu, olhando para os cacos do jarro de barro a seus pés, grato por ter se inclinado para a direita para trancar o portão em vez de para a esquerda.
A batalha verbal travada entre sua esposa e seu melhor amigo.
“Você não vai me tratar como uma vaca estúpida!" Os punhos de Gômer estavam fechados, seu rosto tão vermelho quanto seus cabelos.
“Você é um ano mais novo que eu e não tem o direito de mandar em mim."
“Tenho todo o direito de instruí-la nos caminhos do Senhor", respondeu Isaías.
“Vou parar de tratá-la como uma vaca estúpida quando você parar de agir como um..."
“Chega!" Oséias brandiu de onde ele estava, fazendo com que os dois combatentes ficassem em silêncio.
“Isaías, você vai falar respeitosamente com minha esposa." Ele viu o olhar de triunfo que ela lançou na direção de Isaías.
“E Gômer, esse é o segundo jarro que você quebra desde o último sábado. Não podemos permitir seus pequenos acessos de raiva. " Seu triunfo tornou-se fervilhante e ela direcionou sua raiva para ele.
“Eu não teria esses chiliques se não fosse refém de vocês ha duas luas cheias."
Oséias reconheceu a dor embaixo de sua raiva.
Enquanto os ferimentos ainda eram graves, ela se satisfez em sentar-se no pátio, aproveitando o sol da primavera.
Agora que estava quase recuperada, estava tão inquieta quanto um leão à espreita.
“Eu sei que é difícil permanecer escondida, mas você sabe, se algum dos homens de Jeroboão a reconhecer, nós poderíamos ser presos - ou pior."
Sua expressão permaneceu como pedra, imóvel pela lógica ou pela razão.
Ele enfiou a mão na bolsa e tirou a roupa azul que havia comprado no mercado.
Era do comprimento de dois camelos, finamente tecidos, tão macios quanto a seda oriental - mas muito mais prático para o uso diário.
Seus lábios suavizaram em um sorriso amarelo.
“Deve ter custado uma fortuna. Pra quem é?"
Ele riu, mas sentiu uma pontada de tristeza quando Isaías entrou na casa.
Oséias falaria com ele mais tarde sobre seu relacionamento com Gômer.
Ele pedira a Isaías que lhe ensinasse a Lei do Senhor, já que Gômer ainda desconfiava de Jonas.
Mesmo depois desses longos sábados na mesma casa, ela ainda se referia ao velho como “o profeta peixe." Ele esperava que as conversas de Isaías com ela gerassem uma amizade entre eles.
Suas esperanças foram em vão.
“Você está guardando esse véu para sua próxima esposa?" A pergunta de Gômer o trouxe de volta ao momento.
Ele ocupou a distância entre eles e ela recuou.
Ainda tem medo de que eu me force a você? O pensamento o perfurou.
Ele prometeu a si mesmo - e ao Senhor - que não se deitaria com ela até que ela o chamasse.
“Comprei o véu para você usar no mercado. Você é uma mulher casada agora - disse ele com um leve sorriso. “Você nunca deve aparecer em público sem um véu."
“Mais regras", ela murmurou.
Sua raiva aumentou enquanto sua paciência estava se esgotando.
“Você deve cobrir seu cabelo e esconder seu rosto o bastante para conseguir visitar o mercado antes de voltarmos para Tecoa amanhã. Mas se você não quiser usar o véu ... "Ele deixou as palavras penduradas, esperando com perverso deleite enquanto sua teimosa esposa se submetia à realidade de sua situação.
Ela pegou o pano da mão dele e mancou resolutamente em direção ao portão do pátio.
“Vou ao mercado sozinha", disse ela.
“Não se atreva a me seguir."
Oséias agarrou seu braço e a girou para encará-lo.
Ela tremeu de dor e tropeçou, mas ele a pegou nos braços e a enrolou em seu peito.
“Você está bem?" ele sussurrou.
“Sinto muito."
Ela o empurrou e ele quase a deixou cair.
“Me põe no chão!"
Ele gentilmente colocou os pés no chão.
Seu coração disparou.
Suas pernas e quadris não haviam se recuperado completamente do espancamento.
Senhor, não me deixe esquecer que ela é frágil.
A comoção deve ter chamado a atenção de Jonas e Isaías.
Eles ficaram na porta da casa, assistindo.
“Estou indo ao mercado sozinha", disse Gômer, olhando para cada um dos rostos masculinos diante dela.
“Fiz tudo o que você me pediu durante oito sábados. Pode pelo menos me dar uma tarde para me despedir da cidade que chamei de lar."
Gômer lutou com o véu azul bobo que Oséias havia comprado para ela, envolvendo-o para esconder os cachos de cobre e os traços marcantes.
Ela se perguntou se seus clientes a reconheceriam.
Os hematomas desapareceram, mas ela não usava mais maquiagem nos olhos, bochechas e lábios.
Chega de pulseiras ou guizos, e seu robusto manto marrom cobria a longa cicatriz da lâmina do médico.
Oséias disse que ela ainda era ... Bem, ele sempre disse que ela era bonita, mas quem poderia confiar na opinião de um homem?
“Oséias?"
O que ele queria dela? Ele não esperava o que todos os homens tiravam de suas esposas? Então, por que ele não a forçou? Ele não era tímido.
Cada vez que estavam juntos, ele ficava perto demais, tocava a bochecha dela, sussurrando em seu pescoço.
“Olhe por onde anda!" Uma velha empurrou Gômer para o lado e interrompeu seus pensamentos.
Gômer passou por cima da vala de drenagem e tremeu com a dor no quadril.
Os efeitos da surra de Eitan permaneceriam por toda a vida? Será que ela escaparia das cicatrizes da prostituição? Ela poderia ser uma verdadeira esposa - e ima?
Oséias insistia que poderia amá-la.
Ele pode tê-la conhecido uma vez, mas não tinha ideia de quem ela era agora.
Ela tentou mostrar a ele quem era.
“Meus clientes me chamavam de dama da invenção", ela disse a ele um dia enquanto ele trabalhava naquele carrinho bobo para levá-la de volta a Judá.
Ela pretendia ferir com suas palavras, mas a tristeza na face dele perfurou sua alma.
“Gômer, quando você vai me deixar te amar?" ele disse.
A emoção tirou seu fôlego.
“Quando você vai me deixar ir?"
“Nunca", ele sussurrou.
“Minha resposta é a mesma."
A memória trouxe uma emoção inesperada, e ela enxugou as lágrimas nas bochechas.
Alguém na multidão bateu nela, e ela percebeu que estava parada no portão do bordel de Tamir.
Ela contemplou as tábuas de cedro e as barras de ferro e se perguntou o que aconteceu com o corpo de Merav.
Teria sido sepultada junto dos mendigos ou Tamir havia feito um enterro adequado no cemitério ao norte da cidade?
Ela sabia a resposta.
Tamir era uma mulher de negócios, afinal.
Outro suspiro, e Gômer continuou, determinada a pensar em coisas mais felizes.
As ruas da cidade estavam fervilhantes.
Comerciantes discutiam no mercado, crianças corriam aos seus pés.
O fedor da vala de drenagem nunca fora tão familiar.
Ela podia ter planejado sua fuga com mais cuidado; trouxe apenas algumas moedas com ela.
Oséias havia comprado um pouco de cravo para ela durante os primeiros dias juntos.
Ela deixou claro para ele que poderia viver sem maquiagem para o rosto e perfume, mas recusou-se a viver com mau hálito.
Ele comprou para ela um cravo inteiro para chupar todos os dias.
Ela apertou o véu em volta do rosto, cobrindo cada mecha do cabelo ruivo.
Oséias achava que ela era estúpida? Ela não deixou ninguém saber que ela estava viva em Samaria.
Mas posso realmente ir para Judá e morar em uma fazenda? Tudo parecia tão mundano.
Aserá não a dotou de beleza, fogo e vida para ser a esposa de um profeta.
“Aserá!" Ela parou no meio da rua, deixando mais de um olhar para trás.
Os bosques de Aserá.
Ela enfiou a mão no bolso, mexendo no anel do nariz, nas correntes de ouro e nos brincos que roubara do bordel - afinal, Tamir devia muito a ela.
Talvez se ela as oferecesse a Aserá, a grande deusa da abundância lhe mostraria o caminho para sua vida.
Gômer correu em direção aos portões da cidade, no contra fluxo de viajantes que chegavam.
O bosque estaria deserto a esta hora do dia.
Assim era melhor para uma oferta anônima de uma mulher casada.
O véu cobria tudo, exceto os olhos, para que a sacerdotisa não a reconhecesse.
De repente, ela se sentiu grata pelo presente de Oséias.
Se afastou da estrada principal, seguindo o caminho de carvalhos ao sul da cidade.
As folhas verdes lembraram-lhe que Baal havia respondido ao sacrifício de crianças - apesar do protesto tolo de Merav.
A velha dera a vida para salvar um bebê que não era nem dela.
Totalmente sem sentido.
Gômer tinha perdido a amiga, o bebê estava morto e as folhas estavam verdes.
Por que não dar aos deuses o que eles queriam e torcer para que o tenham deixado em paz? Ao contrário da divindade incessante de Oséias, que queria atormentar os humanos em algum tipo de conversa contínua.
É muito exaustivo adorar um deus tão carente.
O caminho terminava em uma clareira cercada por choupos, carvalhos e terebintos - o bosque sagrado de Aserá.
O lugar mais bonito do mundo.
Ela respirou fundo, apreciando o doce aroma do sacrifício.
Cordeiro, ela pensou.
Embora tivesse servido no templo por apenas dois anos, ela conhecia o aroma distinto de cada sacrifício - cada perfume enviando uma mensagem única para a santa rainha do céu.
Ela sentia falta da grandiosidade do templo, mas não da rotina.
Uma vez dentro da clareira, ela olhou para cima, ouvindo a brisa agitar as folhas.
Ramos prateados e verdes a cumprimentaram.
Bem-vinda ao lar.
Erguendo os braços, ela dançou em círculo, rindo como não acontecia desde a morte de Merav.
Não ouço guizos.
Nunca mais usaria guizos nos tornozelos, pulsos ou cintura.
A conclusão parou sua dança, saciou sua alegria e então ela pôde perceber - seu véu havia caído no chão.
Instintivamente, ela se abaixou para agarrá-lo, mas outra mão o arrebatou primeiro.
Gômer encontrou o olhar da alta sacerdotisa de Aserá.
“Eu ensinei a você muito cedo qual seria a punição se você fosse pega usando um véu em público, Gômer."
“Mas sou casada! Eu deveria usar esse véu!" Ela estendeu a mão para pegá-lo, mas a sacerdotisa o puxou para longe.
“Guarda! Leve a prostituta até os anciãos. " Um sorriso lento e satisfeito apareceu em seus lábios.
“Tenho certeza de que muitos dos líderes da Samaria vão observar com interesse seu julgamento."
Oséias estava sentado no carrinho , pronto para a jornada de amanhã.
Tiras de couro prendiam cestas cheias de suprimentos, criando um assento suspenso entre duas rodas - um projeto brilhante da esposa desaparecida de Oséias.
Gômer partiu para o mercado logo após o meio-dia e o sol estava se pondo no oeste.
“Eu posso procurá-la", Isaías ofereceu pela terceira vez.
Ninguém em Samaria me viu com Gômer.
Sou a opção mais segura."
“Não tenho certeza se ela voltou com você." Oséias tentou esboçar um sorriso, mas ele morreu quando ele viu o rosto do amigo.
“Sinto muito, Oséias." As palavras foram sussurradas, uma luta por compostura.
“O que você quer dizer? Por que você está arrependido?"
“Sinto muito por muitas coisas", disse ele, respirando fundo e começando a andar.
“Jonas estava certo. Fiquei com ciúmes quando você recebeu o chamado do Senhor antes de mim. Tentei não sentir ciúmes, mas não consegui. Quando vi Gômer, fiquei com ciúmes de novo porque ela é tão bonita, estava perdida e precisava de um protetor."
“Sinto muito, porque pensei que Gômer estava abaixo de nós - indigna de amor ou perdão."
Oséias ficou irritado, mas deixou seu amigo terminar.
“Eu disse que o plano do Senhor estava errado, e éramos justos demais para obedecê-lo."
Ainda em silêncio, Oséias comparou sua amizade da vida toda com o amor protetor que sentia por Gômer.
Por que ele deveria perdoar - de novo? “Eu a amo, Isaías. Você tem que parar de julgá-la. Meu amor vai além da obediência ao mandamento do Senhor. Não gosto do que ela fez ou do que ela se tornou. Ela não é pura como Aya, mas o Senhor me deu amor por Gômer. Se você não pode respeitar Gômer, pelo menos me respeite o bastante para tratá-la com respeito."
Isaías assentiu, estendendo a mão em trégua.
Oséias levantou-se e o abraçou, e Isaías segurou com força, sem vontade de deixa-lo ir.
“Por favor, irmão, deixe-me procurá-la. Prometo que a trarei de volta para você."
Oséias engoliu seco.
“Tenho medo de onde você pode encontrá-la."
Jonas apareceu na porta e separou os jovens.
“Vou esperar aqui enquanto vocês procuram Gômer. Tudo está pronto para sair de manhã, então vá."
Oséias manteve a cabeça baixa, incapaz de olhar para o professor.
“Salvou de quê?"
“Oséias, meu filho. Olhe para mim"
De má vontade, ele ergueu os olhos e contemplou o olhar do homem.
“Vá encontrar sua noiva. Eu ficarei aqui e orarei pelo favor do Senhor. Partiremos para Tecoa amanhã, como planejamos."
Isaías apoiou a mão no ombro de Oséias.
“Vamos. Precisamos encontrá-la antes do anoitecer."
Eles saíram correndo do pátio, na direção oeste em direção ao templo.
Ela não teria coragem de entrar na cova dos leões.
A lógica lutava com as emoções.
Gômer sabia o perigo de ser visto por qualquer pessoa que pudesse reportar ao capitão de Menahem.
E se alguém descobrisse que ela se casara com o profeta do Senhor, o rei Jeroboão perseguiria todos eles, como havia sido humilhado quando Oséias o desafiou em público.
Ao se aproximar do templo, Oséias notou um fluxo constante de pessoas correndo.
Ele parou um dos homens e perguntou: “O que está acontecendo? Existe outro sacrifício?"
“Não, este é apenas o caminho mais rápido para a câmara de audiência do rei." O homem se aproximou, sussurrando como se fossem velhos amigos compartilhando um segredo.
“Ouvi dizer que os anciãos no portão estavam julgando uma prostituta, e quando o rei Jeroboão descobriu qual prostituta estava sendo julgada, quis tomar parte da ação."
“Sabe o que eu quero dizer?" Ele emendou.
Oséias perdeu o senso de tempo e espaço.
Ele não precisava dar outro passo para saber que era Gômer.
“Os anciãos nos portões julgaram uma prostituta", dissera o homem.
Oséias sabia que ela usava o véu quando saiu. O julgamento indicava que ela deveria ter voltado à prostituição e tenha sido acusada de adultério.
Seu estômago revirou e ele se ajeitou.
Sentiu a mão de Isaías no seu ombro.
“O que é?"
Oséias respirou fundo até que pudesse ficar de pé e depois encarou Isaías.
A covardia se apossou.
Ele se virou sem dizer uma palavra, iniciando o caminho de volta pra casa.
Ele relataria o caso para Jonas - e partiria para Tecoa.
Isaías não precisava saber que Gômer havia retornado para a prostituição.
Ele a odiaria para sempre.
Mas por que eu me importo? Eu também a odeio! Ele deixou um pé cair na frente do outro, arrastando-se sem rumo.
Sem esperança.
Pare!" Uma mão forte agarrou seu ombro, que quase o derrubou.
Cambaleando, ele se firmou em pé, e sua raiva explodiu.
“Tire suas mãos de mim, Isaías! Vamos voltar para buscar Jonas e vamos embora de Samaria esta noite! Terminei. Terminado."
O rosto de seu amigo empalideceu.
“Então Senhor não falou com você? Ele não disse para você se casar com essa prostituta e ter filhos com ela? Toda essa jornada foi uma mentira?" A acusação em sua voz tirou Oséias de sua autopiedade.
“O Senhor falou comigo. Quero dizer ... "Mas como isso poderia ser verdade se Gômer tivesse voltado à prostituição? Talvez ele tenha se enganado e Senhor não se referia a Gômer.
Naquele momento, um vento suave soprou no coração de Oséias: Conheçamos o Senhor.
Vamos conhecer o SENHOR.
Ele virá até nós tão certo quanto a manhã vem.
Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.!
O rosto de Isaías se iluminou maravilhado.
“Senti uma brisa fresca e você ficou imóvel. Você ouviu a voz do Senhor?"
Oséias assentiu, incapaz de falar a doce voz de Deus acalmava seu coração ferido.
O conhecimento do Senhor poderia realmente satisfazer o vazio que sentia pela traição de Gômer?
Isaías o assaltou com perguntas.
“Como é? Você ouve uma voz real, como um som humano? É ele-"
“Isaías", interrompeu Oséias, “tudo o que sei por hora é que precisamos encontrar Gômer. Ela foi presa."
Oséias deu um tapinha no ombro de Isaías, agarrou seu braço e o arrastou através da multidão em direção ao salão do rei.
Oséias orou com urgência enquanto atravessava o templo para entrar na sala de audiências do rei.
Elohim, preciso conhecê-lo mais, assim como Gômer precisa aprender de Ti.
Aprendi Tua lei, para ensinar Gômer quem Tu és será preciso aprender sobre Ti em momentos como este - do nascer do sol e durante as chuvas.
Obrigado por deixar Teu chamado claro novamente.
Dá-me sabedoria para revelar Teu firme coração através do meu amor fiel.
Eles chegaram ao salão e Isaías ficou na ponta dos pés para ver acima da multidão.
Oséias sabia que seu amigo não iria gostar do que estava prestes a dizer.
“Isaías, preciso que você volte para casa, pegue Jonas e espere com o carrinho do lado de fora dos portões da cidade antes do por do sol. Tenho a sensação de que precisaremos sair daqui as pressas, se quisermos salvar Gômer e sair de Samaria com vida."
9
Oséias 6:1
“Voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura."
Dois guardas conduziram Gômer através do tribunal.
As mulheres cuspiam nela, os homens a apalpavam - desta vez não precisavam pagar.
“Ajoelhe-se diante do rei", disse um dos guardas, empurrando-a para frente.
Ela caiu de joelhos e inclinou-se sobre o rosto, incapaz de encarar o momento com as mãos amarradas atrás das costas.
Os que estavam no tribunal riram até que um dos guardas a agarrasse pelo braço.
“Ajoelhe!" disse o outro guarda.
Ela estremeceu, mas se recusou a mostrar fraqueza.
De joelhos entre os captores, ela olhou para o tribunal do rei Jeroboão.
Amazias, o sumo sacerdote, juntou-se ao rei e outros seis conselheiros para julgar uma simples prostituta.
Cada um dos membros daquele tribunal - com exceção do rei - pagara por seus serviços.
Mas ela nunca havia profanado o santuário interno do palácio.
Ela examinou o longo e estreito salão, memorizando todos os detalhes.
Móveis de marfim e ébano enchiam a sala; painéis de madeira cobriam as paredes.
Claro, ela estava preocupada com a sentença.
Quando uma prostituta tenta se esconder do público, seu castigo é humilhante e doloroso.
Mas ela não ligava para a humilhação; não tinha nada de valor e a dor não era estranha.
E este já era seu segundo julgamento de hoje que, sem dúvida, resultaria em outra condenação.
Era melhor gastar sua energia lembrando esse vislumbre de glória do que pensando sobre a derrota.
No primeiro julgamento, os guardas do bosque de Aserá a conduziram aos portões da cidade.
Os mais velhos reconheceram quase imediatamente, mesmo sem jóias ou maquiagem.
Eles também eram clientes e pareciam intrigados quando ela contou do espancamento de Eitan no dia do sacrifício.
Mas eles ficaram furiosos quando ela se apresentou sua defesa e mencionou o nome do novo marido.
Uma prostituta aposentada bem pouco popular, mas uma mulher casada com um profeta rebelde era totalmente imperdoável.
Os anciãos teriam pronunciado a sentença imediatamente não fosse pelos guardas do general Menahem, que a levaram ao palácio para mais perguntas e aquele novo julgamento.
Menahem a questionou pessoalmente. Estava excessivamente interessado nos contatos de Oséias com espiões de Judá em Israel.
Ela riu do absurdo, e isto lhe rendeu mais hematomas.
Homens serão sempre homens.
Ela estava cansada deles.
Pelo menos ela não precisaria ver Oséias novamente.
Ele já deveria estar a meio caminho de Judá agora, pelo menos deveria estar quando descobrisse que ela havia sido encontrada no bosque de Aserá.
O inflamado profeta do Senhor jamais toleraria uma esposa idólatra.
“O tribunal do rei agora ouvirá o depoimento de duas testemunhas: a alta sacerdotisa de Asherah e o guarda do bosque." O arauto real uivou como um cachorro ferido, e Gômer desejou que suas mãos não estivessem amarradas para que ela pudesse cobrir as orelhas.
“Eles irão testemunhar que a prostituta Gômer foi encontrada cobrindo o rosto em público. Se a prostituta for considerada culpada, entregará todas as suas jóias, será despida e açoitada com varas quarenta vezes menos uma."
A alta sacerdotisa levantou-se, ofereceu uma reverência superficial ao rei e dirigiu-se aos presentes na sala do tribunal.
“Eu vi esta mulher entrar no bosque de Asherah, coberta com este véu." Quando a mulher ergueu o pano de linho azul no ar, uma onda de arrependimento tomou conta de Gômer.
Por que ela se contentou com o presente de Oséias?
“A prostituta tentou parecer uma mulher de bem", continuou a sacerdotisa.
“Ela cobriu os cabelos acobreados, deixando apenas os olhos expostos. Quando, porém, começou a dançar diante da deusa, seu véu caiu. Eu a reconheci como a imunda prostituta Gômer. " Ela cuspiu o nome, com a boca retorcida de desgosto.
“Ela deve receber a pena integral por seu crime."
O arauto se adiantou mais uma vez e respirou fundo para anunciar a segunda testemunha quando foi interrompido por uma voz da galeria.
“Essa mulher não é mais uma prostituta. Ela é minha esposa."
O coração de Gômer saltou da garganta.
Ela ouviu o barulho de sandálias de couro no piso de mármore atrás dela.
Se aproximando.
Oséias parou ao lado do guarda.
Sem levantar o olhar, ela sussurrou: “O que você está fazendo aqui?" As palavras ricochetearam pelo tribunal.
Ele a ignorou e deu mais um passo à frente, afastando da frente dois guardas do rei.
Eles permaneceram como um muro entre Oséias e o rei.
Suas lanças posicionadas em ângulo, como se sua presença feroz não fosse suficiente para desencorajar mais avanços.
As acusações contra Gômer são infundadas porque ela não é mais uma prostituta, mas uma mulher casada.
E como uma mulher casada, ela tem o direito - na verdade, a obrigação - de se esconder em público. " O tom de Oséias foi respeitoso, mas direto.
Ele encarou cada membro do conselho e, finalmente, terminou no olhar gelado do rei.
As mãos de Oséias apertaram os lados de sua túnica enquanto esperava a resposta.
Aqueles momentos pareciam dias.
Gômer manteve a cabeça baixa, incapaz de decidir qual olhar ela gostaria mais de evitar.
“Penso que o rei tenha tido tempo suficiente para considerar a palavra do Senhor", disse Oséias.
Gômer suspirou com o resto da platéia.
Chega, Oséias! Ela queria gritar com ele, mas sabia que ele não ouviria.
Ela levantou a cabeça um pouco para espiar a reação de Jeroboão.
Um sorriso irônico apareceu no rosto do rei.
“Não tenho tempo para pensar em você ou em seu suposto deus, Profeta. Como pode ver pelas nossas árvores e campos florescentes, o sacrifício que você tanto condenou agradou os verdadeiros deuses de Israel. "
Oséias deu outro passo à frente e foi impedido pelas pontas das lanças dos guardas.
Casualmente olhou para sua barriga, onde as pontas de lança apontavam, como se fossem um inseto irritante.
“Vim reivindicar minha esposa, rei Jeroboão."
Gômer se virou.
Ela não podia assistir aquilo.
Mas, em vez dos sons da morte, ela ouviu o rei gargalhar.
“Pessoalmente, jamais experimentei o prazer de sua esposa, Profeta, mas se vale a pena submeter-se ao furo de uma lança por ela, talvez eu deva envia-la para meu harém!"
A platéia ficou agitada, os clientes prévios de Gômer gritaram palavrões.
Pela primeira vez, ela viu Oséias assumir uma postura altiva.
E pela primeira vez, ela sentiu a humilhação de ser uma prostituta comum.
“Vim reivindicar Gômer porque a amo, rei Jeroboão", gritou Oséias.
“Eu disse", ele continuou gritando, “Eu a amo."
Amor.
O salão calou.
Os olhos de Jeroboão se estreitaram.
“Então você é um tolo ainda maior do que eu imaginava."
“Meu amor conta uma história. Serve a um propósito. "
Jeroboão levantou uma única sobrancelha.
Gômer ficou também ficou intrigada.
Quem era aquele profeta disposto a arriscar sua vida por ela?
“O tribunal do rei ouviu o suficiente para julgar a prostituta." A interrupção severa de Amazias assustou Gômer - e o rei.
“Se você pensa, Amazias, que pode reunir um exército e tomar meu trono à força, então pode julgar neste tribunal." A raiva de Jeroboão era tão aguda quanto as lanças apontadas para a barriga de Oséias, e Gômer desejou que suas mãos estivessem desamarradas para que pudesse aplaudir.
Jeroboão voltou sua atenção para Oséias.
“Você tem uma última chance de defender a liberdade de sua esposa, Profeta. O uso do véu por uma prostituta é punível com açoitamento. A prostituição de uma mulher casada é punível com a morte. "
Gômer engoliu seco e estudou a silhueta de Oséias.
Ele não olhou pra ela desde que entrara no salão, mas disse que a amava.
Ele gritou isto.
Ela havia vivido com ele por apenas duas luas novas, e ele não tentou força-la.
Nem mesmo um beijo.
Por quê? Que jogo ele estava jogando? Ela conheceu uma vez um menino chamado Oséias.
Ela morreria antes de conhecer o homem?
“Meu amor por Gômer é como o amor do Senhor por Israel", ele começou.
“Amo uma mulher que não conhece a altura, profundidade e largura do meu amor. Ela acredita que o amor pode ser comprado e vendido, que é um ato físico ou uma fantasia. Ela me culpa quando as coisas dão errado e credita sua felicidade a outros amantes."
Jeroboão voltou a rir.
“Posso ver por que você a quer de volta tão desesperadamente."
Oh! E por que não fico diante de uma audiência e falo sobre os defeitos de Oséias? Gômer fervia de raiva, mas sabia que era melhor não intervir.
“Agora, rei Jeroboão" - a voz de Oséias era gentil - “ouça a voz do coração do Senhor por sua nação, Israel, Sua noiva. Ele ama Israel com uma altura, profundidade e largura tais que nenhum ídolo de madeira ou pedra pode competir. Israel acredita na mentira que deve comprar o amor dos deuses com prostitutas, adivinhos e sacrifícios. O Senhor é o doador da vida, não engolidor de bebês. Ele deseja abençoar Israel pela obediência, não puni-la por sua rebelião. Qualquer punição dada a uma esposa amada tem o objetivo de curar, não de alienar. " Ele se virou para Gômer agora, prendendo-a com um olhar que a fez sentir um calafrio.
“Voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura. Mesmo que Ele nos tenha ferido, Ele fará um curativo em nossas feridas. " Ele voltou sua atenção para o rei.
“Volte para mim, esposa minha, para que possamos curar nossas feridas."
Gômer não conseguia respirar, e parecia que todos também estavam sem fôlego.
O som das batidas do coração em seus ouvidos a lembrou que não era um sonho.
O rei permaneceu imóvel.
“Pegue sua esposa e saia de Israel, Profeta."
Oséias não perdeu tempo.
Ele correu para Gômer, desamarrou suas mãos e os dois correram para a porta.
Ninguém falou nada.
Ninguém se moveu.
“Profeta!" Jeroboão gritou.
Oséias e Gômer pararam perto das portas incrustadas de marfim.
Eles se viraram lentamente e esperaram.
“Fora de Israel, não só de Samaria."
Oséias levantou-se para encarar o rei.
“Vamos sair imediatamente."
Meu véu! As palavras foram gritadas antes de Gômer perceber o que tinha falado.
Ouviu-se um suspiro de espanto na sala, e ela fechou os olhos com força - aquelas palavras impulsivas haviam estragado os argumentos de Oséias.
Ela criou coragem, abriu um olho e viu Jeroboão apontar para a alta sacerdotisa de Aserá e depois para ela.
A sacerdotisa levantou-se da cadeira e entregou o véu a sua dona.
Gômer fez um gesto de agradecimento ao rei, cujo sorriso retornou por um instante.
“Vão."
Oséias segurou com firmeza a mão de Gômer, enquanto ela enrolou o véu em torno de sua cabeça enquanto eles saíram da sala e passando pelo templo e pelo grande altar.
Chegaram à rua principal e as pernas de Gômer falharam.
Ela praguejou, mas Oséias a tomou em seus braços, correndo para os portões da cidade.
Jonas e Isaías esperavam com o carrinho .
Ela ficou feliz ao ver os dois homens.
O que quer que a esperasse em Tecoa não seria pior do que o que ela havia sofrido em Samaria.
10
Oséias 6:2
Depois de dois dias ele nos dará vida novamente.
Ao terceiro dia, ele nos restaurará, para que vivamos em sua presença.
Gômer se virou e ouviu alguém roncando ao seu lado.
Os eventos da noite voltaram a sua mente, e ela esfregou o rosto.
Totalmente desperta, ela notou uma pedra cutucando suas costelas.
Ela se levantou sobre um cotovelo, retirou a pedrinha e olhou para a forma adormecida ao seu lado.
Oséias.
O luar fez seu rosto brilhar.
Ele parecia com o garoto que ela lembrava.
Ela estendeu a mão para enrolar uma mecha de seu cabelo com o dedo - mas parou.
Ele poderia acordar, e então ela teria que explicar suas intenções.
Quem era este homem corajoso que falou com ousadia a um rei? Ela sempre foi a ousada, o guerreiro correndo para a batalha.
Quando ele se tornou corajoso? Como tinha sido sua vida enquanto ela lutava para sobreviver? Incapaz de resistir por mais tempo, ela tocou sua bochecha.
Sua barba era macia e cacheada.
Sua mão permaneceu no rosto dele e, pela primeira vez em muito tempo, ela ficou interessada naquele homem.
Quem é você, Oséias?
“Gômer?" Ele acordou de repente, assustado e agarrou sua mão.
“Você está bem? Algo está errado?"
Ela ficou perturbada com a preocupação em seus olhos.
“Eu não te agradeci por salvar minha vida." Ela segurou seu rosto, beijou-o suavemente e se inclinou para trás, puxando-o em sua direção.
Uma nuvem ocultou o luar, e ela desejou estar em uma tenda.
Ela olhou por cima do ombro, conferindo se Jonas e Isaías estavam bem longe.
As nuvens se dissiparam e ela flagrou Oséias admirando.
“Você é tão bonita." Ele acariciou sua bochecha e ela deu um beijo em sua palma.
Os olhos dele se arregalaram e ela o sentiu tremer.
Então ela se lembrou...
“Você nunca esteve com uma mulher antes, não é?"
“Não. Eu nunca fui casado antes. " Sua resposta foi tão ingênua que uma risada vigorosa escapou antes que ela pudesse contê-la.
Ele retirou a mão e se virou.
Ha muito tempo ela não via tanta inocência.
Como esse homem viril nunca conheceu uma mulher? Sua intriga se transformou em paixão.
A idéia das primícias tornava o leito do casamento mais atraente - mesmo que fosse numa estrada selvagem sob as estrelas.
Ela ficou de joelhos, aproximando-se e beijando-o novamente.
Ela se manteve gentil para não assustar o cordeirinho.
“Todo mundo precisa de um professor experiente", disse ela, sentindo-o corresponder ao seu beijo.
“Não!" ele disse de repente, segurando seus ombros e empurrando-a para longe.
Ela caiu de costas, sem fôlego e confusa.
“Como assim, não?"
Ele ficou sentado, ofegante, com os olhos arregalados.
“Nós não faremos isto hoje à noite."
“Não desse jeito!"
Primeiro precisamos conversar sobre o que aconteceu em Samaria.
Não aconteceu nada entra nós em Samaria! Ela disse, sentindo-se mais exposta do que se estivesse sem roupa.
“Você nunca me tocou, e juro pelo peito de Aserá que nunca você provará a menos que pague como todos os outros!" Lágrimas queimaram seus olhos, mas ela não deixou que rolassem na sua face.
Ela se enrolou no cobertor e virou para o lado.
Ele vai envelhecer imaginando o que perdeu.
“Gômer, fale comigo." Ele colocou a mão em seu ombro, mas ela encolheu os ombros.
“Por favor..."
Ela o ignorou.
O silêncio do deserto ecoou seu desafio.
Finalmente, ele se deitou ao lado dela, enrolando seu corpo ao redor do dela, sua respiração quente em seu pescoço.
Sinto muito, esposa.
Todo instinto de homem em mim quer satisfazer meu desejo por você.
Em Samaria, pensei que iria enlouquecer.
E esta noite, bem ... "Seu aperto em seu ombro aumentou, e ele acariciou seu pescoço.
“Estou desesperado por você. Mas antes eu preciso conhecer minha esposa e quero que ela me conheça."
A Gômer que eu conhecia aos seis anos permanece como uma boa lembrança em meu coração.
A mulher com quem me casei não me deu motivos para pronunciar uma palavra civilizada sequer, muito menos sinais de que um dia poderia me amar.
Penso que você também tenha perguntas sobre o garoto de dez anos que conheceu em Betel."
Ele sussurrou perto do seu ouvido: - E eu quero lhe ensinar sobre o Senhor.
Não apenas Suas Lei, mas as formas pelas quais Ele ama e abençoa Seu povo.
Há muito mais para amar do que você imagina. " Ele fez uma pausa e beijou sua bochecha levemente.
“Agora durma. O dia está para amanhecer, e nossa jornada valerá a pena. Amanhã passaremos pelo monte Gerizim e caminharemos pela região montanhosa de Efraim. No segundo dia, todos nos sentiremos revividos e, com sorte, quando chegarmos a Tekoa no terceiro dia ... " Ele deixou suas mãos vagarem por todo o corpo dela e beijou sua bochecha novamente - desta vez demorando, então puxando relutantemente longe.
“Você conhecerá - a mim e ao Senhor - quando chegarmos ao nosso novo lar. Talvez então possamos desfrutar da presença um do outro. " Ele se virou e deitou de costas para ela.
“Boa noite, Gômer."
Ela queria gritar, mas não sabia por onde começar.
Sua mente girou, e suas emoções reviravam.
Como ela podia dormir enquanto o único homem na terra a dizer não para ela estava a um passo de distância?
Ele estava errado sobre ser bom e também sobre o amanhecer - não seria assim tão rápido para Gômer.
“Aí está, esposa. Jerusalém. Não é lindo? Oséias chegou ao topo da colina ao norte da capital de Judá e soltou as alças do carrinho."
Ele limpou a testa e esperou que Jonas e Isaías se juntasse a eles.
“É menor do que eu imaginava", disse Gômer, protegendo os olhos. “Mas o palácio e o templo são espetaculares. Mesmo a esta distância, o ouro brilha ao sol. " Ela riu e bateu palmas como a garotinha que ele conheceu em Betel.
“Podemos visitar o mercado antes de seguir viagem?"
Dividido, Oséias queria agradá-la, mas sentiu urgência para retornar à fazenda de Amós.
“Façamos assim", disse ele, passando o braço em volta da cintura dela.
Seu coração quase explodiu quando ela não afastou seu braço.
“Tomaremos o mesmo tempo no mercado e no templo do Senhor."
O sorriso dela diminuiu instantaneamente.
“Mas o que há para fazer no templo de Senhor? Pelo que você me disse, não há prostitutas, então por que alguém iria adorar lá?"
Jonas soltou uma gargalhada.
“Sua esposa faz uma pergunta importante, meu filho. Mal posso esperar para ouvir sua resposta."
Isaías revirou os olhos e começou a caminhar pela estrada movimentada em direção ao portão norte de Jerusalém.
“Espere por mim, Isaías!" As bengalas de Jonas levantaram poeira a caminho da cidade.
Oséias agarrou as alças do carrinho e retomou sua marcha.
Gômer deu um passo ao lado dele.
“Adoração não tem qualquer relação com o que recebemos. É sobre o que damos de nosso coração agradecido e obediente. " Ele notou rugas surgindo em sua testa, como sempre acontecia quando ele falava de Senhor ou do acampamento dos profetas.
“Planejo usar nossas últimas moedas para comprar um cordeiro e pães no mercado. Ofereceremos os pães e sacrificaremos o cordeiro ao Senhor como uma oferta de gratidão e depois partilharemos uma refeição de comunhão em Sua presença. "
“Por que desperdiçar suas moedas em um sacrifício quando poderíamos comprar um deus mais gentil no mercado?"
Seu tom venenoso o assustou, e ele se perguntou por que ela sentia tanto desprezo pelo Senhor.
Antes que ele pudesse formular uma pergunta, Gômer cobriu a boca reprimindo um suspiro de horror.
Oséias largou as alças do carrinho, olhou para os lados, preparado para a luta.
Seu coração se partiu quando reconheceu o inimigo.
Naquele momento eles passaram pelo poste pagão.
Um abominável poste de Aserá fincado na colina de frente para o templo do Senhor.
Gômer virou-se para encarar seu olhar, arqueando uma sobrancelha em acusação.
“Por que você anuncia o julgamento do Senhor sobre Israel quando vejo a mesma deusa em uma colina de Judá?"
Ele havia se perguntado isto, uma pergunta que também fez a Jonas.
“O Senhor me ordenou que fosse a Israel. Se - ou quando - Ele me enviar a pregar para Judá, eu obedecerei. É meu chamado falar as palavras de Deus, não questionar Seus caminhos. " As palavras soaram banais, com gosto amargo.
Eram verdadeiras, mas difíceis de engolir - mesmo para o profeta do Senhor.
A expressão de Gômer petrificou.
“O que você quis dizer quando disse que compartilharíamos uma refeição de comunhão no templo do Senhor?"
“Como agradecimento por nossa jornada segura e bem-sucedida, ofereceremos pães e um cordeiro de um ano sem mácula, de acordo com a Lei de Moisés. Os sacerdotes sacrificarão o cordeiro, organizarão o holocausto no altar e depois devolverão porções a Jonas, Isaías, você e eu, para que possamos comer uma refeição de comunhão na presença do Senhor. "
Ela começou a tremer.
“Não quero comer esta refeição", ela sussurrou, seus grandes olhos castanhos lembrando a menina assustada de Betel.
“E se eu quebrar uma lei sem saber? Seu deus parece arbitrário e zangado. Se Ele me matar, ou os sacerdotes descobrirem que sou devota de Aserá e tentarem me matar como mataram o abba de Uzias?"
Oséias a abraçou, mas ela ficou tão rígida quanto o poste pagão sobre eles.
Isaías disse que havia contado a ela sobre seu tio e a conspiração dos fanáticos.
Como Oséias poderia agora convencê-la de que Senhor queria seu amor, mas Ele era realmente um Deus a ser temido? Eles se tornaram muito mais próximos nos três dias desde que saíram de Samaria, mas seu coração permaneceu como um pergaminho selado.
Agora que ela finalmente dava sinais de confiança nele, como ele poderia se manter confiável para sua esposa e fiel ao Senhor?
Ela o empurrou para longe.
“Não me mime. Diga-me se devo ir ao templo e cumprirei sua decisão ". Ela ficou lá, esperando, os olhos fixos nas sandálias.
Oséias queria facilitar as coisas para ela.
Ela era rígida como granito e frágil como uma rosa.
Senhor, dê-me sabedoria para amar esta mulher.
“Iremos juntos ao templo. E é bom temer o Senhor. O rei Salomão disse que temê-lo é o começo de conhecê-lo. " Ele inclinou o queixo dela, mas ela fechou os olhos.
Rindo de sua teimosia, ele beijou seu nariz e atraiu olhares de reprovação dos viajantes que passavam.
Gômer também notou os olhares.
“É melhor você parar com isso, ou eles vão pensar que você se casou com uma prostituta." Ela tentou sorrir.
Ele amava o humor dela, mas ficou triste com a piada.
Ela não tinha ideia de quão preciosa ela tornara para ele.
“Minha esposa não é uma prostituta. Casei-me com a menininha que era minha melhor amiga e estamos nos conhecendo novamente."
11
2 Crônicas 26:16
Entretanto, depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda....
Ele foi infiel ao Senhor, o seu Deus, e entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso.
Oséias despediu-se de Jonas e Isaías no portão norte de Jerusalém, depois de fazer planos para encontrá-los no templo mais tarde.
Gômer já estava focada no movimentado mercado de Jerusalém.
A rua principal tinha estantes em ambos os lados. O mercado transbordava de tudo prático e exótico.
Os melhores produtos do mundo todo - especiarias de Sabá, marfim e ouro da África, seda e cerâmica do Oriente - brilhavam, faziam barulho e enchiam o ar com a mesma excitação que Samaria oferecia e muito mais.
“Olhe para este vaso, Oséias!" ela disse, levantando um vaso de barro com seu pedestal de prata.
“Já estive nas melhores casas de Samaria e nunca vi nada assim." No momento em que as palavras escaparam, ela se arrependeu.
O marido não precisava de lembretes do seu passado.
“Não vejo nada neste mercado tão bonito quanto minha esposa." Seus olhos pareciam consumidos por ela.
Ela se virou, devolveu o vaso e seguiu em frente, não querendo mais envolvimento com Oséias.
Por que os deuses o devolveram a ela? Ou era realmente esse deus Senhor de quem ele falava? Por que Senhor se preocuparia com ela? Mas ela quase podia acreditar depois de ouvir as histórias de Oséias durante sua viagem de Samaria.
Quase.
O pensamento de confiar em um único deus parecia completamente... irresponsável.
Como o resto das nações pode estar errado?
“Esse vaso foi feito na fazenda de Amos." A voz de Oséias a tirou de seus pensamentos e ela deu um pulo.
“Você está assustada com a multidão?" ele perguntou, preocupação em esconder suas feições.
“Não, eu gosto da cidade e adoro passear pelo mercado." Então a importância de sua declaração anterior se estabeleceu, e ela parou abruptamente.
“Você disse que aquele vaso veio da fazenda de Amos? Então o abba de Isaías o fez?"
Oséias riu e cruzou as mãos atrás das costas, passeando como se não se importasse.
“Sim, Amoz dirige a olaria na fazenda de Amós. Ele faz as melhores peças."
Gômer apertou os olhos e tentou entender a diferença.
“Amoz, Amos - isso não fica confuso? Como você os diferencia?"
Oséias riu e assobiou.
“Você não precisaria perguntar isso se conhecesse os dois homens. Você se lembra do profeta Amós? Ele veio a Betel quando éramos crianças e profetizou no templo ".
O estômago de Gômer revirou com a lembrança.
“Ele é corpulento e de aparência grosseira, não é?" Ela estava sendo educada.
De acordo com a lembrança que tinha dos seis anos de idade, seus cabelos despenteados e barba pareciam tão selvagens quanto das ovelhas e cabras que ele criava.
“Amós pode ser abrasivo, mas tem um coração gentil. Ele é fazendeiro e comerciante, por isso está sempre com as pessoas. O abba de Isaías, Amoz, é muito quieto, tímido. Ele é alto e bonito como Isaías, mas fica muito sozinho e trabalha longas horas na olaria."
Gômer lembrou-se do rosto triste de Isaías quando falou sobre sua infância e a ausência de Amoz.
“Por que ele não passa mais tempo com Isaías?"
Oséias chamou sua atenção para o toldo de um negociante de tecidos, puxou-a para perto e roçou sua bochecha.
“Essa é uma pergunta que devemos deixar para Isaías - certo?"
Ela respondeu ao aviso gentil com um sorriso relutante e uma sobrancelha levantada.
“Vou tentar ser bom. Conte-me mais sobre a fazenda de Amos. " Ela se virou para inspecionar os rolos de tecido dispostos em fileiras organizadas.
Escarlate, azul, amarelo e branco.
Tecidos de lã e linho.
“A fazenda produz uma enorme colheita de figos, duas vezes por ano. Além disso, criamos ovelhas, gado e cabras - até galinhas. Existem centenas de maneiras pelas quais você pode escolher ganhar a vida no acampamento. "
A garganta de Gômer ficou seca.
“Pela primeira vez ouvira falar de lavouras de figo, cabras e salários?" Ela ficou de costas para ele e fingiu interesse em uma das peças de tecido.
“Qual o problema?"
“Achei que todos na fazenda de Amos eram profetas." Ela esfregou o pano arejado entre os dedos, percebendo que devia ser a famosa gaze de Gaza.
Não é o tipo de coisa que vou vestir para pastorear cabras.
“A maioria dos homens são os mensageiros do Senhor", dizia Oséias, “mas também há outras famílias no campo - pastores, agricultores e ceramistas - que ajudam a gerar renda. Todas as mulheres trabalham na produção de mercadorias vendáveis, para que os profetas do Senhor não sejam tentados a receber suborno por parte de oficiais da realeza. Alguns supostos profetas em Israel vivem como reis porque dizem a Jeroboão o que lhe agrada. "
O silêncio tornou-se estranho.
“Ganhar um salário incomoda você?"
Ela se virou, conduzindo-o de volta à caminhada.
“Por que eu ficaria incomodado por você sentar e conversar com seus amigos profetas o dia todo enquanto trabalho em alguma tarefa mundana para comprar um vaso lindo como aquele ali atrás?"
Ele sorriu para ela com seu sorriso irritante.
“Você esqueceu a parte de me alimentar com uvas e me abanar com penas de avestruz."
“Oh!" Ela bateu o pé.
Ele se inclinou para perto, um passo a sua frente.
“O que você imaginou que faria?" Seu tom era leve, mas sério.
Ela tentou se afastar novamente, mas ele gentilmente a abraçou.
“Diga-me, Gômer. O que você achou que a esposa de um profeta faz?"
“Bem, eu ..." Como ela poderia explicar que ela antecipou o tédio completo? “Eu não sabia o que esperar." Ela queria escapar de sua vida no bordel, mas não havia considerado que tipo de vida ela queria em vez disso.
Oséias a soltou e acenou com a cabeça para o comerciante de tecidos, que se interessara pela conversa deles.
“Venha, vamos caminhar."
Gômer foi, de má vontade, caminhando ao lado dele.
Oséias alcançou sua mão escondida nas dobras do roupão.
“Vamos garantir que qualquer tarefa que você receba na fazenda de Amós será algo agradável, como um presente do Senhor. Ele me criou para ser Seu profeta. "
Se Senhor criou Oséias para ser profeta, o deus de Oséias a criou para ser uma prostituta? Instintivamente, ela puxou a mão e colocou os braços em volta da cintura.
“Diga-me o que eu poderia fazer na fazenda de Amós."
“Bem, Amós supervisiona o gado quando não está viajando para vender nossas mercadorias. Se você gostar de animais, podemos encontrar algo para você fazer nos celeiros."
Gômer torceu o nariz.
Ele sorriu e continuou.
“Yuval, esposa de Amós, é responsável pelas figueiras. Ela é uma mulher gentil e administra tudo, desde o plantio, a colheita, a culinária e até o uso medicinal dos figos. "
Ajudei minha amiga Merav com ervas e como parteira no bordel.
Talvez eu pudesse ajudar Yuval com meu conhecimento sobre ervas. " Ela relaxou os braços, sentindo pela primeira vez que poderia ter um propósito em sua nova vida.
Oséias alcançou sua mão novamente, animando seu espírito com o sorriso de aprovação enquanto continuavam pelo mercado.
“Existem muitas mulheres e crianças, portanto, as habilidades de uma parteira são sempre bem-vindas. Mas você também pode aprender algo novo - que tal fazer um vaso como o que vimos alguns momentos atrás. "
Realmente?" Ela parou subitamente, fazendo com que vários comerciantes se misturassem com eles.
“Eu não sei nada sobre cerâmica, Oséias, e quem gastaria tempo para ensinar uma habilidade tão valiosa para uma prostituta?" Ela balançou a cabeça para esquecer e eles retomaram a caminhada.
Cozinhar, moer, peneirar - eram as habilidades que ela aprenderia por obrigação, não a fantasia de uma prostituta criando belos vasos.
“Farei o que tiver que fazer."
Oséias colocou o braço sobre os ombros dela e se inclinou para sussurrar através do véu. O Criador fez de você um ser criativo, minha esposa.
Você sempre foi boa em projetar coisas.
Se quiser trabalhar com Amoz, verei se ele precisa de um aprendiz.
O coração de Gômer acelerou, mas ela se recusou a ceder à esperança.
Ela ainda não tinha certeza se podia confiar em seu marido - ou em seu deus. Oséias, pelo menos, havia se mostrado confiável até agora.
“Jonas!" Ele acenou para o profeta dos peixes, e Gômer contemplou o pináculo do templo de ouro de Salomão em frente.
Rapidamente chegaram aos estábulos onde os animais para o sacrifício aguardavam a compra.
“Você vai comprar o cordeiro, ou quer que eu compre?" Isaías perguntou a Oséias, apontando para o cômodo onde dois sacerdotes estavam sentados à mesa, esperando receber pagamento dos adoradores do templo.
Antes que Oséias pudesse responder, um movimento na escada do templo roubou a atenção de todos.
Os gritos se transformaram em um escândalo quando um pequeno círculo de sacerdotes desceu as escadas empurrando um prisioneiro entre eles.
Quando chegaram ao nível da rua, o círculo se abriu para revelar não um preso comum, mas um rei.
Vestido com roupas reais e uma coroa de ouro, o homem que Gômer supôs ser o rei de Judá parecia pálido coberto de feridas no rosto.
“Senhor, o que aconteceu ao rei Uzias?" A oração de Oséias foi anunciada em voz alta e expressou o coração dos expectadores.
A multidão se separou, todo homem, mulher e criança fugindo da aproximação do rei.
Todos, exceto Jonas e Isaías.
As varas do velho profeta estalaram na passarela de pedras, e Isaías o acompanhou em direção ao rei em pânico.
“Meu senhor", gritou Jonas, “o que aconteceu?" Isaías parecia pronto para abraçar o rei, mas o velho profeta o segurou.
“Rei Uzias, como podemos ajudá-lo?"
Oséias segurou a mão de Gômer e fixou o olhar.
“Preciso ajudar Jonas com Isaías. Não se aproxime do rei ou dos sacerdotes até que eu saiba o que aconteceu."
Gômer observou seus parceiros de viagem se curvarem perante o rei Uzias, embora permanecessem a dez côvados de distância.
Os sacerdotes que espantavam Uzias agora afluíam na direção dos profetas para falar em particular, enquanto o rei estava sozinho - um espetáculo para os judeus assustados e amedrontados.
Ela conhecia a humilhação da exibição pública.
É por isso que ela aprendeu a fingir, a entreter a multidão e a denegrir antes que os outros pudessem faze-lo.
O rei Uzias não teve esse luxo.
Ele fora preso por quebra da lei e deveria aguardar o veredicto dos sacerdotes.
Gômer não se sentiu intimidada pelo título dele.
Uzias era um homem como qualquer outro, e ela sabia que seus talentos poderiam acalmá-lo.
Compelida por sua humilhação, ela sentiu seus pés caminharem por vontade própria.
Ajoelhou-se, inclinou a cabeça e disse numa voz suave como manteiga: “Meu senhor Uzias, sou Gômer, esposa de Oséias. Sinto-me honrada por conhecê-lo."
Aparentemente confuso, o rei olhou para Oséias e novamente para Gômer.
Ela se levantou e estendeu a mão.
“Não!" Oséias correu para o lado dela, e Uzias deu um passo para trás, tão assustado quanto Gômer.
Oséias fez uma reverência forçada ao rei e agarrou a mão de Gômer.
“Perdoe-me, meu senhor. Minha esposa não conhece as leis sobre impureza. Não quisemos desrespeitar."
A dor que Gômer viu no rosto de Uzias era familiar.
“Impuro! Ela talvez não conhecesse nenhuma lei sobre aquilo, mas sabia exatamente o que o rei estava sentindo. Ela apertou a mandíbula e soltou a mão de Oséias. “Se o rei precisa cuidar de suas feridas, estou disposto a me tornar impuro para ajudá-lo."
Antes de Oséias responder, uma voz profunda e ressonante disse: “Obrigado, adorável Gômer, mas acredito que um dos meus médicos me acompanhará para fora da cidade." Ele olhou para Jonas e acrescentou: “Como tenho certeza de que os sacerdotes relataram, este é o julgamento de Senhor por minha arrogância ao oferecer incenso. Preciso encontrar um lugar para morar fora da cidade até que a misericórdia do Senhor me alivie dessas feridas. Você acha que Amós me permitiria ficar no acampamento em Tecoa?"
Isaías deu um passo à frente e Gômer pôde notar seus olhos vermelhos.
“Ele poderia ficar com meu abba e eu."
A expressão de Jonas suavizou e ele colocou uma mão reconfortante no ombro de Isaías.
“A lei é clara, meu filho. O rei Uzias deve morar fora do campo, mas tenho certeza de que Amós teria prazer em oferecer a pequena casa de pedra na clareira do lado de fora dos portões." Uzias assentiu e trocou um olhar significativo com Isaías.
“E eu teria prazer em estar perto da minha família durante esse período de aflição."
Gômer percebeu a frustração nas falas dos primos.
“Oséias, esta lei não pode ser anulada nem para o rei?" ela sussurrou.
“E se o rei ficasse em uma casa perto da casa de Isaías, ou talvez nós..."
Ele pressionou um dedo nos seus lábios. Seu olhar estavam cheios de bondade, ainda que severo.
Ajudaremos nosso rei, minha esposa, mas devemos permitir que o julgamento do Senhor cumpra seu propósito, bem como deixar que Sua Lei nos proteja e ao rei.
Não sabemos se a doença é contagiosa, e lembre-se - o Senhor lançou Sua ira ao rei Uzias.
Não queremos ficar no caminho se houver mais por vir. "
Gômer ficou horrorizada.
“Você quer dizer que seu deus pode se voltar contra você por ajudar esse pobre homem?"
Oséias suspirou, parecendo exausto e frustrado com aquela pergunta.
“É mais complicado que isso, Gômer."
“Não fale comigo", disse ela, igualmente frustrada.
Contendo as lágrimas, ela insistiu que Oséias se juntasse aos sacerdotes.
“Você pode me explicar mais tarde por que seu amoroso deus afligiu um rei fiel por oferecer incenso em Seu templo." O veneno escorria de seu tom e Oséias estremeceu como se estivesse fisicamente ferido.
Deixe-o estremecer.
Ela quase acreditou que o deus dele era diferente dos outros.
Ela deveria ter mais cuidado.
Oséias era bem convincente.
Convincente demais.
12
Êxodo 20:3-6
Não terás outros deuses além de mim.
Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra.
Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso.
Que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam.
Mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos.
Oséias sentiu como o coração saltar.
Por que esse fiel rei faria uma coisa tão tola? Ele sabia que apenas os descendentes de Arão tinham permissão para queimar incenso diante do altar do Senhor.
Os sacerdotes continuaram a discutir com Jonas, mas Oséias lançou um olhar para sua esposa.
Isaías permaneceu com Gômer, conversando calmamente no caminho entre o grupo de sacerdotes e o rei solitário.
Parece que Isaías estava conseguido acalma-la.
A fúria em seu olhar com a menção do julgamento de Deus foi impressionante.
Ela seria sempre tão rápida em acusar os justos e defender os condenados?
“Oséias, o que você acha?"
Oséias voltou sua atenção para os sacerdotes e viu Jonas aguardando sua resposta.
O Senhor lhe deu habilidades administrativas.
Como devemos proceder?"
“Desculpe, o que você perguntou mesmo?"
Após uma reprimenda silenciosa, Jonas repetiu as perguntas.
“Podemos viajar para Tecoa depois do anoitecer com Gômer e o rei?"
Num piscar de olhos, Oséias elencou mil problemas.
“A condição de Uzias piora a cada dia. A distância até Tecoa é normalmente percorrida em uma caminhada matinal, mas se torna uma jornada de meio dia com duas carroças no terreno rochoso. E sabemos bem a loucura de viajar à noite no deserto. Se não formos atacados por feras, os bandidos tentarão aliviar nossa carga. " Oséias viu os olhos dos padres crescerem com cada problema potencial.
É melhor sugerir soluções ou eles tirarão suas vestes e orarão para que as montanhas caiam sobre eles.
“Um de vocês precisará seguir Jonas ao palácio para informar os oficiais do rei sobre o plano. O príncipe Jotham também precisará ser informado sobre a doença de seu abba ". Ele olhou para Jonah.
“Isaías talvez seja o melhor para falar com o príncipe."
Jonas assentiu, andando para onde Isaías e Gômer estavam.
Oséias recitou a lista de preparativos e os sacerdotes dividiram as responsabilidades.
Ele os deixou com uma instrução final.
“Lembre-se de que precisaremos lavar qualquer madeira e quebrar qualquer cerâmica que o rei Uzias tocar durante a viagem." Ele hesitou, enfatizando suas próximas palavras.
“Seguiremos à risca a Lei do Senhor - tanto para permanecer puros quanto em relação à segurança. Não sabemos se a condição do rei é contagiosa. Certifique-se de informar os guardas sobre o risco de ter contato direto com o rei."
“Seus dois guarda-costas principais são como torres de pedra", respondeu um sacerdote.
“Tenho certeza de que eles levariam o rei nos ombros, se necessário."
“Vamos torcer para que ninguém tenha que tocar em nosso rei", disse Oséias.
“Tornar-se impuro voluntariamente é separar-se voluntariamente do Senhor. Não deve ser realizado sem a devida consideração."
Gômer observou Jonas guiar Isaías para longe do imponente templo do Senhor.
O jovem amigo de Oséias estava abalado.
Ele até se dignou em dizer algo civilizado para ela.
“Obrigado por sua gentileza com o rei Uzias", disse.
Ela ficou surpresa por ele não critica-la por ter humilhado a si mesma e ao rei de Judá. Algo, porém, na atitude dele dizia que o mundo de Isaías havia sido virado de cabeça para baixo nos momentos de caos que acabara de testemunhar.
“Você está bem?" Oséias perguntou.
Ela deu um olhar vago, observando os sacerdotes abrir um amplo caminho através da multidão, conduzindo o rei atordoado e vacilante a seguir Jonas e Isaías.
“Todos estão indo para o palácio?"
Com a mão ainda no rosto dela, ele disse: “Sim, e devo ir com eles."
Assustada, ela encontrou o olhar dele.
“E eu?"
“Achei que você gostaria de negociar por aquele vaso que vimos no mercado." Um sorriso cansado apareceu no canto de seus lábios.
“Tenho certeza que Amoz ficará feliz em saber que você gostou do trabalho dele."
“Você confiaria em mim para andar sozinha pelo mercado?"
Ele puxou uma bolsa do cinto.
Quando ela estendeu a mão, ele a entregou, e ela sentiu o som familiar de algumas moedas.
“Eu confio em você", disse ele.
“É importante que você me encontre aqui antes que o sol alcance o topo do telhado do palácio." Ele apontou para um prédio alto a oeste de onde eles estavam.
“Você vê? Você deve estar aqui antes que o sol toque aquele telhado. "
Ela se sentiu mal pelo pequeno sorriso irreprimido.
O rei Uzias havia sido atingido.
Isaías estava sofrendo.
Mas imaginar que Oséias confiava nela e ela estava livre para andar pelo mercado...
Oséias se virou para ir embora, mas ela o agarrou pelo braço.
“Preciso da sua adaga", disse ela, colocando a prata no cinto.
Não!" Oséias olhou, aparentemente divertido.
“Como você sabe que tenho uma adaga?"
“Eu a vi amarrada acima da sua sandália esquerda na noite em que me tirou do bordel. Agora dê para mim para que eu possa me proteger no mercado. " Ela estendeu a mão e esperou.
Oséias olhou a multidão e levou Gômer para um lugar mais privado.
“Antes de tudo, não é de conhecimento geral que o profeta de Deus anda armado. Em segundo lugar, você tem certeza de que sabe usar isso? Não quero que você morra por causa de um vaso idiota. " Oséias olhou de um lado para o outro, ajoelhou-se como se ajustasse a tira da sandália e depois transferiu a lâmina para a mão de Gômer.
Ela colocou no bolso.
“Sou prostituta desde os doze anos, Oséias. Eu poderia cortar você do nariz ao umbigo antes que você percebesse. " Um beijo rápido em sua bochecha.
“Obrigado, marido. Encontrarei você aqui em breve."
Gômer deu uma olhadinha por cima do ombro enquanto desaparecia no mercado lotado de Jerusalém.
Oséias olhava para ela. Seus lábios se moviam em oração silenciosa.
Ela riu, imaginando: ele está pedindo proteção pra mim ou para o comerciante tolo que tentar me enganar?
Gômer caminhou pelas ruas lotadas.
Pessoas de todos os lugares falavam do suplício do rei.
Outros, é claro, falavam mal de Uzias. Até os melhores líderes têm inimigos.
Mas a maioria estava perplexa.
Se o Senhor punira o fiel Uzias, quem estaria a salvo de Sua ira?
Uma voz se sobressaiu do resto, e Gômer foi atraída para uma grande multidão perto de um dossel no lado leste da cidade alta.
Uma mulher estava sobre um palco para ser vista pelo público.
Sua voz clara e suave percorreu a alma de Gômer como água fresca.
“Nossa Senhora Asherah oferece vida aos seus adoradores, não doença e morte como Senhor dá." Ela apresentou uma réplica brilhante das estacas esculpidas nos bosques.
“O altar de Aserá pode proteger sua casa e abençoa-los com com vida e saúde. Por que viajar para um dos bosques de Judá ou para o templo do Senhor para sacrificar quando Aserá e Baal estão aqui?" Ela pegou outros itens esculpidos, levantando-os para a multidão.
“E aqui eu tenho Anat e Mot." Ela desceu das caixas para atender às demandas dos adoradores a seus pés.
“Sim, sim, tenho deuses de todos os tipos para você. Espere um pouco e eu te ajudo a decidir qual deus ou deusa atenderá às suas necessidades."
Gômer assistiu admirada.
Essas pessoas se sentiam 'intimidadas' para adorar um único deus.
O poste de Aserá que ela e Oséias haviam visto no alto parecia esquecido e desarrumado, mas a ira do Senhor com Uzias despertou a curiosidade deles pelos antigos deuses de Canaã.
Enquanto ela observava, um pensamento terrível ocorreu.
Logo ela iria para uma pequena fazenda no deserto de Tecoa com um rei leproso - e sem nenhum deus.
A que deus ela oraria por proteção?
Apavorada, Gômer forçou caminho até a frente da multidão e inspecionou as esculturas da mulher.
Ela escolheu uma pequena Aserá e pegou uma moeda na bolsa um pedaço de Oséias.
“Vou levar essa."
“Excelente escolha, minha senhora."
Gômer assentiu, pegou a deusa, embrulhou em um pano e colocou no bolso ao lado da adaga.
Oséias permaneceu nos estábulos na frente do templo, enquanto Jonas e Isaías esperavam com o rei e seus homens.
Onde ela está? Ele estava tentando não se preocupar, mas por que ela estava atrasada? E se ela fosse presa novamente? E se ... Senhor, e se ela se entregasse a outro homem? Seu peito doeu ao imaginá-la nos braços de outro, quando ela nunca o deixou amá-la como marido.
Ele apertou os dedos nos olhos.
“Pare com isso", ele sussurrou pra si mesmo.
“Oséias?"
Ele ouviu a voz de Gômer e a abraçou como se tivesse perdido.
Chocada, ela quase deixou cair o tecido que estava carregando.
“Qual o problema?"
Ele a soltou e sabia que precisava confessar.
“Estava preocupado com você. Onde você esteve?" As palavras soaram mais acusatórias do que ele imaginou.
Em vez da raiva esperada, sua esposa parecia distraída, analisando um pedaço de tecido comprado no mercado.
Ela parecia nervosa, inquieta.
“Os outros estão esperando no carrinho? Nós deveríamos nos apressar. Decidi comprar um tecido ao invés do vaso. Pareceu mais útil."
Ele a observou enquanto mostrava o tecido evitando olhar demais.
“Você acha que alguém poderia me ensinar a costurar? Os servos fizeram todas as nossas vestes no bordel. " Ela ainda não tinha olhado para ele.
Ele segurou seu queixo a olhou diretamente.
“O que aconteceu no mercado? Por que você está chateado?"
Ela deu as costas.
“Vamos embora, Oséias. a roupa para os porões. Não quero falar sobre isso."
O medo voltou numa forte dor de estômago.
Qual das suas previsões se tornou realidade? “Eu preciso saber."
O queixo dela se ergueu e as costas se endireitaram.
Seus olhos iluminados com raiva.
“Por quê? Por que você deve saber? Devo contar cada peça de prata para provar que não te enganei?"
“Eu não ligo para a prata. Quero saber por que você está chateado. " Ele de repente se lembrou da adaga.
Deu um passo à frente e apalpou o bolso do roupão dela.
“Devolva minha ada..."
Ela se afastou com os olhos arregalados e cobriu o bolso.
“Por que você quer a adaga?"
“Porque se você teve que usar a adaga, significa que coloquei minha esposa em perigo permitindo que fosse ao mercado sozinha. Por favor, Gômer. " Ele estendeu a mão.
“A adaga."
Ela enfiou a mão no bolso e pegou a adaga, colocando-a na mão dele.
“Aqui."
A lâmina estava limpa.
Sem sangue.
“Por que você estava chateada?"
Lágrimas brotaram em seus olhos, mas ela estava resolvida a segura-las.
“Tanto para a sua confiança, Oséias." Com um sorriso de escárnio, ela caminhou em direção à carroça de duas rodas e a escolta do rei que os esperava.
Olhou por cima do ombro e acrescentou: “Comprei um presente para você que escondi no bolso. Não queria que você pegasse o presente junto com a adaga."
Oséias abaixou a cabeça, derrotado.
O cheiro de cravo ainda persistia.
Ela mascava constantemente pedaços de cravo.
A respiração, o cabelo e as roupas estavam aromatizadas.
Talvez não fosse tão importante saber os detalhes de seu passeio no mercado.
Ela estava segura, e a ausência de sangue na lâmina indicava nenhum dano.
“Venha, esposa,"
Vamos para casa."
A culpa fez o coração de Gômer acelerar.
Eles deixaram Jerusalém pouco antes do jantar e viajaram pela escuridão do deserto - uma condição perfeita para descrever o coração de quem mente para o marido sobre um presente quando esconde um deus pagão no bolso.
Isaías estava certo sobre ela.
Ela era completamente desprezível e incapaz de amar.
“Você tem estado triste desde que deixamos Jerusalém", resmungou Isaías, empurrando o carrinho.
“Alguém poderia até pensar que você era a leprosa."
Gômer lançou-lhe um olhar e cravou as bengalas no caminho poeirento.
“Estou me concentrando para conseguir usar estas muletas tolas. Não sei como Jonas faz isto tão bem."
O velho profeta desfaleceu ao norte de Belém, mas se recusou a tomar o lugar de Gômer no carrinho.
Ela calou seus protestos roubando suas bengalas e beijando sua bochecha.
Agora ele dormia sobre a carroça improvisada no terreno mais irregular que Gômer já havia percorrido.
O carrinho rangeu quando uma roda caiu em um sulco profundo no caminho morro acima.
Gômer abafou um grito, vendo Jonas quase cair de seu poleiro.
Isaías empurrou, Oséias puxou, e o carrinho gemeu novamente.
Aliviado, Gômer conversou com Isaías para distrair da dor em seus quadris.
“Quanto mais até chegar em Tecoa?" Ela tentava não reclamar.
“Estamos quase lá." Ele também devia estar exausto.
Ele estava gastando toda sua força para subir a ladeira.
Ele olhou por cima do braço, claramente preocupado.
“Você precisa parar? Posso fazer os soldados sinalizarem para o guarda de Uzias. "
“Não. Estou bem."
A testa de Isaías franziu e ele enfiou a cabeça entre os braços novamente.
“Você não parece bem, é melhor prosseguir se for possível. Estamos bem perto e quando chegarmos ao acampamento, você poderá descansar em sua casa. "
Sua casa.
O pensamento a fortaleceu.
Ela tinha poucas lembranças de um lar de verdade.
Ela iria chegar em Tecoa com um rei leproso e um batalhão de soldados de Judá segurando tochas pelo caminho - não era assim que imaginara conhecer seu lar, mas certamente seria memorável.
Uma centelha de excitação a impulsionou.
Ela ouviu um longo som de shofar e olhou para cima, notando um brilho suave no vale abaixo deles.
Eles pararam no alto da colina e até que Oséias se juntasse a eles.
“Estamos em casa, Gômer", disse ele, apontando para a vila logo abaixo.
“O rei Uzias deve ter enviado batedores para avisar que estávamos vindo. Eles acenderam tochas para nós."
“Eu não fui gentil com você no passado." A voz de Isaías cortou o ar da noite e Oséias colocou o braço em volta da cintura de Gômer, dando-lhe um aperto suave.
“Mas vi um lado diferente de você hoje."
Um nó se formou na garganta de Gômer. A deusa no seu bolso a acusava em voz alta.
“Sei como é ser um excluído, Isaías. Ninguém gosta de se sentir sozinho."
“Nos lembraremos da sua gentileza", a voz irritada de Jonas veio do nada.
“Você precisará de amigos em sua nova casa."
Gômer viu Oséias e Isaías trocarem olhares, e seu sangue gelou.
Suas expressões preocupadas diminuíram a excitação e lançaram uma pá de medo sobre seus ossos cansados.
13
Levítico 13:2-4
“Quando alguém tiver um inchaço, uma erupção ou uma mancha brilhante na pele que possa ser sinal de lepra, será levado ao sacerdote Arão ou a um dos seus filhos que seja sacerdote. Este examinará a parte afetada da pele, e, se naquela parte o pelo tiver se tornado branco e o lugar parecer mais profundo do que a pele, é sinal de lepra. Depois de examiná-lo, o sacerdote o declarará impuro. Se a mancha na pele for branca, mas não parecer mais profunda do que a pele e sobre ela o pelo não tiver se tornado branco, o sacerdote o porá em isolamento por sete dias. O sacerdote o examinará e, se a erupção tiver se espalhado pela pele, ele o declarará impuro."
Gômer examinou a bela casa de pedra onde Oséias pediu que ela esperasse enquanto ele ajudava o rei Uzias a se instalar em uma casa fora do acampamento.
Ela estava exausta e ainda com o orgulho ferido depois de ter sido carregada desde o topo da colina de onde avistou Tecoa pela primeira vez.
O breve descanso enviou a falsa mensagem às suas pernas de que a jornada havia terminado.
Seu corpo enfraquecido se recusou a dar outro passo naquele terreno rochoso.
Isaías assumiu a condução do carrinho de Jonas, e Oséias a tomou em seus braços - como se ela não pesasse mais do que um saco de cevada.
Sua força a surpreendeu.
Muitas coisas sobre seu amigo de infância a surpreenderam nos últimos dias.
Seu estômago roncou alto, e ela gemeu, desejando uma refeição e uma cama quente.
Mas Oséias a deixara naquela casa, dentro do portão do campo, sem uma palavra sobre provisões.
Ele saiu correndo para se juntar a Isaías e os outros no cuidado do rei Uzias.
A sala principal era simples, mas elegante.
Deve ser uma casa de hóspedes para visitas reais.
Talvez Uzias tenha ficado aqui quando visitou Amoz e Isaías.
Ela caiu sobre uma pilha de tapetes de pele e aconchegou-se naquela suavidade.
Nesta hora Aserá cutucou seu quadril e despertou sua consciência.
Ela tirou a deusa de alabastro do bolso e examinou a sala, imaginando onde esconderia seu tesouro.
Ela poderia encontrar muitos esconderijos.
Lindos vasos, jarros e tigelas estavam empilhados nas prateleiras sobre uma mesa.
Esta casa ainda tinha um forno particular, não compartilhado com a fazenda nem outras casas ao redor de um pátio.
Ela observou ao passar pelos portões da fazenda que a maioria das casas era independente havia sido construída nas montanhas e colinas.
Ela sentiu uma mudança de temperatura quando entrou na grande sala e percebeu que as paredes de rochas deveriam ajudar a manter uma temperatura agradável no clima desértico de Tecoa.
Ela fechou os olhos e se encolheu.
Seu corpo precisava descansar, mas seu espírito parecia vivo.
Talvez tenha sido a mudança, mas ela se sentiu mais viva do que desde ... bem, desde que ela e Oséias eram crianças.
O garoto que ela achava ter abandonado havia reaparecido e parecia se importar de verdade com ela.
Ela sentiu discreto tremor em seu peito.
Isso era amor? Um sorriso irônico apareceu em seus lábios.
Afinal, o que era amor? Mas ela se importava com Oséias.
E ficaria muito triste se algo acontecesse com ele.
O medo então voltou a domina-la.
O que ela faria se Oséias a abandonasse novamente? Todo mundo a abandonou em algum momento.
Ela pegou a deusa de alabastro, acariciando a pedra lisa e fria.
Grande deusa Aserá, mãe abundante da vida, abre meu ventre para que eu possa ter filhos que me sustentem na velhice.
Ela nunca havia feito tal oração, mas o pensamento a confortou.
Como prostituta, ela evitava a todo custo engravidar.
Abraçando sua deusa familiar, ela sentiu um calor estranho subir pelo braço.
Sim, ela estava pronta para se entregar ao marido.
Se não fosse por amor, seria para garantir seu futuro.
Uma batida na porta dissuadiu seus pensamentos.
Ela sentou-se rápido demais e sua cabeça girou.
Preciso comer alguma coisa.
Ela se firmou e foi em direção à porta, desejando não ter devolvido a adaga para Oséias.
Quem é?" ela disse atrás do biombo.
“Shalom, querido."
Meu nome é Yuval.
Sou a esposa de Amós e trouxe uma pequena refeição pra você."
Gômer olhou pela sala, sem saber o que estava procurando, sem saber por que a esposa do dono da fazenda traria comida pra ela no meio da noite.
“Oséias não está aqui. Ele está com o rei Uzias. E por que você está sendo boa comigo agora?" Uma ligeira pausa, e então ela entendeu.
“Eu sei querida. Amós está com eles. Pensei que você poderia estar com fome e poderíamos compartilhar uma refeição. Você poderia me deixar entrar?"
Gômer se sentiu completamente tola.
“Claro que sim."
“Sinto muito ..." Disse ela, abrindo a porta.
Mas o rosto que esperava do lado de fora a deixou chocada.
“Merav?" Gômer começou a tremer e cobriu a boca para segurar um grito.
Alguma coisa errada, querida?" A velha passou correndo por ela e colocou a bandeja de comida sobre a mesa.
Sente-se."
Você está pálida."
O rosto, a voz e até as mãos - aquela era a velha amiga parteira de Gômer no bordel.
“Merav, eu vi o guarda te matar", ela sussurrou.
Ela não conseguia tirar os olhos daquele rosto assustador.
“Diga-me quem você pensa que eu sou, Gômer." A matrona fantasmagórica a conduziu até um tapete ao lado da bandeja de comida.
“Seu nome é Gômer, certo? Você é a nova noiva de Oséias?" Ela acariciou a mão de Gômer enquanto falava, acalmando, raciocinando.
“Sim, sou a esposa de Oséias." Gômer balançou a cabeça e fechou os olhos com força.
Deve ser um sonho.
Quando ela abriu os olhos, o fantasma de Merav ainda estava lá.
“Será que Mot enviou você do submundo para me punir?" Ela começou a chorar com medo.
“Shh, pequenina."
“Não chore".
Nós vamos descobrir isso. " A velha envolveu-a em um abraço feroz.
“Entende? Sou real. Mot não tem domínio sobre o povo do Senhor."
“Eu sou Yuval, e nenhum falso deus vai atormentá-lo aqui. " Ela balançou Gômer para frente e para trás até que suas lágrimas diminuíssem.
Finalmente, sentindo certa paz, Gômer soltou a mulher que a abraçara com tanta força.
“Sinto muito."
Fiz papel de boba, mas você se parece exatamente com a parteira e babá no caldo ... - Ela parou, horrorizada por quase ter contado a Yuval que tinha sido uma prostituta! Já era ruim o suficiente que ela sem dúvida considerasse Gômer uma louca.
“Minha antiga parteira e babá que me treinou - o nome dela era Merav. Assisti os guardas do rei Jeroboão esfaqueá-la até a morte quando ela tentou salvar uma criança de um sacrifício no templo. Você se parece muito com ela."
Lágrimas surgiram nos olhos de Yuval.
“Oh, Gômer. Sinto muito por ter testemunhado tamanha tragédia. Merav parece ter sido uma mulher corajosa. Espero que minha vida reflita seu caráter tão fortemente quanto meu rosto reflete seus traços. " Ela deu um tapinha na mão de Gômer e se aproximou.
“Agora, posso acompanhá-lo na refeição? E quando terminarmos, posso ajudá-lo a desfazer as malas, se quiser. " Ela acenou com a mão como se espantasse uma mosca.
“Quem pode prever quando nossos maridos voltarão para casa."
“Desfazer as malas?" Gômer observou a mulher arrumar pão quente e ensopado sobre a mesa.
“Você vai me levar para a casa de Oséias depois que comermos?"
A mão de Yuval parou no ar, cheia de tâmaras.
“Esta é a casa de Oséias, querida. Ele não te contou? Esta é a sua casa agora. "
Oséias deixou a pequena casa de pedra que Amós cedeu para o rei Uzias e bateu seu cajado no caminho à frente.
A vibração alertaria as cobras e o ruído espantaria qualquer grande predador da presença humana.
Uma vez dentro do acampamento, ele não se preocupou tanto com os animais selvagens.
Agora, sua mente poderia resolver os assuntos que pesavam sobre sua mente.
Ele caminhou pelo caminho pedregoso em direção a casa, imaginando se o mundo voltaria a fazer sentido.
O rei justo de Judá - punido pelo Senhor.
Ele balançou a cabeça e suspirou. Seu coração estava tão pesado quanto seus pés.
Os sacerdotes haviam inspecionado todas as áreas acometidas no corpo de Uzias, conforme a lei instruía.
Embora as lesões fossem brancas como lepra, os cabelos na área afetada não tinham ficado brancos, nem as feridas pareciam profundas.
A decisão - confinamento por sete dias - provocou uma expressão de expectativa do rei.
A lei exigia que os sacerdotes o examinassem a cada sete dias para determinar se as lesões eram uma erupção simples ou algum tipo de infecção.
Se em algum momento as lesões fossem classificadas como infecciosas, ele seria considerado impuro e viveria indefinidamente fora de qualquer comunidade.
A decisão dos sacerdotes determinaria os arranjos de longo prazo na vida de Uzias.
Oséias viu terror nas feições do rei - um homem próspero, ativo e empreendedor, escondido numa casa com paredes de pedra não maior que o armário do palácio.
A cada exigência dos sacerdotes, os ombros de Uzias caíam.
“Sua roupa exterior deve permanecer rasgada o tempo todo, como se estivesse de luto. Sua barba deve estar coberta com um manto. E se alguém se aproximar da casa, você deve alertá-lo para manter distância, gritando: 'Impuro, impuro!' E sua cabeça precisará ser raspada, meu senhor."
No pronunciamento final, os olhos do rei se arregalaram.
“É claro que podemos abrir uma exceção para o rei. Jamais um governante de Judá raspou a cabeça por qualquer motivo. "
Oséias contemplou parte da arrogância que levara Uzias para uma casa na fazenda de Amós.
Como um rei que ofereceu todos os sacrifícios certos, venceu todas as batalhas, construiu todas as torres... ainda tem que passar julgamento do Senhor?
Foi a arrogância de Uzias que o afastou de Mim.
Atitude externa não significa devoção interior.
Sua lepra é o sinal externo de sua corrupção interior...
Oséias.
Um calafrio percorreu sua espinha.
Oséias ouviu as palavras de Deus como se fossem ditas em voz alta, mas ele nunca ouviu o Senhor chamá-lo pelo nome.
Era aterrorizante.
Oséias caiu de joelhos no solo rochoso de Tecoa, encostando a testa no chão, com as palmas para cima para receber o que o Senhor daria.
Ame sua esposa, Oséias.
Ame-a como eu amo meu povo Israel.
Ame-a como eu amo Uzias.
Uma brisa fresca do deserto tomou conta dele, e o momento acabou.
Oséias levantou a cabeça, com o coração acelerado.
Como você ama Uzias? O que quer dizer, Senhor? Mas seu espírito estava em silêncio.
Iavé enviaria Jonas para ajudá-lo a entender? Ele olhou ao redor, mas não viu ninguém se mexendo no complexo de Amos.
Até os animais estavam deitados durante a noite.
Ele olhou para o céu sem nuvens.
A lua e as estrelas estavam brilhando.
Não haveria explicação hoje à noite.
Ele se levantou e tirou o pó da túnica.
Com um suspiro profundo, ele entregou-se a exaustão do dia.
“Eu a amo, Senhor." Ele sentiu um pouco da tristeza diminuir ao dizer as palavras em voz alta.
Ele acelerou o passo.
A cada passo, ele deixava a lembrança de sua esposa o atraísse para a casa de pedra que ele dividira com seu abba.
Gômer progredira tanto nos três dias desde que deixaram Samaria.
Ela compartilhou seus medos, chorou nos braços dele.
Ela até parecia disposta a se submeter ao sacrifício da comunhão no templo - até ver o rei Uzias.
Talvez o Senhor quisesse dizer que Oséias deveria ensiná-la fielmente, amá-la consistentemente e, se ela se rebelasse, de alguma forma discipliná-la.
Ele limpou o rosto cansado e olhou para cima, calculando a lua além do ponto médio.
Gômer estaria dormindo profundamente.
Esta noite não tinha sido como ele esperava em sua nova casa, mas talvez houvesse espaço para ele no colchão ao lado dela.
Ele sorriu com o pensamento.
A antecipação o pressionou e ele abriu o portão de madeira do pequeno pátio.
Checou o estábulo, observando o gado novo que havia comprado para sua casa.
Um burro e agora duas cabras tinham feno fresco.
Ele ouviu o barulho suave e contente das galinhas em seus ninhos.
Preciso agradecer Miqueias.
Miquéias se tornara sombra de Oséias, desde que as notícias de sua missão profética se espalharam pelo acampamento.
Era um bom menino, trazido por seu abba para estudar no acampamento dos profetas há três anos. Jonas era seu tutor.
Embora Oséias não sentisse a mesma familiaridade com ele do que com Isaías, Miquéias era como um irmão com quem ele sentia um vínculo especial.
Isaías!"
Uma onda de melancolia tomou Oséias.
Você vai chamá-lo para o ministério, Senhor? Ele será chamado para se sacrificar como eu?
Ele balançou a cabeça, negando.
Que sacrifício ele realmente fez? Ele foi casado em dois ciclos de lua cheia e nunca se deitou com sua esposa.
Considerando a beleza de Gômer, isso era um sacrifício.
Um sorriso irônico surgiu em seu rosto.
Esperar pelo amor dela valia a pena.
Ele ficou um momento do lado de fora da casa, esfregou o rosto novamente e levantou a trava de ferro.
O fogo brilhava no forno, e a luz da lâmpada cintilou no quarto.
“Oséias?"
Seu coração batia forte, a boca estava seca.
Nervoso.
Por que ele estava nervoso? “Sim, sou eu", disse ele, estatelado no chão.
Um som veio do quarto e ela estava lá.
A silhueta de Gômer desenhada na porta, a luz da lâmpada iluminando curvas perfeitas através de sua túnica.
Ele perdeu o fôlego.
“O rei está bem?" ela perguntou.
Silêncio.
“Oséias? Ele é ... ele é ... Oh!" Ela engasgou horrorizada.
Ele percebeu que ela achou que Uzias estava morto.
“Não, o rei está bem." Ele correu para ela e a envolveu em seus braços.
Seus olhos castanhos procuraram seu rosto.
“Os sacerdotes confinaram Uzias por sete dias, e então eles inspecionarão seus ferimentos novamente ..." Ele deixou seus dedos deslizarem por sua nuca, enredados em seus cachos de cobre.
“Eu não quero falar sobre o rei." Ele a beijou, saboreando os cravos que aprendera a amar.
Ele esperou que ela o afastasse - mas ela não resistiu.
Ela era intoxicante, enchendo cada parte dele com uma alegria e prazer que ele nunca conhecera.
Ele a tomou nos braços e a levou para o colchão de lã que havia comprado antes de ir para Israel.
Naquela época ele estava em profunda dúvida, questionando o plano de Deus, duvidando do chamado do Senhor.
Ele não fazia ideia que reencontraria a menininha que crescera com ele em Betel.
A menina tinha se tornado a mulher que Deus escolhera pra ser sua esposa.
“Gômer, eu vou te amar por toda a vida", disse ele, colocando-a gentilmente na cama.
Os olhos dela brilharam com fogo.
“E eu vou te fazer feliz por você ter me escolhido." Ela o puxou para um beijo apaixonado, e Oséias se perdeu em um êxtase que ele considerava impossível deste lado do paraíso.
14
Provérbios 12:4
A mulher exemplar é a coroa do seu marido, mas a de comportamento vergonhoso é como câncer em seus ossos.
Gômer estava deitada ao lado de Oséias nos primeiros raios do amanhecer, estudando os detalhes de seu marido.
Nenhum homem jamais a tratara com tanta gentileza. Ela jamais sentira tamanha ternura em relação a qualquer homem.
Ele era forte, porém gentil.
Ela havia estado com soldados cujos braços não eram tão fortes quanto aqueles que via na luz da manhã.
Como ela desejava traçar os dedos sobre as sobrancelhas pesadas, o nariz e os olhos.
Seus lábios eram rosados - sem dúvida pela aplicação de gordura de ovelha enquanto viaja pelo deserto.
Ela sorriu, lembrando como ele tirava do bolso, passava nos lábios e guardava novamente.
A lembrança da gordura no bolso de Oséias a lembrou do presente inexistente que prometera a Oséias em Jerusalém.
Ela conseguiu esconder seu Asherah quando eles chegaram a Tekoa, mas como ela encontraria um presente de bolso para seu marido para fazer sua mentira parecer verdadeira? Talvez ela pudesse negociar algo de Yuval sem o conhecimento de Oséias.
Yuval podia pedir para Amós comprar algo de um mercado próximo.
Parecia um pedido inofensivo.
Os cílios Oséias tremeram, e ela deitou a cabeça no braço, fingindo estar dormindo.
Como ele não se mexeu novamente, ela abriu um olho e viu que ainda estava dormindo.
Apoiando-se no cotovelo, ela observou as pálpebras dele em sua dança.
Merav disse que quando as pálpebras de um bebê tremiam, os deuses estavam fazendo cócegas.
Oh, Merav.
O pensamento de sua velha amiga a lembrou da ligação milagrosa com Yuval.
A esposa de Amós era tão confortável quanto um velho par de sandálias, e Gômer se perguntou se seu comportamento mudaria quando ela soubesse do passado de Gômer.
Que truques os deuses estavam pregando para mandar a ela uma nova amiga que se parecia tanto com sua antiga babá? Depois de saber que Yuval era um órfão da terra de Israel, eles ponderaram a possibilidade emocionante de que Merav pudesse ser um parente desconhecido.
Gômer não sabia nada da família de Merav, e provavelmente nunca saberiam.
Que extraordinário viajar tão longe para encontrar alguém tão próximo.
“Você acordou cedo", disse uma voz rouca enquanto esticava os braços.
Ela foi tomada pela presença de Oséias.
Mais do que sua forma física, era a plenitude de sua presença que a deixava sem fôlego.
“Eu acho que te amo", disse ela, hesitante.
Ele estudou olhar, mas permaneceu em silêncio, e ela se sentiu completamente tola.
Os cotovelos dele descansavam ao lado da cabeça dela, e ele entrelaçou os dedos pelos cabelos dela.
“O que o amor significa para você?", disse ele gentilmente.
Ela sentiu o calor subir em suas bochechas e se afastou.
Ele beijou os lábios dela e sussurrou: “Eu te amo e prometi amar você para sempre. Agora, por favor, minha esposa ... " Outro beijo.
“Por que você acha que me ama?"
Ela começou a beija-lo novamente, sem vontade de falar.
Ele se afastou, sorriu e levantou uma sobrancelha.
Eu nunca deveria ter dito nada!"
A piada frustrada incendiou o olhar de Oséias.
Ele deitou de costas e olhou para o teto novamente.
Gômer fechou os olhos com força.
Por que precisam falar como velhas no poço? Por que ele não podia estar satisfeito com sua paixão como outros homens tinham ficado? Ele não é outro homem.
Ele é Oséias.
Ela sentiu o toque suave nos dedos e não conseguiu reprimir um sorriso.
Ele sempre soube acalmá-la.
“Sinto muito", disse ela, ainda deitada ao lado dele, olhando para o teto.
“É difícil para mim dizer como me sinto porque é como dar a você uma parte de mim que você pode destruir." Sua garganta se apertou de emoção, e ela considerou parar por aí.
Isso seria bastante para satisfazer sua curiosidade.
Então ela se lembrou da noite passada.
Talvez ela pudesse confiar nele - só um pouco.
“Acho que te amo ... não quero que outro homem me toque."
Ela havia falado.
Não tinha sido eloquente.
Sem floreios.
E era verdade.
Nenhum deles se mexeu.
Ela se perguntou o que ele estava pensando, mas teve medo de perguntar.
“Obrigado por confiar em mim e por me dizer que me ama." Ele se apoiou no cotovelo então, pairando sobre ela, e traçou a linha de seu nariz, sua boca, seu pescoço.
“Fui a Israel porque o Senhor disse para me casar com uma prostituta e amá-la como Ele ama Israel. Fiquei pensando que esse tipo de amor seria..."
“Eu não sei... como posso explicar ... praticado. Eu nunca sonhei que amaria essa mulher com cada fibra da minha alma. " As lágrimas se acumularam em seus longos cílios.
“Estou impressionado que Deus possa amar Seu povo dessa maneira, e sou muito agradecido por Ele ter me trazido de volta depois de todo esse tempo."
Lembrei! O salto de Gômer assustou seu marido, e os dois riram.
Ele deu um beijo no nariz dela.
“O que você poderia lembrar tão subitamente?"
Ela sentiu as bochechas queimarem novamente, mas desta vez a adoração, não a vergonha, foi o gatilho.
“Quando você disse que seu deus me devolveu depois de todo esse tempo, me lembrou Yuval. Ela trouxe uma pequena refeição ontem à noite, e eu pensei que Mot tinha enviado o fantasma de meu velho amigo Merav. " Oséias franziu a testa e Gômer se perguntou se ele estava confuso ou infeliz com a menção dela a Mot.
“Você se lembra da velha que tentou parar o sacrifício no templo de Jeroboão?"
Oséias assentiu lentamente tentando lembrar.
“Não a vi claramente, mas lembro que ela se parecia com Yuval. Gômer, você está entre o povo do Senhor aqui. Não precisa temer os deuses pagãos enquanto ..."
“Eu sei", ela interrompeu, na esperança de pular a lição sobre o Senhor.
“Enquanto Yuval e eu estávamos conversando, ela me disse que o abba de Amós a comprou como uma escrava órfã de Israel. Ela tem pouca memória de sua vida antes de vir para Judá, e quando Amós se apaixonou por ela e a reivindicou como sua esposa, ela foi aceita em sua família e pouco se importou com suas raízes israelitas. " Gômer percebeu que ela estava sentada, gesticulando loucamente, e Oséias estava assistindo com um sorriso divertido.
“Então você chegou no acampamento há menos de um dia e já fez uma amiga?"
Ela gritou e o atacou.
Eles rolaram várias vezes, envolvendo-se no cobertor.
Ainda por cima é a esposa do proprietário!"
“Aqui na fazenda de Amós damos pouca importância a status e riqueza. Yuval é uma das mulheres mais carinhosas que já conheceu. Ela pode ser a esposa do proprietário, mas trabalha mais do que a empregada mais humilde."
Após a leve repreensão, Gômer trocou de assunto.
“Enquanto estávamos em Samaria, nunca conversamos sobre meus deveres de esposa." Ela fez uma pausa, sem saber como proceder.
Oséias tombou-a de costas e ficou sobre ela, sorrindo.
“Não precisamos discutir nada. Você se sai muito bem quando não precisamos discutir."
Ela deu uma risadinha.
“Eu estava falando sobre cozinhar." Seu sorriso desapareceu e ela riu alto.
“Você sabia que eu nunca cozinhei uma refeição em Samaria?"
“Eu pensei que era porque você me odiava." Eles riram juntos disso.
“Suponho que estava implícito", ela disse, “mas a verdade é que sempre tive servas cozinhando para mim. Yuval vai me ensinar a cozinhar!"
A ternura em seus olhos a surpreendeu.
“Estou tão orgulhosa de você."
Ela engasgou.
Nenhuma palavra poderia descrever... Um homem que se orgulhava de sua esposa prostituta que não sabia cozinhar.
Ela o puxou para seus braços e chorou.
“Eu sei que te amo."
Oséias se encantou com a alegria de sua esposa durante o passeio matinal pela fazenda de Amós.
Lembrou-se do fascínio que ele mesmo sentira ao chegar com abba Beeri doze anos atrás.
Ver a beleza rústica de Tecoa pelos olhos de Gômer era como olhar pela janela através de uma cortina de seda.
“Olhe para as figueiras sem fim! E aquelas ovelhas - elas são minúsculas! "
Oséias riu, vendo sua esposa espantar as ovelhas sob cuidado de seus pastores.
“Sim, são uma raça especial de ovelhas do deserto. Amos viaja para mercados e festivais de Berseba a Damasco para vender sua lã e o tecido que nossas mulheres tecem. " Um dos pastores se levantou de seu local de descanso sombreado, uma carranca em seu rosto envelhecido, enquanto seu rebanho inteiro explodiu em um frenesi balindo.
“Olá, ovelhinha! Venha aqui e deixe-me ver como você é mole. "
Oséias pegou sua mão.
“Venha, esposa,"
Vamos para a oficina de cerâmica e conhecer o tio do rei Amoz. " Ele olhou por cima do ombro, notando dois pastores sussurrando e apontando.
Ele esperava que eles estivessem apenas zangados com a falta de traquejo com animais de Gômer.
“Mas eu vi um cordeiro ali ..." Ela fez beicinho quando ele a puxou.
“Os pastores são um pouco ciumentos com seus rebanhos. Você passou algum tempo com animais?"
“Não, pra falar a verdade, me assustei quando viajamos pelo deserto. Ouvi dizer que havia leões entre aqui, mas nunca morei realmente com animais."
Oséias observou sua esposa tagarelar como se ela não se importasse com o mundo.
“Já vi burros velhos e fedorentos, claro, e sei que as cabras são um incômodo e comem tudo o que você colocar na frente delas."
Oséias riu alto, entretido.
“Bem, nós temos um burro fedorento e duas cabras. Temos também várias galinhas, mas o galo que você ouve cantando todas as manhãs pertence a Yuval e Amós."
“Eu tenho galinhas?" Sua voz estava cheia de admiração.
Então ela levantou os braços e gritou: “Eu tenho galinhas!" Eles passaram por duas mulheres que encaravam Gômer como se ela tivesse duas cabeças.
Elas estavam ocupadas tecendo em um grande tear, mas pararam quando o casal passou.
Elas cochicharam alguma coisa uma pra outra e fizeram uma careta na direção de Gômer.
Oséias olhou para a esposa, aliviado ao encontrá-la contemplando o dossel exuberante de figos no sicômoro acima deles.
Outra distração em ordem.
“E porque ter galinhas, minha esposa, também temos cobras."
“O que?" Toda alegria desapareceu.
“Cobras?"
Ele pegou a mão dela e beijou.
“Amós comprou um presente útil para Yuval em sua última ida a Berseba."
“Cobras?" Gômer parecia não conseguir ir além dessa notícia.
“Amos descobriu um novo tipo de animal chamado gato. Vem do Egito. Ele comprou dois para Yuval... mas eles se multiplicam rapidamente e agora temos quinze. "
Ela colocou os braços em volta da cintura, procurando o caminho.
“Há cobras em todos os lugares? Eles estão atrás das galinhas ou estão aqui com outras pessoas também?"
Oséias parou de andar e a abraçou.
“Ouça."
Tecoa fica ao sul de Israel, e tem cobras.
Há leões no deserto pelo qual viajamos, mas eles permanecem do lado de fora dos portões de Amós.
A maioria dos animais selvagens tem mais medo de você do que o contrário."
Quase implorando, ela disse: “Eu sei que os animais maiores não entrarão no acampamento mas as cobras me assustam, Oséias."
Ele roçou a bochecha dela com a mão.
“As galinhas comem cobras pequenas e os gatos atacam as maiores. As cobras dormem entre as rochas a maior parte do dia, então fique na estrada principal e você ficará bem. "
“E a casa? Eles estão na casa?"
“Podemos pedir um gato emprestado a Yuval?"
Ela concordou rapidamente.
“Tudo bem, depois de te apresentar a Amoz, pedirei um gato para Yuval."
O sorriso dela voltou e eles retomaram a caminhada, andando pelo caminho principal da fazenda.
Passaram por casas, estábulos, celeiros e o salão dos profetas, onde os alunos se reuniram para as aulas de Jonas.
Eles se dirigiram ao sul, no caminho da olaria.
O edifício de dois andares ficava a poucos passos de distância, lançando fumaça de duas chaminés.
Gômer inspecionou o lugar de alto a baixo.
“Por que tão longe do resto do acampamento?"
Oséias apontou para a fumaça acima deles.
“Quando Amós aprovou a construção da olaria, eles sabiam que os fornos trariam riscos de fumaça e incêndio. Então, eles ergueram a olaria no extremo sul sul da propriedade, longe de nossas casas, da lã e do figo. Construíram também um portão ao sul para transporte da argila crua e secagem da cerâmica. "
Ele colocou a mão nas costas dela e a empurrou para frente.
Ela parecia hesitante, um pouco nervosa para prosseguir.
A mulher com quem se casara não era tão diferente assim da menininha de Betel.
Ela ainda gostava de aventuras, mas precisava do apoio dele para dar o primeiro passo.
Ele abriu a cortina na porta da olaria e eles entraram.
“Oséias!" A voz alegre de Amoz os recebeu.
Uma palavra e um aceno de mão bastariam para aquele homem simples.
Oséias viu a noiva de Isaías correndo pelas escadas do sótão.
“Aya!"
“Oséias, bem-vindo. É bom te ver."
Ele sentiu a tensão de Gômer, e ela se inclinou para sussurrar: “Quem é a donzela que ruboriza ao vê-lo?"
Ele riu baixinho.
“É a amada Aya, noiva de Isaías. Aquele com quem ele compara todas as mulheres da terra."
Aya trazia uma cesta vazia pendurada no braço.
Amoz não estava muito atrás com a barba cheia de migalhas, presumivelmente da cesta de Aya.
O oleiro estendeu a mão e Oséias o tomou em um abraço amigável.
“É bom estar em casa", disse Oséias.
Afastando-se, ele colocou a mão nas costas de Gômer e a sentiu tremer.
Amoz, esta é minha esposa, Gômer.
Ela gostaria de aprender a trabalhar com argila.
Você estaria interessado em uma aprendiz?"
Os olhos gentis do homem brilharam.
“Isaías mencionou isso esta manhã." Ele se virou para Gômer e fez uma leve reverência.
“Venha amanhã, depois do desjejum."
Um pequeno suspiro denunciou a excitação de Gômer.
“Obrigado, mestre Amoz."
Ele assentiu, reconhecendo o respeito dela. Suas bochechas estavam rosadas pela atenção.
“Esta é Aya."
A garota deu um passo à frente como um colega de brincadeira ansioso.
“Vi Isaías quando trouxe o almoço de Amoz. Ele me disse que você era linda. " Ela examinou Gômer como uma bugiganga no mercado.
“Eu não tinha ideia de que uma prostituta pudesse ser tão bonita."
Oséias perdeu o fôlego.
Gômer ficou rígida.
Aya continuou tagarelando, aparentemente alheia à dor que acabara de causar.
“Isaías e eu vamos nos casar em um ano. Talvez possamos criar nossos filhos juntos. Vamos cozinhar e tecer -"
“Será divertido," Gômer interrompeu.
Oséias passou o braço em volta dos ombros trêmulos e tentou guiá-la em direção à porta.
“Venha, conversaremos sobre isso em casa." Ele manteve a voz baixa, embora todos os sons na oficina tivessem silenciado e todas as mãos ocupadas tivessem se acalmado.
Ela encolheu os ombros e ficou de pé, dirigindo-se à plateia.
“Você me ensina a cozinhar e tecer. E eu te ensino a agradar um homem como nenhuma esposa será capaz."
Um suspiro coletivo sugou todo o ar da olaria e Oséias fechou os olhos com força.
Gômer virou-se para Amoz com a graça de um leopardo.
“Eu vou entender se você não quiser treinar uma prostituta na arte da cerâmica." Ela ofereceu um aceno superficial e deu um passo para sair.
“Não treinarei nenhuma prostituta", disse Amoz suavemente.
“Treinarei a esposa do meu amigo."
Gômer encarou seu olhar, sem expressão.
Ela alcançou o braço de Oséias com a mão trêmula, olhando os outros trabalhadores que encaravam abertamente.
“Temos que ir. Yuval está me ensinando a cozinhar. Uma prostituta não tem tempo para tarefas tão comuns antes de se tornar esposa."
Oséias colocou a mão no cotovelo e a levou para fora da olaria.
No momento em que o sol da manhã tocou seus rostos, ela afastou a mão dele como se tivesse contraído a lepra de Uzias.
Sem dizer uma palavra, ela começou a andar. Sua postura era rígida como uma vara, o queixo erguido.
Oséias sabia.
Toda a confiança que ele construíra desde que deixaram Samaria havia sido destruída na olaria.
Eles passaram pelas mulheres no tear, mas não tirou o foco de Gômer.
Estavam a alguns côvados das primeiras da vila quando ela finalmente parou.
“Quantas pessoas sabem?"
Ele respirou fundo.
“Todos."
Ela cambaleou até a beira do caminho e desabou, escondendo o rosto.
Quando ele tentou confortá-la, ela o empurrou.
Paciente.
Ele deve ser paciente.
Ele se sentou ao lado dela.
Aguardando...
Ela balançou.
Sem som
Sem palavras.
Ele perdeu a noção do tempo.
As pessoas passaram, mas ele as ignorou.
Alguém ofereceu água, mas Oséias acenou para ir embora.
Finalmente, Gômer olhou para ele. Os olhos estavam inchados, mas sem sinal de lágrimas.
“Se tiver que ser sua prostituta, espero ser paga."
As palavras o cortaram. Essa era a intenção.
“Você é minha esposa, Gômer. Quase duas luas se passaram desde que ouvi a voz do Senhor me dizendo para tomar uma esposa. Foi a primeira missão profética que o Senhor havia dado. "
O ódio em sua voz causou arrepios.
“Não, ouça!" A frustração tomou conta dele, mas ele balançou a cabeça, acalmando a voz.
“Por favor, apenas ouça. Depois que o Senhor falou, disse a Jonas que deveria ir a Israel me casar com uma prostituta. Todo o acampamento se alegrou com o fato de Senhor ter falado ao Seu povo. " Ela se virou e ele ficou tentado a abraçá-la, fazê-la ouvir.
Mas ele continuou falando de costas pra ela.
“Imaginei que me casaria com uma prostituta sem nome por obediência a Senhor - uma espécie de acordo."
Ele parou, esperando por uma resposta.
Sem resposta.
“Você não vê, Gômer? Nós, profetas, falamos sobre a ordem de Deus e todo o acampamento comemorou o evento. Até a nação de Judá celebrou a mensagem do Senhor."
Ela se virou, horrorizada.
Ele sabia que eu era uma prostituta quando me aproximei dele? Ele observou o véu esconder sua humilhação.
Ele sentia-se mal por ela.
“Por favor, esposa. Você é um milagre diante de mim. Fui enviado a Israel para ser obediente. Quando te encontrei entendi que o Senhor queria mais do que minha obediência. Ele quer que eu ajude Israel a entender Seu amor. Até me apaixonar por você, eu não tinha ideia do quão profundo é o amor do Senhor por Seu povo. As pessoas sabem que nosso casamento começou por obediência a uma ordem. Cabe a nós agora mostrar a eles o milagre do amor que surgiu. "
Ela removeu o véu. Sua expressão ainda estava vazia de emoção.
“Não existe milagre, Oséias. Existe apenas um profeta casado com uma prostituta. " Ela se levantou e zombou.
“E prostitutas não cozinham."
15
Oséias 5:5-6
A arrogância de Israel testifica contra eles... Judá também tropeça com eles.
Quando eles forem buscar o Senhor com todos os seus rebanhos e com todo o seu gado, não o encontrarão.
Ele se afastou deles.
Gômer não parava de tremer.
Oséias havia tentado distraí-la com conversas inofensivas enquanto voltavam para casa da olaria, mas ela viu os olhares e sussurros de todos.
Como ela perdeu isso antes? Você é um idiota, Gômer.
Ela esqueceu a primeira regra das ruas: não confiar em ninguém.
Esteja ciente do que se passa ao seu redor.
Por que ela se permitiu confiar nele? Homens sempre traídos.
“Shalom, Gômer." A voz de Yuval acompanhou uma batida suave na porta da frente.
Por que Oséias a enviou? Quando eles chegaram em casa, Jonas estava esperando e disse que Uzias queria se encontrar com os dois profetas imediatamente.
Oséias olhou para ela como se ela fosse uma aleijada e prometeu enviar Yuval.
Ela disse a ele para não se preocupar.
Mas ele era teimoso e se fez de surdo.
“Gômer?" Outra batida.
“Sim, sim. Chegando." Ela pisou forte até a porta, qualquer dor da surra de Eitan entorpecida pela traição de Oséias.
Respirando fundo, ela tentou se acalmar, adotando um ar agradável.
Preciso ser hospitaleira com a esposa do proprietário.
Ela abriu a porta e o fantasma de Merav sorriu de volta.
“Oh, aí está você, querida", disse Yuval.
“Eu me perguntei se você teria saído para passear esta manhã."
Uma onda de dor tomou conta dela.
Ela afastou-se.
“Por favor entre." Então ela viu a criatura nos braços da velha.
“Salvou de quê?"\n
Yuval riu e entrou, deixando o ar com o aroma fresco de coentro.
“Oséias disse que talvez quisesse conhecer Sansão. Esses gatos egípcios podem não parecer ferozes, mas você precisa ver como eles encontram as cobras que rastejam debaixo da cama."
Gômer estremeceu com o pensamento - depois pensou em perguntar se o gato encontraria a serpente que dormia em sua cama.
Ela atualizou seu sorriso ensaiado.
“Você precisa me dizer mais sobre a vida em Judá, Yuval. Nunca tivemos que nos preocupar com cobras e feras em Samaria. " Com a menção de sua antiga vida, Gômer foi atingido por uma nova humilhação.
“Você sabia ontem à noite", ela sussurrou, “mas ainda assim foi gentil comigo." Yuval sustentou seu olhar e Gômer mediu a velha em silêncio, a suspeita envolvendo seu coração como as víboras mortais que ela temia.
“Por que você me trouxe comida quando você sabia quem - o que eu era? E por que você está sendo legal comigo agora?" Uma pequena pausa, e então ela entendeu.
“Você queria ver por si mesma como era a prostituta de Israel. Agora você tem muitos detalhes para contar aos outros no acampamento, não é?"
A velha engoliu seco e seus olhos ficaram úmidos.
“Estou sendo boa porque ... bem, você é como uma figueira recém-plantada, Gômer. Você precisa de um pouco de cuidado extra ou você vai correr para fora e morrer neste clima. " Ela transferiu o gato para os braços de Gômer e deu um passo em direção à mesa de trabalho e ao forno.
“Criança, podemos aprender muita coisa a partir da plantação de figos. Agora pegue uma destas almofadas e sente-se enquanto eu coloco um pouco de lentilhas para cozinhar."
Gômer segurou a criatura peluda no braço, um pouco atordoada por Yuval ficar.
Ela analisou o gato, inspecionando seus olhos hipnóticos, listras pretas e pêlo cinza.
“Será que vai me morder? Que som ele está fazendo?"
“Significa que ele gosta de você. Ele não vai te morder, mas sua língua é áspera, então a primeira vez que ele te lamber, pode parecer uma pequena mordida."
Gômer ficou encantada.
Ela o segurou sob o queixo e acariciou seu pêlo macio.
Ela dançou com ele em direção à pilha de tapetes de pele e pegou o que estava por cima.
“Diga-me, Yuval, Sansão assusta as cobras ou ele ..." Uma panela de ferro caiu ela se assustou.
“Yuval, não!"
O grito de Gômer assustou a velha e uma colher de pau caiu no chão.
“Figueiras em flor, criança! Qual é o problema? Eu só ia molhar as lentilhas. "
Gômer largou o gato, sua mente zuniu a inventar uma desculpa para afastar Yuval da prateleira onde sua Aserá estava escondida.
“Eu não quero cozinhar para Oséias. Ele disse a todos que eu sou uma prostituta, e eu disse a ele que prostitutas não cozinham."
O que ela acabara de dizer soou tão infantil.
Talvez tivesse sido menos embaraçoso deixar Yuval encontrar a deusa.
A velha pôs de lado a panela e juntou-se a Gômer em um tapete, enquanto Sansão se enrolava em seus pés.
“Sei que é difícil viver com um passado do qual você não se orgulha. Também me senti indigna de ser esposa de Amós - uma criada órfã casada com o filho de um rico proprietário de terras. No princípio muitas das mulheres foram cruéis comigo. Mas o que importa realmente é a maneira como nossos maridos nos tratam, não as opiniões dos fofoqueiros na fazenda. "
Gômer sentiu as lágrimas arderem.
Ela não queria chorar na frente da esposa do proprietário, mas aquele rosto compassivo olhando para ela parecia tão familiar... a voz muito parecida com a mulher que a criara.
Ela caiu nos braços de Yuval e chorou.
Cansada.
Confusa.
Irritado.
“Por que os deuses me odeiam? Por que eles não me deixam em paz e me deixam viver em paz?"
Yuval balançou-a para frente e para trás, removendo o véu da sua face e acariciando seus cabelos.
“Existe apenas um Deus, criança, e Ele não te odeia. O Senhor escolheu você para ser esposa de Oséias."
“Para me transformar em objeto de zombaria entre o povo de Judá!"
“Para fazer de você o exemplo de Seu amor divino." Suas palavras eram de fala mansa, mas firmes.
Ela convenceu Gômer a se sentar.
“Olhe a sua volta,"
Em que outra casa você vê cerâmica tão fina? E quantas cestas de grãos você conta?" Quando Gômer não respondeu, Yuval agarrou seu queixo e mergulhou em seus olhos.
“Veja quantas cestas de grãos"
“Três."
“Sim, três cestas de grãos. Você sabe quantas cestas de grãos Oséias comprou ano passado?"
Gômer balançou a cabeça.
“Ele comprou uma cesta para si e dormiu em apenas um desses tapetes de pele. Para quem você acha que ele comprou todos esses suprimentos e aquele lindo colchão de lã? Ele estava preparando sua casa para uma esposa, Gômer. "
“Ele estava se preparando para uma prostituta."
“Ouça-me, pequena Gômer. Oséias preparou seu coração para obedecer ao Senhor e se casar com uma prostituta. É verdade. Mas o homem que vi voltar com você em seus braços era um homem apaixonado. Ele ama sua esposa, Gômer. " Yuval soltou seu queixo, mas sustentou seu olhar.
“Só você pode se tornar uma prostituta aos olhos dele." Ela transferiu um beijo de seu dedo para o nariz de Gômer.
“Pretendo ensiná-la a cozinhar hoje. Então encontre um lugar melhor para o que quer que esteja escondido perto da panela enquanto eu vou ao poço pegar um pouco de água."
A porta se fechou atrás de Yuval. Gômer agarrou a Aserá, correndo para garantir um novo esconderijo antes que sua amiga retornasse.
Ela planejara pedir ajuda a Yuval para conseguir um presente para Oséias - algo para encobrir a mentira que ela contara em Jerusalém.
Mas Yuval era esperta e perceberia a intenção de Gômer.
Como sua velha amiga Merav, Yuval parecia ter um faro apurado sobre Gômer que era ao mesmo tempo reconfortante e frustrante.
Permitindo-se um último olhar para o Aserá antes de escondê-la debaixo do colchão. Gômer sentiu uma raiva renovada.
Oséias não merecia um presente.
Se ele perguntasse o que aconteceu com o presente comprado para ele em Jerusalém, ela diria que o destruiu - assim como ele destruíra qualquer esperança de felicidade.
“Orei a noite toda pelo rei Uzias", disse Jonas, permitindo que Oséias e Isaías o apoiassem enquanto caminhavam pela trilha rochosa entre a casa do rei e as cercas da fazenda de Amós.
“Meu espírito não sentiu qualquer alívio desta preocupação."
“Falei com ele esta manhã", disse Isaías, “e ele parecia de bom humor, embora suas feridas estejam piorando." Ele balançou a cabeça, parecendo tão confuso quanto Jonah.
“Deixei-o logo após o almoço, quando seus três conselheiros chegaram."
Oséias se sentiu culpado.
Ele não pensara muito nos problemas do rei Uzias desde que chegara em casa noite passada.
Ele havia sido consumido por sua esposa - seu êxtase e sua agonia.
Suspirando, ele tentou se focar.
Que valor ele teria para aquele rei em dificuldades?
“Uzias sabe que não ajudamos muito até que os sacerdotes o examinem novamente em sete dias." Oséias estava tão concentrado em guiar os pés de Jonas que sentiu a cutucada do profeta antes de notar as mudanças.
“Qual o problema?" Isaías indicou com o olhar o palácio improvisado de seu primo.
Ao redor da casinha de pedra havia um mar de tendas, com o espaçamento de pelo menos dez côvados prescritos pela Lei.
Guardas e sacerdotes correram ao comando de Uzias, enquanto ele se sentava em uma esteira na porta da casa.
O rei havia transferido seu trono para Tecoa.
“Não acho que o rei Uzias esteja aprendendo a lição pretendida por Senhor sobre humildade." A voz de Jonah refletiu o pavor que Oséias sentia.
Não seria uma reunião fácil.
A confusão de Isaías era evidente, mas eles deixaram suas perguntas sem resposta, esperando que ele enxergasse o significado espiritual de tudo aquilo.
“Shalom nesta casa!" Oséias gritou, caminhando em direção ao quintal.
“Ah, os profetas chegaram!" Uzias acenou como se fossem velhos amigos.
O sumo sacerdote gritou: “Meu senhor, lembre-se da lei!"
“Oh, sim, sim." Uzias pigarreou e gritou: “Imundo! Imundo!" e depois verificou a aprovação do sumo sacerdote.
O sacerdote assentiu e Uzias retomou seu sorriso amável.
Ainda não estou acostumado com as leis do leproso.
Por favor, Oséias, Jonas, sente-se na minha nova sala de audiências.
Isaías pode mostrar a você. " Ele estremeceu ao mover o braço para direcioná-los.
O relato de Isaías sobre a piora do quadro não era exagerado.
A 'sala de audiência', como ele chamava, era um conjunto de belos tapetes no chão, a dois comprimentos de camelo da porta da frente da casa.
O sol havia chegado ao meio-dia e, felizmente, os tapetes do rei seriam sombreadas por altos sicômoros.
Os homens mais jovens fizeram uma reverência ao rei e a seus oficiais e depois ajudaram Jonas a se sentar no tapete entre eles.
Uzias prosseguiu com apresentações.
“Você conheceu meus oficiais, Jeiel, Maaséias e Hananias? Jeiel é meu escriba-chefe e Maaséias meu conselheiro de maior confiança. Hananias é o comandante do exército de Judá. "
“Cavalheiros, ..."
Os oficiais fizeram uma reverência e os profetas retribuíram o gesto.
Oséias olhou para Jonas, esperando que o profeta mais experiente iniciasse a conversa.
Ele ficou quieto, e um silêncio desconfortável se seguiu.
Oséias notou as expressões rígidas dos conselheiros, aumentando sua apreensão.
Isaías permaneceu em silêncio, esperando que o assunto da reunião com Uzias viesse à tona.
“Como vocês sabem", a voz de Uzias ecoou, “Israel e Judá desfrutam de paz desde que Jeroboão e eu estamos no governo. Vocês não imaginam o preço desta paz. Desde que abba de Jeroboão morreu e o libertou o meu abba de uma prisão samaritana, nenhum tratado formal foi assinado, mas temos um acordo de paz informal. "
Oséias sentiu a tensão de Isaías e se perguntou quanto das informações políticas e familiares era de conhecimento daquele jovem.
“Não espiono nem ataco Israel de Jeroboão", disse Uzias “enquanto isso suas ficam fora de Judá."
Uzias olhou para o comandante Hananias, e a voz do homem pareceu tão grande quanto sua estatura.
“Mas seríamos tolos ao fechar os olhos para as armas e estratégias de guerra das nações vizinhas."
O rei acenou com a cabeça para o escriba, que entregou uma pastilha de cera e uma pena a Maaséias.
O conselheiro passou o material de escrever para Jonas.
“Pedi meus conselheiros que comparecessem à reunião de hoje para testemunhar suas declarações", disse Uzias.
Jonas olhou para a placa de argila lisa e retornou um olhar vazio.
“Não temos certeza de que tipo de declaração você quer que façamos."
O comandante deu um passo à frente se colocando entre os profetas e o rei.
“Vocês passaram dois ciclos de lua cheia em Israel, e precisamos saber como as tropas de Jeroboão se comparam às de Judá. Temos um exército permanente de mais de trezentos mil soldados, mas eu ainda gostaria de saber o que enfrentaríamos se Israel nos atacasse. "
Nesse momento, Jeiel avançou com um pergaminho parcialmente desenrolado pronto para fazer anotações.
“Temos escudos, lanças, capacetes, armaduras, arcos e pedras para fundas. Seria muito útil se pudéssemos compilar um inventário semelhante dos suprimentos de guerra de Israel, incluindo uma contabilidade de carruagens, cavalos, máquinas de guerra ... "Ele ergueu os olhos de seu pergaminho e acrescentou:“ Qualquer informação que você fornecer será útil ".
Oséias sentiu a tensão de Jonas e sentiu um nó na garganta.
Uzias era um rei bom e piedoso.
Ele entendeu tão pouco do chamado de Oséias para Israel? Ele deve encontrar uma maneira de responder respeitosamente e ainda lembrar ao rei que ele e Jonas não foram a Israel como espiões.
“Eu ficaria feliz em contar ao rei tudo o que testemunhei sobre o status militar de Israel." O tom sincero de Oséias pareceu relaxar os conselheiros e irradiar deleite nas feições de Uzias.
“Entramos nos portões de Samaria e fomos ao templo, onde vimos o general Menaém, ao lado dele em sacrifício pagão. Em seguida, assistimos um contingente de guardas escoltar uma velha até o templo, enquanto o capitão mantinha uma criança no ar, marchando em direção ao altar de bronze de Moloque. Eles jogaram o bebê no fogo, repetindo o pecado dos cananeus. "
A boca de Uzias se abriu, e Oséias sentiu uma certa satisfação ao descrever a perversidade de Israel aos olhos do Senhor.
Talvez eles entendessem melhor o papel de Oséias como profeta de Deus.
Ele virou para Hananias, ressaltando a importância da liderança militar justa - e o julgamento de Deus quando abusaram desta autoridade.
“Minha esposa, Gômer, sofreu uma surra brutal de um dos principais soldados de Jeroboão. Ela quase morreu, mas pela graça de Deus recuperou o movimento de seus membros. O outro contato que tivemos com as forças armadas de Israel ocorreu na noite em que fugimos de Samaria. Gômer foi falsamente acusado e quase executado. " Oséias olhou para cada oficial e finalmente se concentrou no regente de Judá.
“Esse, rei Uzias, é nosso conhecimento completo das armas e estratégias de guerra de Jeroboão."
O rei ficou sentado em silêncio, sua expressão através das feridas que cobriam sua face era indecifrável.
Seus conselheiros, no entanto, retomaram os olhares frios de quando os profetas chegaram.
Uzias respirou profundamente, parecendo ter pensado nos profundos mistérios da terra.
“Você está me dizendo que passou dois ciclos lunares em Israel, e não é capaz de dizer quantos carros Jeroboão mantém prontos para a batalha?"
Oséias virou-se para Jonas, perplexo, e observou a cabeça de Isaías cair no peito.
Insondável.
Como alguém podia ouvir o relato do sacrifício de uma criança, o abuso de uma mulher e ainda assim se preocupar com carros de guerra?
Oséias apertou a ponta do nariz.
“Senhor, não sabemos nada dos planos ou recursos militares do rei Jeroboão. Não sei como dizer isto de forma mais clara."
“Como você não sabe de nada?" Uzias levantou-se e tremeu de dor.
“Você não sabe ou simplesmente não quer ajudar Judá a se proteger contra ataques? Sei que vocês dois são israelitas de nascimento, mas os recebemos em nossa nação de braços abertos. "
“Primo!" Isaías ficou de pé, mas antes que pudesse dizer mais, Jonas agarrou o braço dele e esforçou-se para ficar de pé.
“Não vimos evidências de qualquer ataque iminente de Israel contra Judá ou outra nação", gritou Jonas.
A essa altura, Oséias se levantou e estava apoiava a cintura do velho profeta.
“A missão de Oséias era entregar a mensagem de julgamento de Deus, e nós ..."
O comandante de Judá deu um passo à frente, com a mão no punho da espada, e Oséias riu, apesar da tensão.
O que um velho e frágil profeta poderia fazer contra um rei leproso?
“Sua suposta missão era se casar com uma prostituta!" As palavras de Uzias ecoaram nas árvores.
E o silêncio foi a resposta.
Uma brisa fresca agitou as folhas, enquanto Oséias sentiu um calafrio.
Os guardas e conselheiros ficaram tensos, afastando-se dos três homens nos tapetes.
Os sacerdotes caíram de joelhos e cobriram o rosto.
Todos sabiam - somente a presença do Senhor seria capaz de trazer frio em uma tarde ensolarada do deserto.
Fale com o rei de Judá, o Senhor disse ao espírito de Oséias.
Oséias olhou para Jonas e Isaías, ao lado dele, e virou-se para o rei Uzias, reconhecendo o medo em suas feições.
“Sinto muito, Oséias", disse o rei, em pânico, a voz embargada.
“Eu não quis te insultar."
O Senhor diz: 'A arrogância de Israel testifica contra eles.
Israel e Efraim tropeçam em seu pecado.
Judá também tropeça com eles.
Quando eles forem buscar o Senhor com todos os seus rebanhos e com todo o seu gado, não o encontrarão.
Ele se afastou deles.'"
Oséias ficou em silêncio, a mensagem do Senhor havia sido anunciada.
“Não por favor." Uzias parecia atordoado, oprimido.
Ele se virou para os sacerdotes, gritando: “Diga a ele quantos touros eu sacrifiquei, como eu tenho sido fiel em levar minhas ofertas ao templo todos os dias. Diga à ele! Eu dei tudo ao Senhor! Tenho sido mais fiel do que Salomão. Construí fortalezas, criei máquinas de guerra, conquistei os filisteus."
Os sacerdotes permaneceram em sua postura penitente, silenciosos perante a exibição da presença de Deus.
“Meu senhor", disse Oséias, “o Senhor não questiona sua fidelidade. Ele condena sua arrogância. E porque você se recusa a reconhecer seu orgulho pecaminoso, o Senhor o deixou. "
Uzias engoliu seco e ficou em silêncio.
Ele olhou para as mãos leprosas e depois para os profetas.
“Quão mais? Por quanto tempo Senhor vai me punir?"
Oséias ficou nauseado.
“O Senhor o deixou, rei Uzias, assim como deixou Israel. Você sabe o que isso significa?" Ele esperou, mas o rei estava aéreo, estudando suas mãos.
Oséias balançou a cabeça, sem saber se estava sendo ouvido.
“Meu conselho é se humilhar diante do Senhor. E busca-Lo com todo o coração. Talvez um dia Ele cure seu corpo depois que buscar a cura para sua alma."
O comandante Hananias se aproximou deles, olhando primeiro para o rei e depois para os profetas.
Ele manteve a voz baixa, dirigindo-se a Oséias com um novo respeito.
O rei Uzias é um homem de ação, meu senhor.
Por favor, seja paciente com ele. " A ternura brilhou em seus olhos.
“Ele é um bom homem - e um bom amigo. Ele trabalhou duro para construir a nação de Judá."
“É exatamente neste ponto que você e seu rei se enganam, Hananias", respondeu Oséias gentilmente.
“O Senhor não compartilhará a sua glória com ninguém. Não foi Uzias que transformou Judá em uma nação próspera. "
“Diga ao meu primo que voltarei esta noite para compartilhar algumas das canções de David." Isaías deu um tapinha no ombro do comandante enquanto os três homens se viravam para o acampamento.
O som de um estrondo repentino assustou a todos.
Seus olhos foram atraídos para o rei de Judá.
Ninguém se atreveu a tocá-lo e se tornar impuro.
Ele estava deitado sozinho, chorando em seu exílio.
16
Oséias 6:4
O que devo fazer com você, Efraim? O que devo fazer com você, Judá? Seu amor é como névoa pela manhã.
Como o primeiro orvalho que logo evapora.
Gômer se despediu de Yuval, sentindo uma pontada de tristeza, observando sua sombra no brilho escuro do pôr do sol.
“Você vai voltar amanhã, não é?" ela perguntou enquanto a mulher entrou no portão ao lado.
“Claro."
Você e Oséias morreriam de fome sem mim. " O brilho em seus olhos era tão reconfortante quanto as estrelas em uma noite sem nuvens.
Gômer voltou para casa e decidiu explorar o estábulo.
Sansão tornou-se um amigo ligeiro e constantemente se esfregava nos tornozelos dela, seu corpo macio e flexível envolvendo uma perna e depois a outra.
“Você daria uma ótima dançarina." Ela se inclinou e ergueu o gato em seus braços, colocando-o sob o queixo, aconchegando-o perto de seu coração.
O estábulo tinha três paredes, duas vigas sustentando o dossel, e uma abertura em direção ao norte.
“Olá," ela disse, estendendo a mão sobre para coçar as grandes orelhas do burro.
“Quem cuida de você?" Duas cabeças curiosas empurraram o burro para o lado com seus chifres enrolados atrás das orelhas.
Balindo alto, as cabras se recusaram a ser ignoradas.
Ela riu e ofereceu alguma atenção enquanto seus olhos se ajustavam à escuridão.
O estábulo estava limpo e arrumado.
Ela viu um grande recipiente de pedra à direita e levantou a tampa, verificando que estava cheia de grãos para os animais.
Lembrou dos extravagantes preparativos de Oséias para sua esposa prostituta e se perguntou se seus animais foram beneficiados com a chegada de uma mulher.
“É melhor ter certeza de que a tampa está bem fechada, ou surgirão roedores, e roedores significam cobras."
Gômer pulou como se seus dedos estivessem pegando fogo.
Oséias se inclinou contra uma das vigas na entrada.
“Sinto muito," ele respondeu.
“Eu não queria assustar você." Ele caminhou para a sombra do dossel, parecendo cansado, quase vulnerável.
Ela queria saber o que havia acontecido com o rei Uzias, mas não queria perguntar - ela não queria se importar.
Recolocou a tampa com força e manteve a cabeça baixa.
E notou que ele a estava observando.
“Então terei de alimentar e cuidar dos animais, ou você tem criados para isso? Eu não sabia que você era o profeta mais rico deste lado do Egito. "
Ele não respondeu, e sua curiosidade a forçou a olhar para ele.
“O que lhe faz pensar que sou rico?" ele perguntou, um sorriso irritante esboçado em sua expressão cansada.
O coração dela deu um pulo.
“Yuval disse que você comprou todos os tipos de suprimentos em preparação para sua nova prostituta, e um homem pobre não pode pagar duas cabras e um burro." Sampson se contorceu em seus braços, e ela percebeu que devia estar o apertando.
Ela afrouxou o animal e tentou apressar o marido.
“Yuval preparou ensopado de lentilha para o jantar."
Oséias agarrou seu braço e a puxou gentilmente; o suficiente para sussurrar sobre seu véu de linho azul.
“Quem é este?" ele perguntou, estendendo a mão para coçar atrás da orelha de Sansão.
Os dedos dele roçaram no pescoço dela.
Ele beijou sua bochecha demoradamente, esperando sua resposta.
Ela engoliu seco, tentando firmar a respiração.
“Sansão."
“Por que você e Sampson não esperam por mim lá dentro, e eu irei depois de cuidar dos animais do estábulo." Ele deu um passo para trás e ergueu o queixo dela.
Ela só pôde concordar.
Nenhum homem jamais teve esse poder sobre ela.
Ela se apressou, atravessou o pequeno quintal para a casa e fechou a porta.
Ela ainda estava bastante arredia ao toque de suas mãos.
Ela desembrulhou apressadamente a Aserá que havia escondido debaixo do colchão, acariciando sua forma fria.
“Ouça minha oração, Mãe da Abundância, doadora de vida e saúde. Faça de mim uma videira frutífera a gerar filhos para a minha velhice. Que eu possa ser agradável ao meu marido por tempo suficiente para gerar um herdeiro. " Ela se sentiu acalmada por sua oração - até que o ferrolho da porta da frente fez seu coração disparar novamente.
Ela embrulhou a deusa, enfiou-a de volta debaixo do colchão e pegou um cravo para mascar.
Oséias parecia gostar do cheiro de cravo.
“Gômer?"
Sentada na cama, ela esperou que ele surgisse na porta.
A pequena janela apontava um rastro estreito de luz.
Partículas de poeira dançavam em seus raios luminosos.
Ela ouviu os passos dele se aproximando e respirou fundo.
“Aí está você", disse ele.
O rosto dele estava sombrio, mas ela percebeu certo prazer em sua voz.
“Está com fome?" ela perguntou, deitada na cama, batendo no espaço ao lado dela.
“Ou quer passar alguns momentos com sua esposa antes de apreciar o ensopado de lentilhas de Yuval?"
Ele hesitou, parado na porta.
“Quando deixei minha esposa ao meio-dia, ela não estava falando comigo. Quando a cumprimentei nos estábulos, ela foi boazinha, na melhor das hipóteses. A que eu devo atribuir esse repentino acolhimento caloroso?"
Gômer pulou da cama e ficou ao lado do colchão, com o rosto em chamas.
“Não podemos simplesmente desfrutar da companhia um do outro? Devemos sempre discutir todas as questões antes de colher os benefícios deste chamado casamento?"
Em passos lentos e medidos, Oséias se aproximou.
O rosto dele refletia a dor que as palavras dela provocaram.
“Esse "˜tal"™ casamento é a minha vida, Gômer. Quero honrar Senhor e minha esposa na maneira como vivo isso. " Ele colocou as mãos nos quadris dela e a pressionou suavemente para que se sentasse na beira da cama.
Ele ficou em cima dela, segurando seu queixo.
“Não quero apenas aproveitar sua companhia. Eu quero te amar profundamente, completamente. " Ele se inclinou e a beijou.
Primeiro, com ternura - depois com paixão.
Ela se deixou levar pelo momento, e tentou deitar no colchão.
Mas ele afastou os braços dela e os colocou no colo.
“Fale comigo, Gômer. Diga-me como seu coração se curou das feridas desta manhã. Quero conhecer seu espírito e seu corpo. Eu nunca pretendi machucá-la e sei que Aya também não. Infelizmente amigos e familiares se ferem de vez em quando e, quando acontece, precisamos saber como ajudar a acalmar a dor. "
Suas palavras quase a convenceram de que poderia ser curada - quase.
Nunca mais entregaria seu coração a alguém. Mas decidiu dizer o que ele queria ouvir.
Ela ganhava a vida fazendo homens acreditar nela em Samaria.
“Yuval me ajudou a perceber que todo o acampamento celebrava a mensagem do Senhor que você recebeu, e isso incluía nosso casamento. Quando ela explicou que já foi uma rejeitada, isso me ajudou a acreditar que um dia eu poderia ser aceita como ela é agora. " Gômer quase engasgou com a mentira, mas treinou seus olhos para falar por ela - mudando de sincero para sedutor.
Ela lambeu os lábios e viu as defesas de Oséias desmoronarem.
“Quer comer seu ensopado de lentilha agora?" Ela se inclinou para perto, aquecendo a bochecha dele com um beijo seco.
Com um leve gemido, ele a abraçou e a beijou apaixonadamente.
Sem mais conversas.
Sem mais promessas.
Sem mais mentiras.
Aserá, faça seu trabalho.
Oséias acordou assustado.
Senhor, por favor, não! Mas seu sonho estava claro.
Ele deve sair hoje e retornar imediatamente a Israel.
O medo se apoderou de seu coração.
Como ele contaria a Gômer? Ela se sentiria abandonada? Com um suspiro profundo, ele se virou, pronto para acordá-la com a difícil notícia.
Mas ela tinha ido embora.
“Gômer?" Ele examinou o pequeno quarto deles.
O pente de marfim que ele lhe dera ainda estava na mesa de cabeceira. Seu roupão e túnica extras estavam dobrados no canto.
Uma onda de alívio tomou conta dele.
“Gômer?" ele disse um pouco mais alto.
“Estou aqui", ela gritou da sala.
Ele saiu da cama, vestiu o roupão e a túnica.
O chão estava frio, e ele calçou as sandálias e espiou pela esquina.
Ajoelhou-se junto ao forno e acendeu o fogo. Logo teriam pão fresco assando em círculos limpos em sua superfície.
Ele pegou um tapete de pele e o colocou ao lado dela, sentou-se e puxou-a para perto.
Ele acariciou o pescoço dela, inalando seu perfume - melhor que o pão quente.
“O que você acha?" ela perguntou, estendendo a mão com o garfo para virar três pães de cevada.
“Estou impressionado. Yuval deve ter se levantado cedo para preparar nosso pão. " Sua farpa e risada lhe valeram uma cotovelada afiada nas costelas.
“Não", ela bufou, mas depois confessou, “ela deixou a massa crescer ontem à noite antes de partir." Ela começou a rir antes que pudesse terminar.
“Mas eu estou assando!"
Ele a agarrou e enterrou a barba no pescoço dela, e ela explodiu em gritinhos.
A brincadeira era bálsamo para a alma dele, mas a realidade de seu chamado o deixou mais sério.
Ela percebeu uma pausa e acariciou sua bochecha, depois se ajoelhou novamente ao lado do forno para checar o pão.
Ele a abraçou e apoiou o queixo no ombro dela.
“Você sabe o quanto eu a amo, Gômer?"
Ela parou instantaneamente, petrificada.
Ela ficou de joelhos, cutucando os pães com o garfo.
“Eu não quero queimar o pão."
Assustado, ele ensaiou suas palavras novamente, tentando lembrar de alguma forma para amenizar más notícias.
Como ela poderia saber?
“Pensei em ir à olaria depois que você provar os pães de cevada de Yuval", disse ela, com os ombros rígidos.
“Não sei quando vou chegar em casa. Quais são seus planos?" Ele se assustou com a voz dela.
Ele tomou o braço dela, mas ela o empurrou, mantendo a atenção no forno.
Será que o Senhor lhe contara que ele estava de saída mais uma vez? “Preciso conversar com Jonas depois do desjejum."
“Gômer!"
“Diga ao profeta dos peixes que eu disse 'Shalom'. Ele provavelmente ficará feliz por se livrar de mim."
“Ele é nosso vizinho. Você o verá quando for à olaria."
Ela deu as costas para ele com a força de um turbilhão, jogando o garfo em um vaso - e desaparecendo.
“Não zombe de mim, Oséias! Sou uma prostituta, não um idiota. Você está me deixando, não está?"
Choque?
Maravilha.
Dor.
Oséias não tinha certeza do que sentir primeiro.
“Preciso ir por um tempo, Gômer. “Só isso?"
Eu voltarei." Ele procurou sua expressão de pedra.
“Como você sabia que eu estava para viajar?"
As lágrimas cuidadosamente represadas escoaram por sua bochecha, mas ela não deu outro sinal de fraqueza.
Queixo erguido, ela recuperou a calma.
“Os homens sempre vão embora."
“Não, Gomer Isto é diferente."
Ela ergueu um lado dos lábios num sorriso desafiador.
Ouça-me," ele disse.
“O Senhor veio a mim em sonho e disse para voltar a Israel. Ele não me disse a mensagem específica que devo entregar, apenas que devo partir hoje. " Ele estendeu a mão e colocou a mão em sua coxa.
“Gômer ..."
Ela olhou para a mão dele.
& Silencioso:
Indignada.
Ele tirou a mão e ela ergueu uma única sobrancelha.
“Talvez ele esteja te enviando para se casar com outra prostituta."
“Não!" disse ele.
“Você está sendo ridícula! Eu sou um profeta. É o que sou. O que o Senhor me chamou para ser. Ocasionalmente sou chamado a deixar minha própria casa. Assim como Amós viaja para vender suas mercadorias, devo ir aonde quer que Deus me envie - "
“Para vender mercadorias." Seus olhos brilharam.
“E você é muito bom nisso, a propósito. Eu quase acreditei que podia contar com você; que você não me deixaria como todo mundo na minha vida ..." A voz dela falhou e ela se levantou.
Ela pegou o véu azul, enrolou-o na cabeça e abriu a porta.
“Gomer, espere! Nós precisamos conversar."
“Já conversamos demais. Seu pão está pegando fogo."
Oséias virou-se e viu seus pães fumegando e ouviu a porta bater.
“Gômer!" ele gritou, correndo para pegar o garfo e remover os pães torrados.
Ele olhou para a porta fechada, afastando a fumaça.
Senhor, o que devo fazer com ela? Ele pegou um pão de cevada crocante e queimou os dedos, e então foi surpreendido pela voz inegável de seu Elohim.
O que devo fazer com você, Efraim? O que devo fazer com você, Judá? Seu amor é como névoa pela manhã.
Como o primeiro orvalho que logo evapora.
Oséias deixou cair a cabeça, fechou os olhos e chorou.
Como o Deus de toda a criação poderia descrever o amor de Gômer com tanta precisão? Porque o amor de Gômer espelha Israel e Judá inconstantes, e Você entende minha frustração, não é, Senhor?
Oséias sentiu-se tomado pela presença de Deus, humilhado novamente pelo terrível privilégio de seu chamado.
Por favor, cuide de minha Gômer.
Vá para Israel.
A voz era tão clara quanto o galo de Yuval no amanhecer.
17
Oséias 6:5–6
Por isso eu os despedacei por meio dos meus profetas...
Pois desejo misericórdia e não sacrifícios.
Pois desejo misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos
Gômer parou no portão e hesitou.
Olhou para a casa de Yuval e considerou vomitar todo o veneno contra Oséias sobre a esposa do proprietário.
Mas sua nova amiga provavelmente nunca tinha ouvido palavras tão vulgares ou contemplado a fúria de uma prostituta.
Eu nunca serei como Yuval ou Aya.
Lembrou-se da humilhação do dia anterior, o escrutínio da garota pura e inocente com quem Isaías se casaria em breve.
Aya parecia ser dois ou três anos mais jovem que Gômer, mas a experiência de cada uma era muito diferente.
Ela passou pelo portão, passando pela casa de Jonas, lutando para não cuspir no chão enquanto passava.
Pelo menos com o profeta dos peixes, não havia seda nem pérolas.
Ele disse claramente que os idólatras estavam condenados à destruição. Mas disse também que ela tinha um espírito adorável.
Nenhum homem jamais elogiou seu espírito.
Por baixo daquela pele assustadora havia um homem que poderia desarmá-la.
Ela com certeza se manteria longe dele.
“Acordou cedo esta manhã!" Isaías surgiu da casa seguinte.
Ela não havia se familiarizado com a proximidade das casas.
Ela virou os olhos e andou mais rápido, incapaz de encampar outra batalha.
“Hum?"
Já rabugento também. " Ele correu para alcançá-lo.
“Pobre Oséias. Uma vida inteira acordando com uma ruiva mal-humorada. " Então seu sorriso morreu.
Ele estranhou por ela não ter dito nenhum tipo de insulto.
“Qual é o problema? Aya me contou o que ela disse na loja de cerâmica ontem, Gômer."
Ela se sente péssima.
“Você ainda está brava por causa disso?"
Ela continuou andando, o nó em sua garganta crescia, e as lágrimas mais difíceis de conter.
Isaías segurou seu ombro e a rodou para encará-lo.
“Diga, o que está acontecendo."
“Oséias está voltando para Israel, e eu sou uma prostituta em um acampamento cheio de fanáticos justos." Sua expressão preocupada de alguma forma alimentou sua raiva.
“Agora, se você me der licença, vou passar o dia com seu abba. Ciúme?"
Seu rosto empalideceu; seus lábios se abriram, mas não emitiram som.
Ela foi longe demais.
A dor nos olhos dele refletia sua própria ferida.
Cambaleando, ele se afastou dela.
“Por que ser tão cruel com aqueles que tentam ajudá-la?"
Suas palavras romperam um limite tênue de autocontrole.
Ela sentiu o mundo girar, suas pernas ficaram fracas.
Isaías recuou lentamente enquanto o acampamento ao redor ganhava vida.
Ela olhou para os outros cuidando da própria vida.
Ela estava exposta, sozinha.
Nada era familiar.
Ela não conhecia ninguém, não confiava em ninguém.
Finalmente ... ela desistiu.
Ela caiu no caminho principal, chorando compulsivamente, sem se importar em ser motivo de fofoca.
Se assustou quando mãos fortes a ajudaram a se levantar e então percebeu que Isaías e Amoz a estavam conduzindo em direção à olaria.
Ela notou três homens descarregando um carregamento de panelas parcialmente acabadas.
Amoz acenou para eles enquanto caminhava. Ninguém disse nada até eles subirem as escadas.
Eles a sentaram em um banquinho apoiado na parede, enquanto Amoz ocupou seu lugar em um banquinho na roda de oleiro.
Ela os encarou por um tempo, Amoz muito mais velho que o filho, mas igualmente bonito, com mechas grisalhas nos cabelos escuros e encaracolados.
Isaías trocou um olhar rápido com seu abba e voltou sua atenção para Gômer.
“Você disse que Oséias está indo novamente para Israel. Vou falar com ele sobre os detalhes de sua missão, mas Abba e eu queremos saber como podemos ajudá-lo enquanto Oséias estiver fora. " De novo, Isaías olhou para Amoz, quase persuadindo-o.
Um silêncio prolongado seguiu, e Isaías deu um suspiro profundo.
“Penso que abba ficaria feliz em te ensinar o ofício do trabalho com argila, se estiver disposta a tentar."
O estômago de Gômer estava embrulhado e, embora estivesse travando sua própria batalha emocional, entendeu a complexidade do relacionamento à sua frente.
A vida de Isaías não era a perfeição que ela imaginara, mas Amoz também não era nenhum filisteu.
Ela notou o olhar entre abba e filho, respirou fundo e tomou uma decisão.
“Vou ficar em Tekoa - pelo menos o tempo suficiente para aprender com um mestre oleiro." Ela vislumbrou o que parecia aprovação nos olhos de Amoz.
“Se você estiver disposto a me ensinar."
Um sorriso iluminou seu rosto, fazendo-o parecer mais jovem.
“Eu estou disposto."
“Isso pareceu um baile de casamento", disse Isaías, com prazer evidente.
“Agora preciso conversar com meu amigo pra saber por que ele está deixando a esposa dois dias depois de chegar em sua nova casa."
Oséias percorreu o caminho em direção ao acampamento do rei, com o corpo cansado e o coração pesado.
Ele passou boa parte da manhã empacotando pão, queijo seco e figos, esperando que Gômer voltasse - pelo menos para se despedir.
Ela não voltou.
Ele conferiu as casas dos vizinhos, esperando ve-los antes de partir para outra missão para o Senhor.
Amós estava viajando e Yuval disse que não tinha visto Gômer esta manhã.
Ele notou a preocupação nas feições dela, mas não conseguiu explicar.
Tenho certeza de que Gômer vai contar pra Yuval como eu sou um marido terrível.
Ele procurou encorajamento de seu amigo e mentor, mas ninguém respondeu quando bateu na porta de Jonas.
O golpe final foi a ausência de Isaías.
Ele nunca acorda tarde, mas hoje ele e Amoz ja haviam ido.
Senhor, Tu me deixarás ir sem nenhum tipo de incentivo?
Oséias emergiu na clareira do acampamento de Uzias e sua oração foi respondida imediatamente.
Jonas e Miquéias estavam sentados no tapete de audiências do rei, conversando.
Do que eles estão falando e por que não fui convidado? Mas sua curiosidade picou sua consciência e ele se repreendeu por pensar que tudo no acampamento deve girar em torno dele.
“Shalom nesta casa!" Oséias gritou, e todos se voltaram para cumprimentá-lo.
“Imundo! Imundo!" Uzias gritou.
“Estávamos esperando você."
O comandante Hananias surgiu de dentro da casa de Uzias, encarando Oséias como se não soubesse se deveria pegar sua espada ou cair de joelhos.
O escriba chefe e o conselheiro do rei o seguiram com a mesma hesitação.
A presença do Senhor ontem parece ter causado uma impressão duradoura.
“Venha, Oséias", disse Jonas, convidando o aluno a se juntar a ele no tapete.
“Estou dizendo ao rei Uzias que você vai voltar para Israel hoje."
Oséias ficou boquiaberto.
Ele sabia que não deveria perguntar como Jonas sabia.
É claro que o Senhor havia revelado.
“O que mais você estava dizendo ao rei Uzias que eu deveria saber?" Ele brincou com os cabelos de Miquéias enquanto sentou-se ao lado de Jonas.
“Estava explicando que você deve levar Miquéias com você nesta jornada."
Oséias ergueu as sobrancelhas e se inclinou para frente para interrogar seu jovem amigo.
“Sério? E o que Micah pensa sobre isso?"
Estou pronto, Oséias.
Posso ser uma grande ajuda para você. " Seus olhos brilhavam de aventura, sua alegria quase o suficiente para aliviar o peso do coração pesado de Oséias.
Ele se inclinou para perto e sussurrou para Jonas: “O Senhor também lhe disse o quanto minha esposa está sofrendo por causa da minha partida rápida?"
“O que está acontecendo?" Isaías emergiu do bosque atrás deles.
Oséias se virou, pronto para ouvir as explicações por seu atraso, mas a fúria no rosto de seu amigo o deteve.
Ele se levantou apressado e estendeu a mão para Isaías, encontrando-o antes que pudesse se sentar.
Fui à sua casa para dizer que voltarei para Israel com você, mas você não estava lá."
“Estava confortando sua esposa!"
O coração de Oséias parou.
“Você estava o que?" A ira correu por suas veias.
Por que Gômer procuraria seu melhor amigo em busca de conforto?
“Abba e eu levamos Gômer à olaria depois que a encontrei chorando no caminho principal do acampamento esta manhã. Ela está aprendendo com ele a manhã toda."
Oséias ficou sem palavras.
Ele afastou o pensamento equivocado, ajustando-se à verdade depois de quase acusar seu amigo de algo impensável.
“Isaías, Oséias, venha sentar-se." A voz calma de Jonah foi a âncora em sua tempestade.
Eles trocaram uma trégua silenciosa e sentaram-se ao lado do professor.
Miquéias havia se arrastado para um canto do tapete.
Olhos arregalados e silenciosos.
Jonas olhou para a frente, dirigindo as palavras a Uzias, mas essencialmente se dirigindo a todos do acampamento.
“O ofício da profecia foi colocado sobre os ombros de Oséias. Não sou a voz do Senhor para esta geração, mas tenho ouvidos para ouvir e posso ensinar meus alunos."
Uzias assentiu, mas não disse nada.
“É do meu conhecimento", continuou Jonas, “que você recebeu um pergaminho de seu filho Jotão nesta manhã."
Os olhos do rei se arregalaram e novamente ele acenou com a cabeça, estendendo a mão para o escriba.
Jeiel trouxe um rolo de papiro e Uzias começou a ler.
“Ao honorável filho de Davi e rei de Judá, Uzias, de seu fiel filho e príncipe, Jotão. Ventos solitários sopram pelos corredores do templo do Senhor, quando seus medrosos súditos de Judá se recusam a retornar ao local onde sua aflição ocorreu. Seu povo - e muitos dos sacerdotes do Senhor - estão aterrorizados com a ira do Senhor e passaram a se reunir nos santuários pagãos nas colinas e lugares altos. Aguardo seu comando para cumprir vossa vontade. Que nosso Senhor e Elohim lhe dê sabedoria como Salomão, e que Ele cure e abençoe seu nome para sempre."
Oséias sentiu que iria vomitar.
Judeus se reunindo para adorar em lugares altos? Este dia pode ficar mais escuro?
“Já enviei um mensageiro com minha resposta", disse Uzias.
“Seguindo o conselho de meus funcionários e do sumo sacerdote do Senhor, ordenei que o povo de Judá O adore em qualquer lugar alto até que a punição do Senhor sobre mim termine."
O sumo sacerdote deu um passo à frente e acrescentou: “Colocaremos sacerdotes do Senhor em cada bosque sagrado para garantir que não haja adoração pagã ..."
Não!" Oséias gritou.
“Você esqueceu tudo o que sabe sobre Elohim?"
O sumo sacerdote estufou o peito, exibindo o éfode que usava.
“Você sabe com quem está falando, Profeta?"
“Também se esquece que nação você serve."
Os dois trocaram olhares mantendo o silêncio.
Uzias foi o primeiro a falar.
“Não vejo mal em permitir que adoradores amedrontados ofereçam sacrifícios ao Senhor em uma colina, ao invés do templo."
“Você não vê mal?" Oséias repetiu as palavras, incapaz de acreditar.
Como poderia um filho de Davi esquecer o decreto do Senhor para adora-Lo somente em Seu templo?
Antes, porém, de Oséias declarar seus próprios argumentos, as palavras do Senhor encheram seu espírito.
Ele fechou os olhos e falou as palavras do Senhor.
“O Senhor te diz, rei Uzias, "˜eu os despedacei por meio dos meus profetas. Eu os matei com as palavras da minha boca. Os meus juízos reluziram como relâmpagos sobre vocês. Pois desejo misericórdia e não sacrifícios. Pois desejo misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos"™"
Quando Oséias abriu os olhos, a boca de Uzias estava escancarada.
“Parece que você estamos em um impasse, Profeta."
“Não há impasse entre nós, meu senhor", disse ele, levantando-se.
“Meu papel é entregar as mensagens do Senhor. Fiz isso fielmente. Você vai responder a Senhor sobre sua decisão de deixar a nação adorar nos lugares altos. " Ele se aproximou, chegando tão perto quanto a lei permitia.
“Meu conselho permanece o mesmo, rei Uzias. Busque o Senhor com todo o coração. Procure conhecê-Lo. Ele não se importa com seus sacrifícios. Ele quer seu coração."
Sem esperar por uma resposta, ele voltou a se sentar no tapete e olhou para Isaías.
“Meu amigo, tenho dois grandes amores na vida. O primeiro é o Senhor. O segundo é Gômer. Estou obedecendo ao primeiro e confiando que Ele se importa muito com o segundo."
Os olhos de Isaías ficaram nublados.
“Ficarei de olho nela até você voltar."
Uma pontada de pavor atingiu o coração de Oséias.
Ele sabia que Isaías amava Aya e nunca trairia a amizade deles... mas Gômer era tão linda.
Ele se inclinou e beijou a cabeça cinza de Jonas.
“Obrigado por ser a mão de Deus no meu ombro. Eu vou te contar sobre Sua fidelidade quando voltarmos. " O velho assentiu, mas nem ergueu os olhos.
Oséias sentiu seus ombros tremerem.
Por que parecia uma despedida?
Ele se virou e ouviu as sandálias do garoto triturando no caminho rochoso atrás dele.
“Jonas te disse mais alguma coisa que eu deva saber sobre nossa jornada?"
“Ele disse que eu precisaria cozinhar ou morreremos de fome."
Oséias riu, sentindo certo alívio.
Profeta do Senhor.
Eu sou o profeta do Senhor.
Oséias estava determinado a obedecer o chamado do Senhor. Ele estava certo que a obediência colocaria todas as coisas em ordem.
Uma brisa suave agitou as figueiras e os escoltou para fora de Tecoa.
18
Oséias 5:8, 12
Toquem a trombeta em Gibeá.
E a corneta em Ramá.
Deem o grito de guerra em Bete-Áven; esteja na vanguarda, ó Benjamim.
Sou como uma traça para Efraim.
Como podridão para o povo de Judá.
Gômer abraçou a peça de cerâmica contra o peito e desejou que os deuses a matassem.
Quantas vezes uma mulher pode vomitar em uma única manhã? Ela tinha se sentido assim com suas gestações anteriores, mas ela tinha ficado mais doente um pouco antes da dosagem de chá de arruda de Merav.
Nos dias seguintes, Gômer teve cólicas, sangramento e delirou por vários dias.
Lembrou-se vagamente de Tamir gritando com Merav que, se Gômer morresse, a velha iria pra rua.
Depois disso, Merav fez com que todas as meninas comessem cascas de romã pela manhã e bebessem água com sementes de cenoura selvagem à noite.
Merav se fora e Aserá respondeu às orações de Gômer.
Oséias ficaria satisfeito - se ele voltasse de Israel.
Os moradores do acampamento celebraram duas luas novas sem nenhuma notícia de seu marido errante.
Ela e Yuval compareceram ao banquete, mas se desculparam quando as mulheres se dividiram em panelinhas, como Yuval as chamava.
A noiva de Isaías, Aya, tentou se desculpar por seu comentário impensado na olaria, mas Gômer não deu qualquer sinal que incentivasse uma amizade entre elas.
Aya tinha seu pequeno grupo de amigos de infância.
Por alguma razão, Yuval, a matriarca do acampamento, parecia acima de qualquer fofoca e colocara Gômer sob sua proteção.
Ela era muito parecida com Merav.
Yuval era esposa de um profeta respeitável, não uma parteira de bordel, mas sua aparência - até mesmo sobre seus maneirismos - era muito familiar.
Yuval parecia satisfeita por ter uma amiga, uma vez que Amós viajava com tanta frequência.
Gômer sabia como era a vida de comerciantes itinerantes, mas nunca diria a Yuval que seu marido dormiria com prostitutas em todas as cidades que visitava.
Todos os comerciantes faziam isso, mas Yuval - como todas as mulheres - pensava que seu marido era diferente.
Gômer, pelo menos não tinha este tipo de ilusão.
Ela esperava que Oséias tivesse apenas o bom senso de mentir - ou pelo menos pagar por prostitutas mais limpinhas.
As prostitutas de rua poderiam espalhar doenças, roubar sua bolsa - ou pior.
Gômer ouviu o zurro e sabia que Isaías estava cuidando das tarefas no estábulo.
Ele era um ponto brilhante em seus dias tediosos.
Yuval ainda dava aulas de culinária quando o trabalho na colheita permitia, e Gômer se empenhava nas tarefas que Amoz ensinava na olaria.
As lições diárias com Jonas, porém, eram insuportáveis - infinitas da Lei de Moisés, números, datas, prós e contras.
Não é de admirar que as pessoas achem tão difícil cumprir a Lei do Senhor.
Como eles se lembraram de tantos detalhes?
Ela deixou a tigela de lado, bebeu um pouco de água e deu uma mordida no pão.
Sansão se esfregou em suas pernas. Sempre estava próximo.
Ela vestiu o véu azul e saiu para respirar o ar frio da manhã do deserto.
“Shalom, Gômer." A voz profunda e masculina foi um bálsamo para sua alma.
“Shalom, Isaías." Ela falava tão suavemente quanto a seda, apesar de seu estômago inquieto.
Ele olhou para cima, seus olhos se fixando nela por um momento.
Ele ofereceu um sorriso amarelo e voltou a encher os baldes de grãos para os animais.
Estranho.
Isaías nunca está sem palavras.
Ela sorriu, se aproximando alguns passos.
“Uzias mencionou que o tenho visitado? Os sacerdotes o examinam a cada sete dias e continuam encontrando carne viva nas feridas. Sei que a Lei diz que ele é impuro, mas ninguém mais apareceu com lesões na pele."
Seus olhos estavam comprometidos com o trabalho enquanto alimentava as galinhas, pegava os ovos e ajeitava o feno na manjedoura.
Alguma coisa estava errada.
“Ele diz que seu abba Amoz nunca o visita. Ele tem medo de ser infectado ou há alguma briga entre eles?"
Ele continuou seu trabalho, ignorando sua pergunta - ou ele decidiu ignorá-la completamente? Ela decidiu tentar outro assunto.
“Amoz está me ensinando como moldar o barro - você sabe, remova as bolhas de ar e depois..."
“Que bom, Gômer", disse ele, pendurando o forcado nos pinos de madeira.
“Voltarei antes da refeição da noite para dormir com os animais." Ele ergueu os olhos por um momento, apenas o tempo suficiente para ela ver ... era culpa?
“Isaías, pare!"
Seus passos longos o levaram a meio caminho do portão , mas ele parou ao pedido dela.
Lentamente, ele se virou.
“As aulas já vão começar. Preciso ir."
Seu estômago revirou e ela tentou se acalmar.
“Fiz algo que o chateou?" Olhos marejados - novamente.
Ela parecia ser uma fonte inesgotável desde que descobrira a gravidez.
“Não, Gomer. Não estou chateado com você. " Ele tentou segurar o olhar dela, mas desviou o olhar.
Silêncio.
“Conte-me!" Ela bateu o pé e as lágrimas rolaram.
Isaías suspirou e passou as mãos nos cabelos, depois caminhou em direção a ela.
“Não! Me diga o que está errado." Mas não houve tempo para uma resposta antes que ela esvaziasse sua refeição matinal no espaço entre eles.
Isaías parou um pouco antes. Seus olhos estavam tão arregalados quanto um camelo.
Ela sentiu satisfação pelo desconforto dele, incapaz de resistir a uma pequena piada.
“Se eu soubesse que vomitar teria feito com que você olhasse para mim, eu poderia ter tentado antes."
“Não é nada engraçado!" ele disse, preocupado.
“Você está doente? Devo pegar Yuval?"
“Vou me sentir melhor em cerca de sete luas cheias." Ela viu a confusão dar lugar à compreensão.
Ele passou por cima daquela bagunça e estendeu a mão para oferecer ajuda - mas parou.
Ele retirou a mão como se Gômer usasse um escudo invisível.
“O que há de errado com você, Isaías? Você está agindo como se eu fosse suja como ... "O pensamento a deixou sem fôlego.
Você acha que eu toquei em Uzias e não quer ..."
“Não. Não!" ele disse antes que ela pudesse terminar.
“Não tem nada a ver com a lepra de Uzias. Ele me contou que você é cuidadosa e permanece sempre no tapete de audiências quando o visita. Sua amizade é muito importante para ele."
“Não tem nada a ver com Uzias. É sobre . . . Eu não posso... Não está certo..."
Ela observou as bochechas dele corarem.
Por que você me trata como um leproso se sabe que não estou impura?
Isaías procurou nas janelas de sua alma e falou suavemente.
“Sou seu amigo, Gômer. Você sabe disso, não é?"
Um calafrio percorreu sua espinha.
Eu sei que se você precisa dizer, se planeja testá-lo.
Ela queria dizer as palavras, mas elas ficaram paradas em sua garganta.
“Você é uma mulher casada", ele disse, “e eu estou noivo de Aya. Oséias é meu melhor amigo e eu prometi ficar de olho em você enquanto ele estiver fora. Mas devemos evitar qualquer aparência de erro."
Parecemos estar fazendo algo errado?"
Ele apertou a nuca e suspirou novamente.
“Aya está desconfortável com nossa amizade ..."
“Aya está desconfortável?" Ela riu - sem alegria, seca, cansada.
“Bem, não queremos que Aya, sua família ou dezenas de amigos no acampamento se sintam desconfortáveis por você estar falando com a prostituta da cidade." Ela se virou para a casa antes de perder o resto do café da manhã e gritou por cima do ombro: - Vou cuidar das tarefas do estábulo de agora em diante, Isaías.
Você não precisa voltar."
Ele a puxou pelo braço, fazendo com que ela o encarasse.
“Não é só o cuidado com o estábulo. O acampamento inteiro está se perguntando por que você visita Uzias todos os dias. Parece estranho uma mulher bonita - sem família ou provisões - passar tanto tempo com um rei leproso."
O fôlego de Gômer a deixou.
Ofegando, ela mal podia sussurrar.
“E com quem mais eu passaria meu tempo?" Ela virou, dando de ombros.
Após respirar fundo, ela acalmou-se.
“O que tem de estranho que um exilado encontre consolo na presença de outro exilado, Isaías?" Ela viu que suas palavras haviam atingido seu propósito.
“Jonas me ensinou suas leis ridículas de impureza, a não tocar no rei Uzias. Mas não vou abandoná-lo porque as fofoqueiras do acampamento acham estranho que uma prostituta tenha coração. Volte para sua Aya perfeita. Diga a ela que você não cuidará mais das cabras de Oséias. Nem de sua esposa - amiga."
Oséias acordou com o cheiro de carne cozida.
Ele despertou lentamente do sono, e seu primeiro pensamento foi o mesmo de muitos dias.
Ele e Miquéias haviam viajado por todo o país, visitando todas as cidades e vilarejos. De Jope, na costa noroeste, a Lo-Debar, na fronteira de Aram.
O Senhor começou a direcioná-los para o sul, e todos os dias Oséias esperava instruções para voltar para casa.
Ele abriu um olho e viu Miquéias curvado sobre o fogo, segurando o que parecia ser uma ave no graveto.
“Qual é a ocasião?" ele disse, rolando, tentando se livrar da rigidez do solo frio.
“Longa história."
Nas três novas luas desde que deixaram Tecoa, Miquéias mal falara três frases.
Oséias agarrou o cobertor e se aproximou do fogo.
Ele se envolveu no cobertor de lã, sentando-se ao lado de seu jovem amigo.
“Estamos muito longe de Betel, fora de perigo das tropas de Israel. Eles foram perseguidos incansavelmente pelos soldados de Jeroboão, expulsos de todas as cidades onde haviam proclamado o iminente juizo de Deus."
Oséias apontou para o desjejum no graveto.
“Podemos comer isso enquanto você me conta a longa história? Não comemos carne fresca há mais de uma lua cheia. "
Miquéias sorriu e provou um pedaço da codorna para ter certeza de que estava bem cozida.
Os dedos dançavam na carne assada, ele pegou o banquete da manhã.
“Você não está curioso para saber peguei a codorna, Mestre Oséias?" ele perguntou, com uma sobrancelha travessa.
“Bem, agora que você mencionou ..." Oséias riu, olhando ao redor de seu acampamento em busca de uma armadilha ou rede improvisada para caçadores de pássaros.
Nada.
Ele voltou sua atenção para Miquéias, que estava louco para contar.
“Tudo bem, me diga como você pegou a codorna."
“Oh, Mestre Oséias! Foi maravilhoso! Eu ouvi a voz de Senhor! " As palavras do jovem ganharam ímpeto à medida que caíam.
“Ele me chamou pelo nome. No começo eu pensei que fosse você, mas quando olhei, ainda estava dormindo. Quando percebi que devia ser o Senhor, levantei-me e ele me disse para procurar atrás dessa árvore uma codorna cuja asa havia sido quebrada. Encontrei o pássaro e ele disse: 'Mate e coma. Você precisará de força para sua jornada de volta a Judá. Você falará por mim, assim como meu servo Oséias. Então, o que você acha que Ele quis dizer, Mestre Oséias?"
Oséias respirou fundo, mas o garoto continuou.
“Quando voltamos para Tekoa? Hoje? Esta noite? Amanhã? E quando começo a profetizar? Eu não sei o que dizer. Como você sabe o que dizer?"
Oséias só podia sorrir, as palavras presas em sua garganta.
Foi um momento singelo.
Ele sentia agora a alegria que Jonas deve ter sentido quando Oséias recebeu seu comissionamento para profetizar a Israel.
Mas como Isaías receberia a notícia? Ele havia recebido um telefonema de Senhor enquanto estava em Tekoa? Ou o chamado do jovem Micah tornaria a impaciência de Isaías muito mais difícil de suportar?
Miquéias olhou para ele com olhos arregalados e expectantes.
Senhor, dê-me sabedoria para ensinar este jovem e dê a Isaías graça de aceitar o seu plano para todos nós!
“A primeira coisa que devemos fazer é terminar de comer a codorna", disse ele, apertando o ombro de Miquéias.
“E prosseguiremos para as três cidades que o Senhor nos disse para falar hoje. Bete-Aven, Ramá e Gibeá estão em perfeita ordem - norte a sul - no caminho de volta a Judá."
“E quando você acha que eu vou profetizar?" Miquéias parecia uma criança, e Oséias lembrou-se de suas próprias queixas a Jonas parecendo o mesmo.
“Você vai profetizar quando isso quebrar seu coração, Micah." Ele prendeu o jovem com um olhar.
“Você anunciará uma dor inimaginável a pessoas reais. Eles estão partindo o coração de Deus. Seus líderes estão pervertem a justiça, maltratam os pobres e adoram ídolos de metal, madeira e pedra. Quando for insuportável proclamar o julgamento de Deus sobre eles, então - e somente então - você está pronto para falar em nome do Senhor. "
Os olhos de Miquéias se encheram de lágrimas.
“Você sabe o que Senhor declarou às três cidades que visitaremos hoje?"
Oséias respirou fundo e fechou os olhos, permitindo que as palavras do Senhor ecoassem.
“Toquem a trombeta em Gibeá e a corneta em Ramá. Deem o grito de guerra em Bete-Áven. Vós, descendentes de Benjamim, não escaparão do castigo que virá sobre Israel. Efraim está oprimido, esmagado pelo juízo. Estou dizendo a verdade - todas as tribos de Israel enfrentarão Sua ira. E o julgamento avança sobre os líderes de Judá. O julgamento de Efraim começará devagar, como uma traça. Da mesma forma Judá, pois a podridão destrói lentamente a madeira. "
Quando Oséias abriu os olhos, as lágrimas escorriam no rosto de Miquéias, e ele sabia que estava testemunhando o nascimento de um profeta.
Yuval enrolou a última tira de pano na mão de Gômer, cobrindo as bolhas vermelhas e inchadas com pomada de figo.
“Minhas mãos estão pegando fogo. Por que ninguém me disse para usar luvas para colher figos?"
A voz de sua amiga era cheia de compaixão.
“Pequena Gômer, me desculpe. Estive tão ocupado me preparando para a colheita que esqueci que você não sabia que o leite do fio queima a pele. Todos os outros no acampamento têm feito a colheita duas vezes por ano há anos. " Lágrimas se formaram em seus cílios inferiores.
“Você me perdoa?"
O coração de Gômer estava na garganta.
Ela não queria culpar Yuval.
A pobre mulher conduzia todo o ciclo do figo - desde o plantio até a colheita e o processamento.
“Não há o que perdoar, Yuval. Eu deveria ter visto os outros e percebido."
Estou apenas irritada e com náuseas, e agora minhas mãos estão enfaixadas e não consigo nem me vestir. " Sampson pulou em seu colo e ronronou.
Ela tentou acariciá-lo com uma das mãos enfaixadas.
“Eu nem consigo cuidar do gato." As lágrimas começaram a fluir e ela se amaldiçoou.
“E por que ainda estou chorando o tempo todo? Uhh! " Em sua frustração, ela cutucou o olho com a mão enfaixada e soluçou ainda mais.
Ela ouviu Yuval rir e olhou em sua direção, chocada e magoada."
“Você está rindo de mim?"
“Gômer, minha filha, todas as mulheres grávidas choram. E quando o bebê nascer, você vai chorar um pouco mais. " Ela deu um tapinha nas mãos enfaixadas.
“Não se preocupe com Sansão. Cuidarei dele quando vier todas as manhãs para ajudá-la a se vestir."
Gômer não podia fazer nada, mas balançou a cabeça, um nó na garganta de raiva e autopiedade.
Quando ela conseguiu falar, suas palavras saíram cortadas.
“Eu dou conta. Sempre me virei sozinha. Me recuso a precisar de alguém agora."
“Bem, eu gostaria de ser necessário." Uma voz profunda ressoou da porta escura da frente.
Oséias!
Ele deve ter entrado enquanto ela e Yuval estavam conversando.
Ela queria se esconder em um buraco - melhor ainda, ordenar que voltasse para Israel!
19
Oséias 1:3-4
Por isso ele se casou com Gômer... ela engravidou e lhe deu um filho.
Então o Senhor disse a Oséias: “Dê-lhe o nome de Jezreel".
Gômer manteve os olhos no forno, mas percebeu o olhar de Oséias.
Como ela podia sentir frio se estava sentada ao lado do fogo?
Yuval correu para cumprimentar Oséias, tagarelando como um pardal.
“Quando é que voltaste? Amos sabe que você está em casa? Oh, a colheita do figo está quase terminando, e precisávamos de ajuda extra, então sua doce esposa veio em nosso auxílio, e, bem ... ela nunca trabalhou com figos antes e não sabia que a seiva faria bolhas em suas mãos e "
“Yuval, você minha ajuda com os figos amanhã?" Oséias ofereceu suavemente.
“Quem sabe depois de descansar esta noite e matar a saudade da minha esposa?"
Um breve silêncio exigiu toda a concentração de Gômer para manter os olhos desviados.
“Ah sim, sim. Eu preciso chegar em casa e verificar como Amos. " Yuval correu até Gômer e apertou seus ombros, beijando o topo de sua cabeça.
“Te vejo amanhã, criança. Você e seu marido têm muito a discutir. " Uma piscadela e um sorriso, e sua amiga saiu correndo.
A porta se fechou e o silêncio caiu como um cobertor frio.
Gômer começou a tremer.
Tanto tempo sem uma palavra dele, e agora ele iria cuidar dela?
Passos se aproximaram.
Ela começou a tremer, incapaz de conter as lágrimas.
Como ela poderia confiar nele? Ele iria embora toda vez que ela precisasse dele? Ela passou os braços em volta de si mesma, balançando-se, gemendo como os enlutados quando sua ima morreu.
Ele se ajoelhou atrás dela.
Ela sentiu a presença dele, mas não se atreveu a olhar.
Ele desapareceria novamente se ela o visse? Ele desapareceria se ela ousasse ter esperanças mais uma vez? A dor em seu coração se aprofundou e ela sentiu as pernas dele a envolverem, seus braços a envolvendo.
Como nos sentávamos nas vigas do templo de Betel quando éramos crianças.
Ela fechou os olhos e lembrou-se da segurança de seus braços. Seu lamento se transformou em soluços silenciosos.
A cabeça dela pendia no peito dele, e ele a deitou na dobra do cotovelo.
Ela fechou os olhos, ainda apavorada ao ver o rosto dele acima dela.
Ela sentiu a respiração dele em sua bochecha.
“Senti sua falta, minha preciosa esposa. Sinto muito por ter te você, mas estou em casa agora e serei tudo o que você precisa de mim enquanto estiver aqui."
Mil pensamentos correram por sua mente. Apenas um não podia esperar.
Ela abriu os olhos para olhar o abba do seu filho.
“Oséias, estou grávida", disse ela, aguardando sua reação.
Um sorriso preguiçoso vincou seus lábios.
Seus olhos castanhos dançavam de prazer.
“Eu sei."
“Você sabe?" Ela estava sentada, reta como uma vara.
“Como você sabe?"
Ele enrolou uma das mechas do cabelo dela com o dedo.
“O Senhor me disse, e será um menino."
“Oh! Isso não é justo! Eu suporto todas as náuseas, mas você recebe todas as boas novas ... "Sem um momento de aviso, Gômer vomitou em seu marido.
Felizmente, ela não tinha muita coisa no estômago.
Quando terminou, eles se entreolharam com os olhos arregalados.
Um sorriso lento e satisfeito se abriu nos lábios de Gômer.
“Bem-vindo, marido."
“Bom sábado, meu amor." A voz de Oséias alcançou a agradável meia-consciência dos primeiros pensamentos de Gômer.
Sorrindo, ela se aninhou em seus braços.
“Mmm, é sim, porque você está aqui comigo." Quase cinco luas cheias se passaram desde o retorno de Oséias, e suas vidas haviam caído em um ritmo confortável.
A náusea de Gômer desapareceu e deu lugar a vibração alegre da vida em seu ventre. Oséias - fiel à sua palavra - tinha sido tudo o que ela precisava que ele fosse, isso incluía um amigo e companheiro constante.
O ar da manhã estava fresco, e ela o sentiu tirar o cobertor.
Ele riu quando ela rosnou, mas ela se recusou a abrir os olhos.
“Vamos quebrar nosso jejum, e então ..." Ele traçou pequenos círculos ao redor do lugar escuro e plano que já foi seu umbigo, aparentemente fascinado por sua mudança de corpo.
“Acho que devemos convidar Amoz para se juntar a nós na visita ao rei Uzias."
Os olhos de Gômer se abriram para encarar Oséias.
Amoz não visitou Uzias desde que ele se mudou para o acampamento.
Por que hoje? Senhor falou com você?"
Ele colocou uma mecha do cabelo dela.
“Não ouvi uma palavra direta do Senhor, mas Uzias e eu nos tornamos amigos - homem-a-homem mais que profeta-rei - e sinto muita tristeza pelo relacionamento rompido entre ele e Amoz."
Gômer traçou a sobrancelha do marido e deixou a mão deslizar pela mandíbula até os lábios.
Ele beijou o dedo dela, e ela o puxou para perto.
Após um momento de ternura, ela deitou ao lado dele.
“O que quer que tenha destruído o relacionamento de Uzias e Amoz também aconteceu entre Isaías e seu abba."
Oséias permaneceu em silêncio por um tempo, e Gômer se perguntou se voltara a dormir.
Ela olhou por cima, viu-o olhando para o teto.
“Pretendo ser um excelente abba." Ele se apoiou em um cotovelo e pairou sobre ela.
“Irei a Israel sempre que o Senhor me chamar, mas sempre voltarei, Gômer."
Seu coração parou, todo o sangue fugindo de seu rosto.
“Você está indo novamente?" Saiu como um guincho.
Estou apenas pensando em Isaías e Amoz ... "
“Uhh!" Ela o empurrou para longe, frustrada.
Nunca mais faça isso!"
Ele a puxou para o peito, apesar de seus protestos, segurando-a com força, sussurrando.
“Isaías vive na casa de seu abba a vida toda, mas eles mal se falam. Posso ser afastada de minha esposa e filhos por longo tempo, mas acredito que o Senhor ainda abençoará nossa família, Gômer. Preciso confiar nele. Precisamos confiar."
“Eu não consigo pensar em você viajando novamente", disse ela.
“Não sei como iria sobreviver, Oséias. Yuval ainda está tentando me ensinar a cozinhar, e nunca cuidei de um bebê - Merav cuidava de todas as crianças do bordel."
Por que ela mencionou seu passado quando ele estava pensando em ir embora? E se ele a abandonasse? Para onde ela poderia ir agora?
“Devemos pedir à Aya para ajudá-la com o bebê quando ele chegar."
“Não!" Gômer sentou-se reta como uma flecha.
“Não quero que a senhora-certinha fique me espionando e depois diga a todos no acampamento que sou uma ima terrível. Por que Yuval não pode ajudar?"
“Yuval estará ocupada com a colheita de figos."
Gômer entrou em pânico.
“Ela estará aqui para o nascimento?"
“Sim, com certeza. Amós me disse que ela já tem uma engenhoca de parto, pronta para trazê-la quando você mostrar os primeiros sinais de parto. Mas na época da colheita de figos, ela fica ocupada de sol a sol."
Gômer passara a maior parte do tempo com Oséias nos últimos dias e se perguntava como ele conhecia tão bem a rotina de Yuval.
O pensamento da compania de Aya todas as manhãs afiava os dentes.
“Poderíamos tentar outra pessoa?"
A ternura em sua expressão a desarmou.
Aya quer ser sua amiga, Gômer.
Ela pediu desculpas uma dúzia de vezes para você e para mim.
Ela poderia cuidar do bebê e preparar o jantar. E você poderia retomar o trabalho na olaria depois do meio dia - se você ainda quiser.
Seus argumentos se foram com a menção ao trabalho.
Ela ainda estava impressionada por ele ter permitido que continuasse a aprender durante a gravidez.
Todas as manhãs, Oséias ensinava suas lições da Lei do Senhor e depois a acompanhava até a olaria após o almoço.
Trabalhar depois do nascimento do bebê?
“Você deixaria Amoz continuar a me ensinar?"
“Vejo a alegria em seus olhos quando você conta o que aprendeu. O Senhor me chamou para profetizar. Sinto Seu prazer quando obedeço. Talvez ele tenha te chamado para trabalhar o barro."
Lágrimas enchiam os olhos dela.
Ela não estava pronta para admitir que Senhor tinha planos para ela, nem estava disposta a concordar com a presença de Aya - mas estava impressionada com o amor do marido.
Era mais do que ela jamais sonhara.
Com um beijo rápido, ela saiu da cama.
“Estou com fome. Vou trazer um pouco de queijo de cabra e pão para que possamos quebrar nosso jejum na cama. " Ela correu para a sala principal, na esperança de silenciá-lo.
“Decidiremos sobre Aya mais tarde. Vamos chamar Amoz para visitar Uzias conosco hoje."
Oséias começou a andar de novo - catorze passos entre a porta da frente e o estábulo.
Gômer entraria em trabalho de parto logo após o meio dia.
A bolsa se rompeu na olaria e Amoz correra para casa, carregando Gômer nos braços.
A lua estava bem além do ponto médio, e os ventos açoitavam os cabelos de Oséias enquanto ele contava.
“Um, dois, três..."
“Aahh!" Gômer gritou.
Seus gritos se tornaram mais frequentes, porém mais fracos.
“Eu não aguento mais!" Oséias caminhou em direção à porta, mas Isaías o impediu.
“Yuval está cuidando de Gômer. Acho que você não deveria entrar lá."
“Eu preciso vê-la", disse Oséias, fortalecido pelo medo.
Isaías era mais alto e mais forte, mas foi facilmente empurrado para o lado.
“A última coisa que Gômer precisa é de um marido frenético que a amedronte." Uma voz gentil o conteve.
Os dois jovens se viraram e encontraram Amoz convidando Oséias para se sentar.
“E a última coisa que você precisa é assistir sua esposa sofrer."
“É uma imagem que você nunca pode apagar." O oleiro trabalhou sua mandíbula como suas mãos trabalharam argila.
Oséias abriu e fechou as mãos, dividido entre conselhos sábios e os lamentos enfraquecidos de sua esposa.
“Eu nunca soube que você estava com ela no final." A voz de Isaías era um sussurro, seu rosto tão cinza quanto a lua acima.
“É por isso que você não me ama ..." Ele parou, sua voz embargada.
“Eu tirei você dos braços dela", disse Amoz, erguendo a cabeça.
“Eu amei vocês dois a minha vida toda."
Oséias observou abba e filho cuidarem de anos de silêncio doloroso.
“Me desculpe, Amoz. Não fazia ideia de que você estava com a ima de Isaías ... "Ele olhou para Isaías.
“Eu não sabia."
“Eles virão atrás de você se Gômer estiver em perigo." Os olhos de Amoz se encheram de lágrimas.
“Às vezes, nenhuma notícia é uma boa notícia." Ele deu uma olhada em seu filho e pigarreou.
“Eu deveria voltar para a loja de cerâmica e limpar." Ele se virou e saiu correndo do pátio.
Oséias suspirou e colocou a mão no ombro de Isaías.
“Sabia que sua ima morreu dando a luz, mas não fazia ideia... "
“Agora nós sabemos", disse Isaías, suas palavras envenenadas.
Ele apertou os olhos.
“Sinto muito."
Eu não estou com raiva de você."
Oséias assentiu.
“Você quer conversar?" Gômer soltou outro grito, e Oséias lutou para não abrir a porta.
“Fale comigo, Isaías. Diga algo para me impedir de entrar lá."
De olhos arregalados, Isaías começou a contar sua própria história.
“O nome da minha ima era Levana. Tudo o que sei sobre ela aprendi com o primo Uzias. Ele disse que meus pais eram casados há pouco tempo, mas ele a amava."
“Uzias disse que meu abba era muito alegre. Ele costumava conversar - até mesmo cantar - antes de eu nascer. Algo aconteceu entre abba e Uzias quando nos mudamos para Tecoa. Eles falaram muito pouco, mas Abba garante que eu passo muito tempo com meu primo. " Ele enxugou o rosto na manga e colocou o braço em volta do ombro de Oséias.
“Vamos. Temos que andar. Preciso ficar quieto por um tempo."
A porta da frente abriu e Oséias girou.
A luz da lâmpada lançou um brilho em torno de Yuval, que segurava um pequeno embrulho.
“Sua esposa gostaria de vê-lo agora."
Oséias correu para o bebê, inspecionando seus cabelos pretos e rosto comprimido.
Ele se inclinou para beijar o pequeno, e a voz do Senhor ecoou em seu coração: seu nome será Jezreel.
Em breve você deverá proclamar que eu castigarei a família de Jeú pelo massacre que fizeram em Jezreel.
Porei um fim ao reino de Israel.
Quebrarei os arcos e flechas de Israel no vale de Jezreel.
Oséias olhou para Yuval, assustado.
“Você ouviu isto?"
Ela franziu as sobrancelhas e esperou a explicação.
“Ouvi o que?"
Isaías sorriu.
“Eu acredito que nosso amigo ouviu o Senhor novamente." Com os olhos úmidos, ele disse: “Senti uma brisa fresca, mas não ouvi Suas palavras, meu amigo".
Oséias deu um tapinha em Isaías.
“Você está certo sobre a presença de Senhor, e eu ouvi uma mensagem." Seu espírito se agitou novamente e ele esperou por outra palavra do Senhor.
Nada específico desta vez, mas algo lhe dizia que o Senhor tinha mais a transmitir.
Oséias voltou sua atenção para Isaías, cujo rosto refletia a alegria de Oséias.
Ele não ouviu nenhuma voz, não sentiu brisa, nenhum arbusto em chamas ou carruagem ardente como os profetas antes dele.
Ele recebeu um pensamento.
Uma compreensão.
Isaías teve um papel nesse chamado de Jezreel.
Oséias beijou Yuval e tomou o filho recém-nascido dos braços dela.
“O Senhor me disse para chamar o menino de Jezreel."
“'Deus semeará'", disse Isaías, assentindo com aprovação.
“É um nome bonito, rico em significado."
“O significado é maior do que você imagina, meu amigo." Yuval já havia se retirado para dentro de casa, deixando os dois homens sozinhos com a criança.
“O nome do meu filho reflete o julgamento de Senhor sobre a casa de Jeú por aqueles que eles massacraram no vale de Jizreel." Ele viu a alegria de Isaías desvanecer-se e só podia imaginar a resposta de Gômer ao simbolismo horrível.
“Preciso voltar a Israel com esta mensagem - amanhã."
O rosto de Isaías ficou pálido.
“E quanto a Gômer? E quanto ao seu novo filho?"
“Também fiz estas perguntas." As palavras, ditas quase como um reflexo, pareciam mais duras do que ele pretendia.
Isaías se acalmou.
“Eu sei que você está fazendo o que acredita que deve, mas tem certeza que tem que ser amanhã? Talvez você tenha entendido mal, e Senhor está preparando você para sua próxima missão - mais tarde - depois de passar mais tempo com Gômer e Jezreel ".
Oséias observou a pequena forma em seus braços, memorizando todas as dobras iluminadas pela luz das lamparinas.
Seu coração partiu com o pensamento de deixar sua esposa e filho recém-nascidos.
“Isaías, ouvi claramente a voz do Senhor. Devo partir ao nascer do sol. " Hesitando, ele mediu novamente sua compreensão do papel de Isaías nesta missão.
Senhor, está realmente chamando Isaías para me acompanhar a Israel, ou é minha própria ideia? Sem ouvir uma resposta clara, ele avançou com sua impressão.
“Senti um impulso do Espírito, mas não foi tão clara quanto a profecia do juízo. Quero que busque a vontade do Senhor e me responda antes do amanhecer."
Isaías pareceu intrigado aparentemente honrado por receber orientações.
“Sei que seu casamento com Aya está planejado para a próxima celebração da lua nova." Oséias se encolheu ao pensar em perdê-lo.
“Embora o Senhor não tenha falado diretamente, acredito que Ele quer que você me acompanhe a Israel. E duvido que possamos voltar a tempo para o casamento."
Isaías entendeu as implicações do plano de Oséias.
“Você está me pedindo para perder meu próprio casamento?"
Oséias preferiu uma resposta branda a uma explosão de ira.
“O Senhor não escolhe os momentos mais convenientes para que Seus profetas obedeçam Seus mandamentos."
Isaías estreitou os olhos e levantou o queixo.
“Você terá minha resposta ao nascer do sol."
O bebê se e mexeu, roubando a atenção de Oséias.
Quando olhou novamente, Isaías estava saindo do seu pátio.
“Esperar! Isaías!"
Seu amigo levantou a mão e acenou.
“Você estava certo. Se quiser ser profeta do Senhor, terei que escolher entre conforto e obediência."
“Diga a sua esposa que ela é incrível. Vou orar sobre minha decisão e falar com você ao nascer do sol. " Ele continuou para fora do portão e em direção a sua casa.
Oséias sentiu-se completo, abençoado, impressionado com a provisão do Senhor.
Ele estava cercado de amigos queridos, família do coração.
Seu primogênito estava em seus braços, e sentiu uma urgência para ver como Gômer estava.
Urgência igualada apenas pelo pavor de sua reação à partida dele.
Senhor, dá-me sabedoria para falar com ternura.
Dê ouvidos a Gômer para ouvir e olhos para ver o significado mais profundo de nossas vidas.
20
Levítico 12:2
Quando uma mulher engravidar e der à luz um menino, estará impura por sete dias.
Yuval recolheu roupas sujas e borrifou óleo perfumado nos cantos empoeirados da sala.
Gômer ainda estava exausta, tentando entender a verdade.
Aserá respondera suas orações.
“Uma criança?"
Ela deu um filho a Oséias.
“Diga shalom para sua ima, Jezreel." Oséias deslizou para o quarto deles, aninhando o embrulho em seus braços.
Seus olhos brilhavam enquanto ele se aproximava da cama.
“Ele é lindo, meu amor. Você é incrível!"
Um soluço escapou antes que ela tentasse contê-lo.
Ela nunca se sentiu tão amada.
Oséias colocou o bebê nos braços de Yuval e ajoelhou-se a um côvado da cama, tomando cuidado para não tocar em nada.
Confusão misturada com decepção.
“Qual é o problema? Por que você não chega perto ... "Antes de terminar a pergunta, ela se lembrou da Lei e a citou em voz alta.
Quando uma mulher engravidar e der à luz um menino, estará impura por sete dias.
Ele pareceu satisfeito por ela se lembrar. Até cuspir a palavra 'impura'.
“Gomer, a lei do Senhor protege as mulheres de infecções. Homens de outras nações desrespeitam suas esposas e voltam para suas camas muito cedo, colocando-as em perigo..."
“Estou cansado demais para uma aula, Oséias." Ela se virou para a parede.
Durma.
Ela se sentiria melhor depois de dormir.
“Gômer, por favor. Precisamos conversar."
Se virou lentamente, olhando para seu rosto e erguendo uma única sobrancelha.
Yuval pegou Jezreel e o colocou no colchão ao lado de Gômer.
“Vou deixar vocês três em paz."
“Tem pão e queijo, azeitonas e tâmaras na mesa da outra sala." Fixando Oséias com um olhar fixo, ela acrescentou: “Certifique-se de que ela coma alguma coisa e beba bastante água. Seu trabalho é cuidar dela até eu voltar."
Gômer aplaudiu silenciosamente sua amiga.
Era bom ter alguém do lado dela.
Oséias piscou e sorriu para a velha.
Os dois estavam perto, e de alguma forma, isso também era bom.
Yuval deu um aceno discreto, e o casal esperou em silêncio até que a porta fechasse.
“O Senhor me disse o nome do nosso filho", disse Oséias.
“Jezreel. Significa 'Deus semeará'."
Gômer tomou o bebê em seus braços, passando o dedo sobre o nariz dele, fascinado com o pequenino que acabara de dar à luz.
Só então ela percebeu o que Oséias estava dizendo.
O Senhor falou com você? Quando ela ergueu o olhar, os olhos de adoração de momentos atrás se encheram de lágrimas.
“O Senhor castigará a família de Jeú, ancestral do rei Jeroboão, pelo povo que Jeú massacrou no vale de Jezreel. O nome de nosso filho simbolizará para sempre a ira de Deus contra Jeroboão e seu clã. " Suas lágrimas transbordaram, escorrendo por suas bochechas.
Ele estendeu a mão para tocar os cachos pretos e macios de Jezreel, mas afastou a mão.
“Amanhã partirei para proclamar a mensagem do Senhor a Israel."
Gômer não conseguia respirar.
A exaustão a estrangulou.
Por que ela se atreveu a ter esperança? Por que continuar vivendo quando os homens sempre vão embora? Mas quando ela olhou para o bebê precioso ao lado dela, o pensamento de seu futuro reavivou sua vontade de lutar.
“Olhe pra esta criança inocente, Oséias."
Ela retirou o cobertor do corpo minúsculo dele, revelando os dedos perfeitos e a pele rosada.
“Você vai deixar o Senhor marcar nosso bebê com um nome terrível. E ainda mais: deixará sua família para viajar por Israel ameaçando pessoas poderosas que zombarão e tentarão te matar?"
Ela estava tremendo por dentro.
Oséias engoliu seco e sufocou as palavras.
“Quero reunir vocês dois em meus braços e não deixa-los nunca mais."
Ela gemeu um pouco, as sobrancelhas levantadas, suplicando.
O mais próximo de 'implorar' que Gômer se permitiria.
Oséias precisa escolher: esse deus invisível que exigia que o noivo abandone sua noiva e um abba abandone seu filho recém-nascido. Gômer e Jezreel, uma família que poderia amá-lo aqui e agora, ou seu deus.
Oséias tomou ambos - mãe e filho - nos braços, violando as leis de pureza do Senhor.
Soluçando, ela engasgou com as palavras: “Eu te amo, Oséias. Eu te amo." O alívio a invadiu como uma inundação.
Ele beijou sua testa, suas bochechas e, finalmente, seus lábios.
Eles choraram juntos, embalando o pequeno Jezreel.
Quando Oséias a soltou, ele segurou o rosto dela e olhou bem dentro de seus olhos.
“Eu te amo de todo o coração, esposa." Ele hesitou por um momento - tempo suficiente para Gômer ver a determinação gravada nas janelas de sua alma.
“Preciso obedecer ao Senhor e partir para Israel ao nascer do sol. Voltarei pra você e Jezreel assim que o Senhor permitir."
Gômer sentiu como se uma adaga tivesse sido enfiada em seu peito.
“Mas você se fez impuro para mim... "
“Eu me tornei impuro porque creio que a essência da Lei do Senhor é proteger, não punir. Teria sido um castigo pra mim partir sem demonstrar meu amor. Cumprirei a Lei e lavarei minha túnica, me tornando puro novamente pela manhã."
Ele se inclinou para beijá-la novamente, mas ela o afastou.
Sua voz era cheia de fúria.
“Mas não preciso sair até o amanhecer."
Algo dentro dela mudou, e ela viu o homem em sua cama como tantos outros que ela conheceu.
Ela abraçou Jezreel, roçando os lábios na cabeça felpuda dele.
“Eu não preciso mais de você, Oséias. Eu já tenho alguém que vai me amar - e não vai me abandonar."
“Você está horrível", disse Isaías no portão, pouco antes do amanhecer.
Ele tirou um pedaço de palha da barba de Oséias.
“Você dormiu no estábulo? Ohh, Gômer deve ter recebido a notícia mal. "
O galo de Yuval cantou, ajudando Oséias a colar a cabeça em ordem.
“Eu não vi aquela morte em seus olhos desde que a encontramos em Samaria." O medo frio o manteve acordado, tornando seu cobertor de lã inútil contra o frio da noite.
Ele notou o grande embornal de seu amigo, e seu coração ficou mais leve.
“Então, você vem comigo?" Um raio de esperança surgiu com a luz da manhã.
“Talvez meu abba e Aya possam consolar Gômer. Nenhum dos dois também ficou feliz com o chamado do Senhor. Eu não consigo entender por que Aya iria torcer seu capacete porque eu posso chegar atrasado para o nosso casamento. " Ele reprimiu uma risada, e Oséias o empurrou, mandando-o para os arbustos ao longo do caminho.
“E por que seu abba protestou?" Oséias se arrependeu da pergunta quando viu a face de seu amigo murchar.
“Quem pode saber", disse ele, batendo com o cajado nos arbustos.
“Abba tem uma palavra para todo mundo, menos pra mim. Eu recebo sempre um grunhido ou 'tolice total'. Preciso descobrir o que isso significa."
“Sinto muito, Isaías." Oséias deixou o silêncio expressar o conforto que ele não conseguia expressar.
Eles se aproximaram do acampamento do rei Uzias e viram a sombra familiar na porta da casa.
“Podemos parar um pouco?" Perguntou Isaías.
“Ele sempre foi mais um abba para mim do que meu abba Amoz, de qualquer maneira." Sem esperar por uma resposta, Isaías apressou o passo e Oséias o deixou correr.
Embora tivesse um abba terrestre, ele tinha menos segurança e firmeza do que Oséias recebera de Jonas.
Isaías estava sempre correndo de Amoz para Uzias, sonhando que um deles se tornasse o abba forte e amoroso que todo garoto precisa.
Infelizmente, nenhum deles encarnou o papel, e Isaías havia desenvolvido uma carapaça impetuosa para esconder o garoto inseguro que havia por dentro.
Impuro!" A voz de Uzias soou, e Oséias se perguntou se o rei alguma vez dormia.
Suas feridas continuaram piorando, e os sacerdotes agora o examinavam por cortesia do que uma esperança de que ele retomasse o trono.
Circulavam rumores no campo de que o príncipe Jotão seria em breve chamado de coregente, para mitigar dúvidas sobre a liderança de Judá que poderiam tentar nações estrangeiras à agressão.
“É melhor assim, meu filho." Oséias chegou à tapeçaria da audiência a tempo de ouvir as palavras de Uzias a Isaías.
“É melhor passar um tempo longe de Aya antes de se casar do que deixar sua esposa recém-casada ..." O rosto do rei ficou ainda mais pálido.
“Perdoe-me, Oséias. Não quis te desrespeitar."
“Antes que nossa amizade fosse fortalecida, meu senhor, eu poderia ter ficado ofendido." Ele acenou com a cabeça para o rei, e Uzias retribuiu o gesto.
“Vi seu coração mudar com o sofrimento e, de alguma forma, acredito que agora é capaz de entender um pouco das dificuldades do meu chamado."
“Estou aprendendo, Oséias", disse o rei.
“Estou aprendendo que é preciso agarrar tudo o que o Senhor nos dá. Até mesmo nossa própria vida."
Silêncio.
“Você é um bom homem, Rei Uzias." Oséias ansiava por dizer mais, ordenar a esse rei justo que destruísse os lugares altos e obedecesse à Lei completamente.
Mas ele já havia falado as palavras do Senhor a Uzias - e até acrescentou algumas de suas próprias.
A escolha estava nas mãos do rei.
“Que o Senhor o abençoe e te guarde, meu senhor, até que voltemos e te vejamos novamente."
Oséias sentiu a mão de Isaías em seu ombro.
Venha, meu amigo.
Quanto mais rápido você proclamar a mensagem do Senhor, mais cedo poderei me casar e você poderá voltar para sua esposa e filho."
21
Levítico 12:3
No oitavo dia o menino terá que ser circuncidado.
Jezreel gritou a noite toda, e os nervos de Gômer estavam tão gastos quanto suas sandálias.
Como se atreviam a mutilar seu filho? Ele tinha apenas oito dias de idade.
Ela tentou argumentar com Jonas e os demais, explicando que muitos dos homens em Israel não adotavam mais a tradição arcaica da circuncisão.
Mas eles a ouviriam? Não, sou apenas a ima da criança! Ela não teve voz em nomeá-lo.
Por que ela teria voz em alguma coisa sobre o próprio filho?
A batida fez os gritos do bebê piorar.
Ela tomou Jezreel por cima do ombro e caminhou em direção à porta.
“O que!" ela gritou, abrindo.
Yuval deu um pulo.
Eu o ouvi chorando a noite toda.
O que posso fazer para ajudar? Ela tomou Jezreel nos braços, saltando e balançando. O ritmo fez com que os gritos acalmassem.
Gômer cobriu os ouvidos, desabando sobre a amiga.
“Você pode dizer aos homens que fizeram isso para vir acalmar meu bebê durante a noite, alimentá-lo e embalá-lo ..." De repente, seus seios soltaram uma enxurrada de leite.
Como é possível fazer qualquer coisa se a todo momento preciso parar pra amamentar ou trocar fraldas?"
Yuval deu um sorriso compassivo.
“Parece que você tem um amplo suprimento de leite. Pelo menos o garoto não está com fome."
Gômer não se sentiu consolada.
Ela se sentia gorda, feia e sozinha.
Não sabia nada sobre criar um filho, nem queria aprender.
Onde estava o tal instinto materno que Yuval havia prometido? “Eu não consigo fazer isso, Yuval. Eu simplesmente não posso. " Ela olhou para a porta e depois para o filho.
Não tenho condições de criá-lo.
Ele ficaria melhor sem mim.
“Gômer, olhe para mim." Ela ouviu a voz de Yuval como se estivesse em um sonho.
“Gômer!"
Assustada, ela voltou seu olhar para a amiga.
“Vou enviar Aya para ajudar com Jezreel."
Não quero ...“
“Chega!" Yuval ergueu a mão, sufocando as palavras de Gômer e os gritos de Jezreel.
A velha continuou embalando e falou calmamente, apesar dos choramingos de Jezreel.
“Sei que você teve um começo difícil com Aya, mas ela é a mais velha de sete filhos e ajudou a criar seus últimos três irmãos."
“Não olhe para aquela porta como se estivesse planejando fugir."
Gômer sentiu as bochechas queimarem, envergonhada por seus pensamentos estarem tão evidentes.
“Você vai ficar bem." Yuval inclinou o queixo de Gômer e encontrou seu olhar.
“Toda nova ima luta com suas emoções. É mais difícil para você, porque ... você está tentando fazer isso sozinha."
A raiva borbulhou dentro dela.
“Eu tenho que fazer isso sozinha. Não tive escolha."
“Temos poucas opções na vida. Faça os importantes com sabedoria, filha. " A agitação de Jezzy recomeçou e Yuval saltou e dançou.
“A primeira escolha importante é deixar Aya ajudá-la a cozinhar e cuidar de Jezreel. Estamos em plena colheita do figo, e não tenho condições de ajuda-la mais."
Gômer cerrou os dentes e segurou a resposta, movendo-se para a pilha de tapetes de pele.
Ela puxou um dos tapetes e sentou de costas contra a parede, pronta para amamentar seu bebê.
“Obrigado, Yuval. Pode deixa-lo comigo."
Ela recebeu o pacote chorão, inalando seu doce aroma, e Yuval se sentou perto deles.
“Diga-me a verdadeira razão pela qual você não quer que Aya a ajude. Aya será recompensada quando Oséias voltar. Tenho certeza de que ele tem o suficiente para sustentar uma babá."
“Eu nunca pediria que você e Amós pagassem pela minha babá."
“Não sei nada sobre as posses de Oséias, mas tenho certeza de que Aya nunca concordaria em vir. Ela é mimada demais pra isto. Eles podem bicar ela até a morte se ela entrar na casa da prostituta." Ela não ousou dizer a Yuval que poucos dias antes do nascimento de Jezreel, Oséias quase implorou a Gômer que pedisse a ajuda de Aya.
Yuval alisou seu cabelo, da mesma forma que Merav costumava fazer.
A garganta de Gômer apertou, mas ela engoliu a emoção.
“Você não é mais uma prostituta. Acho que julgou Aya mal. É verdade que ela foi criada no acampamento, então ela conhece bem as galinhas velhas, mas ela não é uma delas. " Com um tapinha suave em sua bochecha, Yuval gemeu e balançou de joelhos e finalmente de pé.
“Esses ossos velhos não funcionam como antes." Ela coçou Sampson entre as orelhas e caminhou em direção à porta.
Gômer deu um suspiro.
“Você vem?"
“Amós viaja hoje. Depois do jantar eu voltarei e trarei Aya comigo."
Gômer assentiu, mas permaneceu em silêncio.
Não adiantava discutir.
Yuval faria o que quisesse.
“Espere!" ela gritou antes de Yuval fechar a porta.
A velha enfiou a cabeça de volta para dentro.
“Oséias disse que se Aya me ajudasse, eu estaria livre para trabalhar na loja de cerâmica novamente." Era tanto uma pergunta quanto uma declaração.
Ele contou a mais alguém sobre o generoso plano?
“Se seu marido disse isso, ninguém no acampamento pode argumentar contra isso." O brilho nos olhos de Yuval voltou quando ela fechou a porta atrás de si.
O pensamento de voltar ao trabalho na olaria reanimou seu espírito.
Ela sussurrou para seu bebê: “Eu te amo, Jezzy, mas não fui feita para ser uma ima."
E então, como se a própria deusa mãe falasse debaixo do colchão, Gômer soube o que devia fazer.
Ela acariciou a bochecha de Jezzy, vendo esse milagre da vida extrair seu leite.
A mãozinha dele envolveu seu dedo e ela se emocionou.
Que presente precioso.
Ela poderia desistir da alegria de amamentar seu filho para mantê-lo com ela para sempre? Uma lágrima desceu por sua bochecha.
“Ouça-me, Senhora Aserá", ela sussurrou com o coração partido.
“Sacrificarei o tempo com Jezzy para aprender o ofício da cerâmica. Por favor, abençoe uma ama com seu néctar vital quando eu amarrar meus seios para secar o leite."
“E, por favor, deusa mãe, ajude sua serva a aprender com o mestre Amoz, para que eu possa ganhar prata suficiente para tirar meu filho desta prisão dos profetas do Senhor."
A mão direita de Gômer se fechava a cada movimento no ídolo de pedra.
A cerâmica polida precisamente no estágio certo assegurava o brilho que ela notara em sua primeira visita a Jerusalém.
Amoz começou a dar tarefas mais complexas. Ela havia provado seu talento com o barro.
“Você nasceu para isso", ele disse um dia depois que ela deixou um vaso com um brilho cintilante.
Ela sorriu com a lembrança, olhando para o velho oleiro.
O homem de poucas palavras tornou-se querido por ela.
Depois de cinco ciclos lunares na olaria, ela se sentiu como uma pessoa normal novamente.
Seu corpo havia retornado, fazendo com que os pastores, apanhadores de figo e carpinteiros parassem para olhar - para o deleite e desespero das galinhas velhas.
Deleite porque fornecia assunto para as fofocas.
Desespero, porque alguns dos que olhavam eram seus maridos.
Gômer, no entanto, estava interessada em apenas um homem.
Ele visitava a olaria todas as tardes - embrulhado em um cobertor, nos braços de Aya.
Jezzy cumprimentou Amoz e Gômer com um sorriso de um dente.
“Como está o homenzinho da ima?" Gômer perguntou.
Aya deu uma risadinha.
Os pés de Jezzy chutaram e ele gritou de alegria.
O coração de Gômer disparou.
“Ele ama sua ima", disse Amoz, dando outro chute na roda.
Gômer viu os olhinhos brilharem.
Aya mexeu nos cachos escuros de Jezzy e trocou um sorriso com Gômer.
“Ele está meio agitado hoje. Acho que está tentando conseguir mais um dente. Ele está sugando isso. " Ela tocou uma pedra lisa com um buraco no meio, amarrada ao pulso dele.
Gômer sorriu e levantou uma sobrancelha.
“Presentinho de Savta Yuval?"
Aya assentiu.
“Ele veio com suprimento de pasta de figo para dois dias para adoçar." Ela entregou a Gômer o copo de barro com o junco oco que Jezzy usava para beber o leite materno.
Gômer deixou a mamadeira de lado e beijou o nariz de Jezzy.
“Sua savta mima você, pequenino!" Ela o abraçou, sentindo o calor do momento.
Obrigada, Deusa Mãe, por responder à minha oração.
Aya serpenteou até Amoz e se ajoelhou ao lado da roda.
“Que peça é esta?" ela perguntou, apontando para a ânfora em que estivera trabalhando o dia todo.
“É poeira e cinzas em comparação com você, doce menina." O mestre ceramista sorriu e piscou para sua futura nora.
Aquela garota lançara um feitiço sobre os dois homens na vida de Gômer.
Jezzy era bem cuidado e amado, e Amoz disse em poucos minutos mais palavras para Aya do que pra ela o dia todo.
Gômer errou ao comparar a garota como as fofoqueiras e hipócritas do campo.
Naqueles primeiros dias de serviço de Aya, ela havia se mostrado bem agradável e Gômer teve que engolir seu orgulho e pedir desculpas.
“Está tudo bem", disse Aya.
“Eu fiz por merecer. Nunca deveria ter falado do seu passado naquela manhã, mas não sabia o que dizer."
“Você é a mulher mais bonita que eu já vi."
Yuval riu alto quando Gômer retribuiu o elogio.
“Talvez Aya seja mais perigosa do que eu pensava. Tem certeza de que ela não estava engordando você para o abate?"
Gômer sorriu, seu coração doendo ao pensar em Yuval.
Ela não teria sobrevivido sem a ajuda dela - ou de Aya.
Ha vários dias não via Yuval.
A colheita do figo havia começado e a mulher estava em constante movimento.
“Gômer?" Aya falou do outro lado da oficina do oleiro.
“Você está bem?"
Ela enxugou uma lágrima.
“Estou bem." Gômer acenou para longe sua preocupação e apoiou Jezzy em seu quadril.
“Sinto falta da companhia de Yuval quando a temporada de figos começa."
“Você quer que eu cuide de Jezzy um pouco mais esta noite?"
Vou tentar vê-la no celeiro de figos quando sair daqui."
Aya colocou a mão no ombro de Amoz, para tirar sua atenção do trabalho.
“Você vai conseguir jantar comigo, ou vai trabalhar até tarde hoje à noite?"
Ele colocou os dois pés na roda, diminuindo a rotação.
“Eu nunca recuso uma refeição com minha filha." Ela se inclinou e beijou sua bochecha.
Um sorriso se formou em seu rosto - como o barro tomando forma sob suas mãos.
Aya caminhou em direção a Gômer e Jezzy.
Aquela imagem ficaria gravada na mente de Gômer para sempre.
Braços abertos.
Coração aberto.
A inocência em pessoa.
O amor de Aya era genuíno.
Era uma vivo e afetava todos ao seu alcance.
Era convidativo... e aterrorizante.
Como Gômer juntaria prata para deixar aquele lugar, se ela decidisse amar Aya e Yuval?
Ela empurrou Jezzy nos braços da garota.
“Estarei em casa o mais cedo possível."
“Diga a Yuval que eu disse shalom!"
Gômer ouviu as palavras de Aya enquanto descia as escadas, e acenou.
Saiu pela porta e entrou no calor sufocante do verão de Tecoa, mantendo a cabeça baixa e as pernas agitadas.
Ela estava na metade do caminho para o celeiro de figueira quando percebeu, Aya se lembrará da xícara de barro de Jezzy? Jezzy precisava disso para suas refeições matinais e antes de dormir, e Gômer sempre o alimentava durante essas horas.
Aya não lembraria da mamadeira.
Um suspiro derrotado escapou.
Ela teria que voltar para a olaria.
Aya e Amoz já teriam ido embora agora.
O sol tocou as montanhas no oeste.
Se ela se apressasse, poderia pegar a mamadeira, visitar Yuval e chegar em casa antes do anoitecer.
Ela acelerou o passo e chegou à olaria, surpresa ao encontrar tudo escuro e vazio.
Ela espiou dentro e ouviu alguns trabalhadores remanescentes.
Tudo estava quieto - exceto por um leve brilho no sótão.
Ela caminhou na ponta dos pés até as escadas e prendeu a respiração, ouvindo.
Conheço esse som, mas não pode ser.
Ela subiu devagar os degraus, silenciosamente, e chegou ao topo.
Creque!
Amoz parou de cantar em seu altar rudemente construído para Aserá.
O que você... - por que voltou? Ele pulou de joelhos para cobrir seus ídolos, o medo estampado em seu rosto.
Ela apontou para a mamadeira de Jezzy.
“Eu precisava conseguir ..." Mas suas palavras desapareceram no silêncio.
“Alguém sabe?"
Ele apertou a mandíbula.
“Você vai contar?"
“Não vou contar a ninguém, Amoz." Ela viu sua ousadia desaparecer.
Você é a esposa de um profeta."
Gômer sentou-se num degrau, sentindo seus joelhos tremerem tanto quanto suas emoções.
Ela ousaria confiar a este homem - qualquer homem - que ela também adorava Asherah? Certamente ele tinha tanto a perder quanto ela.
Ela percebeu que Amoz a estava estudando.
“Você adora a mãe da abundância também, não é?" A descoberta encheu seu rosto de admiração.
Ela nunca o vira tão feliz.
Incapaz de conter uma risada, ela disse: “Sim, Amoz. Há quanto tempo você mantém este segredo?" Maravilha, curiosidade, espanto - ela tinha tantas perguntas para aquele homem pagão vivendo entre os profetas do Senhor por quase vinte anos.
“Uzias sabe, mas prometemos manter o segredo. Quando eles mataram o irmão de Uzias, meu irmão, por idolatria, ameacei deixar Judá e levar Isaías comigo. Uzias não permitiu. Ele nos trouxe para o acampamento dos profetas."
“Desde então tenho pouco a falar com Uzias. Tenho pouco a dizer sobre qualquer coisa."
“Isaías sabe ..."
Não se atreva a contar pra ele!
O tom de sua voz a surpreendeu.
“Eu não contaria, Amoz. Não vou contar."
Ele olhou para baixo;
O silêncio tomou conta.
“Por que você não correu?" Sua voz era como uma trombeta.
“Por que não levar Isaías ao Egito ou Damasco? Seu talento poderia ter proporcionado uma vida lucrativa. "
Ele deu uma risada triste.
“Onde um homem pode escapar de Senhor? Posso não adorá-Lo como um deus, mas não posso negar que Senhor é poderoso. Quando vocês me levaram à casa de Uzias, fui lembrado do que acontece com aqueles que desagradam o deus de Judá."
Gômer tinha um nó na garganta.
“Amoz, quero sair do acampamento dos profetas e levar Jezreel comigo."
O medo voltou.
Não posso me envolver em nenhuma conspiração contra o Senhor.
Prometi deixá-Lo em paz, e até agora Ele nos deixou ilesos."
“Mas e quanto a Aya? E seus filhos? Você não quer que seus netos conheçam a deusa mãe?"
Ele torceu a cara e estendeu a mão para ajudar Gômer a se levantar.
Manterei meu voto de silêncio.
Mas se o seu marido arrasta Isaías para as fogueiras do altar com essa profecia absurda ... "Suas últimas palavras foram murmuradas, e Gômer ouviu apenas:“ Tolice ... absoluta tolice ". Ele voltou ao altar, aninhando a deusa em seu esconderijo.
Gômer sabia que a conversa havia terminado.
E sobre seus planos de escapar com Jezreel? Eles foram esmagados como a pilha de cacos em que Amoz escondeu sua adoração? Ela desceu as escadas, olhando para trás, para a única pessoa no acampamento que compartilhava sua fé em Asherah.
Um homem tanto temor do Senhor que não conseguia falar com seu próprio filho.
Quem era esse deus de Oséias? E por que Ele a atormentou assim?
22
2 Reis 15:8-9
Zacarias, filho de Jeroboão, tornou-se rei de Israel em Samaria e reinou seis meses.
Ele fez o que o Senhor reprova, como seus antepassados haviam feito.
Isaías derrubou uma caixa cheia de galinhas de uma carroça, causando um tumulto terrível no portão da cidade de Tirza.
Oséias se escondeu atrás de uma carroça cheia de tapeçarias, e Isaías se agachou ao lado dele.
Os profetas passaram despercebidos por duas sentinelas distraídas.
Eles estavam no coração de Israel ha mais de sete luas e se tornaram extremamente impopulares com as tropas e autoridades de Jeroboão.
Depois de testemunhar repetidas abominações, Isaías perguntou: “Por que o Senhor já não pôs Israel de joelhos?"
Oséias não tinha resposta.
Ele proclamou a mensagem do Senhor - o juízo de Jezreel. Ele lembrou-se do rosto de seu filho a cada menção de seu nome.
Ele havia pregado em Gibeon, depois Mizpá e Timna.
“O Senhor disse: seu filho se chamará Jezreel; porque irá punir os descendentes de Jeú pelo massacre cometido naquele vale. O Senhor porá fim ao reino de Israel. Naquele dia, Ele quebrará os arcos e flechas de Israel no vale de Jezreel."
Em todas as cidades e vilas as pessoas riam e zombavam.
Alguns jogavam pedras e comida podre nele.
O temperamento esquentado de Isaías quase os levou pra cadeia em duas aldeias.
Por que, Senhor? Por que devemos continuar a advertir essas pessoas ingratas? O choro de seu bebê recém-nascido assombrou seus sonhos.
A expressão vazia de Gômer atormentava seus pensamentos.
Ela estaria em Tekoa quando ele voltasse? Certamente Yuval a teria convencido a ficar.
“Abram caminho para o general de Israel!" Um arauto gritou no poço de Tirza.
“O general Menahem vem anunciar notícias do rei Jeroboão em Samaria!"
Isaías acenou com a cabeça na direção de uma carroça em que eles podiam se esconder, mas continuar ouvindo e vendo o general.
Com um suspiro profundo, Oséias seguiu o amigo.
Ele ouvira dizer que Menahem fora designado para Tirza como governador militar da região norte.
A rebelião ocorrida nas montanhas de Efraim forçaram o rei Jeroboão a espalhar seu poder militar por todo o norte de Israel.
Ele e Isaías se agacharam atrás da carroça, escondendo o rosto.
Ja fazia um ano desde que Oséias vira Menahem no julgamento de Gômer em Samaria. Eles haviam chegado longe demais para permitir que Menahem os prendesse.
Um número crescente de soldados ocupou o pátio, e Oséias percebeu que estava cercado - nenhuma forma de escapar depois de proclamar o juízo do Senhor.
Você ficará em silêncio.
Oséias olhou para Isaías, surpreso com a mensagem clara do Senhor.
“Você ouviu?"
Isaías estava absorvido pela concentração no centro da cidade.
“Ouvi o que?" ele perguntou sem desviar os olhos do grande general.
“Olhe para Menahem. Ele parece diferente. Mais velho. Cansado."
Oséias ainda tentava entender por que o Senhor os levaria a Tirza, se ele não deveria profetizar. Quando avistou Eitan, braço direito de Menahem.
Avistar o homem que espancara Gômer encheu o coração de Oséias de fúria.
Como alguém poderia bater em uma mulher e ainda se achar homem?
Eitan ergueu a espada fazendo a multidão calar.
Prestou uma longa reverência a Menaém, e Oséias percebeu que a observação de Isaías estava correta.
O general de Israel parecia abatido.
Menahem subiu devagar no tablado, quase com dor.
As cicatrizes de batalha em seu rosto eram profundas, as sobrancelhas severamente franzidas.
“Trago-vos notícias tristes, povo de Israel." Ele fez uma pausa, inclinando a cabeça para o céu.
Ele estava lutando pra não chorar? “O rei Jeroboão está morto."
A multidão suspirou. Choque e confusão como uma onda no mar.
Isaías agarrou o braço de Oséias.
“O juízo do Senhor começou", ele sussurrou.
Oséias assentiu e fechou os olhos com força.
Obrigado, Senhor, por nos trazer a Tirza para ouvir do próprio Menahem.
“Como ele morreu?" alguém gritou.
Menahem afastou as mãos do rosto.
“O rei morreu dormindo, em paz."
A raiva de Oséias entrou em ebulição.
A profecia de Senhor predisse que a família de Jeú seria punida, não morreria pacificamente em suas camas! Ele voltou um olhar perplexo para Isaías, cuja expressão refletia a sua própria confusão.
Eitan ergueu a espada novamente, calando novamente o povo.
Menahem pigarreou e prosseguiu.
“Zacarias, filho do rei, sucederá seu abba e governará Israel com sabedoria e poder dos deuses. Como comandante das hostes de Israel e amigo do rei Jeroboão, deixe-me assegurar-lhe ... "Ele escalou o poço e desembainhou a espada.
Eitan repetiu o gesto e abriu espaço enquanto Menahem gritou.
“A linhagem dos descendentes de Jeroboão permanecerá intacta. Zacarias governa Israel em Samaria! Um aplauso ensurdecedor surgiu e a arrogância de Menahem ressurgiu. Qualquer dor que o general sentisse parecia alimentar sua determinação, e sua determinação alimentava a depravação do povo."
Flautas e tamborins começaram a tocar.
O choque do anúncio foi abafado pela música festiva, celebração esperançosa e dança.
Oséias sentiu um toque em seus ombros, e notou o corpo de uma mulher pressionando suas costas.
“Que tal lamentar Jeroboão juntos?" um sussurro com odor perfumado.
Oséias levantou-se, pronto para empurrá-la para longe.
Mas ele congelou ao ver a criança que estava diante dele.
Doze, talvez treze anos.
Como Gômer.
Oséias tropeçou na carroça.
O Espírito do Senhor agitou o coração de Oséias.
“Vamos embora", Isaías puxou seu braço. Eles correram pela multidão em direção aos portões de Tirza.
Oséias permitiu que o amigo liderasse, ouvindo a voz do Senhor em um sussurro suave enquanto continuavam na estrada em direção ao sul.
Desde os dias de Adão, eles rejeitaram minhas promessas.
E foram infiéis.
A última palavra ecoou em seu espírito repetidas vezes.
Infiel.
Eles foram infiéis.
Isaías insistiu que parassem em Tifsa, mas Oséias recusou.
Com raiva e medo, ele repetiu a última mensagem.
“Infiel, Isaías. Temos que nos apressar. Eles foram infiéis."
Eles caminharam a noite inteira sem dormir, parando apenas para encher os cantis nas nascentes ao longo do caminho.
A comida acabou antes de chegarem a Ramá.
Isaías sentiu isso também? Ele percebeu que eles deveriam voltar correndo para casa?
Infiel... sido infiel.
Oséias e Isaías chegaram num alto rochoso e avistaram a pequena cidade de Netofá.
Então, mirando para o sul, Oséias apontou para Tecoa, aninhado no vale.
“Quase em casa."
Senhor, dê-nos força.
Ele tinha certeza de que Isaías orava da mesma forma. Depois de três dias sem comida, água e praticamente sem dormir.
Eles estariam em casa antes do pôr do sol, antes do Sabbath.
Senhor, por favor, que Gômer esteja esperando por mim.
Isaías caminhou por um trecho estreito de terreno rochoso.
Ele parou abruptamente, e Oséias se perguntou se seria uma serpente. Parou quando Isaías indicou.
“Ouça."
Ecos de cânticos pagãos ecoaram de um bosque à frente.
Eles haviam se habituado com os sons enquanto viajavam por Israel, mas ouvir aquele tipo de música em Judá ainda soava estranho.
Oséias e Isaías correram em direção aos sons da folia em um bosque de figos ao norte de Netofá.
A música ficou mais alta, e o som de risadas varou a escuridão.
Eles se esconderam ao lado de uma pedra, permanecendo ocultos para assistir a vinte pessoas de Judá trair o Senhor.
Uma sacerdotisa estava ao lado da imagem sedutora de Aserá, recebendo tesouros dos infiéis.
Ao lado, um altar cheio de porções de grãos e animais sacrificados.
Um sacerdote careca acrescentava mais sacrifícios ao fogo.
No centro, jovens sacerdotisas tocavam tamborins enquanto os fiéis dançavam, esperando ser chamados para as tendas na borda leste da clareira.
Cada tenda era guardada por dois grandes soldados.
Um homem saiu da terceira tenda ajeitando o cinto e a túnica, sorrindo.
Um dos soldado apontou para outro homem, dançando.
Ele parou de dançar, se aproximou ansiosamente da tenda para adorar Aserá com a sacerdotisa que o aguardava.
Uma palavra ressoou na cabeça de Oséias.
Infiel.
Infiel.
Infiel.
Como ele se sentiria se Gômer esperasse dentro daquela tenda para “aceitar a adoração" dos patronos homens de Asherah? Nem todas as mulheres nessas tendas eram sacerdotisas.
Algumas eram apenas mulheres cumprindo um voto; meninas demonstrando sua lealdade à deusa ou esposas pagando dívidas de seus maridos.
Judá tinha se tornado tão infiel quanto Israel.
Tomado de zelo, Oséias saiu do mato e entrou gritando na clareira.
“Nããão!" Isaías veio logo atrás, silencioso, mas com uma retaguarda formidável.
A música parou e todos os olhos se fixaram nos dois intrusos.
“Todos vocês são infiéis ao Senhor!" Oséias correu para o poste de Aserá.
“Judá, este não é teu deus!" Ele tomou uma deusa de alabastro na mão de uma sacerdotisa.
“Espere!" ela chorou, mas Isaías bloqueou o caminho enquanto Oséias esmagava o ídolo entre duas pedras.
“Não!" A sacerdotisa caiu no chão, chorando sobre o pó.
Os guardas pareciam congelados. Espada em mãos, mas incapazes de desafiar o profeta da ira do Senhor.
Outros no bosque se afastaram.
“Volte para o Senhor", Oséias implorou a eles enquanto saíam.
Voltem para o templo em Jerusalém.
Apresentem ofertas pelo pecado e volte para o seu Elohim."
A sacerdotisa levantou-se lentamente. Seu rosto era pálido como a poeira de alabastro soprada pelo vento.
“O que é que você fez? Certamente você lançou uma maldição sobre todos nós. "
“O que eu fiz? É você, e outros como você, que invocam a ira de Senhor sobre a nação de Judá. " Lágrimas brotaram de seus olhos.
As prostitutas cultuais com poucas roupas emergiram de suas tendas.
Essas donzelas de Judá partiram o coração de Deus da mesma forma que as meninas em Israel.
Judá também estaria condenado?
Dominado pelo cansaço, ele tombou nos braços de Isaías.
“Precisamos encontrar forças para proclamar mais uma mensagem, meu amigo."
Isaías passou o braço na cintura de Oséias, e eles se apoiaram um no outro.
“Eu sei. Temos que conversar com Uzias - esta noite."
Oséias desceu a colina apoiado nos ombros de Isaías, até o acampamento do rei, observando os sacerdotes preparar a refeição do sábado.
Ao aproximar da casa do rei Uzias, Oséias viu os olhos do rei brilhar ao ver Isaías.
Seu sorriso desapareceu quando eles se aproximaram.
Impuro!" soou o familiar refrão, e os criados interromperam suas atividades em busca dos visitantes.
“Bem-vindo ao lar, profeta errante. Que notícias traz de nossos irmãos sem fé no norte?" Oséias ouviu a tensão em sua voz.
Ele estava visivelmente mais fraco.
Oséias retribuiu a saudação do rei, mas permaneceu em silêncio, poupando suas forças para transmitir a mensagem do Senhor.
Quando se aproximaram, Isaías ajudou Oséias se sentar no tapete de audiências e começou a falar antes que o profeta tivesse chance.
“Trazemos notícias de Israel, primo. Mas não se compara ao que acabamos de testemunhar no solo de Judá."
Oséias ficou surpreso quando o comandante Hananias apareceu.
Uzias deve ter notado sua surpresa.
“Seu retorno é bastante oportuno. Hananias chegou com notícias de Jerusalém ". O principal soldado de Judá pigarreou e lançou um olhar de advertência ao rei.
Uzias não deu atenção ao sinal do comandante e continuou sua explicação.
“Planejamos uma coalizão de nações - dezenove no total - para que Judá possa fazer frente à ameaça Assíria."
“Judá será destruído - independente de qualquer coalizão - se o povo continuar a adorar nos lugares altos, meu senhor", disse Oséias categoricamente.
O rosto do comandante Hananias empalideceu, mas Uzias permaneceu calmo.
“Isaias disse que vocês testemunharam algo enquanto viajavam pra casa. O que despertou sua paixão, Profeta?"
Oséias sentiu o peso de sua exaustão.
“Peço que você deixe falar sem interrupção. Chegamos de uma longa jornada e precisamos de comida e descanso."
O rei assentiu.
“Como quiser, meu amigo."
“Primeiro, trago notícias da morte do rei Jeroboão -"
Uzias ofegou.
“Como?" A voz de Hananias retumbou.
“Como disse, me deixe falar, e darei mais detalhes mais tarde."
Uzias hesitou, franziu as sobrancelhas, mas acenou com a cabeça para que Oséias continuasse.
O comandante sentia que sua cabeça iria explodir.
“Obrigado. Estávamos em Tirza quando o general Menahem anunciou a morte do rei, e Zacarias, filho de Jeroboão, assumiu o trono de Israel."
Uzias trocou um olhar com Hananias, mas, fiel à sua palavra, manteve os lábios fechados.
“Acabamos de chegar de Netofá. Estivemos em um bosque secreto dedicado a Aserá."
A expressão de Uzias ficou nublada.
“Quebrei o ídolo e dispersei os adoradores, mas, a menos que os altares sejam exterminados, a idolatria persistirá. E Judá cairá sob o mesmo julgamento que Israel."
Uzias lançou um olhar frio para seu comandante.
“Por que existe um bosque sagrado em Netofá?"
O olhar de Hananias não vacilou.
“Designei todos homens disponíveis para destruir altares pagãos. Não tenho soldados suficientes para patrulhar fanáticos religiosos quando meu dever principal é proteger a nação. " Suas palavras finais foram apontadas como flechas para Oséias.
“Você não terá soldados - e nenhuma nação para proteger - se os chamados fanáticos religiosos não forem detidos." Oséias mudou seu olhar para o rei.
“O comandante dos exércitos de Judá não foi comissionado pelo Senhor para conduzir a nação à obediência."
O sol estava se pondo. Oséias sabia que Uzias poderia anunciar o início do sábado a qualquer momento, terminando o encontro.
“Você deve destruir os lugares altos, primo." A voz de Isaías era gentil, mas firme, e Uzias pareceu subitamente sobrecarregado.
“Vocês precisam ser razoáveis. Alguns dos lugares altos foram convertidos em altares pagãos; mas muitos escolheram adorar o Senhor nos lugares altos porque tem medo de entrar no templo. Se eu destruir os lugares altos, onde o povo adorará a Senhor? Eles estão horrorizados com a ira do Senhor sobre mim! Nem mesmo meu próprio filho Jotão entrará no templo para se sacrificar! Você não vê? Se eu tirar seus lugares altos, eles se afastarão completamente do Senhor! "
“Isso é mentira!" O brado de Isaías irrompeu sem aviso.
“Hananias disse isso a você, ou foi o sussurro dos deuses falsos que enganam sua nação?"
Oséias viu a expressão ferida do rei e acalmou o amigo: “A menos que você receba uma palavra específica do Senhor, não faça disso sua luta pessoal, Isaías. Mantenha seu relacionamento com Uzias intacto."
O olhar de seu amigo ainda ardia, mas ele assentiu e pressionou os lábios.
“Demonstre seu amor pelo Senhor", disse Oséias, voltando sua atenção ao rei de Judá.
“Testemunhe para a nação seu respeito pela santidade de Deus e deixe de tolerar o adultério espiritual."
Uzias demonstrava estar numa luta interior.
Oséias acalmou-se, pedindo ao Senhor mais palavras que pudessem convencer o rei de Judá.
Infiel. Infiel. Infiel.
Oséias lembrou-se das prostitutas do santuário emergindo das tendas.
Seu coração torceu ao imaginar Gômer em uma vida assim.
Ele se levantou antes do apelo final.
“Imagine um membro da sua família adorando Aserá. Imagine como seu coração ficaria com tamanha traição."
Os dois profetas se levantaram e voltaram para o acampamento, ouvindo os soluços silenciosos do rei dando as boas-vindas ao sábado.
23
Oséias 2:8
Ela não reconheceu que fui eu quem lhe deu o trigo, o vinho e o azeite.
Quem a cobriu de ouro e de prata, que depois usaram para Baal.
O silêncio pairava pesadamente entre Oséias e Isaías enquanto eles se concentravam nos passos finais até chegar em casa.
Ao anoitecer, eles entraram nos portões do acampamento. Isaías deu um longo suspiro.
O Senhor lhe disse o que esperar em casa?"
Oséias balançou a cabeça, exausto demais - assustado demais - para falar.
Eles pararam no portão de Oséias.
“Quer que eu vá com você?" Perguntou Isaías.
Oséias assentiu, agradecido por ter um amigo como Isaías.
Ele olhou para a fila arrumada de casas.
Amós, de um lado, e Jonas, do outro.
Familiar.
Sem alterações.
Ao entrar pelo portão Oséias inspirou profundamente.
$HOME
As figueiras.
A brisa do deserto.
O pequeno estábulo.
Era bom estar em casa.
Isaías aguardava no portão, enquanto Oséias abria a porta de casa.
Eles trocaram um olhar ligeiro.
O coração de Oséias parou.
A mesma música que eles ouviram no bosque de Aserá.
Dessa vez, a voz de Gômer conduzia a música.
Os profetas perceberam ao mesmo tempo.
Oséias sentiu sua cabeça cair, derrotado.
Derrota era o sentimento exato daquele momento.
“Vá para casa, meu amigo."
Isaías olhou para cima. Seus olhos cheios de lágrimas.
“Tem certeza de que quer enfrentar isso sozinho?"
O canto parou.
Ela deve ter ouvido.
As emoções de Oséias rodopiavam.
Ele estava prestes a pedir a ajuda de Isaías quando uma brisa levantou os cabelos de seus ombros e paz encheu seu espírito.
O Senhor.
Isaías reconheceu a presença do Senhor e sorriu.
Oséias riu.
“Não estou sozinho. Saberei o que dizer."
Isaías colocou a mão em seu ombro e se foi.
Oséias respirou na presença de Deus e abriu a porta.
Não havia ninguém na sala, e ele notou algumas mudanças.
Um balde para as fraldas sujas de Jezreel na porta da frente, e vários brinquedos de madeira espalhados pelo chão.
O bebê estava engatinhando.
Ele pensou no que havia perdido do desenvolvimento do filho.
Ele tirou a embornal, jogando no chão.
“Gômer?"
Sem resposta.
Andou na ponta dos pés até o quarto, mais para evitar os brinquedos do que para permanecer em segredo.
“Gômer?"
Ela estava sentada no colchão, segurando a Aserá.
“Não vou esconder mais." Seus olhos brilharam com o mesmo desafio que estava em sua voz.
“Você precisa saber a verdade, Oséias. Orei para Aserá na noite em que Jezzy foi concebido. Ela estava escondida sob este colchão e abençoou nossa união. É para Aserá que eu ofereço meus sacrifícios."
Cada menção a Aserá era como uma facada em sua alma.
“Onde você conseguiu isso? Eu sei que você não trouxe de Samaria. "
Ela disparou da cama como uma flecha, inclinando-se para ele.
“Comprei em Jerusalém - com a sua prata - depois que vi seu deus punir um rei justo. Estava escondido no bolso ao lado da sua adaga em Jerusalém!"
A ira se acendeu em Oséias.
Alguma coisa que eles compartilharam era verdade? Ele deu um passo à frente, movendo Gômer para trás.
“Se você quer adorar uma mentira, que assim seja, mas você não dará a glória do Senhor e a um pedaço de pedra. Olhe ao seu redor, mulher. Conte as cestas de grãos, as peles de vinho, os jarros de óleo. Não é este ídolo patético que forneceu seu pão, roupas e abrigo. Foi o Senhor!" ele trovejou.
“E ainda assim, você pega a prata que o Senhor proveu e a desperdiça neste Asherah impotente." Oséias segurou seu pulso com uma mão e arrebatou a deusa com a outra.
“Não!" Ela gritou.
“Devolva para mim!"
“Se ela é deus, que se defenda."
Gômer ofegou.
“Como ousa blasfemar contra a deusa mãe -"
“Como você ousa mentir para mim a cada respiração." Sua voz falhou.
Infiel.
A mensagem do Senhor era tanto para ele quanto para Judá.
Uzias recusou-se a destruir os altos. Oséias não cometeria o mesmo erro.
Ele jogou a Aserá na parede do quarto.
A queda foi seguida pelo lamento de Gômer.
Ela se ajoelhou para juntar os cacos enquanto seu coração sangrava.
“Onde está meu filho?"
Sem resposta.
“Onde está Jezreel?" ele gritou.
“Com Aya", disse ela sem erguer os olhos.
Ela sempre o odiaria? Desafiaria para sempre sua autoridade como marido dela?
Oséias se lembrou das palavras do Senhor a Jeroboão.
Não há fidelidade, amor ou conhecimento de Deus na terra.
Oséias sentou-se no chão frio e chorou - por Israel, por Judá, pelo Senhor, por sua esposa.
Senhor, ensina-me a amar como Tu amas.
Gômer sentiu a língua espinhosa de Sansão lambendo seus dedos.
Ela abriu um olho, consciente da dura realidade de sua nova vida.
Oséias estava de volta ha uma semana. Gômer decidiu dormir nos tapetes da sala.
Suas costas doíam, mas pelo menos ela não precisava olhar para Oséias de manhã e a noite.
Ela quase não o viu.
Ela sentou-se, ouvindo o balbucio de Jezzy.
Todos permanecem em silêncio.
Vestiu seu roupão, pegou um pedaço de pão e queijo, embrulhou num pano e enfiou no bolso.
O almoço.
Ela tomou um gole de leite de cabra da noite passada.
Quase azedo.
Ela olhou o copo de leite, pensou em jogar fora ou guardar para cozinhar.
Então ela ponderou uma escolha semelhante para sua existência rançosa - desistir ou salvá-la? Oh, como ela gostaria de ter Lady Asherah para orar.
Talvez Amoz conseguisse comprar uma nova pra ela. Como ela conseguiria o dinheiro?
A voz grave de Oséias a assustou, e ela derramou leite de cabra por toda a mesa.
Ela grunhiu e limpou tudo com um pano, recusando-se a reconhecer a presença dele.
“Estou em casa ha uma semana, Gômer. Você precisa falar comigo algum dia."
Ela bateu o pano na mesa.
“Talvez, mas só vou falar com você quando for necessário." Suspirando, ela tentou acalmar os nervos.
Não conseguia pensar com ele olhando daquele jeito.
“Por que você está indo para a olaria tão cedo?" Oséias insistiu.
Jezzy ainda dormia no quarto.
Aya cuidava dele todos os dias.
E Gômer trabalhava o dia todo na olaria.
“Você costuma sair só depois de Jezzy mamar."
A mente de Gômer pensou uma desculpa.
Ela não podia dizer que ia falar com Amoz sobre Aserá! “O casamento de Isaías e Aya está a menos de duas luas de distância, e Amoz pediu para ajudar a terminar um projeto especial."
Oséias a estudou.
Ele podia ler a mentira escrita no rosto dela? “Eu amo você, Gômer."
Seu estômago deu um nó.
Amor.
O que é o amor? “Você encontrará um copo limpo perto da pia." Ela agarrou sua bengala e fugiu antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
Os raios de sol iluminavam o caminho principal, e Gômer inspirou profundamente o ar da manhã.
Ela traçou a poeira com seu cajado para alertar as serpentes de sua presença.
Tecoa.
Ela odiava aquele lugar.
Por que ela não foi embora? Porque eu não tenho nada próprio - exceto Jezzy.
O pensamento de abandonar o filho rasgou seu coração.
De qualquer maneira fugir de Tecoa era um sonho ridículo.
Ela estava presa naquele casamento da mesma forma que estava presa ao bordel. A mesma desesperança. Diferentes algemas.
Ela pensou que aprender um ofício a libertaria, mas Amoz deixou claro que ele não dividiria os lucros.
As opções de Gômer eram poucas.
Ela precisava de uma nova Aserá.
Ela apressou o passo, notando três homens puxando uma carroça pelo portão sul, perto da olaria.
“Shalom, e bom dia", disse ela, fingindo alegria.
Os homens eram familiares - carregadores que prestavam serviço a Amoz.
Ela encorajou os olhares e diminuiu o passo, garantindo que seus olhos permanecessem nela.
“O mestre Amoz já chegou?" Ela se aproximou da carroça passando os dedos nas rodas da carroça.
O mais alto dos trabalhadores se aproximou, trocando olhares com os demais.
“Creio que o mestre Amoz ainda não chegou. Vamos para as cavernas ao amanhecer para pegar os potes, então eles estão esperando na loja quando ele chegar. " Ele se aproximou, apenas a um palmo de distância.
Cheirava a suor e vinho, mas Gômer não recuou.
Sorrindo, ele mostrou os dentes amarelados, mas manteve a voz baixa.
“Você não é a esposa do profeta?" Os olhos dele olharam de cima baixo.
“A tal que costumava ser prostituta?"
Gômer olhou para os lados apontando para o homem alto que se aproximava.
“Como você se sente sobre a Lei do Senhor?" ela perguntou.
“Não sou muito religioso." Ele riu e permaneceu abaixado.
“Preciso ganhar um pouco de prata", sussurrou ela, “mas precisaria confiar na discrição de um homem antes de poder revisitar minha antiga profissão". Soprando na orelha dele, ela acrescentou: “Você ou seus dois amigos gostariam de me mostrar as cavernas onde a cerâmica seca? Talvez lá eu pudesse mostrar minhas habilidades únicas - por um preço?"
O homem ficou de pé e engoliu seco.
“A mulher quer conhecer as cavernas onde a cerâmica seca", ele disse aos amigos.
Suas sobrancelhas franziram, confusas. Ele deu uma piscadela de explicação não tão sutil.
“Entreguem este carregamento na olaria enquanto eu levo a senhora para conhecer a última caverna. Depois vocês poderão mostrar as outras cavernas para ela."
Seus companheiros olharam para ele e depois para Gômer.
O coração de Gômer acelerou. A excitação familiar, a emoção do proibido.
Ela mordeu os lábios lentamente.
“Antes de partirmos, devo ter duas coisas." Os homens começaram a assentir antes que ela listasse seus requisitos.
“Você tem que ficar de boca fechada, e eu quero ver seu dinheiro antes de ir."
Dois deles enfiaram a mão no bolso. O terceiro parecia em pânico.
“Minha bolsa ficou em casa."
Gômer foi até o homenzinho nervoso.
“Bem, é melhor você correr para casa antes que seu amigo e eu voltemos." Ela olhou na direção da casa de Oséias.
“Chega de oferecer meus serviços gratuitamente."
24
2 Crônicas 26:21
O rei Uzias sofreu de lepra até o dia em que morreu.
Durante todo esse tempo morou numa casa separada, leproso e excluído do templo do Senhor.
Seu filho Jotão estava no comando do palácio real e governava o país.
Aya estava linda no dia do casamento, e Isaías não conseguia desviar os olhos dela.
Os preparativos do casamento demoraram demais, segundo o noivo, mas a recompensa pela espera estava diante dele, sob linho branco finíssimo e um delicado véu dourado.
Cercados por todos os moradores do acampamento dos profetas, a noiva e o noivo estavam sob o dossel do casamento, a dez côvados da casa do rei Uzias.
Oséias, padrinho do noivo, leu o acordo de noivado:
Hoje, oitavo dia de Chislev, na cidade de Tecoa, Isaías, filho de Amoz, entra neste acordo com Aya, filha de Enoch.
Que Isaías, com a ajuda do céu, honre, apoie e mantenha...
Oséias falou diante da audiência, mas seu coração estava focado em apenas uma pessoa.
“Gômer!"
Ela estava ao lado de Amoz, numa posição de honra, junto da família.
Era dia de celebração - mas ela estava como granito. Sem emoção. Fria.
Amoz enfiou a mão na túnica e entregou a ela um pequeno embrulho de pano.
Quem sabe um vaso ou uma xícara nova.
Talvez um brinquedo para Jezzy.
Ela transferiu Jezzy para o quadril e guardou o tesouro no bolso.
Oséias leu as palavras finais no acordo: “Que este acordo sele o voto de Isaías para se casar com Aya em não menos de um ano, quando ele a confirmará como esposa, de acordo com a Lei de Moisés e Israel."
“Estou grato que o acordo não especificava exatamente um ano, ou eu teria que vagar por Israel sem meu melhor amigo." Risadas bem-humoradas percorreram a plateia, dando ao sumo sacerdote alguns momentos para instruir a noiva e o noivo sobre a próxima parte da cerimônia.
Oséias voltou para o lado de Gômer, Jezzy e Amoz.
Ele embalou o cotovelo de sua esposa e inclinou-se para perto.
“Posso ver o presente que Amoz lhe deu?"
A cabeça dela virou na direção dele.
Era medo ou raiva naqueles olhos castanhos? “Você não pode esperar até que o casamento do seu melhor amigo termine? É apenas uma nova xícara para Jezzy. " Suas palavras sussurradas expeliram veneno, e ela voltou sua atenção para a celebração antes que ele pudesse responder.
Se era uma xícara de barro, por que ela estava tremendo? Por que tão perturbado? A suspeita envolveu seu coração como uma víbora, mas então ele vislumbrou Amoz.
O abba de Isaías era um bom homem.
Quieto e um tanto abatido, mas o que ele poderia dar a Gômer que fosse ofensivo? Oséias apertou os músculos tensos da nuca e suspirou.
Aproveite a celebração.
“Obrigado por se juntar à nossa família para celebrar o dia especial de Isaías e Aya." A voz do rei Uzias aumentou, e Oséias observou Amoz ficar tenso.
Após o término da cerimônia, era costume o abba do noivo se dirigir aos convidados.
Hoje isto não aconteceria.
“Preparamos um banquete de casamento digno de um rei!" A de Uzias se elevou e a platéia aplaudiu.
Hananias, que estava ao lado dele, levantou a espada no ar pedindo silêncio.
“Tenho um anúncio a acrescentar à celebração deste dia."
O príncipe Jotão saiu de dentro da casa e os sons pararam.
“Deste dia em diante", disse Uzias, “meu filho Jotão reina como coregente em Jerusalém!" Ele tentou concluir o anúncio, sem fôlego.
Um aplauso lento e forçado foi a única resposta da multidão.
Jotão parecia que queria voltar para casa correndo.
Isaías e Aya mantiveram a cabeça baixa sob o dossel do casamento.
Amoz xingou baixinho e Gômer olhou para Oséias.
“Fale com Uzias."
Os convidados tomaram seus lugares na festa.
Jezzy estendeu os braços para o pai e o coração de Oséias derreteu.
Seu filho tinha se apegado muito a ele desde que voltara pra casa.
Ele pegou o garoto e aninhou em seu colo.
Gômer seguiu Amoz sem olhar para trás.
Oséias parecia um peixe nadando contra o fluxo, caminhando na direção ao rei enquanto todos os outros se afastavam.
Hananias e Jotão ficaram.
Oséias ficou embaixo do dossel do casamento. Naquele dia o tapete de audiências havia sido retirado.
“Shalom, meu senhor", disse ele ao rei e os outros presentes.
“Isaías se casou com uma linda noiva." Uzias parecia ansioso para manter a conversa leve.
Oséias não viu necessidade.
“Estou intrigado com o momento escolhido para seu anúncio, meu rei."
Uzias hesitou e Oséias sentiu um turbilhão interno.
“Venha para que possamos conversar em particular."
Você conhece a Lei.
Eu não posso."
“Você ama seu filho, Oséias?" A expressão de Uzias era enigmática, e um pressentimento obscureceu o espírito de Oséias.
“Claro. Da mesma forma que o senhor ama Jotão."
“Como o rei Jeroboão sem dúvida amava Zacarias, seu filho." Seus olhos quase perfuraram a alma de Oséias.
Oséias pensou cuidadosamente em cada palavra, procurando a mensagem oculta de Uzias.
O silêncio pairava entre eles e Jezzy ficou inquieto.
Oséias o acalmou, beijando sua testa, prometendo um doce de figo de Yuval.
O menino se contorceu e ficou rígido. Precisava de espaço para brincar.
“Jotão", disse Uzias, “você levaria o filho de Oséias para sua ima? Hananias irá acompanhá-lo. "
“Mas abba, preciso ouvir o que você diz ao profeta -"
“Por favor, Jotão. Faça o que eu pedi."
Oséias entregou o filho ao novo coregente.
“Ele é meio desconfiado. Segure a mão dele."
Jotão sorriu.
“Eu tenho um filho desta idade. Seu nome é Ahaz - cachos ruivos e temperamento à altura. " Ele colocou a mão no ombro de Oséias.
“Eu vou cuidar dele." Cautelosamente, ele se aproximou de Jezzy.
“Ei, pequenino. Vamos encontrar sua ima."
Hananias os seguiu em posição de escolta.
Quando ja estavam fora do alcance, Uzias falou em voz baixa.
“O amor de um rei não pode manter seu filho seguro para sempre, Oséias."
“É o rei Zacarias -"
“O jovem rei de Israel ainda se senta no trono de seu abba, mas meus espiões dizem que os conselheiros de Jeroboão planejam matar Zacarias."
Os próprios amigos de Jeroboão - homens que viram o menino crescer.
“Zacarias governou Israel por apenas alguns sábados. " A voz de Uzias vacilou.
“E quanto ao meu filho? Meus conselheiros?" Ele se apressou, sem esperar por uma resposta.
“Trabalhei duro para preparar Jotão para o trono. Quando os sacerdotes começaram a ensinar a Lei ele era um pouco mais velho que Jezreel. Agora ele tem medo de entrar no templo por causa da ira do Senhor contra mim."
“O castigo do Senhor durará para sempre? Meus conselheiros vão trair a mim ou a meu filho?" Desta vez, ele esperou, quase desafiando o profeta a permanecer em silêncio.
“Gostaria de saber as respostas, meu amigo."
“Por que você não responde?" Ele cuspiu as palavras. Era mais uma acusação do que uma pergunta.
“Peça ao Senhor. Descubra o plano Dele. Você e Amós profetizaram que Israel seria destruído e levado para o exílio. Preciso saber se a Assíria se moverá agora, enquanto o poder de Israel está dividido. Atacarão também ao sul, em Judá?"
Oséias balançou a cabeça. Sua própria frustração aumentava.
“Não é assim que funciona. Se eu pudesse gritar com os céus, perguntando o que quisesse, não acha que já teria algumas respostas agora?"
O olhar do rei ficou confuso, mas ele se conteve.
Alguma coisa muito séria derrotou o outrora grande rei de Judá.
“Se os profetas do Senhor não têm respostas, como poderei salvar esta nação - ou meu filho?"
A pergunta do rei foi um tapa em Oséias.
“Profetas são meros mortais. Você nunca será capaz de salvar Judá ou seu filho. Mas Senhor tem todas as respostas e prometeu salvar a todos nós. " A cabeça de Uzias caiu para a frente, e Oséias percebeu sua frustração.
“Precisamos permanecer fiéis, meu amigo, e confiar no Senhor para proteger aqueles que mais amamos."
“Se eu não soubesse melhor, poderia pensar que você estava me evitando." Yuval olhou para Gômer enquanto alisava a massa de cevada com as mãos.
“Você teria me chamado se Aya estivesse disponível?"
“Desde quando você precisa de convite?" Gômer sorriu e beijou a bochecha da mulher. O aroma de coentro aqueceu seu coração.
Ela sentia falta da amiga.
“Você tem viajado com Amos." Ela fez uma pausa, considerando a ligeira carranca de Yuval.
“Por que é que? Você me disse que nunca viajou com Amos. Por que começar agora?"
Gômer puxou um tapete pra deixar Jezzy.
Deu alguns brinquedos para mantê-lo ocupado e Sansão se juntou a eles.
Yuval parecia escolher as palavras com cuidado. Então um sorriso travesso e um brilho iluminaram seus olhos.
“Uma velha não pode querer um pouco de aventura?" Uma pequena risadinha passou entre elas.
“Amos me convidou para me juntar a ele, e estou sozinha desde que você está trabalhando mais na loja de cerâmica." Ela parou de fazer pão e capturou o queixo de Gômer, examinando as janelas de sua alma.
“O que o mantém tão ocupado na loja de cerâmica? Eu vim tão cedo quanto o amanhecer, e você já se foi. O que você poderia fazer tão cedo?"
Gômer se afastou e pegou um dos brinquedos de Jezzy, feliz pela distração.
Yuval a conhecia muito bem.
E se ela enxergasse a culpa em seu rosto? “Trabalho com o polimento das peças. Uma técnica que Amoz me ensinou. Pego uma pedra pequena e lisa pra polir cerâmica."
Yuval voltou ao preparo do pão, colocando os discos na superfície externa do forno.
Aliviada, Gômer suspirou e começou a brincar com o cabelo de Jezzy.
Ela amava Yuval e era grata por sua ajuda, mas temia que a notícia de seus “negócios" tivesse se espalhado.
Ela não podia perguntar se Yuval ouvira alguma fofoca.
Se ela continuasse falando sobre o trabalho na olaria talvez descobrisse alguma coisa.
“Amoz, preciso lançar meu primeiro pote na roda."
“Oh meu Deus!" Yuval ergueu os olhos.
“Não tenho certeza se gosto deste trabalho, querida."
Gômer riu e Jezreel bateu palmas.
Yuval ficou... "
“Não, não, Yuval. 'Lançar um pote' significa pegar um pouco de argila e colocar na mesa giratória. E então com as mãos molhadas você transforma essa argila em um pote."
“Oh! Bem, posso ver por que meu comentário soou tão bobo. " Ela piscou e virou os pães de cevada para dourar do outro lado.
“Então, você gosta de trabalhar a argila? Você não sente falta de estar em casa com a pequena Jezreel?"
“É claro que sinto falta, mas Aya cuida bem dele. E sim, eu realmente gosto do meu trabalho. " O coração de Gômer bateu forte.
Ela amava aquela querida mulher e decidiu que não queria saber quais fofocas Yuval ouvira sobre ela.
“E se você? Você gosta de suas viagens com Amos?"
“Nos divertimos muito, querida. Agora, me conte outra vez, por que você passa tanto tempo na olaria? Ela pegou a panela de lentilhas."
“Jezreel tem quase um ano e precisa de sua ima."
Gômer permaneceu em silêncio, observando a amiga assar a carne na fogueira.
“Aya tem sido um presente de Deus", disse ela, engolindo seco.
Seu estômago revirou de nervoso.
“Estou mais em casa agora que ela e Isaías estão casados." Como ela poderia dizer a Yuval que iria embora na primavera se sua prostituição continuasse a pagar bem? Ela levaria Jezzy com ela ou poderia partir sem ele? Ela já havia economizado uma bela soma de prata.
Yuval se inclinou sobre a mesa.
“Ficaria feliz em retomar nossas aulas de culinária, filha. Como esposa e imã, você deve aprender a alimentar sua família. " Seus olhos estavam cheios de amor, mas a repreensão doeu.
Gômer não queria alimentar sua família.
Ela queria emoção, aventura.
Ela queria o amor de um homem.
Isso foi tão terrível? Tão insondável? Seu estômago embrulhou e ela sentiu como se estivesse passando mal.
Sua cabeça girou e ela tentou se concentrar em Jezreel e Sansão.
Yuval olhou para ela, preocupada.
“Gomer, você está pálida. Estou preocupada com você."
“Você está bem?"
Antes que pudesse responder, Gômer levantou Jezreel do colo e vomitou na tigela mais próxima.
Depois de esvaziar o estômago, sentou-se e notou o sorriso radiante da amiga.
“Você está grávida de novo, não está! É por isso que você me convidou - para me contar as boas novas! "
Surpresa pela possibilidade, Gômer avaliou o turbilhão de pensamentos em sua mente - primeiro e acima de tudo, os nomes dos homens com quem ela se deitara e a evidente ausência de seu marido nessa lista.
Não poderia ser filho de Oséias.
Mãe Aserá, por favor, não!
“Você já contou a Oséias?" Yuval pegou Jezreel no colo.
“Ele ficará tão animado!"
“Yuval, não!"
Eu não contei a ele, e não ... "Ela enterrou o rosto nas mãos.
“Ele não ficará animado." Como ela poderia contar a um amigo sobre a traição? O silêncio se estendeu até o constrangimento e, quando ela olhou para cima, viu lágrimas nos olhos de Yuval.
“Eu amo você, pequena Gômer, não importa o que tenha feito. Mas você precisa me dizer a verdade. Nossa amizade merece a verdade."
As defesas de Gômer desabaram sob o peso da bondade de Yuval.
Ela não merecia a verdade.
Ela não merecia saber sobre as inúmeras idas às cavernas de cerâmica. Foram tantos clientes que ela parou de perguntar seus nomes e de notar seus rostos.
Os primeiros clientes tiveram que ser discretos. Os demais perderam a discrição quando experimentaram os talentos de Gômer.
Ela não se importava com referências. Os clientes mais pobres pagavam menos. Ela ganhava no volume.
Mas Merav não estava lá para prover cascas de romã e sementes de cenoura selvagem.
Sem qualquer precaução seu útero se tornou fértil novamente.
Merav.
Gômer olhou para a face da mulher que tanto lembrava sua falecida amiga.
Yuval não merecia a verdade; ela merecia uma bela mentira.
“Oséias está zangado por eu encontrar tanta satisfação na loja de cerâmica." Ela fez uma pausa para formular o resto de seu plano, estendendo a mão para pegar a mão de Yuval.
“Não quero dizer a ele que estou grávida. Ainda não. Primeiro você precisa me ensinar a cozinhar e me tornar uma ima melhor."
Os olhos de Yuval brilhavam de alegria.
“Você tomou uma decisão sábia, filha. Seus filhos são pequenos por um período tão curto, mas você pode jogar e chutar potes pelo resto da vida. " Ela riu, e Gômer sorriu com ela, fazendo uma prece silenciosa ao Asherah escondido sob seu colchão.
Mãe Deusa, me encha com teus encantos para que eu me torne atraente para meu marido novamente.
Se eu não puder tentá-lo, ele me apedrejará como adúltera.
25
Provérbios 6:26
O preço de uma prostituta é um pedaço de pão, mas a adúltera sai à caça de vidas preciosas.
Os dias estavam mais curtos, e Jonas mais fraco.
“Sinto muito, meu filho. Estou cansado demais para continuar."
Oséias se inclinou e beijou sua testa.
“Descanse um pouco. O que quer que Miquéias esteja cozinhando, cheira bem. Posso comer sua parte, Jonah. " Ele olhou para o jovem profeta, notando suas bochechas manchadas de lágrimas, e ofereceu um sorriso conciliador.
Eles compartilharam um aceno triste - um entendimento silencioso de que seu professor e amigo estava morrendo.
Miquéias limpou duas tigelas com um pano que havia jogado sobre o ombro.
“Temos bastante ensopado de legumes. Fique, se quiser. " Ele fungou, enxugando o nariz com o mesmo pano.
Oséias riu.
“Acho que vou para casa. Yuval está cozinhando hoje. Pelo menos eu sei o que ela pôs na comida."
“Como assim?" Miquéias fingiu estar ofendido, desta vez assoando o nariz no pano.
Oséias saiu rindo, mas voltou a ficar sério assim que a porta se fechou.
Senhor, dá-me forças para enfrentar Gômer novamente.
Seu estômago embrulhou.
Por duas luas cheias, ele compartilhava o jantar em frente à esposa num insuportável silêncio.
Eles conversavam com Jezzy, mas raramente diziam uma palavra um ao outro.
Ele esperava que Gômer mudasse, que o Senhor falasse, e a vida melhorasse.
O sol iluminava as figueiras, lançando sombras no curto caminho entre a casa de Jonas e a de Oséias.
Ele bateu o cajado, espalhando poeira e batendo nos arbustos para alertar as serpentes de sua presença.
Uma sombra surgiu á sua esquerda.
A cobra do deserto deu o bote e errou. Depois disparou para o mato.
Oséias foi atingido por um calafrio.
Ele acelerou o passo e pensou em pedir a Yuval um gato para acompanhá-lo nas viagens proféticas.
Sansão havia comido o dobro do seu peso em lagartos e cobras pequenas.
Mesmo assim, o pensamento pareceu ridículo.
Ele sabia que um gato não poderia protegê-lo de uma cobra de um côvado de comprimento. Mas os animais peludos poderiam pelo menos avisar se uma serpente estivesse próxima.
Oséias chegou em casa, levantou a trava da porta e notou sua mão trêmula.
A cobra mexeu com ele.
Ou era o estado debilitado de Jonas?
Ao abrir a porta ele encontrou Yuval e Gômer rindo e... cozinhando.
Uma visão que não tinha testemunhado desde antes da gravidez de sua esposa.
“Shalom, Oséias!" A voz alegre de Yuval o saudou e ele notou o sorriso de sua esposa.
“Gômer aprendeu a fazer pão. Gostaria de provar?"
Ele colocou o cajado de lado e tirou o sobretudo pesado.
Jezreel corria atrás do gato - seu passatempo favorito agora que aprendera a andar.
Ele pegou o pão das mãos de sua esposa.
“Obrigado."
Ela limpou os dedos enquanto ele rasgava um pedaço.
Um arrepio surgiu pelo braço dele.
Quanto tempo desde que ela o tocou pela última vez?
“Preciso ir pra casa", Yuval tagarelou, batendo a farinha das mãos.
“Amos deve voltar de Berseba hoje. Não o vi depois do meio-dia, mas talvez ele já tenha chegado em casa agora. " Ela enxugou as mãos no avental e abraçou a aluna.
“Você se saiu muito bem hoje. Tenho certeza que você aprenderá rapidamente. O ensopado de lentilha deve ficar pronto até o almoço de amanhã. O cordeiro assado e os legumes devem servir pra hoje."
Oséias ergueu uma sobrancelha, surpreso com o fato de Gômer saber alguma coisa sobre cordeiro assado com legumes.
Aya já havia cozinhado e servido para eles. Ele achou que ela voltaria depois da lua de mel.
“Perdi a noção. Quando os recém-casados voltarão da lua de mel?"
As mulheres trocaram olhares e Yuval assentiu, encorajando Gômer a responder.
“Pedi a Yuval para me ensinar a cozinhar. Aya e Isaías vão começar sua própria família, e eu vou precisar assumir suas funções. " Gômer olhou para o chão, as mãos presas humildemente à sua frente.
Oséias ficou incomodado, suspeitando.
Desde que retornaram de Israel era a primeira vez que ela lhe dirigia tantas palavras gentis.
Yuval deu um beijo na bochecha de Gômer.
“Volto amanhã para ajudar com o ensopado." Então ela saiu correndo pela porta, deixando a pequena família sozinha na escuridão que se aproximava.
“Você poderia acender mais algumas lâmpadas e preparar o tapete da mesa? Vou trazer o cordeiro e legumes. " Gômer dirigiu-se ao fogo para cozinhar e Oséias obedeceu, mantendo um olhar atento sobre o estranho no corpo de sua esposa.
Seria a mesma pessoa desta manhã?
O que mudou em um dia para criar esta esposa mansa e obediente? Ele só conseguia pensar em uma coisa - Yuval.
Oséias sabia que ela exercia grande influência sobre sua esposa.
Amós e Yuval haviam viajado muito nas últimas semanas, por isso Gômer não teve muito tempo com sua amiga.
Talvez Yuval a tivesse convencido a cumprir o chamado de esposa e ima.
Parecia fácil demais.
Ele a observou com cuidado enquanto colocava a mesa e cuidava de Jezreel.
Ela colocou o prato de carne e legumes entre os pratos e serviu água nos copos.
“Aqui, vou levá-lo." Jezreel estendeu a mão para ela, e ela balançou no ritmo de uma melodia silenciosa, embalando a criança nos braços.
Oséias observava enquanto comia maravilhado com o modo como ela amava Jezzy.
Ele estava errado sobre ela.
Ela sabia amar.
Seu coração apertou ao ouvir a música nos lábios dela.
Depois de comer ele se levantou e tentou pegar Jezreel dos braços dela.
“Eu cuido dele enquanto você come."
Mas ela se afastou enquanto ainda cantarolava sua canção de ninar.
Jezzy estava dormindo profundamente.
Depois de um olhar longo ela disse: “Eu vou colocá-lo na cama."
Oséias sentiu um nó na garganta enquanto ela se afastava - o balanço dos quadris, seu movimento no chão.
A cabeça dele rodopiou.
Era o vinho ou ele ainda estava apaixonado pela esposa? Antes que ele pudesse responder, ela reapareceu, seus olhos brilhando como manchas verdes, azuis e cobre.
Tirou o véu deixando os cachos fluírem até os ombros.
“Está com fome?" ele perguntou, tão nervoso quanto um recém-casado.
Ele serviu prato e sentiu os braços dela deslizarem pela cintura dele.
Ele estremeceu. Nervosismo ou ansiedade?
“Sinto muito, Oséias" - ela sussurrou.
Ele se levantou e olhou em seus olhos.
“Percebi o quanto fui egoísta e deixei meus desejos me afastar das necessidades de nossa família. Você me perdoa?"
“Sim minha esposa." Ele beijou a cabeça dela até encontrar seus lábios.
“Quero te fazer feliz", ela disse, aparentemente tão sedenta de paixão quanto ele.
“Preciso que você me ame, Oséias. Me ame."
O Senhor respondeu minhas orações?
Sem esperar por resposta, ele permitiu que seus desejos o levassem.
O anseio que pensava estar morto continuou até tarde da noite.
Ela o tentou, provocou-o com os prazeres que havia aprendido nos dias de sua prostituição.
Louco de desejo, ele se entregou aos talentos dela.
Uma esposa tão sensual e amorosa.
Ele estava em casa ha oito longos sábados sem desfrutar os prazeres do casamento por causa da rebelião obstinada de Gômer.
----- mais ----
Ele agradeceu a Senhor pelo fogo em sua alma e depois adormeceu, saciado pelos estrondos do êxtase.
Gômer acordou a tempo de esvaziar o estômago na tigela ao lado.
Ela limpou a boca e ficou tensa, sentindo a mão de Oséias.
“Sua comida não era tão ruim." Sua voz sonolenta parecia divertida.
Aliviada, ela cobriu sua nudez e se inclinou sobre ele com um sorriso.
“Veremos."
Você ainda não experimentou meu ensopado de lentilhas."
Ele a agarrou, brincando com ela seus braços.
Seu coração amou a ternura em seus olhos.
Ele não a tratava com tamanha doçura desde pouco antes do nascimento de Jezreel.
Então ela se lembrou - ela não tinha dado qualquer chance para isso acontecer.
Quando voltou de viagem a primeira coisa que viu foi ela no quarto com Aserá na mão.
“O que você está pensando?" Ele procurou a expressão dela.
“Não contei a Amoz sobre minha decisão ficar em casa. Devo dizer a ele que não posso ajudar no workshop com tanta frequência. " Ela se afastou e sentiu a decepção de Oséias como um manto molhado em seus ombros.
Ela se vestiu e foi em direção à porta enquanto falava.
“Você se importaria se eu fosse à olaria hoje de manhã? Vou informar a todos da minha decisão."
“Eu posso te acompanhar", disse ele.
“Ajudo a explicar para Amoz."
“Não. É melhor se eu contar a ele. Preciso terminar de polir alguns vasos. Diga a Yuval que estarei de volta para servir o ensopado de lentilha ao meio-dia. " Ela colocou o véu em volta da cabeça e dos ombros.
Ela fechou a porta após sair e correu para os estábulos.
Ela vomitou ao lado da baia do burro e limpou a boca na manga da túnica.
Seria difícil esconder de Oséias aquela náusea matinal, mas ela tinha que dar um jeito - pelo menos nos próximos dois sábados.
Aí então ela poderia convencê-lo que a criança era dele.
O sol nasceu atrás das colinas.
Ela tinha um novo cliente agendado esta manhã na primeira caverna e não queria se atrasar.
Ela manteve o olhar atento no caminho, xingando por esquecer o cajado.
Seus pensamentos corriam como os pés.
Talvez ela pudesse manter o trabalho até que a gravidez se tornasse óbvia.
Ninguém pagaria pra ficar com uma prostituta grávida.
Ela teria que adiar sua fuga até que o segundo filho nascesse.
Uma das mulheres da olaria acabara de anunciar que estava grávida.
Talvez ela servisse de ama de leite ao novo bebê.
Gômer amarraria os seios logo após o parto e retornaria à prostituição, aumentando ainda mais as suas economias.
A gravidez atrasaria sua fuga; não a cancelaria.
Ela viu os três trabalhadores na caverna à frente, entrando pelos portões do sul.
Eles sorriram maliciosamente, e ela levou um deles para a primeira caverna, não muito longe de onde.
“Você está atrasada", disse uma voz irritada nas profundezas da caverna.
“Não quero pagar quando você estiver atrasada."
O fedor do suor e a falta de fôlego do homem fizeram que Gômer corresse pra vomitar novamente.
Homens são porcos.
Ela não estava disposta a mendigar por algumas moedas.
“Volte aqui." Uma mão carnuda agarrou sua cintura e a ergueu da terra.
Ele a jogou num canto, enquanto desatava o cinto.
Sua mente girou.
Então ela viu Eitan, capitão do exército de Israel, cobrindo de socos no rosto e no corpo.
Antes dele outros homens tentaram abusar dela. Por isso ela sempre andava com uma adaga.
Mas tinha ficado descuidada. Esquecera essa parte do ofício: a brutalidade. O direito que os homens achavam ter ao pagar por prazer.
Ela ficou de pé, tentando fugir, mas ele atingiu seu rosto com as costas da mão.
“Nós não terminamos aqui." Ela lutou, mas ele era muito forte.
Ela não ousou gritar.
Lágrimas corriam por seu rosto enquanto ela silenciosamente batia no chão, amaldiçoando a própria vida.
Pelos deuses, ela precisava encontrar homens melhores para manter o negócio.
Ela era uma prostituta, não uma putinha qualquer.
Quando ele terminou o 'serviço', jogou uma moeda sobre ela.
“Da próxima vez, não se atrase." E então ele se foi.
Ela chorou de raiva e vergonha.
Por que não podia escolher seu próprio destino, amar quem quisesse, viver como achava melhor?
Ela se escorou em uma prateleira e se levantou.
Sua bochecha estava inchada, e ela sentiu gosto de sangue ao passar a língua nos dentes.
Ainda tinha todos os dentes.
Obrigada, Aserá.
Ela precisava ficar mais atenta da próxima vez.
Ela tentou não entrar em pânico e decidiu ir à olaria se limpar antes de voltar pra casa.
Os outros clientes ficariam desapontados, mas não havia como evitar.
A olaria ficava a uma curta caminhada da caverna.
Ela entrou pelos fundos, tentando esconder o rosto das outras mulheres.
Mesmo assim, três velhas fofoqueiras interromperam o trabalho. Estravam com o queixo caído.
A olaria inteira silenciou.
Ela estava no pé da escada, esperando Amoz notar sua presença.
“Gômer, o que aconteceu?" Ele desceu as escadas correndo para acudir.
“Eu caí enquanto caminhava aqui." Era uma mentira absurda, mas ela não conseguia pensar em nada mais plausível.
“Pegue um vaso com água e um pano e me encontre atrás da olaria." Ela saiu pela porta.
Em poucos minutos Amoz estava sentado ao lado dela.
O frio da manhã tornou o encontro mais desconfortável, mas ajudava no que ela estava prestes a fazer.
Ele levou o pano molhado no rosto dela, limpando sua bochecha machucada.
“Estou grávida, Amoz."
Ele congelou.
“Oséias deve estar satisfeito."
Ela começou a tremer, tomou o pano da mão dele e jogou água no rosto.
A água fria deu coragem para enfrentar qualquer reação de Amoz.
Ela deu tapinhas no rosto, levantou o queixo e endureceu o coração.
“O bebê não é de Oséias."
O olhar dele virou pedra.
“Porque está me contando isso?"
“Preciso de alguns sábados para convencer Oséias que o bebê é dele. Preciso esconder a gravidez até lá."
“E como você pensa em esconder isso?" Ele apontou para o inchaço no rosto dela.
“Vou contar a ele o que disse pra você. Que eu caí."
“Seu marido não é estúpido, Gômer." O carmesim subiu por seu pescoço e ele falou entre os dentes cerrados.
“Oséias é meu amigo. Por que eu mentiria para ele quando sei que cometeu adultério?"
As palavras foram como uma facada.
“Oséias é seu amigo? Achei que fosse seu amigo, Amoz. Guardei seu segredo e te protegi. Eu menti por você."
“Eu nunca pedi para você mentir por mim! Eu pedi que você ficasse em silêncio. "
“Ha! Toda a sua vida é uma mentira, Amoz! Seu filho está treinando para ser um profeta de Senhor, mas você adora Asherah! "
“Fale baixo!" Ele colocou a mão na boca dela, olhando para os lados.
Ela afastou a mão dele e sua indiferença desapareceu.
Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos como Isaías as vezes fazia.
“Você é minha amiga, Gômer, mas eu não quero ..."
“Você ama seu filho e não quer que ele te odeie mais do que já odeia. Por isso você vai mentir."
“Você não se atreveria."
Um sorriso lento e malicioso reabriu o corte em seu lábio.
Ela se lembrou de seu objetivo - sobrevivência.
“Se você quer que sua idolatria permaneça oculta, me ajudará a convencer Oséias que essa criança é dele."
26
Oséias 7:1-2
Quando eu tento curar Israel, o mal de Efraim fica exposto e os crimes de Samaria são revelados...
Eles não entenderam que eu me lembro de todas as coisas más que eles fizeram.
Oséias queria acreditar em Gômer.
No dia em que foi à olaria para informar Amoz de sua decisão ela voltou machucada com uma história ridícula.
Como ele deveria proteger sua esposa se ela não contasse quem a machucou? Ele perguntou a Amoz sobre isso, e seu amigo alegou ignorância, disse que Gômer lhe contara a mesma história.
Ele parecia tão decepcionado com ela quanto Oséias.
Ele a observava enquanto ela preparava pão para o jantar. Sua expressão parecia dolorida.
Irritado.
Gotas de suor se formaram acima do lábio superior.
“Posso ajudar com alguma coisa?" ele ofereceu.
Ela inclinou a cabeça e lançou um olhar de admiração para Jezzy.
“Você já está ajudando brincando com nosso filho."
Durante quase um ciclo de lua cheia, ela cozinhou, limpou e permaneceu em casa, saindo apenas para visitar Yuval.
Não era ela.
Quando ele perguntou se ela estava feliz, ela elogiou algumas receitas novas que Yuval lhe mostrara.
Voltou para sua cama, sua paixão aparentemente temperada pelos longos dias de tarefas domésticas.
Trabalhoso, porém alienante.
Ele olhou para Jezzy a tempo de vê-lo rastejar até Sansão e colocar o rabo do gato na boca.
“Não, Jezreel. Rabo sujo. Não, não."
Uma brisa repentina passou por ele.
Era Gômer, pegando o roupão e saindo.
“Preciso pegar alguns ovos", ela murmurou, batendo a porta atrás dela.
Oséias não aguentou mais.
Alguma coisa estava acontecendo e ele iria descobrir - hoje à noite.
Levantando Jezreel em seus braços, ele seguiu sua esposa para fora... e a ouviu vomitando.
“Você está bem?" Ele caminhou em sua direção e ela se virou, surpresa.
Ele ja tinha visto o rosto tão pálido uma vez.
Ela esta gravida! A realização trouxe alegria instantânea.
Da mesma forma, uma dor terrível.
Não poderia ser meu - pode?
“Eu não queria te contar até ter certeza." De novo o sorriso pintado, o lado direito tremendo ligeiramente.
Teremos outro bebê."
Jezzy inclinou-se para sua ima, pedindo que ela o pegasse, mas Oséias o abraçou com força.
Ele estudou as feições do filho - o nariz de Gômer, seus próprios olhos escuros - e depois olhou para a barriga da esposa.
Não pode ser meu.
“Diga alguma coisa, Oséias. Você não está feliz?"
“O que você fez?"
“Vomitei o almoço", disse ela, rindo, mantendo a história.
“É bastante óbvio, não é?" Seu sorriso morreu no silêncio.
“Pensei que você ficaria satisfeito. Outra criança significa mais uma razão para ficar em casa, cozinhar, lavar suas roupas, alimentar seus filhos."
“Gômer ..."
Ele estava vivendo com uma impostora há tanto tempo que quase esqueceu a frieza do coração dela.
“Vou deixar nosso filho com Yuval ou Aya. Ele não deveria ouvir o que seus pais estão prestes a dizer um ao outro. " Oséias tremeu, lutando para controlar sua raiva.
Saindo , ele orou para que uma das mulheres estivesse em casa.
Em poucos passos, ele se viu na porta de Yuval, imaginando o que dizer.
Olá Yuval.
Você poderia cuidar de Jezreel enquanto minha esposa e eu conversamos sobre o filho do adultério em seu ventre? Então outro pensamento o cortou.
E se ela já soubesse?
“Oséias!" Yuval abriu a porta, assustada com a presença dele.
“Eu estava vindo para ver Gômer." Seu sorriso ensolarado usual desapareceu quando ela notou seu semblante.
“O que há de errado? É Gômer? O bebê?"
Ela sabia.
Seu mundo mudou com a descoberta.
Como ela poderia ter ocultado tal pecado? “Há quanto tempo você sabe?"
Uma chuva suave de inverno começou a cair, e ela entrou novamente em casa.
“Por que você não traz Jezzy para dentro, e conversamos."
“Você pode ficar com Jezreel enquanto Gômer e eu conversamos em particular?" ele perguntou, passando por cima do limiar.
“Claro que foi. “Preciso saber há quanto tempo você sabe que ela está grávida."
Yuval tomou Jezzy nos braços e ela recebeu o embrulho nos braços.
“Venha para Savta Yuval, menino."
Oséias cobriu o rosto, incapaz de conter as lágrimas.
O amor daquela mulher era genuíno.
Como ele poderia estar zangado com ela por manter a confiança de Gômer? Ainda assim, era impensável que ela soubesse sobre o adultério e não dissesse nada.
“Há quanto tempo você sabe, Yuval!"
Seu grito assustou Jezzy, e Yuval o confortou enquanto falava.
“Naquela noite, quando você chegou em casa e estávamos fazendo pães de cevada - foi a primeira vez que Gômer mostrou sinais de gravidez."
Cada palavra de sua explicação afundava mais o coração de Oséias.
Ele se afogava em desespero.
Sem fôlego, sem palavras, ele olhou para a mulher de bom coração diante dele e percebeu - ela pensou que o bebê era dele.
“Pensei que você ficaria satisfeito", disse ela finalmente, estendendo a mão para acalmar seu ombro.
“Tem mais alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar?"
Sua cabeça girou.
Ele não tinha ideia do que ela poderia fazer. Ele mesmo não sabia o que fazer.
Senhor, dá-me sabedoria.
Quem poderia ser o abba do bebê? Gômer amava outra pessoa ou ela havia retomado sua prostituição? Até onde Oséias sabia, Gômer passava a maior parte do tempo com três pessoas - Yuval, Aya e Amoz.
Amoz.
“Yuval, quando Gômer não está com você, onde ela passa o tempo?"
Ela pareceu intrigada com a pergunta.
“Ela está cuidando de Jezzy ou na loja de cerâmica ..." Yuval de repente parecia como se tivesse pegado uma onda de desespero de Oséias.
“Oséias, o que você quer dizer"
Ele deu um beijo em sua testa.
“Obrigado por amar meu filho." Ele viu suas novas lágrimas e a abraçou com força.
“Embora você não seja nossa ima, Jezreel é abençoado por chamá-la de Savta. Ele precisará de uma mulher de honra para guiá-lo pela vida. " Ele se virou para sair, mas ela o interrompeu com uma pergunta.
“Você se lembra exatamente das palavras da primeira profecia do Senhor?"
Ele estava à beira da raiva.
“Claro. Por que pergunta? Ela levantou uma sobrancelha, pressionando uma resposta."
A contragosto, ele falou as palavras vezes varias repetidas.
O Senhor disse: 'Case-se com uma prostituta.' Eu sei que Gômer é prostituta, Yuval.
Não deveria me surpreender com a infidelidade dela.
É isso que você quer dizer?"
“Não, Oséias." Lágrimas agora escorriam por suas bochechas.
“O que mais o Senhor disse?"
Num piscar de olhos, Oséias ouviu o chamado se repetir: Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade.
“Você ouviu a voz?" ele perguntou.
“Não, meu filho. Às vezes uma mulher ouve coisas que os homens não conseguem. Lembro-me de ouvir você explicar a profecia de Senhor e pensar que é impossível para alguém obedecer. " Ela balançou com Jezreel, embalando a cabeça dele em seu coração.
“As mulheres não debatem a lei do Senhor ou seus mandamentos - isso é função dos profetas e sacerdotes - mas às vezes uma mulher vê e ouve coisas que os homens não conseguem porque nossas bocas estão fechadas."
“Repita as palavras do Senhor em voz alta - exatamente como as ouviu."
Uma batalha travou dentro dele.
Ele não queria repetir as palavras, porque as tornaria ainda mais reais.
Ele hesitou até que seu coração bateu forte.
“O Senhor disse: "˜Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade."™" Ele suspirou, compreendendo o mandamento de Deus para fazer o impensável.
“Devo criar esta criança como minha filha. Não é verdade?"
Oséias deixou Jezzy cochilando nos braços de Yuval, com o coração pesado. A indignação de pensar em sua esposa nos braços de outro homem.
Ele ficou um tempo na garoa leve das chuvas de inverno.
Gômer havia entrado.
O que devo fazer agora, Senhor?
Ele estava pronto pra entrar em casa e confrontar sua esposa, exigindo todos os detalhes.
Ela contaria a ele? Ela o enganou desde que se tornou sua esposa.
Mesmo que ela contasse todos os detalhes, ele sabia o quanto iria machucá-lo.
Não.
Ele não olharia para quem partira seu coração tentando curá-la. Pelo menos não enquanto as feridas ainda estivessem abertas.
Jonas.
Talvez ele ouvisse alguma palavra do Senhor.
O Senhor costumava falar através de seu professor.
Ele bateu na porta, tirando o cabelo molhado do rosto.
Ele estava ensopado.
“Mestre Oséias?" Miquéias respondeu, mas saiu rapidamente, fechando a porta atrás dele.
“Mestre Jonas está dormindo. Ele está bem fraco hoje. Posso te ajudar com alguma coisa?"
O coração de Oséias desmoronou.
“Não, Miquéias. Cuide bem do nosso professor."
Ele bateu nos ombros do garoto e tentou manter a pose de professor forte que Miquéias pensava que ele era.
O jovem entrou e fechou a porta. Oséias ficou sozinho novamente, desejando a sabedoria de Jonas.
Senhor, por favor! O que eu faço agora? Amos está viajando.
Jonas está doente.
Sou só eu.
Só eu.
Não sei o que fazer, o que dizer, como proceder.
Silêncio.
A chuva tamborilava no caminho rochoso.
Um trovão rolou distante.
Novamente silêncio.
O acampamento estava quieto.
O dia de trabalho terminou.
As pessoas foram pra casa.
Oséias caminhou.
E se lembrou do dia em que ele e Gômer ouviram a profecia de Amós em Betel.
Ela caiu das vigas. Ele teve tanto medo de perdê-la.
E implorou a abba Beeri que a levasse com eles para a fazenda de Amós. Diblaim, porém, recusou a oferta de um acordo de noivado de Beeri.
Oséias entendeu tudo agora. Diblaim planejava usar a beleza de Gômer para seu próprio lucro.
Por que, Senhor? Por que permitir coisas tão horríveis na vida de Gômer? A chuva suave foi Sua resposta.
Oséias acenou para um pastor que levava seu rebanho em direção ao campo.
Uma das mulheres do acampamento passou usando um véu novo - azul, como o de Gômer.
Seu coração apertou ao se lembrar do dia em que vira Gômer pela primeira vez em Samaria. Ela ainda vestia roupas de prostituta e guizos de ouro.
Naquela mesma noite no bordel ele acompanhou seu corpo imóvel, ferido pela surra que recebera.
Ele pensou que a vinda para o acampamento dos profetas curaria suas feridas.
Seu estômago revirou.
Tudo o que ele podia ver agora era a esposa infiel esperando em sua casa.
Senhor, quando olho para ela só consigo ver traição.
A garotinha de Betel, a mulher pela qual me apaixonei foram engolidas por toda a dor que aquela minha esposa causou.
A chuva engrossou e o vento começou a soprar mais forte.
Oséias levantou a gola para se proteger das gotas ardentes.
Ele pressionou a lã contra os ouvidos e ouviu a voz falar com seu espírito: Quando eu tento curar Israel, o mal de Efraim fica exposto e os crimes de Samaria são revelados.
Eles não entenderam que eu me lembro de todas as coisas más que eles fizeram.
Seus pecados os envolvem; eu os vejo constantemente
A chuva e o vento cessaram, e Oséias se ajoelhou na lama, tomado pela santidade do momento.
“O Senhor conhece meu coração", ele sussurrou maravilhado.
De cabeça baixa, ele adorou o único que poderia realmente ministrar ao seu desespero.
Um sorriso irônico vincou seus lábios enquanto um pensamento se formou.
“Senhor, sou grato por Jonas estar dormindo."
Fortalecido, capacitado para a tarefa a sua frente, ele se levantou e percebeu que estava perto da olaria.
Talvez ele pudesse falar com Amoz antes de voltar para casa.
Oséias apressou vigorosamente os passos, mas desacelerou quando pensou em como iniciar a conversa.
O que ele deveria dizer? Shalom, Amoz.
Você dormiu com minha esposa? O homem tinha idade suficiente para ser seu abba, mas o que isso importava? Uma prostituta se entregou a qualquer um por um preço.
Qual foi o preço de Gômer? O que Amoz pagou?
Ele chegou à olaria e, com o fôlego curto, afastou a cortina e viu Amoz sozinho no sótão.
Ele estava regando uma peça com água, chutando a roda, profundamente concentrado.
Oséias estava no pé da escada.
“Shalom, meu amigo."
Assustado, Amoz enfiou a mão na argila, desmanchando o trabalho do oleiro.
Amoz ofegou, fechou os olhos com força e levantou as mãos - tarde demais.
Oséias enterrou a cabeça nas mãos.
A conversa não havia começado bem.
“Não importa. É só barro." A voz de Amoz parecia calma demais.
Ele se levantou e foi a calha da água para lavar as mãos.
Desceu as escadas correndo, ansioso demais para alguém da sua idade.
Observou a roupa de Oséias molhada da chuva e jogou uma toalha para ele.
“O que o traz à minha olaria?"
“Preciso falar sobre Gômer."
A preocupação de Amoz parecia genuína.
Ele indicou um banquinho para Oséias se sentar, depois sentou-se na escada, esperando em silêncio.
O coração de Oséias parecia que iria pular da garganta.
Como deveria começar? “Você foi um bom amigo para Gômer, Amoz. Você a aceitou quando todos a excluíram e lhe ensinou um ofício que ela gosta e valoriza."
“Ela tem sido uma boa amiga para mim." Seus olhos ficaram distantes.
“A companhia dela no casamento de Isaías tornou o comportamento de Uzias mais fácil de suportar."
Amoz deu um presente a Gômer no casamento.
Oséias havia esquecido a troca fortuita.
A palavra que ouvira na chuva reforçou sua confiança.
“Preciso fazer uma pergunta difícil, Amoz. Há algo que você precisa me contar sobre o presente que deu para Gômer no casamento?"
O rosto do homem perdeu a cor.
“Sei que estou sendo enganado e preciso que meu amigo diga a verdade."
A respiração de Amoz ficou irregular. Ele olhou para a direita e para a esquerda como se estivesse com medo.
“Quem te contou?" Seus olhos se encheram de lágrimas.
“Nunca quisemos machucar ninguém."
O coração de Oséias estava em sua garganta.
Não podia ser verdade.
“Quem te contou?" Amoz gritou.
“Uzias te contou?"
Quer dizer que Uzias sabe de tudo? Como ele poderia saber e não me dizer? “Não. Seu sobrinho não me contou."
“Quem então?" Seus olhos arregalaram, aterrorizados.
“Senhor? Senhor revelou isso a você?"
“Não, Amoz."
“Por que Gômer lhe diria que eu adoro Asherah? Eu mantive seu segredo! Nunca te contei sobre sua prostituição! Não pode ter sido Gômer. "
“Você disse prostituição?" Oséias tentou fazer mais perguntas, mas Amoz estava agitado.
“Por favor, não conte nada a Isaías. Ele já me odeia. Eu vou parar. Eu vou ..."
Oséias agarrou a cabeça de Amoz olhando bem em seus olhos.
“Repita o que você disse sobre Gômer. Ela voltou à prostituição?"
O oleiro ficou em silêncio, os olhos arregalados com a descoberta.
“Pensei que você sabia que estava sendo enganado."
Oséias soltou a cabeça do homem, inclinou-se e chorou.
“Não, Senhor! Eu não quero saber. Prefiro pensar nela com Amoz do que com muitos. “Eu sinto Muito." Amoz falou com a cabeça baixa de Oséias.
“Parece que muitos foram enganados por mais de um enganador." Um suspiro profundo e o homem de poucas palavras falou novamente.
“Eu não mereço perdão, mas você merece a verdade. Não sei quando Gômer voltou... quando os homens voltaram a pagá-la. Descobri na manhã em que ela veio aqui espancada. Foi quando ela ameaçou revelar meu segredo se eu revelasse o dela. Foi a última vez que vi sua esposa."
Oséias agarrou os cabelos. Ele não queria ouvir, mas precisava.
“Você disse que Uzias sabe? Ele sabe sobre Gômer?"
Não sei quem sabe sobre a prostituição de Gômer.
Você sabe como a fofoca se espalha no acampamento. " Oséias enterrou o rosto nas mãos com o pensamento, e Amoz suspirou novamente.
“Uzias sabe da minha idolatria. Isaías não. E gostaria de continuar assim."
Oséias lançou um olhar que poderia queimar pedras.
“Não vou mentir para meu melhor amigo. Nem proteger um mentiroso."
Lágrimas escorreram pelas bochechas de Amoz.
“Fiquei em silêncio todos esses anos para nos proteger. Quando mataram meu irmão, Uzias exigiu que eu abandonasse Aserá e levasse Isaías para Tecoa. Concordei em ficar em silêncio e permiti que meu filho aprendesse sobre o Senhor. Meu silêncio protege Isaías e Uzias."
“Sua idolatria ameaça a nação."
“Senhor ameaça a todos." Amoz cuspiu as palavras.
Oséias viu um estranho diante dele, um homem que havia desistido de tudo - sua casa, sua liberdade, até mesmo seu filho - por quê? Para um pedaço de pedra com seios esculpidos.
Oséias ficou imóvel.
O que devo fazer agora, Senhor? Encontrar cada Asherah e esmagar todos eles? A oração trouxe à mente o presente de casamento envolto em uma mortalha.
“Você deu uma Aserá para substituir a que eu destruí?" Sua voz era controlada, embora seu coração estivesse acelerado.
“Sim."
Oséias perdeu o fôlego.
“Nunca mais dê outra Aserá para ela."
Amoz assentiu e se virou.
“O que você vai fazer agora? Contar ao Isaías? Tornar minha idolatria conhecida e colocar minha vida em perigo - a vida de Uzias também?"
Seu estômago revirou.
“Não sei."
Vou passar um tempo com Senhor antes de tomar qualquer decisão. " Ele se forçou a se levantar, deu alguns passos e então parou.
“Diga-me, Amoz. E o Asherah parece tão atraente? Por que você e minha esposa recusam Senhor tão veementemente?"
“Eu nunca vi o Senhor fazer algo gentil. Só ouço falar de Suas exigências, Suas regras e Sua ira. Ele é o destruidor de vidas, não o médico de corações quebrantados. No altar de Aserá, pelo menos, sinto algum prazer."
“Amoz, isso não é -"
O oleiro levantou a mão para calar o profeta.
Oséias assentiu, virou-se e foi embora.
Ele não converteria o amigo com algumas palavras. Reis e profetas tentaram por anos e não tiveram sucesso.
Senhor, alguma dia conseguirei converter minha esposa?
27
Oséias 1:6
Gômer engravidou novamente e deu à luz uma filha. Então o Senhor disse a Oséias: “Dê-lhe o nome de Lo-Ruama. Não mais mostrarei amor para com a nação de Israel. Não ao ponto de perdoá-la."
Gômer sentou-se ao lado do forno tentando se aquecer no frio do inverno.
Ela não conseguia parar de tremer.
Oséias havia saído antes do anoitecer e ainda não havia retornado.
Ele já devia tê-la abandonado. Embora ela não acreditasse que ele permitiria que ela se aproveitasse de sua casa e seus bens.
Ele provavelmente estaria preparando um decreto de divórcio ou reunindo testemunhas para me apedrejar.
Mas ela sabia que não era verdade.
Ela o achou fraco demais para se opor a ela, mas ele não era fraco.
Oséias a amava.
Ela se dobrou, balançando, chorando em oração sofrida.
Por quê? Por que ele ainda me ama? Faça-o parar, Lady Asherah! Eu não agüento mais! As paredes de Tekoa não eram a prisão que ela mais temia.
O amor das pessoas ao seu redor ameaçou esmagá-la.
Ela poderia sobreviver a espancamentos e suportar traições. Mas o amor que havia encontrado em Oséias, Aya e Yuval ameaçava arrebata-la.
Se ela permitisse mergulhar naquele amor ficaria ofegante como um peixe fora d'água quando lhe fosse tirado.
As pessoas sempre vão embora.
Uma batida suave na porta a assustou: “Gômer?"
Ela virou para a porta, e viu Yuval com Jezzy no quadril.
“Mamã... ima!" Ele se lançou sobre o colo da sua mãe.
E deu um suspiro satisfeito.
“Mamã... ima."
A pronúncia daquele título provocou um soluço descontrolado, e ela o envolveu, sentindo o perfume maravilhoso do seu garotinho.
“Obrigada, Yuval," sussurrou.
Ela poderia deixar Jezzy? Oséias nunca o deixaria ir.
Se ela roubasse o bebê, Oséias convocaria todo o exército de Uzias para encontrá-los.
Yuval sentou-se ao lado dela. O cheiro de coentro encheu o ambiente.
“O que Oséias disse?" Sua expressão era tão transparente, suas emoções tão nítidas.
Gômer virou-se, incapaz de ver a verdade no rosto daquela mulher.
Yuval sabia do adultério.
“Oséias ainda não voltou para casa." As lágrimas a sufocaram.
“Não sei se ele vai voltar para casa."
Uma mão puxou seu queixo, mas Gômer se afastou.
“Não, eu não posso olhar para você." Yuval acariciou sua bochecha e puxou seu queixo novamente.
Gômer cedeu, permitindo que aqueles olhos penetrassem em sua alma.
“Eu não tolero o seu pecado, filha, mas nunca vou deixar de amá-la." Ela se curvou e beijou a testa de Gômer.
A porta bateu, e as duas se viraram.
Oséias entrou, seguido por Isaías, Miquéias e ...
Gômer ofegou e se levantou, segurando Jezzy como um amuleto de salvação.
“O que o comandante Hananias está fazendo aqui?" Sua voz tremia.
Ela estava errada sobre o amor de Oséias? Lady Asherah respondeu sua oração?
Yuval passou um braço ao redor da cintura de Gômer.
“Trouxe três homens aqui como testemunhas", disse Oséias com uma expressão severa.
“Passei um tempo com o Senhor quando saí daqui, e a mensagem que recebi afeta cada um de nós."
“Sejam bem-vindos, embora eu duvide que o que tenho a dizer pareça uma conversa amigável."
Gômer olhou para o comandante.
Sua figura ocupava a maior parte da sala, sua mandíbula flexionando em um ritmo rápido e impaciente.
Isaías parecia furioso, vermelho como uma pimenta, e Miquéias que iria cair em lágrimas a qualquer momento.
“Você os trouxe aqui para testemunhar um processo de divórcio -" Gômer começou, mas o olhar ardente de Oséias a calou.
“Eu os trouxe aqui para anunciar a palavra do Senhor na presença deles e sua, Gômer. O Senhor, o Criador do céu e da terra, diz: 'Gômer terá uma filha. Dê-lhe o nome de Lo-Ruama. pois não mais mostrarei amor para com a nação de Israel. Não ao ponto de perdoá-la. Contudo, tratarei com amor a nação de Judá; e eu lhe concederei vitória, não pelo arco, pela espada ou por combate, nem por cavalos e cavaleiros, mas pelo Senhor, o seu Deus.'"
A sala ficou em silêncio, e Gômer afundou com Jezzy no tapete.
Lo-Ruama. Não amada.
Ela olhou para o olhar frio de Oséias e ofereceu um sorriso forçado.
“Quando os deuses desejam puni-lo, eles respondem às suas orações." Ela aconchegou Jezzy na dobra de seu braço e o embalou enquanto Oséias começava sua explicação para as testemunhas.
“Comandante Hananias, você deve informar ao rei Uzias que o Senhor terá piedade de Judá por causa do coração fiel do rei. O Senhor resgatará Judá, mas sem força militar."
“Vocês não têm idéia do que é preciso ... As palavras de Hananias foram interrompidas, fazendo que Gômer olhasse para cima."
Ela viu Oséias se aproximar do comandante, encarando bem de perto.
“Profetas não precisam conhecer estratégia militar. Temos apenas que ouvir o Senhor."
Em seguida ele se virou para Isaías, deixando o comandante com os punhos cerrados.
“Eu sei que você está magoado e com raiva de seu abba, meu amigo." Oséias colocou uma mão reconfortante no ombro de Isaías e o estômago de Gômer se contraiu.
Ele descobriu a Aserá de Amoz?
“Agora que você sabe a verdade sobre seu abba, pode construir um relacionamento de verdade com ele."
Isaías balançou a cabeça, lutando para conter as emoções.
Não sei se posso perdoá-lo.
Como posso confiar em Uzias novamente? Eles não fizeram nada além de me enganar durante toda a minha vida. "
“Eles fizeram muito mais do que enganar você, Isaías." As palavras de Oséias foram gentis, mas firmes.
“Eles amaram você. Mas cometeram um grave erro ao escolher o engano em lugar da verdade. Seu abba precisa ver o amor de Senhor, Isaías, e eu acredito que seu perdão e esta profecia podem demonstrá-lo. " Quando o rosto de Isaías mostrou a confusão que a própria Gômer sentia, Oséias lançou um olhar para Hananias e reafirmou as palavras de Senhor.
“O Senhor resgatará Judá sem arcos, espadas, guerras, cavalos ou cavaleiros."
Amoz disse que nunca viu o Senhor fazer algo bom.
“Não sei como o Senhor resgatará Judá, mas ele pretende provar Sua bondade ao seu abba."
“Nosso Elohim se importa muito com seu abba."
O coração de Gômer torceu.
O Senhor se importa muito com Amoz, mas odeia prostitutas.
Ele disse.
Não amada.
Sem mais perdão...
Um pequeno gemido escapou e Yuval abraçou com mais força.
Oséias deu um passo em direção a Miquéias, encarando os olhos tristes do garoto.
“Jonas já lhe disse que você me acompanhará a Israel?"
O garoto assentiu e Gômer fechou os olhos com força.
Ele está saindo de novo.
“Eu irei agora e me certificarei de que Jonas conhece a mensagem completa da profecia de Deus." Oséias ergueu a voz, quase gritando em sua casa pequena e lotada.
“Falo na presença dessas testemunhas. Ninguém, exceto os profetas do Senhor, está autorizado a impor procedimentos legais ou julgar oficialmente minha esposa enquanto eu estiver fora."
“O Senhor falou, e eu confio que você deixará isto bem claro para o meu amigo, o rei."
Gômer não sabia se sentia aliada ou ofendida.
Ela era uma propriedade para ser jogada fora?
Antes que pudesse decidir como se sentia, Oséias dispensou os homens e voltou sua atenção para Yuval.
Ajoelhou-se diante dela com o rosto suavizado.
“Jezzy vai precisar de você mais do que nunca." Ele hesitou, desviando o olhar como se lutasse por palavras.
Quando ele voltou a olhar, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
“Gomer precisará do seu amor e cuidado quando Lo-Ruhamah nascer." Sem outra palavra, ele se levantou e caminhou em direção à porta.
“Espere!" O pânico tomou conta de Gômer.
A palavra escapou antes que ela soubesse o que diria a seguir.
Oséias se virou.
Seus olhos tão cheios de raiva...
Ele nunca olhou pra ela daquele jeito.
“Eu estive esperando, Gômer." Ele se virou e saiu pela porta.
Ela sufocou um soluço, segurando Jezzy nos braços para se confortar.
A voz de Yuval rompeu o silêncio, e Gômer percebeu que sua amiga estava esfregando suas costas, tentando tranquiliza-la.
Ela não iria - não poderia - ceder às emoções.
Jezzy dependia dela. E foi informada que uma filha crescia dentro de seu ventre.
Gômer esboçou um sorriso, ergueu os ombros e respirou forçando a se controlar.
“Tudo bem, Yuval. Eu já esperava por isso. " Sua mente vagou para a prata que ela salvou.
Ele estava escondido em uma pequena jarra na prateleira.
“Os homens sempre vão embora."
28
2 Reis 15:10, 12
Salum, filho de Jabes, conspirou contra Zacarias. Ele o atacou na frente do povo, assassinou-o e foi o seu sucessor...
Assim se cumpriu a palavra do Senhor anunciada a Jeú: “Seus descendentes ocuparão o trono de Israel até a quarta geração"
Oséias e Miquéias estavam escondidos no mato.
Profetizar o juízo do Senhor em Israel por cinco ciclos lunares fez deles criminosos.
Zacarias ordenou que fossem presos.
Mas nesta noite a mão do Senhor conteve o rei de Israel, e os profetas estavam perto do acampamento do rei, perto suficiente para assistir o rei e seus conselheiros cometerem atos abomináveis.
O banquete e a libertinagem deixaram os guardas distraídos - uma bênção e uma maldição.
“Por que eles vieram para Kabal Am?" Miquéias esfregou os pés com bolhas.
“Por que Zacarias não se assenta no trono de seu abba em Samaria e governa de lá?"
O Senhor apareceu a Miquéias em um sonho, capacitando-o para observar de perto os acontecimentos da vida e da morte do rei Zacarias.
Eles mantiveram uma distância segura atrás das tropas do rei há quase duas luas cheias.
“Zacarias precisa convencer a nação de sua capacidade para governar. Kabal Am está situada ao norte da região rebelde de Efraim, de modo que o general Menaém pode fornecer retaguarda. Em segundo lugar, este vale tem grande significado para a linha real de sua família. " Oséias hesitou, esperando que seu aluno oferecesse o resto.
“Você deveria prestar mais atenção aos seus professores, jovem profeta."
A frustração do garoto ganhou uma risada do professor.
“Quando o Senhor destruiu o culto de Baal pela primeira vez em Israel, usou o general do exército de Israel para matar o rei Acabe, Jezabel e sua descendência. Ele também feriu o rei de Judá que estava visitando a família aqui em Kabal Am. O nome do general era ..."
“Jeú!"
“Shh!" Os dois homens se esconderam nos arbustos, temendo que Miquéias tivesse revelado seu esconderijo.
Após um olhar castigador, Oséias continuou em um sussurro.
“Jeú matou todo o clã de Acabe e, por causa de sua crueldade, o Senhor prometeu que quatro de suas gerações reinariam no trono de Israel."
“E quem é essa quarta geração, Miquéias?"
Como o raios de sol no amanhecer, seus olhos se arregalaram.
“Você chamou seu filho de Jezreel porque o Senhor lhe disse que ele puniria a linhagem de Jeú e quebraria os arcos de Israel no vale de Jezreel."
Oséias deu um sorriso de aprovação.
“Estamos sentados observando o último descendente de Jeú em Kabal Am na foz do vale de Jezreel, perto da cidade de Jezreel!"
O rosto de Miquéias brilhava.
“Estou maravilhado com a soberania do Senhor."
“E estou surpreso com a depravação dos homens." Oséias apontou para o rei Zacarias e os conselheiros ao seu redor.
“Olhe para eles, Miquéias. Alguns desses homens conheceram o rei por toda a vida, mas um deles vai matá-lo - possivelmente esta noite. As palavras mal haviam sido ditas quando ele sentiu o calor da presença de Senhor preencher todo o seu ser."
Miquéias se afastou dele.
“Mestre Oséias, você está quente."
Oséias começou a falar em voz baixa. Um fluxo de palavras que não eram suas.
“Esses homens alegram o rei com as maldades que cometem.
Eles se alegram enchendo-se de mentiras.
Cada um deles comete adultério e não pensam em nada.
São como um forno aquecido, tão quente que um padeiro não precisa acender o fogo para assar pão."
Uma visão brilhou em sua memória, e ele ficou calado.
Gômer, ajoelhada junto ao forno, assando pão.
Ele lembrou do fogo ela despertou nele naquela noite, o calor da paixão em comparação com o calor da unção que o inundava agora.
As palavras vieram novamente, desta vez silenciosamente.
“No dia da festa de nosso rei os líderes são inflamados pelo vinho, e o rei dá as mãos aos zombadores.
Quando se aproximam com suas intrigas, seus corações ardem como um forno.
A fúria deles arde lentamente a noite toda; pela manhã queima como chama abrasadora.
Todos eles se esquentam como um forno e devoram os seus governantes.
Todos os seus reis caem, e ninguém clama a mim."
Oséias estava suando, seu corpo inteiro estava quente.
Ele cobriu o rosto e chorou.
“Gômer!"
Naquela noite apaixonada Oséias sentiu que algo estava errado.
Ele se deixou levar pela luxúria ao invés de amar, e tratou sua esposa como uma prostituta.
Mas ela é uma prostituta! Seu coração clamou ao Deus que entendeu sua dor.
Por que ele ainda a ama? Por que ele não conseguia parar de amá-la como Deus parou de amar Israel?
A mão de Miquéias descansou em seu ombro, e ele se assustou.
“Você recebeu outra mensagem do Senhor?".
Oséias assentiu, mas demorou, considerando o quanto deveria revelar a seu jovem aluno.
Ele tirou o roupão e o usou como toalha para enxugar o suor, depois sentou-se, só com a roupa de baixo.
“Eu acredito que os conselheiros vão matar Zacarias pela manhã." Seu coração bateu forte no peito.
Ele deveria sobre a luta de seu coração com alguém tão jovem?
Miquéias olhou para ele.
“O Senhor sempre o visita assim - com tanto calor?"
“Cada vez é diferente."
Eles se sentaram quietos, ouvindo a folia no acampamento do rei, observando as mulheres passarem de um oficial para outro.
Seu estômago revirou.
“Eu quero odiar Gômer, Micah." Ele apontou para uma das meretrizes.
“Era isso que ela era. E o que ela escolheu voltar a ser. Se o Senhor não ama mais Israel e não os perdoa, posso recusar amar e perdoar?"
Miquéias agachou-se e apoiou o queixo nos joelhos.
“Pode o coração de um homem ser tão puro quanto o de Senhor? Você pode se recusar a amar sem pecar? Você pode se recusar a perdoar sem se tornar amargo?"
Não era a resposta que Oséias queria.
Talvez o garoto estivesse prestando atenção nas aulas.
“O que faremos agora?" Miquéias perguntou.
“Observamos o rei de Israel morrer pela manhã."
As mãos de Gômer tremeram quando ela colocou Rahmy no sling em volta da cintura.
Graças aos deuses, sua filha havia nascido mais fácil que Jezzy, mas Gômer ainda estava um pouco fraca.
Yuval a ajudo, é claro. Desta vez com o auxílio de Aya.
Isaías veio mais tarde anunciar o nome do bebê: Lo-Ruama - Não amada.
Gômer se inclinou para acariciar a bochecha macia.
“Ima te ama muito. Chamaremos você de Rahmy, preciosa?"
Ela ouviu um estrondo no outro quarto.
“Jezzy, o que você está fazendo?"
Sem resposta.
Ela pegou a funda de Rahmy e depois enrolou o véu em volta da cabeça e dos ombros.
Não havia fim para tudo o que uma mulher deve vestir? Hoje era seu primeiro dia fora de casa desde o nascimento, e ela achou que era mais problema do que valia, mas quando o rei chama ...
O que Uzias poderia querer? Ela estava a dois dias de ser declarada limpa pelos padres.
Talvez ele simplesmente quisesse segurar a mão dela ou sentir o toque de alguém que não fosse limpo.
Sinceramente, ela não podia culpá-lo.
Ela quase enlouqueceu com aquele ritual ridículo no dois últimos sábados.
Não conseguia imaginar o que Uzias havia suportado por mais de dois anos.
Ninguém apresentou lesões de pele, mas a carne aparecia em suas feridas a cada exame sacerdotal. E ele permanecia em sua prisão na periferia da fazenda de Amós.
“Pensei que tinha lavado mais fraldas", ela murmurou enquanto olhava através de uma pilha de panos limpos.
Ela correu para a sala e viu o filho perseguindo o gato.
Sansão pulou sobre a mesa, derrubando um pote de farinha.
“Jezzy, deixe o gato em paz. Venha, vamos visitar o rei Uzias. " Ela não tinha outra escolha a não ser levá-lo com ela.
Yuval estava em viagem com Amós, e Aya se recusou a se aproximar dela por medo de se tornar impura e incapaz de tocar em seu marido.
Gômer revirou os olhos, correndo em direção à porta, e Rahmy começou a chorar.
Ela não podia estar com fome.
“Uhhhh!"
Jezzy olhou para ela com os olhos arregalados.
“Mamã... ima?" Então ele começou a chorar.
Ela se ajoelhou ao lado dele, tentando consolar.
Ele era um homenzinho tão sensível - uma característica de seu abba.
Ele não parava de chorar, então ela agarrou a mão dele e começaram a andar.
“Chega, Jezreel. Chega de chorar. Quieto!" Sua palavra botou fim aos soluços dele.
O rei Uzias os esperava com a porta aberta. Seu filho Jotão a seu lado e o comandante musculoso de guarda atrás deles.
Foi a primeira vez que se encontrou com Jotão desde o casamento de Isaías.
Seu estômago virou.
Ele sabia sobre a linhagem de Rahmy? Ela era apenas mais uma prostituta para ele, um objeto da profecia de Senhor? Ou ele entendia a amizade entre seu aba, Oséias, e ela?
Ela escondeu um sorriso enquanto se aproximava da casa.
Nem ela estava certa se entendia bem a amizade entre os três.
“Imundo! Unc— "O pronunciamento de Uzias foi interrompido por Gômer.
Impuro!" Ela se aproximou da casa, segurando a mão de Jezzy e curvou-se perante os dois reis de Judá.
“É uma honra vê-lo novamente, Rei Uzias." Ela bagunçou os cachos negros de Jezzy e se inclinou para instruí-lo.
Devemos nos curvar para nosso novo rei.
É uma honra, rei Jotão."
Uzias deu um sorriso caloroso.
“Nós é que nos sentimos honrados, Gômer, pelo serviço de seu marido em Israel."
O sangue fugiu de seu rosto.
“Oséias?"
“Jotham, você vai levar o menino de volta ao acampamento e brincar com ele dentro da segurança das paredes? Não queremos nenhum acidente com bestas ou víboras. " Ele apontou para uma das pequenas casas em seu acampamento.
“Não, espere." Gômer protegeu Jezzy atrás dela.
“Meu filho me tocou. Sua impureza tornará o rei Jotão impuro também."
Uzias estendeu a mão e apertou o ombro do filho com os olhos cheios de lágrimas.
“Jotão acredita que minhas feridas já não são infecciosas há algum tempo. Ele escolheu fazer o sacrifício da impureza para ter contato comigo. Quando ele me visita, entende que está impuro até a noite."
A voz de Uzias falhou, e ele não conseguiu continuar.
Jotão virou-se para Gômer, sua expressão tão quente que quase derretia.
“Ficaria feliz em passear com Jezreel."
Ela olhou para ele, incapaz de falar por causa do nó na garganta.
Um filho que voluntariamente se torna impuro para abraçar seu abba? “Obrigado", disse ela.
As palavras saíram como um sussurro.
Sua resposta, apenas um aceno.
Ele jogou Jezreel no ar e o pegou nos ombros.
“Ebaa!!!"
Jezzy riu e gritou de alegria.
“Meu filho também gosta disso."
Jotão o colocou de volta no chão, e Gômer observou enquanto se afastaram.
Uma mão repousou em seu ombro, ela nem se importou que fosse leprosa.
Ela se virou e se viu encarando o rosto do comandante de Judá.
Ele a cutucou pra chamar sua atenção.
De repente Gômer olhou para Uzias com um olhar interrogativo.
“Temos notícias de Oséias que você precisa ouvir." A voz do rei foi forçada a calma.
“Não. Não quero ouvir notícias de Oséias ". Ela alternou olhares entre os dois homens.
Eles hesitaram. Ela se levantou, embalando Rahmy no sling.
“Oséias não quer nada comigo, e minha vida é muito gratificante sem ele." Ela deu um passo e ouviu a voz de Uzias.
“Oséias foi capturado perto de Kabal Am."
O sol escureceu e um rugido terrível trovejou em sua cabeça.
“Hananias! Agarre-a!"
Gômer sentiu os braços segurando enquanto ela desabava.
Num instante, ela agarrou o bebê e o rugido dentro de sua cabeça desapareceu.
“Eu tenho você e seu filho." Uma voz profunda a envolveu, e ela olhou em seus olhos carinhosos.
Ela se sentiu pequena nos braços de Hananias.
“Pegue um tapete", ele gritou para um guarda.
Então, acomodando-a no tapete, ele disse: “Vamos manter você e a pequena mais perto do chão". Seu sorriso amável rompeu as paredes ao redor de seu coração, e as lágrimas começaram a cair.
Uzias sentou-se ao lado dela, tentando consola-la.
“Sinto muito."
Deveria ter contado com mais delicadeza."
“Oséias?"
“Você disse que ele foi capturado. Onde ele está agora? Ele está morto ... "
“Não, oh não! Ele não está morto. Oséias foi capturado no acampamento do rei Zacarias. Ele está seguro agora."
Mil pensamentos correram pela mente de Gômer, mas um deles ofuscou os demais.
Por que me importo quando Oséias não me ama? “Isso é uma boa notícia, mas ..." Ela dobrou os joelhos embaixo dela e começou a se levantar.
“A profecia de Jezreel se cumpriu há algumas noites", disse ele, ignorando sua tentativa de levantar.
“O rei Zacarias, o quarto e último descendente de Jeú, foi morto em uma cidade no vale de Jezreel. O vale pelo qual o Senhor nomeou seu filho. E se meus espiões estiverem certos - e meus espiões em Siló são sempre precisos - tudo aconteceu na noite do nascimento de sua filha."
Um calafrio percorreu sua espinha.
“Então o deus de Oséias está usando meus filhos como presságios?" A raiva transbordou em sua alma.
“Por que os deuses pensam que podem usar humanos para seus joguinhos?"
O horror se estendeu pelo rosto do rei.
“Gomer, não! Senhor não joga jogos. Ele ama Seu povo e ... "Seus protestos morreram em silêncio.
Ela ressoou uma risada cínica.
“Entende? Até o justo Uzias deve admitir— "
“Não admito nada." Ele parecia indignado com a acusação dela.
“Me calei porque só agora percebi a profundidade do amor do Senhor."
Ela estava boquiaberta.
Como ele podia ver amor na morte, captura e juízo?
“Contei como o Senhor ama Israel e os advertiu repetidamente. E então me ocorreu: Ele ama Judá e sempre avisou a mim e à minha nação. " Ele agarrou a cabeça cobrindo com as mãos escorrendo, aparentemente atordoado com sua lentidão de mente.
“Minha arrogância causou não só meu sofrimento, mas quase destruiu Judá."
“Não!" ela gritou, assustando o rei.
Rahmy começou a chorar, mas a voz de Gômer se sobrepôs ao barulho.
“Não permitirei que você assuma a culpa que Oséias e seu deus tentam colocar em você. Você é um homem bom e justo. Não merece esta doença, e seu deus cometeu um erro quando te amaldiçoou."
Uzias não deu uma resposta muito empolgada.
Em vez disso, um leve sorriso surgiu em seus lábios.
“O Senhor não é como os falsos deuses de Canaã que você conheceu quando era criança. Ele não é como o benigno El, que observa impotente enquanto Baal e Anate brigam com Mot pela chuva. Ele não é seduzido por sua esposa Aserá."
“O que?" Gômer nunca ouviu ninguém de Judá recitar as histórias de seus deuses.
“Como você sabe?"
“Como posso saber sobre os deuses cananeus? Eu escolho adorar a Senhor porque Ele é o único Deus verdadeiro, Gômer - não porque eu ignore as outras escolhas. " Ele parou por um momento, então balançou a cabeça como se estivesse limpando seus pensamentos.
“Sinto muito."
Não te chamei para dar lições sobre o Senhor.
Sei como Amoz odeia quando repito coisas que ele ouviu milhares de vezes.
Eu só queria te contar sobre seu marido."
Quando ele começou a contar os detalhes da missão de Oséias, Gômer ficou decepcionada. Era melhor continuar falando do Senhor.
Ela estava curiosa para ouvir o testemunho de um homem que havia sido amaldiçoado por um deus, mas continuava fiel, apesar disso.
“Como estava dizendo, parece que Oséias e Miquéias estavam escondidos perto do acampamento de Zacarias e foram descobertos pela guarda no meio da noite. Miquéias escapou, mas Oséias foi preso e levado para aguardar julgamento. Antes que o rei e os juízes acordassem Salum, um dos amigos mais queridos do rei Jeroboão, entrou na tenda de Zacarias e o matou."
Gômer viu a agonia no rosto de Uzias.
“Você conheceu o rei Zacarias?"
“Não. Não o conhecia, mas meu coração dói ao pensar que um amigo próximo do seu abba se voltaria tão cruelmente contra Zacarias. Me faz temer pelo meu próprio filho. Confio nos homens do meu conselho. Mas tenho certeza de que Jeroboão também confiava em Salum."
Gômer fixou o olhar no comandante de Uzias.
“Disse ao rei Uzias que estou disposto a manter minha posição de comandante ou renunciar. O que quer que ele sinta é mais benéfico para o reinado do jovem Jotham. " Ele bateu com o punho contra a armadura de couro do peito.
“Serei leal ao rei de Judá até a morte."
Gômer assentiu e colocou a mão no ombro de Uzias.
Ele tremeu.
“Sinto muito", disse ela, começando a se afastar, mas ele segurou a mão dela.
Por favor..."
Não tire a mão.
É doloroso, mas preciso sentir o toque de alguém de vez em quando só para lembrar que sou humano. " As lágrimas escorreram por suas bochechas, viajando pelas trilhas irregulares das marcas.
“Eu confio em Hananias com minha vida - e com a vida de meu filho." Ele acenou para o comandante e recebeu uma reverência em troca.
“Oro para que Judá nunca enfrente uma conspiração como a que matou Zacarias. Ao que parece, Miquéias estava vigiando o acampamento conseguiu resgatar Oséias na hora do alvoroço. Meus espiões esconderam Oséias e Miquéias na casa dos profetas em Siló - onde a arca da aliança ficava. Se o Senhor pode proteger Sua arca lá, certamente poderia proteger Oséias e Miquéias até que eles possam retornar em segurança."
Gômer sentiu uma ponta de esperança - e se odiou por isso.
“Então eles vão voltar para casa? Desde que a profecia foi cumprida?" Ela tentou esconder sua excitação, mas ela escapou entre suas respirações aceleradas.
Uzias e Hananias trocaram um olhar constrangedor.
O rei tentou escolher as palavras.
Sua esperança morreu novamente.
Ela tirou a mão do ombro dele, endireitando a postura e erguendo o rosto.
“Ele não vai voltar para casa." Era uma declaração, não mais uma pergunta.
Uzias balançou a cabeça.
Ela olhou para Rahmy, anestesiada.
Lo-Ruama - Não amada.
Ela e a filha sempre compartilhariam aquele título.
Gômer acariciou os cabelos macios, sua mente vagava.
Raiva.
Amargura.
Mais do que isso.
Sobrevivência.
O que ela estava fazendo? Esperando Oséias voltar e depois deixá-la de novo? Não.
Ela se inclinou para beijar a cabeça de Rahmy decidida a endurecer seu coração.
Encontraria uma ama e amarraria os seios imediatamente.
Gômer ja era uma mulher velha, com quase 21 anos de idade.
A chance para encontrar um homem disposto a cuidar dela estava acabando.
Quanto mais cedo ela enfrentasse o inevitável, mais rápido seria capaz de ir embora.
Yuval e Aya cuidariam bem de seus filhos.
Elas amavam Jezzy e Rahmy - quase tanto quanto ela.
De pé, ela se curvou para Uzias.
“Obrigado, meu senhor, por me informar sobre a condição de meu marido." Ela se inclinou e beijou sua bochecha marcada.
“Obrigado por sua bondade. Com uma prostituta imunda."
Ela deu alguns passos quando ouviu uma voz imponente.
“Gômer, espere."
Ela parou, fechou os olhos, esperando não ter que se virar para encarar o comandante novamente.
Abuse de mim.
Engane-me.
Até me odeie. Mas meu coração não suportaria a ternura de um homem agora.
Ele ficou atrás dela.
Ela permaneceu de costas, tentando dominar suas emoções.
“O que é, comandante?"
Após um momento de hesitação, ele disse: “Se o profeta deixou você em necessidade, eu posso ajudar."
Gômer fechou os olhos liberando um rio de lágrimas.
“Obrigado, comandante", disse ela, afastando-se.
Ela deveria voltar aos negócios novamente - e em breve.
O comandante poderia ser seu primeiro cliente.
29
2 Reis 15:14, 16
Então Menaém, filho de Gadi, foi de Tirza a Samaria e atacou Salum, filho de Jabes, assassinou-o e foi o seu sucessor.
Menaém, partindo de Tirza, atacou Tifsa... .
e todos que estavam na cidade e seus arredores, porque eles se recusaram a abrir as portas da cidade. Saqueou Tifsa e rasgou ao meio todas as mulheres grávidas.
Atravessando a planície estreita ao norte de Siló, Oséias acelerou o passo.
Ele deveria chegar a Tifsa antes de Menaém atravessar suas muralhas.
Os espiões de Judá haviam avisado da fúria de Menaém após a morte de Zacarias.
O general era o amigo mais leal do rei Jeroboão e exigia vingança contra os responsáveis pela morte do jovem rei.
Sua primeira ação ocorreu em Samaria: matar o conspirador, o rei Salum - executado um mês após a morte de Zacarias.
A segunda ação de Menaém revelou a genialidade militar de um general experiente e conquistou a lealdade eterna de seus homens.
Ele voltou para sua cidade, Tirza, e permitiu que seus soldados fizessem o mesmo, incentivando-os a trabalhar em seus campos e a concluir a colheita de verão.
Quando as prensas de azeite começaram a girar, as tropas de Menaém voltaram a seus comandantes. Celeiros e barrigas cheias.
Agora eles poderiam saciar sua sede de vingança.
Tifsa foi a primeira cidade a tentar resistir ao rei Menaém.
Oséias chegou ao topo de uma colina e olhou ao norte.
A fumaça subia em quatro grandes colunas.
Tifsa estava em chamas.
Senhor Elohim! O que você quer que eu faça? Ele ficou congelado, percebendo que era tarde demais para salvar as almas dentro dos portões da cidade.
Seus pés se moveram por vontade própria. Uma leve brisa levantou seus cabelos.
O Senhor sussurrou ao seu espírito: Será horrível.
Eles fugiram de Mim e não para Mim.
Eles serão destruídos porque se rebelaram contra mim.
Como eu gostaria de restaura-los... mas eles não Me buscam sinceramente.
Ajuntam-se por causa do trigo e do vinho.
Eu os ensinei e os fortaleci,\n"
“mas eles tramam o mal contra mim.
Eles não se voltam para o Altíssimo; são como um arco defeituoso.
A cada passo em direção à cidade em chamas, Oséias sentia a tristeza e a ira do Senhor.
Aquela carnificina fora profetizada, declarada pelo Senhor. Mas era uma resposta aos atos dos homens.
Menaém escolheu a matança.
Tifsa escolheu se rebelar.
Israel escolheu adorar ídolos.
Eles puderam escolher: ouvir ou calar a voz do Senhor.
Eles escolheram calar a Voz seus corações praticaram o mal.
Menaém impôs pesado cerco sobre Tifsa.
Tendas rudes se espalharam ao redor da cidade.
Sem barraca de luxo para o rei e seus conselheiros.
Menaém dormia entre seus homens. Agora ele era rei, mas seria para sempre um soldado.
Oséias atravessou as fileiras de tendas esperando que um guarda o prendesse, pronto para ser algemado ao se aproximar da cidade.
OMas o acampamento estava deserto.
Todos estavam pilhando.
Oséias se aproximou da cidade, ouviu gritos e sentiu o cheiro inconfundível da morte - sangue, fezes, urina e fumaça.
Ele parou perto de uma dos aríetes de guerra que havia atingido os portões.
Abandonado.
Estragado.
Usado.
Serviu ao seu propósito.
Os portões carbonizados pendurados pelas dobradiças.
Os gritos de terror continuaram.
Estranho. Nenhum lamento.
Oséias paralisou enquanto ouvia os gritos e via os corpos espalhados perto dos portões.
O Senhor ordenou: Prossiga.
Ainda podia ouvir alguns gritos.
Então, apenas um.
Silêncio.
Oséias entrou na cidade, esperando ver algum alvoroço. Mas deu de cara com um terrível horror.
Um silêncio mortal.
Os soldados estavam de pé, atordoados pela selvageria.
As espadas pingavam.
Alguns pareciam confusos.
Outros largaram as espadas e caíram de joelhos.
Ninguém quebrava o silêncio.
Ninguém se atreveu a chorar.
Ninguém se sentia digno de lamentar.
Apenas soluços vergonhosos escaparam dos rostos uniformizados.
Oséias se afastou dos muros da cidade, onde estivera escondido e caminhou em direção ao poço central da cidade.
Ele caminhava na ponta dos pés quando um grito de guerra irrompeu atrás dele.
“Em nome do rei Jeroboão e do rei Zacarias, você morrerá!"
Oséias virou-se em direção ao atacante.
“Em nome do Senhor, você ficará em silêncio diante de mim!"
Menaém segurou sua espada e caiu a um comprimento de camelo da mão de Oséias.
“Rei Menaém, volte para o Senhor ou enfrente a destruição", Oséias ofegou, com o coração acelerado.
“Israel escolheu reis que o Senhor não aprova e príncipes que Ele não conhecia. Agora tu és o rei de Israel e deve liderar o povo para Deus. Rei Menaém, você reconhecerá o Senhor como Elohim de Israel?"
Os braços de Menaém tremiam.
Após um breve momento ele abaixou a espada.
“Eu me lembro de você", disse ele, estreitando os olhos.
“Você foi o profeta que ameaçou Jeroboão no sacrifício do templo em Samaria." Sua expressão era quase divertida.
“Você se casou com aquela prostituta."
“Aquela prostituta e eu temos um filho chamado Jezreel. O Senhor lhe deu este nome para predizer a morte de Zacarias no vale de Jezreel."
“Você sabia da conspiração e não enviou um aviso?" Menaém ajustou sua espada.
“Senhor fala a verdade para mim, mas raramente revela o tempo." Oséias deu um passo à frente, agora a um côvado da forma imponente do novo rei.
Ele engoliu seco, lembrando a si mesmo que a obediência ao Senhor deve superar o medo do homem.
“Toque o shofar, Menaém. A Assíria virá sobre ti como uma águia. porquanto quebraram a minha aliança e se rebelaram contra a minha Lei."
“Nós não rejeitamos 'El'!" Ele se aproximou ainda mais e gritou no rosto de Oséias.
“Seus profetas e sacerdotes espalham suas lendas enquanto os guerreiros se banham em sangue. Olhe ao seu redor, Profeta. Um rei lida com coisas reais: traidores e rebeliões."
“A vida real é Senhor, Rei Menahem." Oséias falou com uma calma que ainda não sentia.
“Se você O reconhecer, Ele dará sabedoria e o poder necessários para governar. Mas você precisa procurá-Lo de todo coração."
A raiva de Menaém entrou em ebulição, o sangue subindo pelo pescoço e avançando pelo rosto.
Ele olhou para o céu, erguendo punho.
“Eu te reconheço, Elohim! O que mais você quer de mim?" Sua espada caiu no chão e ele puxou a adaga.
“Sangue? Você quer mais sangue?"
Oséias ofegou, fechando os olhos e se preparando, certo de que a lâmina do rei.
Em vez disso, os gritos torturados de Menaém prosseguiram.
“Que o poderoso Baal, o cavaleiro das nuvens, se erga. E fale em nosso favor, benigno El. Proteja-nos da águia Assíria, Nisroch, e abençoe nossos grãos e vinho."
Oséias abriu os olhos para ver o rei de Israel cortando seus próprios braços e pernas.
“Não!" ele gritou enquanto os demais também desembainhavam seus punhais.
“Parem!" Ele assistiu horrorizado os soldados seguindo o exemplo do rei. Oséias lembrou-se das palavras do Senhor: Eles não clamam a mim do fundo do coração.
Eles choram e fazem cortes em seus corpos.
Oséias se afastou lentamente dos adoradores frenéticos, com o coração partido.
A voz do Espírito do Senhor o tirou da cidade.
Israel rejeitou o que é bom. um inimigo o perseguirá.
Quando estava quase no portão da cidade, uma sombra surgiu no caminho de Oséias.
“Fique longe, profeta. Menaém me autorizou a atacar um que ameace seu trono."
Oséias ergueu os olhos e encarou Eitan, o soldado que conhecera em Samaria. O mesmo que espancara Gômer quase até a morte.
“Não sou uma ameaça, Eitan."
O homem levantou uma sobrancelha.
“A que devo a honra de lembrar o meu nome... ou devo prendê-lo como espião?"
“Eu também não quero ameaça-lo."
Lembro do nome do homem que quase matou minha esposa."
Um sorriso sublinou a curiosidade.
“Perdoe-me se não me lembro de sua esposa ou o nome dela." Em seguida, apontando para um monte amassado à distância de um camelo, ele disse: “As mulheres me preocupam pouco." Ele empurrou Oséias ao passar por ele, entrando na confusão da adoração pagã.
Quando Oséias se recuperou, observou o monte de corpos apontado por Eitan.
Uma mulher grávida teve o filho arrancado de seu ventre.
Senhor, Senhor do céu! Como alguém poderia ...
Ele se virou.
“Gômer!"
O rosto de sua esposa grávida brilhou em sua mente.
A mulher no chão era a esposa de alguém. A criança era filho de alguém.
Ele caiu de joelhos e vomitou.
Começou a tremer com perguntas sem resposta.
Por que ele estava aqui? Que bem fizeram suas profecias? Senhor, devo continuar a falar às pessoas que se recusam a ouvir? Um soluço escapou e ele permaneceu de joelhos.
Aguardando...
Foi uma coincidência que ele encontrou Eitan? Viu a selvageria da mulher mutilada?
Ele enxugou o rosto e se levantou, erguendo a voz para o céu.
“Senhor, não ouvi o Teu comando diretamente, mas sinto que estás me levando de volta a Tecoa."
Silêncio.
Fechando os olhos, inclinou a cabeça.
“Vou para casa até ouvir o Senhor dizer o contrário."
E então ele correu.
Gômer lavou a última tigela de barro, secou-a com um pano velho e a empilhou com os outros pratos.
Seus olhos estavam pesados, ossos cansados.
Jezzy e Rahmy estavam particularmente indisciplinados esta noite, difíceis de aquietar no quarto.
Aya não conseguia brincar e correr como antes desde que descobrira sua primeira gravidez. Ainda assim ela amava os filhos de Gômer como se fossem seus.
Mas ainda cozinhava boa parte das refeições, desde que Gômer voltou a trabalhar na olaria.
Amoz perdoou a chantagem de Gômer e quis ajudá-la a desenvolver suas habilidades em cerâmica.
A vida havia assumido uma rotina confortável novamente.
Era hora de pensar em sair.
Ela esvaziou o dinheiro da jarra e contou novamente, esperando que tivesse multiplicado milagrosamente.
Nada feito.
Incapaz de imaginar a vida sem seus filhos, esperava que Amoz ajudasse a começar uma nova vida em outra cidade.
Sua habilidade na roda havia melhorado, e ela fizera sua primeira ânfora hoje.
O orgulho de Amoz no trabalho dela se misturou ao interesse demonstrado em Láquis.
“Você esqueceu como é ser uma mulher sozinha?" ele sussurrou, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém ouviu.
“Não seja tola, Gômer. Você não chegaria muito longe sem ser vendida como escrava. Você e seus filhos. Não tome nenhuma decisão que possa deixá-los no frio e desamparados."
Quando ela perguntou se poderia dividir os lucros da olaria, ele recusou veementemente, dizendo que não queria encorajar suas bobagens.
Ela colocou as magras moedas de volta na jarra e pegou Sansão.
Se aconchegou no pêlo macio, acomodando-se à dura verdade.
Se algum dia ela escapasse de Tecoa teria que retornar á prostituição.
O rosto de Yuval veio à mente e seu coração doeu.
Sua amiga voltou a viajar muito com Amós para ajudar no comércio.
Yuval parecia esconder alguma coisa.
Gômer riu baixinho.
“Yuval está escondendo algo." A ironia não escapou dela.
Ela planejava abandonar sua amiga sem dizer uma palavra. No entanto, se preocupava com o fato de Yuval passar um tempo com o marido.
Ridículo, Gômer.
Quem sabe depois de deixar Tecoa e se instalar em algum lugar, ela pudesse falar com Yuval.
Não.
Perigoso demais.
Oséias, sem dúvida, procuraria por Jezzy.
Ela poderia ir para o Egito ou Arã para escapar do alcance do marido.
Mas significava mais dinheiro.
Ela fechou os olhos com força e enxugou o rosto cansado, decidindo conseguir uma clientela mais diferenciada.
Ela não tinha tempo para conhecer mais homens.
Uma batida na porta interrompeu seus planos.
“Quem poderia ser?" ela perguntou ao gato.
Sansão respondeu com seu ronronar normal e pulou dos braços dela.
Ela abriu a porta e viu Hananias.
“Comandante?" Seu coração pulou.
“Aconteceu alguma coisa com Oséias?"
“Estou aqui para entregar uma mensagem de seu marido." Ele curvou-se ligeiramente, uma sugestão de sorriso.
“Sinto muito incomodá-la tão tarde. Espero não ter acordado você ou as crianças. " Seu foco estava atrás dela, inspecionando sua casa.
“As crianças estão dormindo. Você quer entrar?"
Ele passou pela porta antes que ela terminasse de falar. Seus ombros eram mais largos do que a porta, forçando-o a inclinar a cabeça para entrar.
“Oséias enviou uma mensagem, e achei que você estaria ansioso para ouvi-lo." Seus olhos percorreram seu rosto como se medindo sua reação.
Qualquer que fosse o jogo dele, ela estava cansada demais para se importar.
“Na verdade, não estou ansioso para ouvir nada dele, Comandante." Ela foi até a mesa de trabalho e pegou o rebolo.
Preciso moer cevada para o pão de amanhã.
Ela colocou uma xícara de grãos no sulco da mesa preparando para moê-los.
“Qual é a mensagem? Ele me quer fora de casa antes de voltar?" Ela estava parcialmente brincando.
Se pudesse manter seus filhos, ela partiria com prazer.
Ela se virou para colocar o pilão na mesa e ficou surpresa ao ver o comandante se aproximar.
Ele se aproximou.
Pairou sobre ela.
Olhou diretamente para ela.
Faminto.
Sua mente girou.
O que ele estava fazendo aqui? Ele realmente tinha uma mensagem de Oséias? Ela deveria estar com medo? A faca de cozinha do outro lado da mesa veio à mente.
“De repente, estou ansioso para ouvir o que você tem a dizer, comandante Hananiah." Ela manteve a voz baixa, sedutora.
Ele se aproximou, inclinou-se sobre ela e sussurrou: “Seu marido enviou uma mensagem através dos espiões do rei Uzias. Ele voltará até o próximo sábado."
Seu coração batia forte, mas ela não tinha certeza se era pela notícia de Oséias ou da proximidade de Hananias.
O comandante se inclinou e beijou o ombro dela.
Sua mão grande pousou na faca dela.
“Você não vai precisar disso hoje à noite. Se depender de mim, nunca. Embora eu tenha desejado você desde o momento em que te vi, eu nunca vou me forçar a você. " Ele colocou as duas mãos em sua cintura, sentindo as curvas de sua forma.
“É um crime que seu marido a deixe sozinha por tanto tempo. Uma peça tão fina de cerâmica vale um preço alto. Pagarei bem se você estiver disposta a ser discreta. Não conte a ninguém sobre nossos encontros. Eu virei à noite, enquanto seus filhos dormem. " Ele se inclinou para beijá-la, hesitante a princípio, provocando-a.
Ele sorriu e se afastou, mas ela tomou o rosto dele e o beijou.
Quando Oséias voltou para casa?
O coração de Oséias palpitou. Miquéias também respirava pesadamente.
Aa caminhada final de Belém a Tecoa havia sido pesada.
Oséias precisava ver Gômer e conversar com Jonas.
As imagens horríveis de Tiphsah ainda assombravam Oséias.
Quando ele retornou a Siló e contou a Miquéias sobre as atrocidades cometidas em Tifsa, eles juntaram seus suprimentos e enviaram uma mensagem pelos espiões de Uzias sobre seu retorno.
“Qual é a primeira coisa que você fará quando chegar em casa?" Miquéias perguntou descendo uma ladeira rochosa.
Uma onda de tristeza interrompeu a resposta de Oséias.
O jovem olhou para trás.
“Sinto muito, Oséias."
Eu não tinha pensado nisso."
“É difícil planejar quando não sei o que ou quem me espera." Ele havia considerado a possibilidade de que Gômer tivesse partido - até mesmo que ela tivesse levado as crianças.
“Mas estou tentando muito confiar que não chego tarde demais aqui também." Essa terrível sensação de impotência o revisitou.
Se ele tivesse chegado a Tifsa um pouco antes, poderia ter parado a carnificina?
Miquéias parou para esperar Oséias.
Quase tão alto quanto Oséias, o jovem pôs a mão no ombro do professor.
“Um velho assustadoramente branco me disse uma vez que o tempo do Senhor é perfeito. Não devemos nos arrepender por coisas que não podemos controlar."
O comentário iluminou o coração de Oséias.
“Que velho disse isso?" Os dois riram e correram para o acampamento, ansiosos para rever o antigo professor.
Senhor, permita que ele ainda esteja vivo.
Já em território nacional, Miquéias apontou para as pequenas estruturas de pedra situadas ao norte do complexo de Amós.
“Devemos parar para informar o rei Uzias antes de voltar para casa?"
Oséias estava bufando, sentindo-se bem mais velho que seus vinte e quatro anos.
“Eu digo que gritamos uma promessa de voltar depois de dizermos olá para nossas famílias." Micah riu, e Oséias acrescentou: “Ele pode enviar seus guardas para nos buscar se achar que é uma questão de segurança nacional".
O humor jovial ajudou a aliviar a angústia de Oséias, mas uma vez que estavam dentro dos portões do acampamento, a emoção o dominou.
Passaram pela casa de Amós e depois pararam no portão de Oséias.
Miquéias deu um tapinha no ombro dele e parou no portão de Jonas.
Eles trocaram um olhar, assentiram e entraram em seus respectivos terrenos desconhecidos.
Oséias notou o estábulo limpo e bem cuidado. Os animais estavam calmos e pacíficos.
O sol começara a se por sobre as colinas ocidentais.
“Hmm. Isaías cuidou de tudo mais cedo."
Ele parou na porta da frente. O coração batia forte no peito.
Ele pegou a maçaneta três vezes antes de finalmente abri-la.
Jezzy estava brincando com o gato, e um bebê estava enrolado na mesa.
Gômer olhou para cima.
Suas mãos sujas de massa pararam.
“Oséias?"
Ela era a mulher mais linda que ele já tinha visto.
Sua respiração ficou irregular, seus joelhos fracos.
Ele se apoiou na cajado, tropeçando em um tapete de pele.
“Você está machucado?" Gômer pegou o bebê e a deitou ao lado dele.
“Você está machucado?" ela perguntou novamente.
Ele olhou em seus lindos olhos castanhos, dourado e marrom.
Lágrimas o sufocaram.
“Você está seguro." Foi tudo o que ele conseguiu pensar em dizer.
Em algum lugar de sua alma, ele temia que ela estivesse mutilada, espancada... ou desaparecida.
“Oséias, você está bem?" Ela analisou a barba dele com os dedos.
“O que aconteceu? O que você tem?"
“Ima?" Jezzy veio até ela colocando a cabeça em seu peito.
O coração de Oséias disparou.
Seu filho a adorava, era claro.
Ele sufocou os soluços. Suas palavras distorcidas entre as emoções que rasgaram seu coração e estrangularam sua voz.
“Tifsa... famílias inteiras... Eitan... "
O medo cravado em suas feições.
“Eu não consigo entender, Oséias."
Ele balançou a cabeça e ficou em silêncio.
Como ele poderia dizer a ela que tinha chegado tarde demais? Ele avistou a menina no tapete ao lado dele e sussurrou: “Lo-Ruhamah."
“Rahmy." A voz de Gômer ficou fria.
Derrotado, ele ficou cabisbaixo.
“Não posso lutar com você agora, Gômer." Hesitando, ele implorou: “Por favor, seja a garotinha de Betel. Seja meu Gômer. " Ele fechou os olhos, exausto.
Ela segurou Jezzy em um braço e pôs o outro braço em volta dos ombros dele.
“Você está em casa, Oséias. Certifique- se de que você descansa com frequência. Você está em casa. " Sua força embebeu nele, revivendo, restaurando.
Ele perdeu a noção do tempo, mas quando a barriga de Jezzy roncou, Gômer o sentou no colo de Oséias.
“Preciso preparar nossa refeição."
Oséias a deteve e estendeu a mão para o embrulho embrulhado ao lado dele.
“Posso segurar Rahmy enquanto você cozinha?"
Ela hesitou, com medo de confiar nele seu mais novo tesouro.
Ela assentiu, mas se manteve atenta.
Oséias ergueu em seus braços o pequeno embrulho, admirando suas bochechas rosadas, dedos enrugados, nariz minúsculo.
“Ela é linda, Gômer." As lágrimas voltaram, desta vez como oferendas de gratidão Àquele que planta as sementes do amor.
Obrigado, Senhor, por este bebê - por mudar meu coração para chamá-la de Rahmy, não de Lo-Ruhamah.
Ele se deitou no tapete colocando o bebê no peito.
Jezzy voltou a correr atrás de Sansão.
Oséias estava maravilhado com a ternura de Gômer com as crianças, a riqueza com que as tratava.
“Diga boa noite ao seu abba", disse ela, guiando a mão de Jezzy em direção a Oséias.
Ele recebeu o beijo de seu filho e ouviu Gômer cantar uma música de ninar.
Senhor, obrigado por me trazer para casa.
Sua esposa estava de pé à sombra de uma lâmpada.
Ela se abaixou, convidando-o.
“Não sou mais a garota de Betel." Seus olhos estavam cheios de compaixão.
Não suporto vê-lo tão atormentado.
Deixe-me confortá-lo."
Ele olhou para a mão dela, sem fôlego.
Senhor, isso está certo? E quanto a sua compreensão de que ele tomou sua esposa por luxúria ao invés de amor? Ele poderia amá-la esta noite? Ele ainda a amava?
Seus braços cairam, acompanhando sua cabeça, enquanto ela caminhou para a cama. Sozinha.
O silêncio de seu marido a machucou e seu coração se partiu.
Sim, Senhor, eu a amo.
Seu coração batia rápido.
“Espere!"
“Eu estive esperando, Oséias." As palavras doeram, com o objetivo de ferir como ele a feriu antes de partir para Israel.
O silêncio preencheu o espaço entre eles.
Ela estendeu a mão novamente, erguendo uma única sobrancelha - era seu último convite.
Suas pernas tremeram e a seguiu até o quarto.
“Você sabe o quanto eu a amo, Gômer?"
Não consigo parar de amar você.
30
Após 5:27
Por isso eu os mandarei para o exílio, para além de Damasco, diz o Senhor; Deus dos Exércitos é o seu nome.
Gômer acordou numa cama vazia.
Ela seguiu sua rotina matinal, tentando afastar Oséias da mente - e dos demais cantos do seu coração.
“Ai!" Ela cortou o dedo com a faca enquanto cortava o melão para Jezzy.
“Ima, ai!"
“Sim, amor. Ela empurrou o desjejum para filho e levantou um Rahmy nos braços. Calma, baby. Ima está aqui. Sua ama de leite estará aqui a qualquer momento. " Onde estava aquela vaca gorda e preguiçosa? A ama de leite de Jezzy deixara seu leite secar, então Gômer contratou uma nova mulher - muito menos responsável, mas a única agradável para amamentar o filho da prostituta.
O sol da manhã entrou pela janela.
Ela dormiu demais e queria ir à olaria antes de Oséias voltar - se ele voltasse.
Ele já deveria ter voltado para Israel.
Ou ele estava ficando em casa desta vez? Iavé o chamaria de novo? O que a noite passada significa?
Nada.
A noite passada era significou nada.
Ela estava pegando as crianças e deixando Tecoa assim que -
“Bom Dia." A voz profunda a assustou.
Oséias sorriu após fechar a porta atrás de si.
“Pensei em deixar você dormir enquanto cuidava do estábulo." Ele bagunçou os cabelos cacheados de Jezzy e ergueu Rahmy dos braços - como se ela fosse sua.
Com o coração acelerado, ela não sabia o que dizer, o que esperar.
Ele estava ficando? Como ela poderia ganhar prata suficiente para deixar Tekoa se Hananiah não pudesse vir à noite? Ela ao menos queria partir se Oséias prometesse ficar?
“O que você quer comer?" Foi pergunta mais segura que ela conseguiu pensar.
“Já comi pão e queijo. Preciso ver Jonas e Uzias. Você ouviu notícias recentes de Jonas?"
Ela se manteve ocupada, preparando a almoço, arrumando os brinquedos de Jezzy.
“Não ouvi nada. Jonah e eu não celebramos exatamente luas novas juntos. " Ela respondeu à risada de Oséias com um sorriso irônico.
“Acho que consigo entender isso", disse ele.
“Miquéias e eu precisamos nos reportar a Uzias depois de ver Jonas. Tenho certeza de que o rei e seu comandante vão querer saber o que vimos em Tiphsah ... "Suas palavras foram sumindo enquanto seus olhos se distanciavam.
“Oséias?"
Uma profunda tristeza precedeu suas palavras.
“Eu vi Eitan."
O mera menção daquele nome a fez estremecer.
“Onde?"
“Não importa. Menaém agora é rei de Israel e Eitan é seu general. Eles cometeram atos indescritíveis contra outros israelitas, e creio que o juízo do Senhor é iminente."
Ela tentou parecer desinteressada, distante.
“O que isso significa?" Lutando contra as lágrimas, ela se recusou a perguntar: O que isso significa para nós?
“Não sei", disse ele, desviando o olhar.
“Preciso falar com Jonas e o Rei Uzias ..." Ele fez uma pausa e abraçou Rahmy com um pouco mais de força.
“Preciso descobrir o que Senhor quer que eu faça."
Ela fechou os olhos.
O que Senhor quer que ele faça.
Nada havia mudado.
Oséias não tinha voltado para ficar. Era apenas um descanso e partir para outra missão.
“Vou preparar sua mala de viagem." Ela se virou, enfiando queijo duro e pão em um pacote, envolvendo-se na mortalha de indiferença que a mantinha sã.
Dessa vez, pelo menos, ela teria Hananias para abraçá-la à noite quando Oséias partisse.
O comandante tinha sido gentil. Trouxe presentes e a visitava todas as noites desde que entregara a mensagem de Oséias na semana passada.
Tão confiável como o sol e a lua.
A porta bateu e ela olhou para cima, encontrando Rahmy no tapete e Jezzy comendo o melão.
Oséias sempre vai embora.
Ela permitiu que uma única lágrima caísse por sua face.
Apenas uma.
Vou pedir a Yuval para trazer romãs em sua próxima viagem com Amós.
Felizmente, sua amiga ainda não percebera que a fruta era uma forma de contracepção.
Se Gômer voltasse aos negócios, precisaria empregar alguns dos truques de Merav, ou acabaria com um terceiro filho.
A visita de Oséias a Tecoa tinha sido muito curta.
O impacto do relato de Tifsa não havia assentado até que ele viu Gômer com Jezzy e Rahmy.
Famílias como a dele - cuidando da própria vida, preparando refeições, brincando com crianças - não tinham a menor idéia da ira vindoura do Senhor.
Amós havia profetizado o exílio vinte anos atrás. Assíria e Arã agora se posicionavam nas fronteiras de Israel.
Oséias e Miquéias sentiram a urgência das palavras do Senhor como nunca antes. Eles pregaram para todo o Israel durante a primavera, o verão e o outono.
“Tem certeza que Amós disse que nos encontraria aqui?" Miquéias perguntou pela terceira vez, no esconderijo em Siló.
“Ele sabe mesmo como chegar aqui?" O sol estava se pondo rapidamente no horizonte, e eles haviam perdido o dia inteiro esperando o amigo.
“Você viu o rolo que o espião de Uzias me deu em Efraim ontem." Oséias ouviu um suspiro exagerado.
Amós viajou de Damasco para o Egito.
Ele é tanto um comerciante quanto profeta.
Claro que ele sabe como encontrar este lugar. " Ele riu, esperando sua habitual brincadeira amigável.
“Qual é a graça?" Miquéias gritou, o medo estampado em sua testa.
“Você gosta de ser expulso de Gilgal com forcados e foices? Oferecemos vida a essas pessoas, e elas queriam nos massacrar em vez de ouvir Senhor! "
A tensão de seu jovem amigo era maior do que pode perceber.
Eles declaravam a mensagem do Senhor nas cidades e vilas desde a primavera passada.
No verão, a crescente perseguição os manteve fora das rotas comerciais, restringindo suas viagens às colinas e trilhas.
Caçados por soldados israelitas e odiados por adoradores pagãos eles precisaram confiar na proteção do Senhor a cada respiração.
Oséias levantou-se de sua cadeira confortável e se juntou a Miquéias, colocando o braço em volta do ombro do menino.
“Os verdadeiros profetas raramente são populares, meu amigo. Falamos a verdade de Senhor, não importa as consequências, e cabe ao Senhor nos proteger. " Ele apertou seu ombro, tentando transmitir paz com o coração leve.
“O Senhor nos fez correr mais rápido do que aqueles agricultores em Gilgal."
Miquéias deu um sorriso de má vontade. Ambos se assustaram quando ouviram farfalhar perto da porta.
“Esses eram os rostos que queríamos ver desde que saímos de Hazor há dois dias!" Amós surgiu com Yuval cumprimentando como se estivessem em Tecoa.
Por que você trouxe Yuval? Oséias correu para encontrar seus amigos, notando a marcha cansada da senhora.
Ela se apoiou nele.
“Gômer me disse que Yuval começou a viajar com você, Amós, mas não sabia o porquê."
“A idéia não foi minha!" ela protestou.
“Meus pés preferem ficar no solo de Tecoa."
Amós passou o braço nos ombros de Miquéias, conversando enquanto eles subiam os poucos degraus da casa.
“Você não vai gostar das notícias que trazemos."
Eles sentaram os viajantes cansados no banco de pedra e tiraram suas sandálias. Prepararam uma tigela quente de água para lavar os pés cansados.
Miquéias começou a se lavar e Oséias percebeu a tensão no rosto de seus amigos.
“Desde quando você se importa com o que eu gosto", disse ele, cutucando o braço de Amós.
O homem havia sido pastor, fazendeiro e comerciante a vida inteira.
Embora tivesse o dobro da idade de Oséias, ainda era forte como uma rocha.
Amós inspirou profundamente, abraçou Yuval e começou seu relato.
“Eu e você somos profetas, Oséias. Mas eu também sou cidadão de Judá e servo do rei Uzias."
O medo revirou o estômago de Oséias.
“Uzias também é meu amigo, Amós."
“Exatamente. Uzias é, primeiramente, meu soberano e depois meu amigo."
Oséias concordou com a distinção, embora não gostasse dos rumos da conversa.
“Quando você e Jonas voltaram de sua primeira viagem sem trazer nenhum conhecimento militar, Uzias pediu minha ajuda para levar mensagens a seus espiões por todo o país. A idéia de usar um profeta não havia ocorrido até ver como vocês viajaram completamente ilesos."
“Incólume? É assim que ele chamou? Incólume?"
“Por favor, Oséias."
Você e Gômer sofreram muito enquanto estavam em Samaria.
Mas o Senhor está trazendo juízo sobre uma nação inteira - muitas nações, de fato. Preciso te pedir que olhe além do que Senhor está fazendo em sua vida. Olhe para Seu plano maior.
Estritamente falando, no sentido físico, você não foi ferido."
Após refletir um pouco Oséias viu sua irritação desaparecer.
“Me desculpe, Amós."
Quando contemplou as feições doloridas de Yuval, suas defesas se armaram novamente.
“Por que Uzias envolveu Yuval? Ela nunca viajou em suas viagens mercantes antes. Porque agora?"
“Numa de minhas viagens a Betel, fui reconhecido por um homem que me viu profetizar vinte anos atrás. Ele incitou os cidadãos da cidade e me expulsaram. Uzias perguntou se Yuval poderia me acompanhar nas viagens temendo que minha identidade pudesse comprometer a missão - o que poderia parecer mais benigno que um casal de velhos comerciantes."
“Admito que gostei muito da companhia dela - embora tenha sido bem difícil para ela."
As lágrimas escorreram por suas bochechas.
“Estava indo muito bem até ontem, você não acha, meu amor?"
Amós a abraçou com força, e ela escondeu o rosto no peito dele.
“Você é mais forte do que mil soldados assírios, minha esposa."
“Soldados assírios?" O coração de Oséias saltou.
Ele encarou o homem.
“Soldados assírios?"
Amós fechou os olhos, evidentemente apavorado.
“Chegamos ao norte de Hazor e ouvimos falar de soldados arameus acampados. Decidimos não arriscar prosseguir para Damasco. Voltamos meio-dia de caminhada ao sul quando o chão começou a tremer sob nossos pés."
Yuval ergueu os olhos, aparentemente tomada pela memória.
“Avistamos uma fazenda e corremos para nos esconder.
O tremor sob nossos pés se intensificou. Cavalos - muitos cavalos - se aproximando rapidamente. Chegamos na casa e encontramos um jovem casal com três filhos. Eles nos levaram para um poço seco, implorando que nos escondêssemos com seus filhos e os mantivessem seguros enquanto lidavam com os invasores. Concordamos. Ouvimos gritos acima de nós. Barulho de metal. Homens gritando, morrendo. Permanecemos escondidos até que o único som fosse o lamento de uma mulher. " As palavras de Yuval caíram em uma onda de tristeza, e Amos a abraçou, deixando suas lágrimas molharem seu manto empoeirado.
Oséias e Miquéias estavam sem palavras.
“Quando tive certeza de que o perigo havia passado", disse Amós finalmente, “puxei a corda do poço e nos trouxe pra cima. Yuval distraiu as crianças enquanto a jovem viúva e eu lavávamos o corpo de seu abba. " Amos baixou a cabeça, afastando a memória.
E então sussurrou: “Eram soldados assírios."
A viúva disse que eles se gabaram de aniquilar um grupo de assalto arameu em Hazor. Ele olhou para cima então, os olhos cheios de lágrimas.
“Ela disse que o soldado prometeu que estuprariam todas as mulheres em Israel e Judá, a menos que nossos reis se rendessem ao novo rei da Assíria."
Oséias lançou um olhar questionador para o professor.
“Não sabia que a Assíria tinha um novo rei."
Amós assentiu.
“Esta é a razão pela qual Uzias enviou Yuval e eu para viajar a Tiro, Síria e Arã. Sua esperança seria formar uma coalizão contra o novo rei em ascensão da Assíria."
“Uzias mencionou uma coalizão, mas fazia ideia que a campanha militar Assíria já havia começado."
Amós assentiu com tristeza.
“O novo rei assírio é bem parecido com Menaém. Começou como um implacável general da Assíria. Ao contrário de Menaém, contudo, Pul subiu ao trono por meio de uma sangrenta guerra civil. Ao que parece, sua sede de sangue continua."
Oséias sentiu um calafrio pela espinha.
“Os soldados assírios que você encontrou... como já podem estar tão perto de Israel?"
“Eles eram meros batedores. O ataques em Arã á começaram."
A notícia era como água gelada na face de Oséias.
“Eles estão indo para Judá?"
Amós assentiu novamente, confirmando os temores de Oséias.
“O rei Uzias acredita que Judá será o primeiro alvo de Pul porque Uzias é o líder mais forte."
“O Rei Pul sabe que Uzias tem lepra? O jovem Jotham sabe que está herdando a luta de seu abba?"
“Não temos certeza se ou quanto o rei da Assíria sabe da doença de Uzias, mas sim, Jotão sabe e está apavorado." Ele enfiou a mão no bolso e tirou um pergaminho com o selo de cera de Uzias.
“Este é o último pergaminho destinado a Menaém. Ele é o último rei que precisamos convencer a se juntar à coalizão de Uzias contra a Assíria. E o mais importante porque é o último a fazer fronteira entre Judá e as outras nações. "
Oséias trocou um olhar com Miquéias, e o jovem retribuiu um único aceno de cabeça.
“Miquéias e eu levaremos o pergaminho a Samaria. Você e Yuval não devem se aproximar de Menaém. Ele é como uma carroça sem freio, pronto a cair no penhasco e levar todo Israel com ele."
“Não estou com medo, criança." A expressão de Yuval estava cansada, mas em paz.
Oséias não tinha dúvida de que ela confiava no Senhor e em Amós.
Ele deu um tapinha na mão dela, garantindo seu respeito.
“Eu tenho medo por você, meu amigo. Quero que meus filhos cresçam conhecendo sua savta. " Ele voltou seu olhar para seu amigo e mentor.
“Leve sua esposa para casa, meu amigo. Conte ao rei Uzias sobre a atividade de tropas assírias ao sul de Hazor. Miquéias e eu retornaremos a Tecoa depois de entregar o pergaminho em Samaria."
Amós hesitou e então se inclinou para beijar sua esposa novamente.
“Seu plano parece sábio, mas tenho um pedido."
“Qualquer coisa, meu amigo." Oséias estendeu a mão e travou os antebraços, selando o juramento.
“Ore pelo nosso amigo Jonas. Quando ele ficar sabendo que os ninivitas a quem ele pregou o arrependimento estão se voltando contra nós ele sentirá muito. "
Oséias fechou os olhos com força.
Jonas.
Ele era um professor dos outros profetas. Amós - outro veterano - percebeu como os homens lutam com Deus quando os eventos da história desafiam a compreensão.
“Vou orar."
Miquéias colocou a mão em seus braços.
“Vamos orar. Logo estaremos em casa para cumprimentá-lo."
31
Oséias 1:8–9; 1:11–2:1
Depois de desmamar Lo-Ruama, Gômer teve outro filho.
Então o Senhor disse: “Dê-lhe o nome de Lo-Ami. Pois vocês não são meu povo, e eu não sou seu Deus. Será grande o dia de Jezreel."
“Chamem a seus irmãos "˜meu povo"™, e a suas irmãs "˜minhas amadas."™"
Oséias e Miquéias estavam sentados no tapete de audiências, encarando a sombra de um outrora conhecido rei.
“Lamentamos a demora em nosso retorno, Rei Uzias, mas, como espero que seus espiões tenham relatado, Miquéias e eu fomos forçados a permanecer escondidos em Siló depois de nosso breve encontro com Menaém em Samaria." Oséias notou o olhar zangado do comandante Hananias e se perguntou se Uzias compartilhava de seu desdém óbvio.
“Estou feliz que você esteja seguro, meu amigo." A voz do rei estava fina e fraca.
Olhos gentis miravam entre ataduras pesadas.
“Amós me disse que você e Miquéias se ofereceram para entregar o pergaminho. Você enfrentou grande perigo. Sou grato." Ele fez uma pausa.
Engoliu com dificuldade e acenou para Miquéias.
“Judá, obrigado." Suas palavras e ações foram deliberadas, parecendo cobrar seu preço.
Oséias temia aumentar a dor do rei com as notícias que tinha para dar.
“O Senhor nos conduziu em segurança até a sala do trono de Menaém, embora tenha sido ameaçado de morte se entrar novamente naquele lugar. O pior de tudo, contudo, foi que nem o rei Menaém nem o general Eitan se comprometeram com a coalizão."
Uzias trocou um olhar com seu comandante.
“Fomos informados que Israel já começou a enviar tributo à Assíria para obter ajuda contra Arã. Os arameus há muito tempo são espinho de Israel ..."
“Mas se Menaém acha que Pul será como um velho irmão protetor", interrompeu Hananias, “ele se engana!"
Oséias ofegou com a ousadia de um soldado em interromper seu rei, mas Uzias iniciou uma crise de tosse antes que algum deles pudesse reagir à quebra de protocolo.
Hananias permanecia ao seu lado.
“Chame o médico", gritou para um de seus guardas, depois voltou a encarar Oséias.
“O rei tem ficado cansado. Você não nos disse nada que ainda não soubéssemos. " Ele acenou novamente para seus guardas, e desta vez vários deles cercaram a tapeçaria ao redor de Oséias e Micah.
“O rei os convocará se precisar de mais informações. Podem se retirar."
Não, espere.
Não saia ... "A tosse de Uzias piorou e Oséias ficou dilacerado.
Ele queria ficar e ajudar o amigo, mas Hananias estava obviamente no controle.
Oséias sentia o desprezo do comandante desde o início. O ódio que queimava em seus olhos nunca fora tão exacerbado.
Ele não se intimidou e lembrou-se da verdadeira queixa de Hananias contra ele.
“Eu o ofendi novamente, comandante, ou ainda está bravo com o fato de o Senhor transcender seu escudo e sua espada: a promessa de resgatar Judá sem qualquer envolvimento militar?"
Um sorriso ameaçador aumentou seu desprezo.
“Vá para casa e fique com sua esposa, Profeta. Ouvi dizer que ela é uma mulher solitária, carente do toque de um homem."
As palavras atingiram seu alvo. Oséias se levantou, tremendo de raiva.
Miquéias o conteve, sussurrando: “Precisamos ir, Mestre Oséias. Você pode retornar quando o comandante estiver em Jerusalém. Fale com o rei Uzias sozinho. " Micah o puxou em direção ao acampamento.
“O comandante de Judá certamente não mora em Tecoa. Você terá a chance de se queixar dele quando estiver fora."
Gômer admirava o elegante roupão e véu diante do espelho de bronze polido em seu quarto.
Como ela viveu sem Hananiah? Em menos de um ano, ele a trouxe de volta à vida, fazendo-a se sentir amada, desejada e esperançosa novamente.
Embora sua forma grávida parecesse mais um camelo que uma gazela, Hananias ainda a procurava todas as noites, com paixão incontrolável.
O soldado parecia estar cativado por suas habilidades maternais.
Ela girou observando o leve tecido azul flutuando ao seu redor.
A cor e o tecido requintados ajudaram mascarar seus pecados.
Um sorriso perverso vincou seus lábios.
Mas quem poderia provar seus pecados? A visita fugaz de Oséias e a paixão instantânea deram o álibi perfeito para sua barriga inchada.
Sempre que as fofoqueiras de Tecoa começavam a contar os ciclos da lua, ela mencionava a visita do marido e calava os sacerdotes e profetas do Senhor.
Yuval não era assim tão fácil de enganar.
Sua amiga e sua auto-proclamada ima desconfiavam das bochechas rosadas de Gômer e seu barrigão.
“Sua felicidade não é só por fazer cerâmica", ela resmungou uma noite enquanto ajudava Gômer a cozinhar.
Ela tentou manter a conversa leve, dizendo: “Sou muito boa em fazer cerâmica."
Mas os instintos de Yuval eram aguçados, e ela recebeu a piada de Gômer como uma confissão.
Seu olhar de decepção era mais doloroso que mil fofocas.
“Amo você, filha", disse ela.
“E sou boa nisso."
Suas visitas se tornaram menos frequentes desde então.
Yuval viajou muito com Amós. De vez enquanto trazia um presente para Gômer.
Gômer passou o pano macio sobre a barriga e falou com o reflexo.
“Pena que ela esqueceu as sementes de romã e cenoura." Ela riu, acariciando sua barriga.
“Eu vou te amar, pequena, porque você é de Hananias." Ela estava certa disso.
Quem sabe depois do parto Hananias pedisse a Uzias para tomá-la de Oséias.
Era um sonho, é claro, mas o comandante de Judá era um homem que sabia o que queria.
Ela viu isso em primeira mão.
Embora ele fosse gentil e a banhasse com presentes - especiarias, perfume, linho e até uma tornozeleira de ouro com guizos - ele ainda era um soldado.
Ela colocou o último presente, uma pulseira de ouro, em volta do braço acima do cotovelo.
Escondia bem as cicatrizes.
Ele não queria machucar.
Ela demorou para buscar o corpete de couro na última noite.
Ele disse que sentia muito.
Ela girou novamente, ouvindo o som dos guizos.
Como ela amava o som dos guizos.
Finalmente.
Alguém a amava.
Hananias não havia realmente dito as palavras, mas uma mulher sabia.
Ela estava apaixonada por ele?
Pensou em Isaías e Aya, lembrando a ternura de seu cuidado.
O amor deles era como o calor do sol, e Gômer agradeceu aos deuses que seus filhos pudessem recebe-lo.
Eles passavam os dias sob os cuidados de Aya enquanto Gômer trabalhava na olaria. Quando a noite chegava, Gômer se permitia vislumbrar a família amorosa compartilhando a jantar.
Naquela noite, Isaías e Aya pediram para deixas as crianças passar a noite - dando a Gômer uma noite de descanso.
Hananias passaria uma noite toda sem as crianças.
Ela se virou e começou a arrumar o quarto.
Os blocos de madeira de Jezzy pareciam se multiplicar diariamente, e Rahmy ganhara três novas bolas de lã.
Aya estava mimando a princesinha.
“Gômer?" Uma voz profunda ressoou na sala, despertando uma pontada de medo.
Ainda não havia anoitecido.
Hananias nunca vinha antes do anoitecer.
Ele dizia que precisavam ser discretos.
Havia rumores que ele seria um cliente, mas ele negou, justificando suas visitas alegando que entregava mensagens de Oséias.
“Gômer?" A voz se aproximou.
Não era Hananias.
Seu coração estava na garganta.
Oséias apareceu na porta.
“O que..."
“Eu agradeço por estar viva. Não tenho do que reclamar."
Oséias estava de volta. Seu coração inicialmente aliviado, ficou horrorizado.
Seus olhos percorreram a mulher em seu quarto.
Ela estava vestida com linho fino.
Ele sentiu o perfume dela, seus olhos adornados com kohl.
Então soube.
“Como você pode?" A raiva o encheu.
Ele cerrou os punhos e se aproximou.
“Você teria morrido em Samaria, mas eu a salvei do bordel de Tamir. Eu te trouxe aqui, te dei uma casa. " Sua garganta se apertou, mas ele sufocou as palavras.
“Eu te amei, Gômer."
“Amou?" ela cuspiu na cara dele.
“Uma vez você me perguntou sobre o amor, me fazendo sentir como se eu não soubesse o significado. É você quem precisa aprender, Oséias. Você pensou que ao me comprar um véu poderia me comandar. Mas eu não sou sua. Nunca serei. Eu ..." Ela segurou o abdome grávido e se dobrou, alcançando o colchão para se firmar.
Ele calou-se instantaneamente, ainda ofegando de fúria.
O que ele deveria fazer? Eles tinham muito a discutir, mas ela não estava em condições no momento.
“Oséias, vá buscar Yuval." Antes que ele pudesse responder, ela caiu no chão e abafou um gemido no colchão.
Sem saber o que fazer, ele se aproximou e agarrou seus ombros para apoiar.
Quando ela se levantou, se encolheu de ombros.
Deixe-me em paz e chame Yuval."
Ela não ia gostar do que ele estava prestes a dizer.
Ele se ajoelhou na frente dela e falou calmamente.
“Acabo de vir da casa deles. Um dos pastores me disse que Amós e Yuval estão viajando."
O pânico subitamente se transformou em resignação.
“Vá embora, Oséias. Eu consigo fazer isto sozinha."
“Posso chamar Aya?"
Ela descansou a testa no colchão e balançou a cabeça.
Ela passou a vida toda se sentindo abandonada.
Esta noite não seria diferente.
“Você não está sozinha, minha esposa."
Ela riu, encarando o olhar dele, com assombroso ódio em seus olhos.
“Suas palavras não significam nada. Estive sozinha toda a minha vida ... Suas palavras foram cortadas por um suspiro, e novamente ela escondeu o rosto no colchão, sufocando um grito."
Um jorro de fluido molhou o chão sob os pés dela, e Oséias desejou que Yuval não tivesse ido viajar com Amós.
“O que devo fazer? O que posso fazer para ajudar?"
Ela não respondeu, aparentemente envolvida na própria sobrevivência.
Amaldiçoando os deuses e todos os homens que já conhecera, Gômer ofegou entre as contrações sucessivas.
“Não sei o que está acontecendo. Os outros dois nascimentos não foram assim. " O medo envolveu seu tom e seus olhos dispararam de Oséias para a cama e depois para o estômago.
“Se eu morrer, diga a Jezreel e Rahmy que os amo. Não conte a eles o que eu era. Diga que eu fui uma boa ima."
Seu pedido foi interrompido pela brisa da presença do Senhor.
Ele soprou através do quarto e mexeu o cabelo de Gômer.
O medo foi substituído pelo terror.
“O que foi isso?"
“Aquele era o Senhor." Oséias riu, acariciando sua bochecha.
“Ele veio para participar do momento."
“Ele quer matar meu bebê", disse ela, resignada e subitamente humilhada.
Eu mereço morrer, mas meu bebê é inocente, Oséias.
Você não pode argumentar com Ele? Implorar a Ele pela vida da criança? Por favor ... "Outra contração a rasgou, fazendo-a gritar.
Oséias a abraçou.
“Senhor não está aqui para matar ninguém." Ele sussurrava segurança constante enquanto ela lutava contra a dor, sem saber o que ouviu ou se ouviu alguma coisa que ele disse.
Oséias sentou-se ao lado da cama oferecendo apoio para suas costas.
“Gomer, essa não pode ser a melhor posição para o trabalho de parto. Yuval não tem uma engenhoca para as mulheres usarem durante o parto?"
Um esboço de sorriso vincou seus lábios.
“Chama-se cadeira de parto, e não tenho ideia de quem usou por último ou onde está. Mas se você me ajudar a me agachar com as costas pra parede, eu consigo ficar na mesma posição que o banco do parto."
Ele sentiu alívio.
Oséias levantou-a pelos braços.
Antes que ele pudesse posicioná-la contra a parede, ela gritou: “Espere!" Logo outra contração forte ocorreu.
Ela enterrou a cabeça no peito dele, e o cheiro de cravo surgiu.
Seu coração torceu no peito.
Senhor, como posso amá-la ainda? Depois de tudo que ela fez para me machucar, como posso ainda ...
A voz do Espírito do Senhor ecoou no coração de Oséias: Você o chamará Lo-Ammi - Não meu povo - pois os israelitas não são mais o meu povo e eu não sou mais o seu Ehyeh.
Dias virão em que Israel e Judá se reunirão, se tornando tão numerosos que não poderão ser contados.
Semearei meu povo, e eles crescerão na terra do Deus vivo. será grande o dia de Jezreel. Chamem a seus irmãos "˜meu povo"™, e a suas irmãs "˜minhas amadas'.
“Oséias, você me ouviu?"
Ele percebeu que Gômer havia falado com ele, mas não sabia o que ela tinha dito.
“Você pode me colocar no chão - oh, ainda não, ainda não ..." Outra contração a agarrou, e ela prendeu a respiração contra a dor.
A contração durou mais do que seu fôlego podia sustentar, e ela buscou mais ar.
Finalmente livre da dor, ela perdeu a cor.
“Estou tonta, Oséias. Não me abandone. Acho que vou desmaiar."
“Você precisa respirar, Gômer!" Sua observação saiu mais venenosa do que ele pretendia.
“Desde quando você é especialista em parto?" ela devolveu.
“Todas as mulheres que você ajudou a respirar ficaram saudáveis - aaahhhh!"
“Respire!" ele gritou, forçando-a a obedecer.
“É isso. A brisa do Senhor soprou sobre eles novamente, e desta vez ela inalou profundamente." A contração diminuiu e ela se derreteu nos braços de Oséias, exausta.
Ele beijou a testa dela e sussurrou: “Está pronta pra encostar na parede?"
Ela assentiu e ele colocou os pés no chão, encostando-se na parede.
Oséias avaliou a posição embaraçosa e tentou ajudar, erguendo-a levemente.
Ele tentou aliviar o desconforto da posição.
“Descanse os braços nas minhas pernas", disse ele.
“Isso vai mantê-lo elevado sem exigir tanta força de suas pernas." Ele se inclinou para beijar sua bochecha.
“Tudo bem."
“Eu estou aqui."
“O Senhor está aqui. Você terá um bebê saudável esta noite."
Ela apoiou a cabeça em seu ombro.
“Um menino?"
Ele tirou o cabelo da testa suada dela.
A brisa fresca fluiu com a próxima contração, ajudando-a a respirar através da dor.
Eles avançaram pela noite.
Você é tão bonita, Gômer, tão forte e cheia de vida.
“Linda, você é linda... e está fazendo um belo trabalho. Continue respirando."
Após uma contração particularmente longa, a cabeça dela bateu no peito dele.
Ela desmaiou? O medo beliscou as bordas de seu coração.
Ele entrelaçou seus dedos na mão flácida dela, como fazia quando eram crianças.
No começo, ele pensou que ela não tinha notado, mas então ele ouviu uma fungada silenciosa e viu lágrimas misturadas com suor escorrendo por seu rosto.
A testa franziu, e ele pensou que outra contração estava por chegar.
Não.
Mas era apenas um soluço.
“Obrigado por não me odiar, Oséias." O momento de ternura passou quando ela gemeu: “Ohhhhh, tenho que empurrar!"
Em um tempo menor que uma caminhada de Jerusalém a Tecoa, Oséias testemunhou a visão mais bonita do mundo: Gômer dando à luz na presença do Senhor.
Com o empurrão final, o bebê escorregou e Oséias abraçou a mulher que ele amara a vida toda.
“Ele é lindo, Gômer."
“Como você aguenta olhar para ele? Ou eu." Sua voz estava fraca, mas o vazio era mais do que fadiga.
Ele a deixou por um instante, correndo para pegar um cobertor e embrulhar Lo-Ami.
Por um momento ele ignorou o comentário da esposa de esfregar a criança com sal - era tudo que sabia sobre recém-nascidos.
Quando ele levantou o bebê, se surpreendeu ao ver Gômer ter outra contração.
“Você está tendo gêmeos?" Ele entrou em pânico.
O Senhor falou de um filho!
Ela balançou a cabeça, sem conseguir explicar.
Ele assistiu a expulsão da placenta, espantado com seu profundo desconhecimento daquelas coisas femininas.
Ela o instruiu a esfregar o garoto com sal - ele esqueceu - da mesma forma sobre o descarte da placenta.
Ele nunca imaginou que aquele mundo feminino existisse.
Ele estava surpreso, surpreso, impressionado.
Quando finalmente terminou os procedimentos e Gômer se acomodou com o bebê no peito, ele se sentou no colchão ao lado dela.
“Você sentiu a presença do Senhor durante o parto?" Ela não respondeu.
Ela não vacilou.
“Você perguntou como eu poderia olhar para você, ou para o seu bebê. Senhor ordenou que chamássemos seu filho de Lo-Ammi - Não Meu Povo ". Ele observou a dor e a rebelião substituir sua indiferença.
“Mas é a segunda parte da mensagem que me dá esperança de sermos uma família novamente, Gômer. Todos nós."
Ela levantou a cabeça, o olhar em chamas.
“Você chama meu filho de 'Não é meu povo' e espera nos reivindicar como sua família? Eu não deveria estar surpreso. Você sempre me tratou assim. Você promete amor, casamento, família - e aí vai embora. Você sempre sai. " Ela desviou o rosto, fechando os olhos - e evidentemente o coração.
Se ele estivesse sentado no lugar dela, ele não pensaria a mesma coisa? Senhor, como posso contar-lhe as tuas promessas, se parecem tão distantes, tão impossíveis? Posso confiar em Você porque vi Você se mostrar fiel, mas Gômer foi ferido e abandonado repetidas vezes - às vezes por causa de minha obediência a Você.
Ele se sentou ao lado dela em silêncio, sem saber se deveria contar a ela toda mensagem do Senhor.
E se a verdade a afastasse ainda mais do Deus verdadeiro?
No silêncio, o Senhor falou mais uma vez a Oséias: Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho.
Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim.
Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso para os ídolos esculpidos.
Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços.
Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor.
Tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los.
Oséias percebeu que mesmo nesta mensagem, Gômer também era como Israel.
O Senhor a guiava, revelando-se a ela desde criança, mas ela se recusava a vê-Lo.
Ela interpretou Suas leis como um jugo de regras.
“Gômer", ele disse hesitante, “parece que eu não fiz nada além de abandonar você... e você pode acreditar que Senhor é um juiz vingativo."
“Deixe-me em paz, Oséias", disse ela, virando-se para a parede com o bebê recém-nascido.
“Posso deixá-la em paz por um dia, um sábado, até muitos ciclos da lua, mas você será minha esposa para sempre. E você será filho do Senhor por toda a eternidade. Ele nunca vai deixar você em paz, Gômer. Ele está com você mesmo quando eu não estou. " Sua declaração foi recebida com silêncio, e ele se perguntou se ela tinha adormecido após o parto que durou a noite toda.
Determinado a obedecer, ele sussurrou as palavras do Senhor ao bebê junto de sua ima.
“Seu nome é Lo-Ami - Não meu povo - mas o dia em que Israel e Judá se reunirá novamente está chegando. O Deus vivo semeará Seu povo - Jezreel. Será grande o dia em que Jezzy unirá essa família. Embora sua irmã se chame Lo-Ruama - Não amada - nós a chamaremos Ruama, e embora você se chame Lo-Ami, pequenino, nós o chamaremos Ammi. "
Gômer fingiu estar dormindo, prendeu a respiração até sentir Oséias beijar sua testa e deixa-los no quarto.
Um choro silencioso surgiu com as palavras que ele havia falado sobre seu novo filho.
Ele parecia amar os filhos da infidelidade - Rahmy, nascida da semente de outro homem, e agora Ammi, que, pelas feições ásperas de seu rostinho, era claramente filho de Hananias?
Um pensamento a aterrorizou mais do que qualquer outro.
O Senhor é real.
Ela não podia mais negar.
Ela sentiu a brisa de Sua presença numa noite sufocante de verão - dentro de sua casa.
O deus de Oséias era real e parecia querer tornar sua vida miserável.
Após se recuperar ela deveria escapar para o bosque de Aserá e pedir conselho a uma sacerdotisa.
Como alguém pode fugir de um deus?
Virando o rosto para o travesseiro de lã, ela liberou seus soluços confusos.
“Durma."
Ela precisava dormir.
Ela precisaria de uma mente clara para encontrar uma maneira de escapar de Oséias e seu deus.
32
Eclesiastes 12:6
Sim, lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se quebre junto ao poço.
Oséias ficou em pé na porta, observando os ombros de sua esposa enquanto ela chorava no travesseiro de lã.
Ele havia se casado com a mulher mais teimosa do mundo, assim como o Senhor e Israel - as pessoas de cabeça mais dura do mundo.
Ele queria se aconchegar ao lado dela e confortá-la, mas ela deixou seus sentimentos claros.
Ela não confiava que ele podia cumprir suas promessas, e nenhum sermão mudaria sua idéia.
Somente o tempo poderia curar suas feridas.
Ele estava exausto, mas precisava ver Jonas e checar Jezzy e Rahmy.
Pegou seu cajado, aos primeiros raios do amanhecer passou pelos animais do estábulo.
Senhor, obrigado por Isaías. Ele cuida dos meus estábulos e supervisiona o acampamento.
Uzias dizia que a fazenda de Amós e o acampamento dos profetas estavam prosperando sob o olhar atento de Isaías.
Embora o jovem ainda não tivesse ouvido o chamado do Senhor, ele havia ocupado o lugar de liderança quando Amós foi chamado e Jonas ficou doente.
Oséias abriu o portão e notou um grupo do lado de fora da casa de Jonas.
Impuro!" ele gritou, ganhando a atenção de todos.
“Eu ajudei Gômer a dar à luz o bebê ontem à noite, então terei cuidado para não tocar em ninguém." Ele caminhou em direção à multidão, chegando à porta quando Amos saiu.
“O que você está fazendo em casa?" A pergunta de Oséias sumiu quando ele viu a tristeza no rosto de Amós.
Lágrimas o sufocaram.
“Saia da frente. Eu quero ver Jonas."
Amós colocou a mão em seu ombro.
“Ele se foi, Oséias. Estava vindo te contar. Cheguei há alguns momentos. Miquéias acordou esta manhã e o encontrou... em paz."
Os lamentos da multidão romperam o silêncio pacífico do amanhecer.
Roupas rasgadas.
O pó caiu sobre suas cabeças, salpicando suas barbas - um lamento pela morte do grande profeta.
Miquéias saiu da casa, com o rosto torcido após ver Oséias.
Ele correu para seus braços, chorando.
“Mestre Oséias, nosso professor se foi - Jonas se foi."
Eles se abraçaram até Oséias perceber uma mão em seu ombro.
Isaías!"
Eles se colocaram em círculo. Em luto.
Senhor, como iremos aprender sem nosso professor?
Oséias ouviu Amós gritando instruções para os enlutados.
“Preciso de voluntários para ungir o corpo. Precisamos ser rapidos por causa do calor."
Oséias se voluntários.
“Eu posso lavá-lo. Já estou impuro. Ajudei Gômer a dar à luz ontem à noite."
Miquéias deu um passo a frente.
“Também estou impuro. Toquei o corpo do meu mestre para verificar sua respiração e batimentos cardíacos esta manhã."
“E eu os toquei", disse Isaías, encolhendo os ombros.
“Vamos lavar e ungir o corpo juntos." Ele colocou seus braços sobre os ombros de Oséias e Micah, unindo-os em sua terrível honra.
Amós assentiu e se virou para dispensar os outros voluntários.
Oséias ouviu o ruído das pessoas se retirando, enquanto Amós se juntava aos três homens mais jovens lá dentro.
“Eu enviei um dos pastores para pegar especiarias e unguentos de Yuval." Oséias ficou feliz em ouvir isso porque, como o nascimento, ele parecia mais confiante do que se sentia para completar a tarefa das mulheres.
Amós era bem capacitado. Rapidamente eles já trabalhavam em sintonia como uma harpa bem afinada.
Na reverência de seu último ato de amor por Jonas, Oséias anunciou a pergunta que mais pesava em seu coração.
“Quem ensinará os profetas se o Senhor me chamar de volta a Israel?"
Amós molhou um pedaço de pano na mirra, continuando seu trabalho silencioso.
“Isaías fala com grande sabedoria, mas ainda não recebeu seu chamado profético. E eu ensino ocasionalmente, quando não estou viajando, embora você saiba que nunca fui eloqüente como os grandes profetas da antiguidade. " Ele fez uma pausa, aparentemente imerso em pensamentos, e Oséias ponderou sobre a dúvida de Amós - ou seria simplesmente um fato? O pastor corpulento não tinha a intenção de se tornar um profeta, nem era filho de um profeta.
Mas ele foi fiel quando o Senhor enviou mensagem para o rei Jeroboão, quinze anos atrás. Desde então não havia falado pelo Senhor.
Amós deixou de lado os panos e esperou que Oséias encarasse seu olhar.
“Quando você for chamado a Israel, meu filho, o Senhor proverá para os alunos aqui. Mas não se enganem. A responsabilidade de ensino foi passado para você. Você é o profeta do Senhor para este tempo."
As palavras pareciam uma avalanche nos ombros de Oséias.
“E quem vai me ensinar?" Era apenas um sussurro, como Jezzy, e as lágrimas embaçaram sua visão.
Sua alma lutava com arrependimentos do passado, dúvidas do presente e medo do futuro.
É demais, Senhor.
Não posso suportar isso.
Os soluços o dominaram e ele se inclinou sobre o corpo de seu mentor, gritando: “Tenho sido fiel ao Senhor. Quando o Senhor será fiel a mim?"
As palavras vieram das profundezas dentro dele.
Ele nunca havia expressado - nem para si mesmo - a magnitude de sua perda e frustração.
Ele manteve a cabeça enterrada.
O que mais poderia dizer?
“Olhe para mim, Oséias."
Envergonhado, não conseguiu encarar o olhar de Amós.
Mas aquele homem também era um professor e amigo como Jonas.
Oséias deveria obedecer.
Ouvir e aprender.
Não havia julgamento no olhar de Amós, apenas amor.
“Você fez grandes sacrifícios para servir ao Senhor. Mas não se esqueça que os planos do Senhor vão além deste momento. Lutamos pela vitória de Senhor, que é muito maior do que nossas lutas temporárias. " Ele embalou a bochecha de Oséias com sua mão gigante e calosa.
“Homens - e mulheres - irão falhar com você, mas Senhor será o seu professor." Amos deu um tapinha na bochecha de Oséias, pigarreou e começou a cobrir as bandagens com bálsamo e especiarias novamente.
Oséias notou-o derramar uma lágrima e considerou pela primeira vez como a morte de Jonas deve ser difícil para Amós.
Um suspiro escapou quando ele deixou as palavras de Amós ressoar em sua alma.
Três profetas estavam ali.
Jovens e velhos - travando batalhas diferentes pelo único Deus verdadeiro.
Todos tiveram que permitir que o Senhor os ensinasse.
“Jezreel, pare de correr atrás do gato!" Gômer não conseguiu ouvir nada que Yuval dizia sobre a confusão das crianças.
“Se Sansão morder sua mão, não venha chorando para mim. Rahmy, não toque no vaso de Ima ..."
Cabum!
A ânfora polida se espatifou no chão de terra batida e Gômer ficou parada, olhando para os cacos.
Ammi deve ter sentido a tensão dela, abraçado com força no sling, e começou a chorar, instigando o grito de medo de Rahmy.
Ela sabia que teria seria punida por quebrar o vaso favorito de Ima.
Jezzy sentou-se ao lado de Sansão, pegou seu amigo felino e começou a soluçar.
Gômer apoiou as mãos na mesa e deu um longo suspiro, deixando escapar algumas lágrimas.
“Não consigo fazer isso, Yuval."
Uma mão enrugada acariciou seu braço.
“Você já está conseguindo, filha. Você é uma ima maravilhosa."
Como ela poderia dizer ao seu querido amigo que não queria fazer isso? Ela não queria passar os dias trancada nesta casa, cheirando a tangas sujas e vômito de bebê.
No dia seguinte, ela e Oséias viajariam a Jerusalém para a purificação no templo.
Finalmente, ela poderia sair de casa.
Ela achou ridículo a insistência de Oséias em cumprir o ritual. Em nenhum dos partos anteriores ela tinha feito aquilo. Mas Oséias fora inflexível.
E como ele estava em casa, eles seguiriam a lei.
O que significava que ela estava presa dentro desde o nascimento de Ammi.
Trinta e dois longos dias - ainda mais dolorosos pela ausência de Hananias.
Ele nem tentou vê-la.
Yuval tomou Jezzy e Rahmy nos braços, enquanto Gômer pegou os cacos da cerâmica quebrada.
Jezzy perguntou a Yuval: “Por que você e Saba Amós vão embora?"
Yuval esfregou o nariz, fazendo a resposta Jezzy parecer quase feliz.
“Às vezes, os adultos precisam ir embora para fazer coisas importantes para o Senhor e nos manter seguros. Saba e Savta fazem um trabalho importante para o Senhor, e seu abba é um profeta. Você sabe o que isso significa, Jezzy?"
“Significa", interrompeu Gômer, “que nunca sabemos quando seu abba estará em casa e quando ele nos deixará."
Os olhos de Yuval se voltaram na direção dela, e a mágoa de Gômer atravessou seu coração.
“Um profeta nunca sabe quando ou onde o Senhor o chamará", disse ela suavemente a Jezzy, “mas sabemos que os caminhos do Senhor são corretos, para que aqueles que O seguem."
Gômer jogou os pedaços de ceramica no lixo, levantou Jezzy dos braços de Yuval e o colocou firmemente no chão.
“Jezzy, leve sua irmã para o quarto de Ima. É hora de sua soneca do meio-dia. " Ela sustentou o olhar de Yuval.
Ela precisava ter uma conversa particular com sua velha amiga.
“Ima, eu não estou com sono."
“Jezreel!" O calor subiu pelo pescoço de Gômer.
Ela tentou se acalmar, não querendo que Yuval visse.
Sua paciência com Jezzy e Rahmy havia diminuído muito - e ela se odiava por isso.
Ela colocou a mão na cabeça de Jezzy e sentou Rahmy no chão ao lado dele.
“Leve sua irmã."
“Vamos, Rahmy." Ele agarrou a mão dela e se arrastou para a outra sala.
Gômer voltou sua atenção para Yuval e encontrou a mulher olhando para ela.
Ela se aproximou, sentou-se ao lado dela e esperou a repreensão.
Não demorou muito.
“Você não pode ensinar a eles seu desprezo pelo Senhor. Oséias não só vai proibir, eu proíbo. " Ela ergueu o queixo e parecia aguardar uma resposta acalorada.
Não haveria resposta.
“Eu tenho uma pergunta para você, Yuval." A surpresa e o alívio no rosto de sua amiga deram permissão a Gômer para continuar.
“O que você quis dizer quando disse a Jezzy que você e Amos fazem um trabalho importante para Senhor? Quando eu perguntei antes por que você começou a viajar com Amos, você me disse que estava sozinho e queria a aventura. Acho que você está me enganando, Yuval."
Sua amiga olhou para Ammi, enrolada no sling.
“Eu tenho enganado você?"
O coração de Gômer saltou.
Yuval sabia sobre Hananiah? Eles foram tão cuidadosos.
Gômer sabia que ela suspeitava de sua prostituição, mas será que ela descobriu que Hananias era o abba do menino? Ela se atreveu a confiar em sua amiga?
“Parece que nossas missões para o rei Uzias terminaram." Yuval olhou para as mãos dela.
“Suponho que finalmente possa lhe contar."
“Missões?" Gômer decidiu que Hananias poderia esperar.
“Do que você está falando?"
“Amós começou a levar mensagens para espiões de Judá desde que Oséias o trouxe pra morar em Tecoa. Quando ele foi reconhecido em uma missão, comecei a viajar com ele para fornecer um estratagema mais plausível. " Ela ergueu os olhos enevoados, oferecendo um sorriso fraco.
“Um velho comerciante e sua esposa chamam menos atenção - especialmente ao viajar para o norte para propor uma coalizão contra a Assíria."
“Aliança? Assíria? Yuval, você é um apanhador de figo, esposa de um comerciante pastor de Tekoa. Por que o rei enviaria você e Amós em missões?"
Era muita informação para uma mulher que não dormira direito.
“Por favor... Não me importo com reis, mensagens e coalizões. Você vai me deixar como todo mundo?"
Yuval segurou a mão de Gômer.
“Aprendi algo muito importante ao viajar com Amós, algo que você precisa ouvir. As mensagens de um profeta - nossos maridos - afetam as decisões dos reis. As decisões destes reis determinam não apenas o destino das nações, mas também a vida e a morte dos moradores desses países. Se nos apaixonarmos tanto por nosso pequeno mundo a ponto de desconsiderar as nações, não seremos melhores do que aqueles que se concentram nas nações e desrespeitam cruelmente o pequeno mundo de cada um."
Os olhos de Yuval eram profundos poços de tristeza, diferentes da inocência que Gômer vira ao chegar em Tecoa.
O que ela havia presenciado para ter mudado tão profundamente? “Yuval, você está me assustando. Porque você tá me dizendo isso?"
“Você diz que se sente abandonada, Gômer, e sei que você sofreu perdas esmagadoras em sua vida. Mas Oséias não te deixou. Ele está a algumas de distância, ensinando seus alunos. Viajei algumas vezes, mas estou segurando suas mãos aqui e agora. O mundo nos abandona, Gômer, porque somos todos pó. O Senhor é o único que nunca te abandonará."
“Não!" Ela arrancou a mão das mãos de Yuval.
“Não quero mais ouvir bobagens sobre o Senhor. Gostaria que Ele me abandonasse. Eu gostaria que Ele me deixasse em paz! Só quero viver em paz com um homem que me ama como Hana ... " Sua birra foi interrompida pelo asneira.
A ternura de Yuval não vacilou.
Uzias ordenou que Hananias voltasse a Jerusalém no dia seguinte ao nascimento de Ammi - para aconselhar o rei Jotão nas decisões relativas à coalizão.
Embora Uzias tenha construído as torres de Judá, reforçado os portões e preparado um exército, seu filho conduzirá Judá à guerra se o rei Pul da Assíria invadir."
Gômer ouviu as palavras de Yuval disse, mas parou de prestar atenção após ouvir as notícias de Hananias.
Hananiah não me abandonou! Ele foi mandado de volta para Jerusalém! Seu coração saltou de alegria, mas ela deveria pelo menos reconhecer a situação do pobre rei Jotão.
Ele era tão jovem para enfrentar uma tarefa tão assustadora.
“Vejo alívio no seu rosto, e isso me incomoda. Não há tristeza pelo pecado, nenhuma compaixão pelos outros, nem mesmo um vislumbre de medo ou curiosidade para aprender mais sobre o mundo em mudança ao seu redor. " A avaliação de Yuval desnudou o coração de Gômer.
“Você não me deu a chance de responder." Foi uma resposta patética, e o desafio silencioso de Yuval mexeu com suas defesas.
“O que você quer que eu diga? Devo chorar e gemer porque a Assíria pode um dia atacar Jerusalém? Por que é tão terrível ficar aliviado por Hananias não ter me abandonado?"
“É sua definição de abandono que parte meu coração, pequena Gômer."
Yuval pegou o cajado e se levantou. O coração de Gômer despencou.
Sua amiga finalmente desistiu dela.
Para sua surpresa e alívio, a velha pressionou o cajado no chão de terra e desenhou um círculo em volta de si mesma.
Quando ela terminou, olhou para cima com um leve sorriso.
“Filha, você precisa aprender o que não é abandono. Você desenhou um círculo ao seu redor - um círculo bem pequeno. Você acredita que todos estão com você, enquanto permanecerem neste pequeno círculo. No entanto, se alguém sair um pouco dele, mesmo que por um momento, você se sente abandonada e chama o outro de traidor."
“Eu não!" A indignação de Gômer diminuiu ao perceber a verdade nas palavras de Yuval.
A velha levantou uma sobrancelha, pedindo permissão para continuar.
“Já que você desenhou no meu chão, pode continuar..."
A velha tentou esconder um sorriso.
“Lembre-se do que eu disse antes sobre o perigo focar demais no seu pequeno círculo - e excluir o mundo ao seu redor. Esse grande mundo, onde profetas, reis e nações estão tomam todas essas decisões, pode engolir você sem nenhum aviso. Aqueles que você acusa de te abandonar entraram em um círculo maior - um círculo que você decidiu ignorar. Oséias não te abandonou. O Senhor não te abandonou. Eles estão trabalhando no mundo ao seu redor."
Gômer piscou e assentiu.
Aquela conversa sobre círculos estava ficando confusa.
O que havia acontecido com seu amigo prático, prático e apanhador de figos? O mundo continuaria em seu curso com ou sem a intervenção ou preocupação de Gômer.
Enquanto isso, ela se apegaria firmemente à única coisa que lhe dera esperança desde o nascimento de Ammi.
Hananias não havia abandonado por escolha própria.
Ele recebeu ordens para deixar Tecoa.
E agora ele estava em...
Jerusalém.
Eu estou indo para Jerusalém amanhã!
33
Oséias 8:14
Israel esqueceu o seu Criador e construiu palácios.
O povo de Judá construiu cidades fortificadas.
O Senhor lançará fogo nas suas cidades e queimará os seus palácios.'"
Oséias e Gômer estavam no topo da colina do outro lado do vale de Kidron.
“Veja", disse ele, apontando para o templo do Senhor.
“É como uma jóia brilhante, e as muralhas da cidade são como uma coroa."
Gômer sorriu com um sorriso que alcançou seus olhos.
Ele se virou e correu morro abaixo.
Gômer manteria o ritmo, o vigor renovado desde o início da manhã.
Ela acordou antes do amanhecer fazendo as malas para a jornada.
Ele não a via tão feliz desde antes de Jezzy nascer.
Seus dias de impureza e reclusão foram difíceis.
Ela gostava do contato com pessoas. Essa viagem a Jerusalém parecia soprar uma brisa fresca de vida nela.
Oséias protegeu os olhos e mediu a posição do sol.
“Já passa do meio dia. Caminhamos rápido."
Ele olhou para trás e viu que Gômer seguia de perto, mas não respondeu.
Ela parecia desanimada durante toda a jornada - embora não fosse particularmente faladora.
As imagens da colheita de azeitona enfeitaram a viagem deles. Cada vez que paravam para amamentar o pequeno Ammi amamentar, Gômer conversava com um fazendeiro local.
Eles agitavam as oliveira enquanto ela dançava em círculos, colhendo os frutos que caiam como gotas de chuva.
Os agricultores ficaram tão alegres que presenteavam Gômer com as azeitonas.
Oséias riu e parou para recuperar o fôlego.
“Do que você está rindo?" Gômer lançou um olhar irritado.
Ele tirou algumas azeitonas do bolso como uma oferta de paz.
“Estava imaginando como você ainda gosta da agitação das oliveiras, mesmo depois de viver na fazenda de Amós por três anos."
Oséias temeu que ele despejasse sua ira familiar, mas um sorriso irônico apareceu em um canto dos lábios.
“Só assim posso dançar sem atrair nenhum desprezo."
A revelação roubou o fôlego de Oséias - e partiu seu coração.
Sem dúvida, sua observação era apenas uma piada, mas revelava um anseio por sua antiga vida.
Ela desejou poder dançar esta manhã quando eles passaram pelas mãos contratadas de Amos sacudindo as oliveiras do acampamento? Minha esposa nunca terá liberdade para dançar e colher azeitonas no acampamento dos profetas.
Em Tecoa, Gômer sempre seria a esposa de Oséias, a prostituta.
“Vamos. Precisamos correr para casa após sua purificação para ajudar a prensar as azeitonas. " Ele retomou sua marcha ladeira abaixo, não querendo pensar nas realidades do futuro deles, quando hoje era sobre a alegria da vida de Ammi.
“Amos disse que alguns dos pastores não puderam ajudar no processamento da azeitona este ano porque a seca os estava enviando para as profundezas do deserto em busca de água." Ele plantou os pés no chão empoeirado, estabilizando sua descida em direção ao vale do Cedrom.
“Vamos atalhar por aqui. Chegaremos a entrada norte da cidade."
“Oséias, vá devagar! Tenho medo de cair. "
Ele olhou para trás e observou sua esposa descendo a estrada íngreme carregando o bebê no sling enrolado sobre o ombro e em volta da cintura.
Seus olhos estavam concentrados no terreno rochoso, e isso produziu uma careta.
O que eu estou pensando? Gômer não era um viajante experiente como Micah - ou mesmo Jonah.
Ele deixou sua mente vagar em vez de cuidar da esposa.
Subiu novamente a colina.
“Aqui, deixe-me ajudá-lo." Antes que ela pudesse protestar, ele circulou sua cintura, praticamente levantando-a do chão.
Posso cair com Ammi neste sling! Os pés dela escorregaram quando ela disse as palavras, e ele abraçou os dois.
Uma pequena risada escapou dela - a primeira que ele ouviu em muitos ciclos.
Ela embalou Ammi no sling com um braço, agarrando o pescoço de Oséias com o outro.
“Eu não vou deixar você cair, Gômer." Ele acariciou seu pescoço.
“Prometo que não vou deixar você cair."
Seu riso morreu.
O momento amável sumiu, e um flash de desespero apareceu antes que ela escondesse o rosto no peito dele.
“Quem escolherá o cordeiro para minha oferta?"
Seu coração doía cada vez que ela recusava suas emoções ternas.
Yuval disse que Gômer ficava mais sensível após o parto, mas Oséias sentiu que desta vez foi diferente.
Hoje tinha sido melhor, mas ele não forçaria suas emoções.
“Como já passou do meio-dia, os cordeiros do templo devem ter sido recolhidos, mas conversaremos com o sumo sacerdote. Talvez ele nos dê a honra de escolher nosso cordeiro."
Ele seguiu o resto do caminho em silêncio, a sensação dela em seus braços era suficiente por enquanto.
Se o humor dela não mudasse ele precisaria enfrenta-lo em pouco tempo.
Sua indiferença era tolerável; sua impaciência com Jezzy e Rahmy não.
Ofegando, Gômer apontou para algo na torre norte de Jerusalém.
“Oséias, olhe!"
Ele parou na estrada principal da cidade, enquanto outros viajantes passavam por eles.
Uma espécie de engenhoca estava montadano topo de cada torre, em cada canto do muro de Jerusalém.
Nunca vi nada assim, Gômer.
Parece algum tipo de máquina de guerra."
“Você pode me colocar no chão agora." Ela ignorou a observação de Oséias, se desvencilhou de seus braços e começou a caminhar em direção ao portão.
“Gômer, espere!" Ela parecia assustada, depois irritada, quando ele ajeitou o véu de linho azul para cobrir seus cabelos antes de entrarem na cidade.
As bordas do véu estavam desgastadas.
“Poderíamos ir ao mercado enquanto estamos aqui e comprar um novo véu."
Ela desviou o olhar e voltou à multidão agitada.
“Talvez."
Oséias correu para ela, tomando cuidado para não se separar - em função da multidão que entrava no Portão das Ovelhas de Jerusalém.
Chegaram ao templo do Senhor pela parte de trás, Oséias não notou sua má conservação até que dobraram a esquina sudoeste.
Os grandes pilares, Jakin e Boaz, pareciam sujos, os ornamentos de lírio e romã cobertos de terra.
Ele puxou Gômer pela mão e caminhou em direção aos currais.
Um cordeiro aguardava a compra.
“Espero que não haja defeito algum." O tom de Gômer gotejava sarcasmo, mas a raiva acendeu o coração de Oséias.
“Não há nenhum sacerdote aqui para levar nosso dinheiro para a oferta", ele disse a ninguém em particular.
Incrédulo, ele emitiu outro apelo.
“Como o povo do Senhor pode adorar sem um sacerdote para fazer o sacrifício?"
Sua raiva queimava como uma chama em brasa. Oséias girou, não vendo ninguém além de viajantes correndo do templo.
Ninguém parecia preocupado com o seu Deus.
O vento soprava através do pátio vazio do templo.
“Para onde foram todos?" ele gritou, parando todos os transeuntes.
“Como o templo do Senhor pode ficar vazio e os lugares altos fervilhando de fiéis?"
“Oséias, por favor." Gômer colocou uma mão silenciosa em seu braço.
“As pessoas estão olhando."
“Encarando?" Ele ficou boquiaberto, sem fôlego.
Será que ela realmente não conseguia entender o que consumia seu coração, sua vida? Ela achava que encarar era a pior perseguição que ele enfrentou enquanto eles estavam separados todo esse tempo? Ele respirou fundo para começar a zombar, mas foi interrompido por uma voz familiar.
“Oséias, tenho certeza que isso é um choque para você." O sumo sacerdote estava diante dele, exausto, exausto.
“Se você me seguir até o palácio, podemos conversar no caminho. Vou tentar explicar o que aconteceu em Judá enquanto você profetizava em Israel. " A tristeza no semblante do sacerdote amenizou a raiva de Oséias e Gômer deu uma cutucada silenciosa.
“Por favor, Oséias", implorou o sumo sacerdote.
“Ouçam, por favor."
O coração de Oséias trovejou em seu peito.
Senhor, dá-me sabedoria.
Ele não se intimidou pelo constrangimento de Gômer ou pela vergonha do sumo sacerdote. Se o Senhor desejava que ele profetizasse no palácio, esse poderia ser o modo como começaria.
“Tudo bem. Iremos ao palácio, mas trouxe minha esposa para a cerimônia de purificação. Nosso filho tem trinta e três dias e viemos cumprir a Lei."
Ele estremeceu com sua pausa.
Ami não era seu filho, mas o Senhor concedera a ele um amor pelo garoto semelhante ao amor por Rahmy.
Ele olhou sobre o ombro para Gômer.
Ela caiu atrás deles, a cabeça inclinada, sussurrando para Ami.
Ela deu um olhar fortuito para Oséias, mas parecia mais interessada nos pontos turísticos da cidade.
Gômer mal podia conter seu prazer.
Os deuses devem estar sorrindo para ela hoje.
O maior obstáculo para encontrar Hananias - entrar no palácio - fora superado sem grandes artifícios.
“Você vai conhecer seu abba", ela sussurrou para Ami.
Eles caminharam pelas ruas de Jerusalém. Gômer fingia indiferença a cada olhar.
Ela estava, na verdade, estudando o mapa da cidade, percebendo que precisaria caminhar pela cidade depois de fugir de Oséias.
Ela tomou a decisão durante a caminhada esta manhã.
Tecoa estava atrás dela.
& Sempre
Isaías e Aya amariam seus filhos como se fossem seus, acrescentando-os à sua própria família.
Ela e Hananias poderiam seguir suas vidas em Jerusalém com Ami.
Ela memorizou todas as ruas e edifícios, combinando o que viu com os relatórios que ouvira de viajantes.
Disseram que todas as cidades eram parecidas: a parede externa seguia o formato do contorno da rua central, casas ricas amontoadas nas regiões mais altas. O fluxo de lixo fluir ladeira abaixo, e poços ou fontes naturais ficavam no centro da cidade.
Ela ouvira dizer que Jerusalém era única porque a fonte de Gion ficava a sudoeste da cidade, perto do Portão da Água.
Jerusalém era única em muitos outros aspectos.
Lendas sobre túneis subterrâneos que se estendiam até Jericó, seres celestes pairando sobre o templo e uma dúzia de outras histórias em que ela bem pouco.
Pra garantir, no entanto, ela compraria outra Aserá com o dinheiro que havia guardado da prostituição.
Graças aos deuses que ela decidiu trazer o dinheiro.
Ela não tinha certeza de que abandonaria Oséias hoje até se sentir livre novamente.
Não muito longe do templo, chegaram a uma ampla escadaria de mármore.
Pilares brancos alinhavam-se em um pórtico externo, cada um deles gravado com romãs, uvas e palmeiras.
Ela ouvira falar da arquitetura de Salomão.
Os sete anos gastos na construção do templo foram superados em tempo e esplendor pelo projeto de treze anos de seu palácio.
Suas sandálias de couro bateram na entrada do mosaico, mas o som desapareceu quando as portas de cedro foram abertas.
“Hananias!" Ele estava atrás do rei Jotão.
Ela ofegou. Oséias a abraçou guiando-a pela multidão na frente deles.
“Muito diferente do palácio de marfim de Jeroboão, não é?" Ele teve que se inclinar e gritar para ser ouvido.
O rei Jotão estava envolvido em algumas discussões.
Ela segurou Ami firmemente enquanto as pessoas pressionavam para falar.
O sumo sacerdote foi à frente, bloqueando a visão do rei e de seu comandante - enquanto o mordomo anunciava a próxima audiência.
“Esdras, filho de Benjamin, apresenta acusações contra Berequias, seu vizinho."
Gômer reconheceu o oficial do palácio Maaséias da casa de Uzias.
Ele era agora a mão direita do rei Jotão, e o principal escriba. Jeiel, rabiscava furiosamente enquanto outros escribas descansavam para continuar registrando tudo.
Hananias olhou por cima da multidão.
Ele não deve ter me visto, pensou Gômer.
Jotão bateu o cetro no chão, produzindo um estalo alto.
“Seu vizinho pagará restituição pelo animal. A lei de Moisés é clara sobre este assunto."
Jotão tinha o ar da realeza.
Gômer sorriu, sentindo orgulho em nome de Uzias - e a seguir tristeza por nunca ver seu filho reinar tão habilmente.
A multidão retomou seu furdunço, e Gômer manteve os olhos no comandante.
Ainda não tinha sido reconhecida.
“Oséias, meu amigo! E Gômer! Vejo que você tem um novo pequeno. " A saudação do rei silenciou o salão instantaneamente, e Gômer se sentiu como um prêmio em exibição.
Oséias apoiou o cotovelo e ela sentiu a mão dele tremer.
Foi a raiva ou os nervos que fizeram o marido tremer?
“Rei Jotão, agradecemos as boas-vindas." Ele se curvou e Gômer fez o mesmo.
“Viemos oferecer o sacrifício pela purificação de Gômer, mas não pudemos suportar a condição do templo do Senhor."
Nós? Ele disse “nós"? De todo o coração, Gômer desejava correr e se esconder.
Qualquer coisa para poupar o constrangimento do que ela sabia que ele estava prestes a dizer.
Ela olhou para Hananias novamente. Seus olhos pareciam abrir um buraco no peito de Oséias.
“Vimos muitas fortificações ao nos aproximar de Jerusalém hoje. Seu abba construiu torres na muralha de Jerusalém e notamos algum tipo de máquina de guerra."
Hananias sussurrou algo ao rei.
Jotão assentiu e a voz baixa de Hananias ressoou na sala silenciosa.
“Essas 'máquinas de guerra', como você chama, podem disparar muitas flechas de uma só vez e atirar pedras grandes em um exército que atacar nossos muros. O rei Jotão me deu permissão para compartilhar esses detalhes, embora eu pense que a estratégia de guerra não deve ser preocupação de um profeta israelita."
Oséias olhou para o rei, ignorando completamente o comandante.
“Judá não será salvo por qualquer estratégia de guerra, rei Jotão. O Senhor diz: 'O povo de Israel construiu palácios e esqueceu o seu Criador. O povo de Judá construiu cidades fortificadas. O Senhor lançará fogo nas suas cidades e queimará os seus palácios.'"
“Parece uma ameaça, meu senhor." Hananiah deu dois passos antes que o cetro de Jotham bloqueasse seu caminho.
“Não é uma ameaça. É uma promessa. " As palavras de Jotham foram calmas.
Resignadas.
“Creio que entendo a mensagem do Senhor. Precisamos gastar energia e recursos para reparar o templo do Senhor, restabelecer as ofertas diárias e gastar menos tempo em preparações militares."
Oséias curvou-se, mas Gômer desconfiou.
O rei estava cedendo com muita facilidade.
Hananias, no entanto, parecia estar pronto para explodir.
“Mais uma coisa", acrescentou Jotão, “antes de retornar com sua esposa a Tecoa."
Pela primeira vez, Gômer notou um menino sentado do outro lado do escriba.
“Venha aqui, Acaz", disse Jotão ao pequeno que assistia com os olhos arregalados.
Ele correu e se arrastou para o colo do rei, uma coroa em miniatura sobre seus cachos vermelhos.
Jotão beijou a cabeça do garoto e voltou a atenção para Oséias.
“Este é meu filho, Acaz. Desde que o Senhor amaldiçoou seu Saba eu não o levei mais ao Templo. Quero que meu filho cresça com seu abba sentado no trono de Judá, e não em uma fazenda em Tecoa. "
Gômer não conseguia engolir.
Até que enfim alguém que parecia entender seu medo e suas dúvidas sobre aquele deus caprichoso.
Oséias deu um passo à frente, sua raiva aparentemente exaltada.
Ele se ajoelhou e curvou enquanto falava.
“Creio que seu coração é puro, rei Jotão, mas devo adverti-lo da mesma forma que avisei seu abba. Destrua os altos e volte ao templo do Senhor para adorar. O rei Uzias não foi amaldiçoado por um ato aleatório de uma divindade inconstante. Seu abba foi disciplinado por um Deus amoroso e é um homem melhor por isso. " Ele ergueu a cabeça, apontando para o pequeno Ahaz.
“Prefiro que seu filho cresça na companhia de um abba que aprende o amor do Senhor, do que crescer como prisioneiro, exilado em uma terra estrangeira. O Senhor te advertiu e não tolerará a desobediência de Judá."
Gômer cobriu a boca para reprimir um suspiro.
Oséias acabara de ameaçar uma criança?
O rosto de Jotão estava ilegível.
Sem emoção.
“Tenha cuidado, Profeta. Você é bem-vindo aqui porque estendi sua hospitalidade, contra o melhor julgamento de alguns de meus funcionários. " Depois de respirar fundo, Jotham continuou.
“Ordenarei os reparos do templo e restabelecerei as ofertas diárias. Mas não obrigarei aqueles que temem a presença do Senhor a abandonar os altos. Cada um deve escolher onde adora Deus."
Oséias o encarou.
“Você está cometendo um erro grave, meu senhor."
“E você não é mais bem-vindo em meu tribunal." Jotham acenou com a cabeça para os guardas atrás deles.
O coração de Gômer acelerou quando os guardas vieram escoltá-los para fora.
Era sua única chance de falar com Hananias.
“Não!" ela disse, lutando contra as mãos ásperas.
O grito assustou Ami, e ele soltou um gemido.
Ela se atrapalhou com o sling, desesperada para mostrar a ele seu verdadeiro abba.
Mas os guardas os empurraram para fora.
Ela lutou, mantendo Ami agarrado ao peito, tentando tira-lo do sling.
Até mesmo Oséias parecia estar empurrando.
Deixe-me mostrar a criança! ela gritou.
“Gômer, você pode cuidar de Ammi lá fora." A voz de Oséias foi abafada pela confusão.
Ela finalmente se libertou e levantou Ami de seu sling, apresentando-o como um pedaço de prata brilhante.
“Veja como ele se parece com seu abba -"
“Leve aquela louca de volta para Tekoa." Os guardas zombaram, empurrando Oséias para a entrada do palácio.
Eles foram jogados pra fora como lixo.
Oséias se levantou, erguendo os olhos para encontrar seu olhar.
“Ami se parece com seu abba?"
34
Isaías 49:15
Haverá mãe que possa esquecer seu bebê que ainda mama e não ter compaixão do filho que gerou?
Embora ela possa esquecê-lo, eu não me esquecerei de você!
Lo-Ami - Não meu povo.
O nome do bebê ressoou na mente de Oséias e fez seu sangue ferver.
“O que te faz pensar que Ammi é filha de Hananiah? Você é uma prostituta, Gômer!" Sua voz ecoou contra a entrada de mármore do palácio; as pessoas pararam e olharam.
“Ele poderia ser de qualquer homem sem nome e sem rosto!"
Seu pescoço e o rosto ardiam, mas ela permaneceu tão ereta quanto os pilares ao redor deles.
“Hananias foi o único homem na minha cama enquanto você estava fora, e ele me ama, Oséias." Ela cuspiu a palavra como uma acusação.
“Amor do qual você só sabe falar."
Ele agarrou o braço dela, tirando-a da multidão.
“Se ele te ama, onde ele está? Por que ele não está implorando para ser o abba do seu filho?" A hesitação em suas feições convidou seu desprezo.
“Hananias não te ama. Ele só..."
“Volte para Tecoa", veio uma voz grave e rouca.
“Vocês dois."
Oséias virou-se para encarar a imponente figura do comandante de Judá juntamente acompanhado de quatro guardas armados.
“Vocês estão causando distúrbio no palácio. Odiaria prender um profeta com sua esposa e seu filho ilegítimo."
“Ele é seu filho!" Gômer gritou entre lágrimas.
Hananias levantou a mão para bater nela, mas Oséias pulou na frente.
O comandante riu.
“Eu não bateria em uma mulher", disse ele.
“Em plena luz do dia." Seus guardas riram ruidosamente.
Oséias tremeu de raiva, mas viu-se impotente para defender Gômer.
Ela negou seu amor e se recusou a ser sua esposa.
“Iremos sair."
Ele tomou a mão de Gômer para seguir caminho, mas ela estava firme como granito, ombros retos.
“Não vou embora", disse ela, olhando para Hananias e a seguir para Oséias.
Antes que ele pudesse questionar, ela deixou Ami nos braços de Oséias e desceu os degraus.
Hananias e Oséias ficaram perplexos.
Oséias partiu atrás dela.
“O que você quer dizer com não vai embora? E quanto aos nossos filhos? E quanto a Ammi?"
Ela continuou andando, e logo Hananias estava do outro lado.
“Você vai deixar Jerusalém, Gômer." Ele acenou para seus quatro guardas, que bloquearam seu avanço e fizeram toda a caravana parar.
“Você nem seu marido são bem-vindos em Jerusalém. Você deve voltar para Tecoa -"
“Meu marido voltará para Tecoa e poderá levar seu filho, mas eu ficarei em Jerusalém. Vou encontrar um ceramista para me contratar e vou ganhar a vida aqui na cidade. " As lágrimas se acumularam em seus cílios inferiores e ela se voltou para Oséias.
“Não posso voltar."
“Não consigo. Eu nasci para ser esposa e ima. Sou uma prostituta, como você disse. É nisso que eu sou boa."
Hananias agarrou o braço dela, levantando-a do chão.
“Eu disse que você não ficará em Jerusalém. Não me importa se você voltar para Tekoa ou viajar para o Egito. " Ele a jogou de lado, e Oséias viu o coração dela se despedaçar nas manchas douradas de seus olhos.
Ela se virou e desceu os últimos degraus do palácio.
“Gômer, espere!" Oséias estava congelado. Ami chorava em seus braços.
“Ele tem meu nariz." Hananiah sorriu.
Uma mão esmagadora pousou no ombro de Oséias.
“Se você sair agora, deverá chegar a Tekoa ao pôr do sol." Ele desfilou de volta ao palácio, seus guardas empurrando e rindo como valentões que espancaram um fraco.
Oséias olhou para o bebê em seus braços, imaginando como poderia satisfazer a sua fome.
Senhor, dá-me força para amar quando tudo em mim quer odiar.
Com dificuldade ele deu um passo após o outro.
Oséias decidiu que visitaria o sumo sacerdote.
Talvez ele conhecesse uma ama na cidade.
Mas preciso retornar a Tecoa hoje à noite.
Ele não poderia enfrentar aquilo sozinho.
Gômer atravessou o mercado lotado de Jerusalém, cega pelas lágrimas.
Quem Oséias encontraria para amamentar seu bebê? Ele conhecia alguém em Jerusalém? Certamente ele iria ao templo, e o sumo sacerdote poderia guiá-lo até uma ama de leite.
Os gritos torturantes do bebê ecoaram em sua memória enquanto ela passava pelas tendas dos comerciantes.
Ela tapou os ouvidos para afastar o som fantasma, atraindo olhares intrigados de compradores.
Talvez ela fosse louca, como o guarda disse.
Somente uma louca deixaria seu bebê na rua e dois filhos em casa.
Ela tropeçou, e um menino empoeirado a segurou.
“Senhora, você está bem? Você precisa de água da nascente?"
Seus olhos arregalados eram inocentes.
Ele não fazia ideia que havia tocado uma prostituta imunda.
“Uma fonte?"
“Sim senhora." Ele apontou para o sul, descendo uma rua inclinada.
“Quer que eu te mostre?"
“Não, não", disse ela, afastando-se dele. Ela temeu que sua maldade pudesse de alguma forma corromper a bondade do menino.
“Obrigado."
Já passava do meio dia.
A fonte estaria deserta, um bom momento para tirar água sem ter que enfrentar as mulheres de Jerusalém.
Ela se refrescaria e depois encontraria alguém que pudesse ajudá-la a deixar a cidade.
Ou talvez pudesse esperar até esta noite, encontrar Hananiah e lembrá-lo de tudo o que significamos um para o outro? Como ele pôde ser tão cruel? Ele parecia outra pessoa, alguém que ela nem mesmo reconhecia.
Talvez ele tenha se decepcionado com a aparência dela.
Suas formas não haviam retornado ao normal. Ela recuperaria a forma depois de amarrar os seios e pular algumas refeições.
Uma voz suave e baixa causou um calafrio. Um dedo traçou uma linha do pulso ao ombro.
Sem pensar, ela se virou e deu um tapa no estranho atrás dela.
Seus reflexos foram rápidos.
Ele a arrebatou pelos pulsos e a prendeu contra uma parede atrás das tendas, cobrindo sua boca.
“Você não está sendo muito amigável." Ela olhou em todas as direções, mas não viu como escapar.
“Se eu tirar a mão, posso confiar que você não irá gritar?"
Ela assentiu, tentando pensar em uma forma de fuga.
“Qual o seu nome?" ela perguntou, desesperada para retardar o ataque.
“Isso importa? Parece-me que você já fez isso antes. " Ele colocou a mão em sua garganta, apertou e beijou-a com força.
Ela não conseguia respirar e começou a lutar.
“Por favor... Por favor!" A mão dele permaneceu em sua garganta, mas ela conseguia sussurrar.
Se ela pudesse distraí-lo...
“Por que você acha que eu já fiz isso antes", disse ela, tentando esconder a vergonha de sua voz.
Ele riu e acenou para ela, como se a resposta fosse óbvia demais para ter que falar.
Quando ele tentou dar outro beijo, ela virou a cabeça.
“Diga."
Por que você me escolheu."
Sua mão segurou o rosto dela, e ele se inclinou para mais perto.
“Tudo em você grita 'prostituta'. Você está sozinha, visitando a fonte ao meio-dia sem um jarro de água. O jeito que você anda. A maneira como você..."
De repente, o homem foi parar no chão.
Atordoada, Gômer ficou tremendo, olhando direto nos olhos de Hananias.
Seus guardas espancavam o agressor enquanto o comandante de Judá se erguia sobre ela.
“Você veio para me ajudar!" Ela se lançou no pescoço dele, mas ele a afastou.
Ela tropeçou, como se tivesse sido atingida.
O ódio em seus olhos permanecia.
Ele se aproximou e a seguir rasgou a bolsa de dinheiro que ela estava guardando há tempo.
“Quero meu dinheiro de volta", disse ele, com nojo.
“Você pode encontrar seu próprio caminho para sair de Jerusalém." Ele jogou a sacola para os guardas, que comemoraram como crianças com um novo brinquedo.
“Considere isso como pagamento pelo resgate."
“Isso é tudo o que tenho. Como poderei..."
“Não ligo em como você vai sair de Jerusalém. Seu marido já foi embora. Ele está voltando a Tecoa com aquela criança."
Seu coração disparou com a menção de Ami.
“Você não o machucou, não é? Ammi está bem?"
“Nem mesmo aja como se você se importasse." Hananias começou a tremer, os punhos abrindo e fechando.
Ela podia ver a raiva fervendo.
“Por favor... Deixe-me explicar. Eu..."
Ele levantou a mão, e ela estremeceu, esperando o golpe.
Em vez disso, ela ouviu um rosnado baixo e fervente.
Não preciso de explicação.
Você mostrou que tipo de mulher você é. " Ele cuspiu na cara dela e deu um passo para o lado, apontando para o homem que a atacou, deitado inconsciente.
Gômer engoliu rapidamente seu medo.
Ela pensou que sua dança sob as figueiras significava liberdade. Mas era apenas um delírio.
“Saia de Jerusalém, prostituta. Seu marido deixou a cidade e retorna a Tecoa hoje à noite. Duvido que ele ainda queira você. Eu não quero. Mesmo assim você pode tentar alcançá-lo. Posso também recomendar um bordel para abrigar você da noite para o dia."
Gômer engoliu seco e olhou para os guardas, esperando alguma misericórdia.
Eles viraram as costas de braços cruzados.
“Meus guardas são leais a mim, Gômer. Como você acha que te encontrei tão rápido? Vou te levar a um bordel, se quiser."
Ele chutou o homem no chão.
“Caso contrário, você vai ter que lidar con outros iguais a este."
Ela assentiu, encarando as sandálias.
“Vamos logo. Minha esposa está me esperando em casa para o jantar. " Hananias riu com seus amigos, e a humilhação de Gômer se transformou em uma fúria incandescente.
Ela ensaiou dizer algo que questionasse a inteligência da esposa, mas ganharia um olho roxo.
Em vez disso, ela o seguiu, notando que as fofocas das ruas eram verdadeiras.
O lixo sempre corre ladeira abaixo.
Eles passaram por bêbados e bordéis.
No final da rua havia um prédio de dois andares.
Num deles era as mulheres se apoiavam nos batentes das portas chamando os transeuntes.
O segundo parecia um armazém. Uma brisa leve denunciou um armazém de perfumes.
Mesmo na miséria, ela sorriu com a ironia.
Como ela queria comprar perfume enquanto estava em Tecoa. Mas teve que se contentar com o cheiro de cravo. Até Hananias lhe dar um pequeno frasco de nardo.
Havia ficado pra trás com o resto de seus pertences.
Talvez um dia ela usasse perfume de novo. Se pudesse recuperar o dinheiro suado que Hananias havia roubado.
“Miriam! Eu trouxe uma prostituta para o seu rebanho, mas ela fica apenas uma noite. " Hananiah abriu caminho entre as mulheres bajuladoras que bloqueavam a porta.
Elas olharam para Gômer, mas se distraíram com os guardas que esperavam do lado de fora.
Uma delas brincou: “Entrem, meninos. Podemos acender duas vezes a chama de vocês. Ela tem idade suficiente para ser nossa ima."
“Ha!" Como aquela criança se atrevia a chama-la de velha.
Hananias reapareceu na porta com uma mulher um pouco mais velha que Gômer.
“Ela pode ficar. Apenas esta noite. Entendido?"
Miriam parecia irritada, e Gômer se perguntou se a expulsaria assim que o comandante saísse.
A interferência de um homem no mundo de uma prostituta era uma violação da lei informal.
“Vamos", a mulher ordenou.
“Vou te mostrar a sala comum. As câmaras privadas são reservadas para negócios. Você terá seu próprio colchão no salão das meninas."
“Ela ficaria mais confortável em uma sala cheia de homens." Hananiah riu e deu uma cotovelada em um de seus guardas.
Sem qualquer despedida ou um adeus grosseiro, o comandante se afastou.
Se Gômer fosse um guerreiro, teria afundado uma adaga em suas costas.
“Ela ela era uma mulher. Impotente. Sem amigos. Sem valor."
“Você o amava?"
Ela se surpreendeu, tanto pela pergunta íntima quanto pela mulher que a fez.
Qualquer prostituta sabe que o amor não faz parte dos negócios.
Os lábios de Miriam estavam pressionados.
“Ele já esteve com a maioria de nós em Jerusalém. Traz presentes e nos faz sentir como se fôssemos o amor da vida dele. No final do dia ele volta para casa, para sua esposa rica, na mansão deles na colina."
“Por que ninguém o impede?"
“Fazer o que?" Miriam soltou uma risada triste.
“Quem poderia detê-lo?"
“Dê-me um frasco de perfume e diga-me onde a rica esposa dele espera nesta mansão." Gômer não tinha mais nada a perder.
“Vou te mostrar quem pode detê-lo."
“Isaías, e se eu estiver errado esse tempo todo?" Oséias estava encolhido na casa de seu amigo, tremendo, exausto depois da jornada cansativa para casa sozinho com Ami.
“E se eu ouvisse as profecias de Senhor e as interpretasse como gostaria de ouvi-las - que nossa família um dia seria unida? E se a intenção de Senhor fosse que eu literalmente parasse de amar Gômer, parasse de perdoá-la?"
Aya ofereceu um copo de vinho com água e ele agradeceu.
Ela apertou o ombro dele, as lágrimas escorriam pelo rosto.
“Vou levar Jezzy e Rahmy para passear."
Oséias havia contratado uma ama de leite em Jerusalém indicada pelo sumo sacerdote, mas o bebê chorou de fome o restante da jornada de meio dia.
Isaías agarrou a mão de sua esposa e a beijou antes que ela se afastasse.
“Não se canse." Ela sorriu com a preocupação dele.
O coração de Oséias ficou em frangalhos.
Por que Gômer não podia receber e dar aquele tipo de amor?
“Não sei se você interpretou a mensagem do Senhor corretamente", respondeu Isaías.
“Mas eu sei que você foi fiel, meu amigo, e é isso que Senhor pede. Ele não nos pede para entender."
“Mas eu quero entender!" A frustração surgiu num soluço.
Os olhos de Isaías se fecharam.
“E eu quero ser um profeta." Um suspiro e então ele abriu os olhos, focando novamente em seu amigo.
“Mas nem sempre podemos saber o plano do Senhor."
“Sinto muito", disse Oséias, “mas como pode ser o plano do Senhor que uma ima dê as costas aos filhos, incluindo um recém-nascido? Ela pode realmente esquecê-los? Esqueça-nos?"
“Eu não sei as respostas, Oséias. mas sei que o Senhor nunca vira as costas para nós, nunca nos esquece. Percebo que abba Amoz abre seu coração quando Aya fala do amor do Senhor. Ele não ouviu isso de Uzias ou de mim -, mas Senhor continua colocando pessoas na vida dele."
“Mesmo que Gômer se esqueça de seus amigos, marido ou mesmo seus filhos, o Senhor não esquecerá dela."
35
Oséias 2:5
A mãe deles foi infiel, engravidou deles e está coberta de vergonha.
Pois ela disse: "˜Irei atrás dos meus amantes, que me dão comida, água, lã, linho, azeite e bebida"™.
Gômer cobriu a cabeça com um pano marrom que pegara emprestado de Miriã e aproximou-se do guarda da mansão de Hananias.
O crepúsculo projetava longas sombras pelas ruas do norte de Jerusalém, e ela orou para que nenhum dos guardas a reconhecesse da visita do palácio.
“Ei você, o que quer?" Um soldado alto, com armadura completa estava do outro lado da cerca, empunhando uma lança.
“Trouxe um presente de lorde Hananias para sua esposa. Lamento o atraso, mas o perfumista preparou esta mistura para a senhora do comandante. " Ela sentiu sua hesitação, mas então ouviu o clique de um trinco de ferro e a porta se abriu.
Ele estendeu a mão.
Eu levo ao comandante.
Ele e a esposa estão jantando e não querem ser incomodados."
Ela levantou os olhos, dando seu sorriso mais sedutor.
“O perfumista pediu que eu entregasse pessoalmente. Não vou demorar, mas acredito que o comandante ficaria satisfeito se este aroma agraciasse o pulso de sua senhora. " Ela levantou a manga de seu manto, expondo seu pulso para o soldado cheirar.
“Talvez eu possa encontrar uma maneira de mostrar minha gratidão depois de concluir minha tarefa. Você pode me dizer onde o comandante e a esposa estão jantando?"
Ele apontou para uma casa de dois andares no topo de um caminho sinuoso.
O coração de Gômer disparou, enquanto seus pés mantinham um ritmo lento e silencioso.
Ela dobrou a esquina e subiu as escadas externas até o telhado.
Ela ouviu gritos e percebeu que o casal não estava bem “desfrutando" do jantar.
Ela se agachou atrás de um vaso e ouviu a discussão dos amantes.
“Como se atreve a mentir para mim!" O soluço histérico da mulher foi seguido pelo som estridente da cerâmica quebrada.
“Amalya te viu no mercado hoje e o seguiu até um bordel. Você disse que nunca mais visitaria um bordel, Hananias. Você prometeu."
“Shoshana, eu não estava visitando o bordel. Salvei uma prostituta de um cliente abusivo. Meus guardas e eu a escoltamos para casa. Amalya incluiu isso em seu relatório de espionagem?"
“Não se atreva a culpar Amalya."
“Ela é uma boa amiga. Tenta me proteger de suas mentiras."
“Tão certo quanto o Senhor vive, Hananias, se você me ferir novamente, meu abba irá até o rei Jotão e você será despojado."
“Você é comandante de Judá porque o tio Zacarias era o melhor amigo do rei Uzias, e abba comprou seu cargo."
“Sou comandante de Judá porque mérito próprio, Shoshana!"
Gômer levantou-se do esconderijo e encarou o casal constrangido.
“Tentei interromper mais cedo, mas não fui ouvida."
Hananias pronunciou suas palavras entre dentes.
“O que você está fazendo na minha casa?"
“Vim para agradecer e trazer esse perfume para sua esposa."
Ela andou em direção a Shoshana, mas Hananias se colocou entre eles.
“Saia."
“Hananiah, não seja rude." Sua esposa o empurrou para fora do caminho e aceitou o frasco de alabastro.
“Obrigado. Você gostaria de se sentar?"
“Ela não gostaria. Shoshana, você sabe quem é essa?"
Antes pudesse adivinhar, Gômer aceitou o convite da dama, descansando em um sofá almofadado ao lado dela.
“Sou a prostituta que seu marido resgatou hoje. Um homem se aproveitou de mim, pensando que não tinha sentimentos, porque sou prostituta. Alguns pensam que podem pegar o que quiserem sem pedir. " Ela se virou para Hananiah, seu sorriso tão caloroso que poderia ter derretido a neve do Monte Hermon.
“Mas seu marido me escoltou até a casa na minha senhora do bordel - o nome dela é Miriã. Quando Miriã viu que eu estava bem, sob a proteção do comandante Hananias, concordamos que não seria necessário sair de Jerusalém."
“Você estava pensando em sair?"
Gômer ensaiou algumas lágrimas e se virou.
Ela não queria exagerar. Shoshana parecia convencida até agora.
“Minha família me abandonou há algum tempo e eu não tinha certeza do que fazer ou para onde ir." Ela olhou para Shoshana, sorrindo em meio às lágrimas.
“Fico feliz de ver como a senhora ama o comandante Hananias e tem o apoio do seu abba. Uma família pode construir ou destruir um homem."
Sentindo-se justificada, Gômer levantou-se e secou os olhos.
“Não quero me mais atrapalhar a noite de vocês."
“Obrigada pelo perfume, hum... Shoshana gaguejou, erguendo uma sobrancelha. “Desculpe, eu não guardei seu nome."
Hananias ficou entre eles, criando uma barreira visual entre os dois mundos.
“O nome dela não é importante, meu amor. Não é como se vocês dois fossem se encontrar em uma reunião social. " Ele virou Gômer em direção à escada e colocou a mão firme na parte inferior das costas dela, encorajando uma saída rápida.
“Vou levar a prostituta até o portão e certificar que um guarda a acompanhe até sua casa. Volto logo."
“Adeus, Shoshana," disse Gômer por cima do ombro.
“Aproveite o seu perfume."
Ao chegar no último degrau, o comandante a girou.
“O que você pensa que está fazendo?"
“Estou sobrevivendo, Hananias. É o que eu faço. Você tem sorte por eu estar de bom humor, ou o abba de Shoshana estaria visitando o rei Jotão neste momento."
Ele cravou os dedos no braço dela.
“Não me desafie, mulher. Você vai morrer."
“Vou ficar do meu lado de Jerusalém."
Ela se soltou das mãos dele e caminhou em direção ao guarda do portão.
Ele aguardava pela sua volta e se colcou em seu caminho.
“Você já pensou em como vai me agradecer por ajudá-la?"
Ela sorriu com a decepção dele, saboreando o poder que ela tinha sobre os homens.
“Espere um ciclo lunar e depois me encontre no bordel de Miriam." Ela acenou sem olhar para trás.
“Traga seus amigos. E seu dinheiro."
Gômer inalou o ar fresco da noite. Sua mente girava ao pensar nos preparativos para voltar a receber clientes no próximo ciclo da lua.
Amarrar os seios secaria o leite e ela faria apenas uma refeição por dia para se livrar das protuberâncias extras.
O dono do bordel ficaria aliviado por ela comer pouco.
A constatação da miséria de Gômer a dominou.
Com nada além das roupas do corpo, como ela poderia competir com as jovens prostitutas com metade de sua idade? Talvez a pequena visita de Gômer ao comandante ganhasse o favor suficiente de Miriam para angariar um adiantamento de salário.
Gômer precisaria de algumas ferramentas para seu negócio - cosméticos, perfumes, jóias, uma nova túnica.
Ela precisava de uma vitrine.
Ela pressionou os seios para aliviar a pressão da ausência de Ami e divagou um pouco.
Ela já tinha vinte e dois anos. Teve dois filhos antes de deixar Samaria e mais três em Tecoa.
O corpo dela não era o tesouro ágil e firme de antes.
Embora soubesse de sua beleza, estava igualmente certa que as prostitutas mais jovens tinham um apelo maior.
Encontrarei outras maneiras de me distinguir.
Os cachos de Jezzy e o sorriso de Rahmy brilharam em sua mente.
“Não!" ela soluçou, acelerando o passo.
Ela não iria - não poderia - insistir no passado.
Sua tinha mudado. Pra melhor ou pra pior. E ela não podia mudar o que tinha feito.
A partir desse momento, ela seria Gômer, prostituta de Jerusalém.
Oséias estava sentado no tapete, na parede ao lado do forno, tentando afastar a umidade do inverno. As lembranças arrepiantes o assaltavam.
Já fazia um ano, e ele ainda via Gômer em todos os cantos da casa.
Ele pediu a Aya para jogar os pertences de sua esposa no lixo assim que ele voltou de Jerusalém. Muitos daquilo era presente de seus amantes.
Mas o que ele poderia fazer com as lembranças?
Como ele poderia substituir a janela que lançava o brilho do amanhecer em seus cachos acobreados? Ele deveria quebrar cada tigela que ela tocou, cada prato em que ela serviu suas refeições? E o que dizer dos lembretes mais dolorosos de todos - as três joias preciosas que ficavam ao lado dele todas as noites e o saudavam com sorrisos todas as manhãs?
“Bom dia, abba", diria Jezzy.
Ele tinha os cabelos escuros de Oséias e os olhos castanhos de Gômer.
Agora eles eram filhos dele.
Isaías e Aya se ofereceram para ficar com eles, aumentando a sua própria família.
Mas de alguma forma amar os filhos de Gômer justificava odiá-la.
Pelo menos foi assim que começou.
A amargura quase o consumiu nos primeiros dias.
Ele não teria sobrevivido se não fosse aqueles três inocentes cheios de amor e perdão.
Ele e as crianças estavam mais felizes e saudáveis sem Gômer.
Ele podia dizer isso sem amargura.
E era a verdade.
Oséias enxugou o rosto, secando as inesgotáveis lágrimas.
Yuval chegaria com os pequenos a qualquer momento.
Ela era um esteio, mesmo quando Amós ficou doente há alguns sábados.
Desde então, Oséias era o único professor dos pretensos profetas do campo.
Seus olhos brilhavam cada vez que descobriam um novo mistério do Senhor.
E quanto ao meu zelo, Senhor? Eu ouvirei sua voz novamente? As perguntas que fizera a Isaías ainda ecoavam em seu coração vazio.
Eu não entendi Você, Senhor? Eu ouvi o que eu queria ouvir? Ele estava tão certo do que tinha ouvido.
O Senhor foi tão presente, tão palpável.
Ele pensou que seriam uma família.
Pensou que Jezzy os uniria de alguma forma.
Em vez disso, Jezzy, Rahmy e Ami viveriam para sempre com o fato de ter sido abandonados por sua ima.
Abandonado.
A acusação favorita de Gômer.
Senhor, Tu me abandonaste?
Ele não sentiu a presença de Deus nem ouviu Sua voz desde que Gômer partiu.
Miquéias ouvia a Palavra do Senhor com regularidade agora. Profecias poderosas escritas em tábuas de barro e transferidas para pergaminhos.
Ele estava ansioso para falar com os reis de Israel e Judá, mas Oséias pediu cautela, alertando para o ambiente político instável.
Ou hesito em enviá-lo porque o Senhor o escolheu em vez de mim?
As bochechas de Oséias queimaram com a constatação de seu ciúme.
Mas era mais do que inveja, era uma questão prática.
Como Oséias podia ensinar outros profetas se não tinha certeza que podia discernir a voz de Deus?
Ele caiu de joelhos, rosto no chão.
“Por favor, Elohim! Ouça minha oração! Falar. Seu servo ouve! O céu permaneceu em silêncio enquanto soluços o sacudiam."
Sua tristeza se transformou em desespero, e o desespero revirou suas tripas.
“Se não falas, pelo menos me conduza a algum propósito, uma missão, uma tarefa!"
O coração de Oséias começou a bater rápido.
Um peso indescritível tomou conta de seu corpo, pressionando-o contra o chão.
Era angústia?
Mas isso era diferente.
“É o Senhor?" Ele sussurrou as palavras e terminou em oração.
Prefiro o calor da sua presença ou a brisa fresca quando o Senhor fala.
Nada.
& Responder...
Apenas mais daquele peso esmagador, mais e mais insuportável.
Ele enterrou o rosto no tapete.
“Senhor, me ajude. O que está acontecendo?" Oséias parou, fechou os olhos e esperou.
Ele sentiu uma mão cobrindo todo o corpo.
Um escudo.
Protegendo.
Pressionando ao chão.
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Não havia voz, mas Oséias sabia.
Sua vida mudou no dia que Gômer saiu, e ele também tinha que mudar.
Se ele viajaria para Israel ou ficasse em Tecoa pelo resto de seus dias, a presença do Senhor seria suficiente.
O que quer que ele tenha sentido.
Se fora ou não o Senhor.
Ele conseguiria servir ao Senhor sem palavras, sem tarefas, oferecendo apenas sua submissão?
A voz alegre de Yuval seguiu o rangido da porta.
“Minha nossa, você está bem? “Você caiu, abba?" Jezzy correu para acudir Oséias.
“Abba estava orando", disse ele, segurando o filho nos braços.
“É Gômer?" A voz de Yuval estava em pânico.
“Notícias de Jerusalém?"
Oséias olhou para cima, encontrando medo no rosto de Yuval.
O sentimento de traição surgiu, mas ele o reprimiu, lembrando-se do cuidado de Yuval quando retornou de Jerusalém com Ami nos braços.
Ela contou a ele sobre a conversa que teve com Gômer naquele último dia antes de partir para Jerusalém.
A culpa quase a consumiu.
Oséias queria ter avisado sobre inquietação de Gômer, mas acabou consolando em vez de acusar.
“Não, não recebi nenhuma palavra de Jerusalém." Ele sorriu para esta querida mulher, seu coração grande demais para um único peito.
“Mas recebi notícias de um pouco mais alto."
Ela apertou Ami mais perto do coração e dançou em círculo, segurando a mão de Rahmy.
“Seu abba está conversando com o Senhor, o Senhor, o Senhor. Seu abba tem falado com Senhor hoje, hoje, hoje. " Sua música e dança improvisadas inspiraram Oséias e Jezzy a se juntarem ao loop, celebrando externamente o que Oséias sentia internamente.
Ele quebrou o círculo alegre, balançando Jezzy nos braços.
“As crianças comeram, ou devo preparar um pouco de pão e queijo?"
Yuval começou a desempacotar os itens que guardara no sling ao redor do ombro e na cintura - pão, figos, e queijo.
“Eu empacotei tudo que você precisa bem aqui." Ela olhou para cima, os olhos brilhando.
“Direi a Amós que você ouviu do Senhor. Você voltará a Israel?"
Oséias sentiu o rosto queimar.
Ele ficou envergonhado por não ter uma mensagem profética? Era um sinal certo de que ele deixara o orgulho passar despercebido.
“Diga a Amós que não recebi nenhuma mensagem específica para profetizar. Meu maior chamado é me submeter a Senhor em tudo que for necessário. " Ele pegou Ammi, beijando sua bochecha rosada.
“Neste momento, sirvo ao Senhor neste acampamento."
36
Oséias 9:11–12
A glória de Efraim lhe fugirá como pássaro ...
Nenhum nascimento, nenhuma gravidez, nenhuma concepção.
Mesmo que criem filhos, porei de luto cada um deles.
Respire!" Gômer gritou.
A menina estava branca, trabalhando para dar à luz o primeiro filho.
“Você está tonta porque está prendendo a respiração. Você precisa respirar entre as contrações!" O conselho de Oséias durante o nascimento de Ami, ha quatro anos atrás, fez de Gômer uma das principais parteiras entre as prostitutas de Jerusalém.
Se aquela garota trabalhasse na casa de Miriã, Gômer teria dado cascas de romã e chá de cenoura selvagem, poupando-lhe a dor de ter aquele bebê.
“Eu tenho que puuuushh ..." Ela se abateu sem orientação.
Tudo que sabia havia aprendido durante os últimos quatro anos.
O corpo feminino era capaz de fazer todo o trabalho.
Gômer também aprendeu algumas 'soluções' pouco naturais para a tolice de algumas mulheres.
“Estou vendo a cabeça do bebê. Mais algumas contrações e você terá seu filho nos braços! Ela tentou dar esperança à garota."
“Vamos lá. Vamos lá."
Com um empurrão final, um garotinho entrou naquele mundo frio e cruel.
Gômer trancara a porta do coração e engoliu a chave - exceto naqueles momentos.
Lutando contra as lágrimas, ela limpou o bebê e o esfregou com sal enquanto ele dava o primeiro choro.
“Deixe-me vê-lo - sussurrou a nova ima, completamente exausta."
Gômer permaneceu em silêncio, apressando os procedimentos.
“Você sentirá outra contração em breve, e eu vou ajudar a eliminar a placenta."
Oh ..." A garota voltou a apresentar algumas contrações.
Concluída a tarefa final, Gômer gritou para as mulheres que esperavam: “Terminamos aqui."
Duas mulheres entraram.
A primeira era a dona da garota, de um bordel mais ao norte.
A segunda foi Miriã.
“Precisaremos de compensação pelo uso de um quarto e minha parteira." Miriam estendeu a mão.
A mulher deixou cair algumas moedas de prata e arrancou o bebê dos braços de Gômer.
“Consigo lucrar cinco vezes mais com a criança."
“Não!" a nova ima gritou, enquanto o bebê foi levado.
Ela tentou segui-lo, mas suas pernas não conseguiram.
Miriã e Gômer pegaram a garota enquanto ela desmaiava.
“Ajude-me a colocá-la no colchão de palha, Miriam." Gômer agarrou suas ervas e despejou um pouco de água fervente em uma caneca sobre uma colher cheia de folhas quebradas, caules e caules.
Mexeu o conteúdo, soprou o líquido fumegante e persuadiu a garota a beber.
Delirante, ela bebeu e tentou falar, mas perdeu novamente a consciência.
“O que você está fazendo?" Miriã perguntou.
“Ela está sangrando até a morte e você está dando chá de arruda a ela? Você está tentando matá-la?"
Gômer revirou os olhos.
Sua amiga sabia ser dramática.
“Não. Arruda tonifica os músculos abdominais e contém o sangramento."
Ela percebeu o olhar de Miriã.
Trabalhei muitos anos como prostituta; mas não tenho metade do conhecimento de ervas de minha velha cuidadora.
O coração de Gômer apertou.
Merav.
Mesmo morta, ela ainda ajudava.
“A parteira do meu antigo bordel era minha amiga e me ensinou muito sobre ervas. Ela nos ensinava a impedir que a semente de um homem frutificasse."
“Também passei por algumas experiências pessoais. Dei à luz cinco filhos e sobrevivi a uma intoxicação por arruda. Sei um pouco sobre o que esta garota está passando."
Os olhos de Miriã se encheram de lágrimas.
“Você abandonou cinco filhos para vir a Jerusalém?"
“Deixei três com pessoas amorosas que lhes darão uma vida melhor. Os dois primeiros foram tirados de mim."
“Tirado?" Uma voz fraca interrompeu a conversa.
O sangramento reduziu.
A garota abriu os olhos.
“Onde está meu bebê?"
Gômer engoliu seco, tentando manter a carapaça impenetrável de seu coração.
“Você está viva. Você sobreviveu. Isto que é importante. Você terá mais filhos algum dia, mas se for inteligente, nunca permitirá que isso aconteça de novo - até que se case com um velho comerciante rico com uma casa em uma colina. " A garota desviou o rosto, mas Gômer não podia permitir que ela negasse a realidade.
“Voce entende? Se você continuar uma prostituta, não se deixe engravidar! "
A garota assentiu, os olhos cheios de lágrimas não derramadas.
Miriã fornecia romãs e sementes de cenoura selvagem para evitar a gravidez de suas meninas. Sem uma senhora gentil, aquela garota não tinha chance de sobreviver.
Ela levantou uma sobrancelha para Miriã num apelo silencioso.
Miriã revirou os olhos e suspirou.
“Eu tenho espaço para mais uma garota na minha casa." Uma faísca iluminou os olhos da garota.
“Se você trabalhar duro e trouxer pelo menos dois clientes por noite, ficarei com você. E Gômer pode te ajudar a ficar longe de crianças."
“Sim! Ai sim."
A garota pegou a mão de Miriã, mas a mulher se virou e saiu sem dizer uma palavra.
Ela pensou que a mulher era dura e indiferente.
Gômer sabia que a dona de um bordel não poderia abrir seu coração.
“Gômer, acorde."
A sonolência desapareceu lentamente.
“Gômer, o comandante Hananias está lá embaixo. Ele quer vê-la imediatamente."
A ao nome de Hananias fez Gômer pular da cama.
Ela seguiu escada abaixo, cheia de perguntas.
“Ele disse o que há de errado? Ele está sozinho ou trouxe guardas? Ele tem uma mensagem ou um pergaminho? Você sabe que não consigo ler. "
“Ele quer vê-la imediatamente. Disse que você atende apenas clientes selecionados. Ele ficou indignado e disse que só queria conversar."
O alívio foi substituído pelo medo.
Sobre o que eles poderiam conversar? A menos que ele tivesse notícias de Tekoa ...
Ela alcançou o último degrau e viu a expressão aterrorizada do comandante de Judá.
Seu coração parou.
“O que é?"
Ele olhou para Miriã e Gômer.
“Preciso falar com você a sós."
A senhora tocou o cotovelo da amiga e se aproximou.
“Você precisa que eu chame os guardas da casa? Acredito que todos os quatro poderiam conter o comandante se fosse necessário. "
Gômer deu um tapinha em sua mão, agradecida por sua preocupação.
“Não. Eu vou ficar bem. Comandante, você pode ir à minha câmara privada lá em cima." Ele parecia chocado, envergonhado.
“Não se preocupe." Ela sorriu.
“Alguém me disse uma vez que 'nunca iria se forçar sobre mim'."
Nenhum dos dois falou até que entraram no quarto, onde ela acendeu uma lâmpada.
O quarto era pequeno, e parecia na presença do grande soldado.
“Então, comandante, o que o traz a minha casa no meio da noite?"
Ele balançava de um lado para o outro. Parecia mais um noivo nervoso do que um soldado confiante.
“Ouvi dizer que você é a melhor parteira de Jerusalém."
“Tem uma garota." Outra pausa.
“Ela esta gravida."
A cabeça de Gômer começou a girar.
Ele veio procurar seus serviços de parteira? “E quem é essa garota grávida, comandante?"
“Isso importa?" Ele cuspiu as palavras, mais como uma ameaça do que uma pergunta.
“Ela obviamente importa muito para você ter que procurar a melhor parteira em Jerusalém."
Ele suspirou e cruzou os braços.
“Ela é filha de um conselheiro real e carrega um filho meu."
Naquele momento, Gômer sentiu alívio por ter tido quatro anos para endurecer seu coração e aperfeiçoar sua indiferença.
Desta forma ela conseguiu se manter nos negócios sem se consumir em lágrimas.
“Quanto tempo de gestação?"
Ele olhou para ela como se ela tivesse perguntado algo absurdo.
“Quanto tempo desde que seu fluxo de sangue parou?"
“Não tenho a menor ideia?"
Ela não tinha certeza se queria rir ou dar um tapa nele.
“O que você quer de mim, comandante? “Queremos nos livrar disso."
Agora ela tinha certeza que queria dar um tapa nele.
“A garota quer 'se livrar disso' tanto quanto você?"
Os olhos dele se estreitaram.
“Ela está esperando lá fora com um guarda. Por que não pergunta a ela?"
Só depois que você acertar um preço com Miriã.
Ela negocia as taxas pelos meus serviços. Acho que isso custará muito."
Ela caminhou em direção à porta, mas Hananias a agarrou pelo braço.
“Você disse que queria ajudar. Ela é muito importante para mim - pessoal e politicamente. Nem pense em machucá-la para se vingar de mim. Se algo acontecer com ela farei você sofrer as penas mais severas do reino de Judá."
Gômer se soltou das mãos dele e parou na porta.
“Suas ameaças não me assustam, Hananias. Sei bem quem manda na casa. Você vai conversar com Miriã ou não?"
Ele seguiu escada abaixo como um cordeiro para o matadouro.
Miriã exigiria um valor exorbitante. Gômer escondeu um sorriso satisfeito.
Ela havia realizado dezenas de abortos nas prostitutas em Jerusalém com sua infusão de arruda.
Os úteros da nobreza poderiam ser diferentes? Ela começaria a preparar a sala de parto enquanto Hananiah e Miriam acertavam os detalhes.
A essa hora de amanhã à noite Gômer conquistaria outra vitória sobre o comandante de Judá. E o bordel ficaria mais rico.
Ela precisava dar um beijo na cabeça de bronze de Aserá antes de administrar o chá de arruda à filha do conselheiro.
“Pelo menos ela parou de gritar." O rosto pálido de Miriam e o manto manchado de suor testemunharam a longa vigília que ela manteve ao lado da filha do conselheiro.
Gômer só podia olhar.
Horror?
Incrédula.
O que estava acontecendo? “Ela está morrendo, Miriã."
Não pode ser! Ela entrou em pânico e começou a sacudir a garota.
“Respirar! Não é isso que você sempre diz a eles, Gômer? Respirar!"
“É tarde demais para isso." Ela empurrou Miriam para longe, embalando a garota no colchão de palha.
“Deixe ela ir em paz."
Elas ficaram em silêncio, ouvindo o o último fôlego escapar dos lábios azuis da jovem.
Finalmente, uma longa e última expiração.
Miriã ergueu os olhos aterrorizados para Gômer.
“O que faremos?"
Uma das garotas enfiou a cabeça pela cortina.
“Não ouço mais gritos. Posso mandar o comandante buscá-la?"
“Não!" elas gritaram untas.
Miriã assumiu.
“Saia!!"
Precisamos limpá-la antes de enviar qualquer mensagem.
Você me ouve? Nenhuma mensagem até eu dar o pedido. "
A garota recuou.
“Temos duas opções." Gômer falou baixinho, garantindo que não fossem ouvidos.
“Posso ir ao rei Jotão, dizer a verdade e esperar por sua misericórdia."
“O rei Jotão nunca acreditaria na palavra de uma prostituta!"
Gômer balançou a cabeça, soltando um sorriso irônico.
“Como você pode sorrir em um momento como este?"
“Você não sabe nada mesmo sobre o meu passado. O rei Jotão é um velho amigo. Eu mostrei bondade ao seu abba Uzias depois que ele ficou leproso."
Miriã deu um olhar inexpressivo.
“E você só me conta isto agora?" Ela balançou a cabeça, tentando realocar tudo o que acabara de ouvir.
“Não importa se você é a ima de Jotão. Ele não irá ignorar uma acusação de assassinato. Especialmente se envolver a filha de um de seus conselheiros."
Gômer sabia que ela estava certa.
“Isso nos deixa com a opção número dois. Eu escapuli de Jerusalém agora, e você atrasou a notícia da morte da menina o máximo possível. " Ela pegou a mão de Miriam e apertou-a enquanto as lágrimas escorriam por seus rostos.
“Quando Hananias descobrir que você me deixou fugir, ele tentará acabar com você."
Miriã assentiu, limpou as lágrimas e deu um profundo suspiro.
“Ele pode tentar. Mas terá que explicar por que trouxe a menina pra cá. Tenho certeza de que podemos chegar a um acordo sobre discrição quando se trata de divulgar todos os fatos publicamente. " Miriam endireitou os ombros e nivelou o olhar.
“Ele ainda tem esposa e sogro para agradar."
Um soluço escapou antes que Gômer pudesse conter.
Ela cobriu o rosto, tentando reconstruir sua muralha emocional.
Quando se virou, Miriã já havia começado a lavar o corpo.
“Obrigado, meu amigo."
Eu nunca te esquecerei."
Miriã disse secamente: “Vá embora."
37
Oséias 2:2
Repreendam sua mãe, repreendam-na.
Pois ela não é minha mulher.
E eu não sou seu marido.
Gômer se inclinou sobre um cajado improvisado em algum lugar entre Jerusalém e Belém.
Seus pés estavam com bolhas e sangrando. As sandálias de miçangas não eram adequados para o caminho de Tecoa.
A menina morreu pouco antes do amanhecer, por isso Gômer conseguiu escapar de Jerusalém despercebida - apenas com as roupas do corpo.
Seus cosméticos e perfumes denunciavam sua profissão, mas ela usou a adaga para se livrar de qualquer assédio.
A longa fenda em seu vestido deixou a lâmina tão visível quanto as pernas.
A fenda e a adaga - ferramentas necessárias para qualquer prostituta naqueles dias.
Ela já tinha passado por Belém. Provavelmente chegaria a Tecoa na hora do almoço.
Gômer subiu a última elevação antes de chegar ao acampamento. Fez uma pequena pausa para contemplar o vale que ela chamou de lar.
As famosas ovelhas de Amós pastavam no sopé.
As figueiras de Yuval estavam na entressafra.
O olival agitado pelo vento era como um shalom verde enquanto ela descia a colina em direção à casa de Uzias.
Seu primeiro pedido de misericórdia seria pra ele.
Impu... - Gômer? Ela se assustou ao ver sua face.
Ataduras cobriam o que um dia foi o grande rei Uzias.
Ele era apenas uma sombra do rei que ela conhecera, sentado em uma esteira de palha na porta de casa.
“Shalom, meu amigo." Seu sofrimento de repente empalideceu à luz da dor no rosto do rei.
“Adoraria abraçá-la, mas não quero te tornar impura."
Ela riu entre lágrimas.
“Você pode olhar para a minha aparência e se preocupar em me tornar impuro? Você é talvez o homem mais gracioso da terra, Rei Uzias. "
Um brilho em seus olhos revelou um sorriso, embora seu rosto estivesse coberto.
“Devo confessar, não tenho coragem de tocar ninguém. A dor é muito grande. " As lágrimas molharam as bandagens em suas bochechas.
“O que a traz a Tecoa sem qualquer aviso, Gômer?"
A doença não havia prejudicado seus instintos.
“Venho em busca de misericórdia, meu rei." Ela fez uma pausa, perguntando-se por onde começar.
“Isso envolve o comandante Hananias?"
Um medo incômodo surgiu em seu coração.
“Sim, meu senhor, como você sabia?"
“Ha quatro anos, quando Oséias retornou de Jerusalém com o bebê Ami, ele me falou do abba da criança. Meu comandante é um soldado impecável, porém é um homem cheio de falhas. Agora ele comanda o exército do meu filho. Então, antes que fale, devo avisá-la. Não posso - e não irei - anular qualquer julgamento que meu filho tenha feito a Hananias."
“Mas o Rei Jotão ainda não fez nenhum julgamento - eu não acho." Era verdade, pelo menos quando ela deixou Jerusalém esta manhã.
O nome dela falado por aquele homem partiu seu coração.
Era a voz de um abba amoroso que ela nunca conhecera.
Ela inclinou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem.
“Sim, meu senhor."
“Vá para Oséias. Só o Senhor pode anular as leis de Judá. Hananias é um homem poderoso, e eu estou à beira da morte. Meu filho governa Judá com força e sabedoria, mas deve escolher lutar nas batalhas políticas que fortalecerão seu reinado. " Ele ficou em silêncio, e Gômer sabia que ele esperava que ela olhasse para ele.
Ela manteve a cabeça baixa, inicialmente, mas o respeito falou mais forte e ela ergueu o olhar.
“O Senhor é o único que pode ajudá-la agora. Deixe que Ele ajude."
“Como ajudou você?" As palavras tinham um gosto amargo, e ela se arrependeu assim que deixaram seus lábios.
Mas como Uzias poderia defender um deus que o torturou assim? Ela se levantou e Uzias desviou o olhar.
Sinto muito, meu senhor.
Farei o que você diz.
Vou apresentar meu caso a Oséias e ver se ele pode ajudar. " Ela ansiava por abraçar Uzias, ficar com ele - quantos dias ele ainda tivesse.
Mas aquele seria o primeiro lugar que Hananias a procuraria.
“Oséias deveria estar com os alunos. Ele assumiu toda função de ensino e passou a administrar o acampamento desde que Amós adoeceu."
“O que?" O coração de Gômer saltou.
“Amos? É Yuval ... "
Uzias sorriu com os olhos.
“Yuval ainda é Yuval. Todos somos gratos por isso."
Ela se despediu e seguiu caminho para o acampamento.
Foram os passos mais difíceis que ela já dera.
A sala de aula estava fervilhando.
Miquéias havia completado seu primeiro retiro sabático, e retornou com uma mensagem do Senhor.
Oséias se alegrou com ele, pedindo para ouvir as palavras do Senhor.
“O Senhor me instruiu a falar apenas ao grupo de profetas, Mestre Oséias. “Lamento muito. Não posso revelar isso para você sozinha."
Oséias estava satisfeito com a função de professor.
O Senhor escolhera outro profeta - assim como Gômer escolhera outros.
Ele havia falhado com ambos?
Oséias interrompeu o pensamento e reuniu os alunos e orientou que prestassem atenção - sem se importar com o que a mensagem do Senhor revelasse.
“Tudo bem, Miquéias. Estamos todos ansiosos para ouvir o que Senhor falou ao seu coração. " Ele acenou com a cabeça, sinalizando ao menino que havia sido seu aluno para falar como um jovem profeta experiente.
“Mestre Oséias, posso compartilhar algo que você me disse na manhã seguinte após ouvir o chamado do Senhor?"
Oséias sorriu, concedendo permissão.
“Você disse que eu não estava pronto para profetizar até que as palavras partissem meu coração, pois as mensagens partiam o coração de Senhor. Seu rosto se contorceu de emoção; ele enxugou as lágrimas instantâneas de seus olhos. “O que estou prestes a dizer esmaga profundamente meu coração, Mestre Oséias... "
O estômago de Oséias embrulhou.
“O Senhor diz: 'Por isso farei de Samaria um monte de entulho em campo aberto, um lugar para plantação de vinhas; atirarei as suas pedras no vale e porei a descoberto os seus alicerces. Todas as suas imagens esculpidas serão despedaçadas. e todos os seus ganhos imorais ... Miquéias vacilou, inclinando a cabeça."
Oséias percebeu que ele havia parado porque a referência à prostituição de Israel era muito semelhante à experiência de vida de Oséias.
“Você precisa anunciar a profecia, Miquéias, não importa quem esteja ouvindo. Um profeta deve declarar as palavras do Senhor para todo público, em qualquer lugar."
Miquéias manteve os olhos fechados, levantou a cabeça e proclamou através das lágrimas: “e todos os seus ganhos imorais serão consumidos pelo fogo; destruirei todas as suas imagens.
Visto que o que ela ajuntou foi como ganho da prostituição como salário de prostituição tornará a ser usado.
Por causa disso chorarei e lamentarei; andarei descalço e nu.
Uivarei como um chacal e gemerei como um filhote de coruja.
Pois a ferida de Samaria é incurável... '"
O coração de Oséias saltou.
Incurável...
Pois a ferida de Samaria é incurável...
Miquéias continuou a mensagem, enquanto Oséias ouvia uma nova revelação do Senhor.
As feridas de Gômer eram incuráveis.
Era tempo de lamentá-la como se estivesse morta.
Parar de olhar para trás em busca de lições.
Parar de questionar o plano do Senhor.
Gômer nunca se recuperaria de sua vida de prostituição, assim como Israel nunca se recuperaria de sua idolatria.
Ele deveria se livrar de qualquer sinal de esperança.
As palavras de Miquéias ecoaram em seus pensamentos.
Rapem a cabeça em pranto por causa dos filhos... "
“Oséias, desculpe interromper." Yuval estava parado na porta, os olhos vermelhos e inchados.
Toda turma deu um suspiro.
“Amós?" O coração de Oséias acelerou.
“Amós está bem."
“As crianças?"
“Por favor, Oséias." Ela lutou contra as lágrimas.
“Me acompanhe por favor. Preciso falar com você em particular."
“Aya está bem?" Isaías estava entre os estudantes.
Oséias agarrou seus ombros.
“Se for sobre Aya ou as crianças, mandarei um recado para você." Os dois olhares se encontraram, um pacto silencioso.
Oséias saiu da escola, protegendo os olhos do sol.
Yuval o levou a uma pedra embaixo de um sicômoro, onde seus filhos esperavam na companhia de uma mulher.
“Não pode ser."
Gômer segurava Ami no quadril.
Jezzy e Rahmy se agarraram às pernas dela.
“Afaste-se deles!" Ele gritou na direção deles.
Ele empurrou os mais velhos na direção de Yuval enquanto colocava o bebê nos braços dela.
“O que você quer?" ele perguntou.
Seu cabelo estava emaranhado e sujo.
Sua maquiagem manchada e o kohl falhado pelas lágrimas.
“Venho em busca de misericórdia, Oséias." Ela ficou como o granito, tão fria e sem coração como sempre, seu queixo erguido em desafio, mesmo enquanto ela pedia o impensável.
“Você busca misericórdia?"
Yuval cutucou sua costela, implorando.
“Oséias, ela foi acusada falsamente."
Incrédulo, ele olhou para a velha.
“Você está pedindo misericórdia para Gômer? E quanto aos filhos dela, Yuval? Minhas crianças. Eles não merecem misericórdia?"
Ele pegou Ami dos braços de Yuval e agarrou Jezreel.
O perfume inebriante do perfume o dominou.
“Defenda sua ima, Jezzy. Peça misericórdia a ela, Ammi. " O mais jovem choramingou em seus braços.
“Oséias!" Yuval disse, pegando Ami dos braços dele.
“Já chega."
Rahmy agarrou a perna de Oséias, e ele afagou seu cabelo, sussurrando: “Diga a sua ima que abandone a prostituição. Peça que desista de todos os amantes."
“Por favor pare!" A figura rígida ficou abalada; uma única lágrima escorreu pelo rosto.
“Não fale comigo dessa maneira na frente de nossos filhos."
Se você não é mais minha esposa não tem direito de chama-los assim.
Você deveria ser humilhada. Tão nua quanto no dia em que nasceu.
Você arruma confusão e volta correndo pra casa. Você volta porque acha que seu marido sempre estará lá para recolher os cacos enquanto você destrói a vida das pessoas ao seu redor."
Yuval colocou a mão no braço dele.
“Oséias, você vai apenas ouvi-la? Ela não está pedindo para voltar. Está pedindo proteção contra uma falsa acusação."
“Sempre há uma 'falsa acusação' sobre ela, Yuval. A culpa nunca é dela. Como ela se recusa sistematicamente a reconhecer o Senhor como Elohim, ela permanece morta para mim."
As palavras do Senhor ecoaram em seu espírito: Chore como se estivesse morta...
Ela nunca se recuperará de sua prostituição, como Israel nunca se recuperará de sua idolatria.
Seu coração torceu no peito.
Ele sabia o que tinha que fazer.
“Vá para Israel, Gômer."
Ela olhou para ele e enxugou as lágrimas.
“Por quê?"
“Você e Israel têm um desejo incurável pelo pecado. Israel dará valor às suas prostitutas até que a Assíria deixe Samaria em escombros. Não sei quando vai acontecer, mas sei que o Senhor desistiu de Israel. E eu desisti de você."
“Bom", disse ela erguendo o queixo.
“Você foi um tolo por amar uma prostituta." Com a dureza que ele vira pela primeira vez na têmpora de Jeroboão, ela se virou e foi embora.
“Oséias, você não pode deixá-la ir." O quase pânico de Yuval agitou o choro das crianças mais velhas.
“Ela não tem provisões, nem dinheiro. Ela nunca chegará a Israel. Ela morrerá no deserto."
Ele se sentou no chão com Ami e abraçou os outros dois.
Oséias os acalmou, acenando com a cabeça na direção de Gômer.
“Ela rejeitou o Senhor. E rejeitou sua família. Faça o que quiser, mas ela está morta para nós, Yuval."
38
Oséias 8:9–10
O povo de Israel foi para a Assíria...
Embora tenham se vendido às nações, agora os ajuntarei.
Gômer invadiu a casa de Oséias, quase quebrando as dobradiças.
Ela ouviu as galinhas e notou que ele havia comprado uma vaca.
Talvez ele tivesse ficado mais mão aberta.
Ele nunca comprou qualquer presente para sua esposa - enquanto ela estava viva.
Ela está morta para mim, ele disse.
Ele estava prestes a descobrir que pessoas mortas podem roubar dinheiro de bolsas bem reais.
Ela entrou pela porta, tropeçando em Sansão.
Ele gritou e se afastou, mas dançou ao redor das pernas dela quando percebeu quem havia voltado para casa.
Ela o levantou em seus braços, apreciando seu ronronar suave.
“Pelo menos alguém está feliz em me ver."
“Quem poderia culpá-los, filha?" A voz de Yuval a assustou.
A velha passou por ela, tirou uma bolsa do gancho na parede e pegou algumas moedas da bolsa de Oséias.
“Comece a embrulhar queijo e pão. Você precisará do máximo que puder para chegar a Israel pelo deserto."
Gômer segurou Sansão, confusa.
“O deserto? Esperar. Você está me ajudando a roubar Oséias?"
“Ele disse para fazer o necessário. E vai precisar viajar pelo deserto se quiser evitar a ira de Hananias e as tropas de Israel."
Gômer deixou o gato de lado e ajudou Yuval a embrulhar comida na mesa.
Quando a bolsa estava cheia, Yuval olhou para ela.
“Hananias terá guardas nas principais estradas de Judá. Ele é um homem perigoso, mas agora será mortal porque você o envergonhou. Portanto, se afaste das rotas comerciais, e não caminhe muito perto do mar de sal. Aquela água é contaminada. Procure um oásis ou entre em pequenas aldeias à noite."
“Como saberei para onde ir se não seguir um caminho?"
“Vou lhe dar uma lição rápida que aprendi nas últimas viagens com Amós.
Você está indo para o norte, então mantenha o sol à sua direita pela manhã, nas costas à tarde e à esquerda no ocaso.
O deserto é implacável - quente demais durante o dia e muito frio à noite.
Encontre abrigo para as temperaturas extremas durante o dia.
Qualquer tipo serve - uma pedra, um arbusto, uma caverna.
Mas se você escolher uma caverna, jogue pedras dentro antes para alertar qualquer animal selvagem."
O pânico cresceu dentro dela.
“Eu não posso viajar sozinho no deserto! Eu mal cheguei a Tekoa de Jerusalém. Não sei como me proteger de leões, ursos, chacais - e as cobras?"
“Os animais selvagens são a menor das suas preocupações, filha.
Mantenha o fogo aceso à noite e eles se manterão afastados.
As serpentes são venenosas. As cobras do deserto são as mais letais, mas elas geralmente fogem, a menos que você pise nelas ou se sintam ameaçadas.
Você precisa mesmo é fugir dos soldados."
Hananias não tem autoridade fora de Judá.
Depois de entrar em Israel, não precisarei me preocupar com soldados.
E poderei viajar nas estradas principais de novo, certo?
A pergunta desfez o tom instrutor de Yuval e a levou a um abraço feroz.
Uzias recebeu a notícia de que os militares de Israel estão em alerta máximo.
A Assíria iniciou um cerco contra Arpad, no norte, e eles estão fazendo forte pressão contra Damasco, no lado leste.
As tensões são altas.
Os soldados de Menahem têm ordens para atacar primeiro, fazer perguntas depois. " As palavras saíram como se ela tivesse que pronunciá-las antes que perdesse o ânimo.
“As estradas de Israel serão tão perigosas quanto as de Judá. Vou orar para que consiga sobreviver."
As instruções de Yuval juntaram-se às palavras de Oséias e retumbaram na mente de Gômer.
Israel dará valor às suas prostitutas até que a Assíria deixe Samaria em escombros.
A terrível ironia de sua vida a conduzira a isso.
“Voltarei a Israel - e morrerei como a prostituta que nunca deixei de ser."
Yuval a soltou e segurou em seu braço.
“Você não precisa voltar à prostituição, filha. Encontre uma maneira de sobreviver até chegar a uma cidade em Israel. Talvez o Senhor abra uma porta para você trabalhar em uma olaria."
Ela tocou o rosto de Yuval.
“Talvez o céu chova prata e um belo rei saia dos meus sonhos e me leve para uma terra distante e pacífica." Ela colocou a bolsa no ombro, sorrindo tristemente para sua amiga otimista.
“Eu gostaria que o mundo fosse tão bom quanto você." Ela agarrou um odre de água a caminho da porta.
Yuval desamarrou o cinto, tirou o roupão e as sandálias.
“Você terá uma chance melhor de encontrar trabalho com um oleiro se não usar isso." Ela tirou a bolsa de ombro de Gômer e desamarrou o cinto, depois substituiu o traje de prostituta por seu próprio manto de lã.
Os olhos de Gômer por causa das lágrimas.
“Então você me daria o manto que estava pendurado nas costas, meu amigo? O que mais você pode me dar além do seu sangue vital, hein?" Ela a abraçou e chorou.
“Senhor é meu sangue vital, filha, e Ele pode renovar sua vida também - se você permitir." Gômer a soltou e começou a protestar, mas Yuval colocou um dedo em seus lábios.
“Pode parecer impossível, mas a resposta é simples. Sim, simples. Fácil? Não. Você precisa crer."
Gômer se inclinou e beijou seu rosto.
Uma lembrança fugaz de sua amiga Merav invadiu seus pensamentos.
Por que os deuses haviam praticado algo tão cruel assombrando Gômer com a memória de uma amiga tão querida? “Querer não torna nada verdadeiro, Yuval. Se fosse assim, você seria minha mãe e eu teria um marido que me ama."
O sol escaldante queimava o rosto machucado de Gômer.
Ela levou o cantil aos lábios mais uma vez.
E tomou um pouco.
Esta tão seco quanto a paisagem ao redor.
Ela não bebia água há três dias.
Por que Hananias não poderia ter trazido sua princesa real para uma queda de arruda na primavera? Pelo menos ela poderia ter fugido para salvar a vida quando os wadis fluíram com o degelo da montanha.
Ela sentou-se à sombra de um arbusto, pegando o último pedaço de pão na bolsa.
Mofado.
Por quanto tempo ela vagou no deserto? O que isso importa? Ninguém iria encontrar seu corpo de qualquer maneira.
Os chacais limpariam seus ossos.
Ela avistara um bando deles rondando sua fogueira.
Ela verificou o sol acima do ombro.
Não havia se movido.
Yuval ficaria orgulhosa dela.
Ela se lembrou das instruções da velha.
Mantenha o sol nas costas a tarde toda.
Como o rosto dela ficou tão queimado se o sol estava nas costas?
A aquela altura ela já devia estar em Israel.
Já se passavam seis dias antes de sua mente ficar confusa.
Ouviu um som fraco, como um prato caindo no chão, bem perto dela.
Não é um som selvagem.
Parece uma pessoa.
O som ficou mais intenso.
O coração dela ficou esmagado.
Barulho de soldado.
Muitos soldados.
Ela usou a bolsa como travesseiro e descansou um momento.
Ela deveria encontrar os soldados? Eles a ajudariam ou a matariam?
Um respingo de água a despertou.
“O que?" Ela sentou-se, a cabeça girando.
Cercada pelas risadas dos homens.
“Bem, ela está viva, afinal." Um grande soldado cutucou suas costelas com sua sandália.
“Você tem nome?"
Gômer protegeu os olhos, tentando adivinhar se ele era de Judá ou Israel.
Ele estava de pé sob o brilho do sol.
Ela não sabia dizer.
Ele a chutou novamente, e ela se enrolou em uma bola, ofegando.
“Eu perguntei se você tem nome?"
“Sim. Meu nome é Gômer."
“Gômer, hein?" Ele se agachou ao lado dela.
“Nome completo."
Ela franziu a testa, sem saber o que ele queria.
& Seu nome:
Gômer.
Ele se levantou e anunciou aos demais: “Ela parece bem confusa para mim. Talvez nossas garotas possam limpá-la e encontrar alguma utilidade pra ela."
Sua voz era grave como um sapo.
A língua dela estava inchada e grudada no céu da boca.
“Onde eu estou?"
“Você está em Israel, Completo. E você acabou de ser adquirido por Pekah, um dos oficiais do rei Menahem, para servir à guarda real do general Eitan. " Ele se virou e começou a gritar ordens; todo um bando de pessoas correu ao seu comando.
“Vocês dois, carreguem ela nesse carrinho. Ela ainda não consegue andar com o resto das prostitutas. Atarah, assim que ela puder andar e se vestir, quero que ela trabalhe como as outras mulheres. Perdemos quantos na última cidade?"
Gômer observou a mulher chamada Atarah relatar alguma coisa a Peca.
“Duas mulheres morreram de disenteria na última cidade, meu senhor."
“Bem, talvez o Complete ali possa fazer o trabalho de duas mulheres quando você curá-la." Ele agarrou sua garganta e puxou seu rosto para dentro de um palmo de seu próprio.
“Não podemos parar, Atarah. O general Eitan nos enviou a Arpad. Devemos chegar a tempo para observar as táticas de pilhagem da Assíria. Se você me atrasar, praticarei o que aprender com você. Entendido?"
Atarah assentiu, sem emitir nenhum som.
Peca empurrou-a para longe, virou-se e continuou dando ordens aos homens.
Gômer percebeu que estava sendo carregada, ofegando pela dor do chute do soldado.
O nome Eitan flutuava em sua consciência como um espírito familiar em um pesadelo recorrente.
A mulher Atarah se inclinou e sussurrou: “Se você tem um deus, Gômer Complete, ore para que ele te mate agora. Esse seria o destino mais misericordioso para uma prostituta em Israel nos dias de hoje."
Gômer deitou e deixou o carrinho conduzi-la pela escuridão.
Ela se arrependeu por ter mantido os chacais longe.
Oséias correu para a casa de Uzias, imaginando o que seria tão urgente para interromper sua aula.
Ele notou a ausência de Isaías e orou para que Aya estivesse bem.
Ela estava esperando o segundo filho, mas era muito cedo para dar à luz.
Ele entrou na clareira onde o acampamento de Uzias se tornara uma pequena vila.
“Impuro, impuro" agora mais que um sussurro.
Isaías estava ao lado do primo, perto do tapete de audiências com os braços cruzados sobre o peito.
Oséias percebeu a tensão.
Vim o mais rápido que pude, meu senhor.
O que aconteceu?"
Os olhos de Uzias irradiavam medo.
“Após as primeiras chuvas, recebemos a notícia de que os assírios continuam avançando para o oeste. Eles permitiram que os invasores assediassem a maioria das cidades, exceto Arpad. O cerco terminou recentemente - Arpad caiu."
“Arpad fica bem próximo de Samaria, ao norte. Esse afastamento assírio não é uma boa notícia?"
“A Assíria não ficará satisfeita até que governem toda a terra.
Quando a vitória sobre Arpad era iminente, o rei Pul convocou a coalizão que eu estava tentando reunir.
Ele solicitou a presença deles para a fase final de sua conquista.
Menaém e sua guarda obedeceram à convocação do rei Pul e marcharam para o norte com um tributo de 75.000 libras de prata."
Oséias fechou os olhos e soltou um suspiro longo.
“Isso não é bom."
Mas vai ficar pior.
Alguns relatos dão conta da barbaridade assíria ordenada pelo rei Pul contra os cidadãos de Arpad após a conquista.
Eles aguardam que os representantes da coalizão cheguem com seus tributos para matar o rei de Arpad e seus conselheiros.
Se Menaém e os demais se renderem a Pul, meu sonho de uma coalizão morre, Oséias.
Esse dinheiro financiará a máquina de guerra assíria por toda a terra, até Judá."
Oséias sentiu como se o chão tivesse fugido de seus pés.
“Se a coalizão já está em Arpad, como devo ajudar, meu senhor?"
“Exatamente!" Os olhos de Isaías brilharam, sua explosão assustou Oséias.
“Não há razão para Oséias arriscar sua vida."
“Arriscar minha vida?" Oséias olhou para os amigos.
“O que exatamente o senhor quer de mim?"
“Estou pedindo a você - Judá está pedindo a você - para viajar a Arpad e tentar persuadir o rei Menaém a não se render à Assíria. Você consegue chegar lá em de camelo em quinze dias. Meus espiões dizem que a tortura dos assírios está planejada para durar até a lua nova."
“Mesmo que eu chegue a Arpad a tempo, o que eu poderia fazer?"
“O tamanho dos exércitos da coalizão reunidos é considerável. Eu sei que é arriscado. Mas se você conseguir convencer Menaém a resistir ao rei Pul, talvez os outros se juntem à resistência."
Oséias viu os olhos de Isaías se fecharem.
Seu amigo estava obviamente frustrado.
“O que o Rei Jotham pensa da ideia? Não vejo o comandante Hananiah pronto para atacar como minha retaguarda. O estômago de Oséias se revirou com a menção do abba de Ammi."
Na noite seguinte à partida de Gômer o comandante invadiu Tecoa e revistou todo o acampamento.
Ele danificou a propriedade e cuspiu ameaças.
Uzias ordenou que ele fosse retirado à força, mas, até onde Oséias sabia, ele não fora disciplinado por suas ações.
“O comandante Hananias foi dispensado de suas funções."
“O que?" Oséias e Isaías falaram em conjunto.
Antes que Uzias pudesse responder, uma brisa fresca agitou as figueiras acima deles.
Isaías ofegou.
“É o Senhor, não é?" Ele olhou para as árvores como se pudesse ver a presença de Elohim.
Oséias ficou impressionado e encantado.
A presença do Senhor era como uma melodia familiar em uma harpa favorita.
Sim, meu querido amigo.
É Senhor. " Ele fechou os olhos e deixou que a voz o envolvesse.
O povo de Israel foi para a Assíria.
Eram como burros selvagens vagando sozinhos.
Mas Efraim vendeu-se para os seus amantes.
Embora tenham se vendido às nações, agora os ajuntarei.
Começarão a definhar sob a opressão do grande rei.
As palavras pararam.
A brisa se acalmou.
Oséias abriu os olhos e viu os amigos olhando.
“Seu rosto está tão vermelho quanto o cabelo de Gômer." Os olhos de Isaías brilharam e ele parecia encantado com a observação.
Gômer.
Por que ele mencionaria Gômer num momento como este? “Vamos nos concentrar na mensagem do Senhor. Acredito que Ele quer que eu o entregue pessoalmente a Menaém."
“Obrigado, Oséias." Os olhos de Uzias expressavam gratidão e tristeza.
Não posso enviar tropas com você.
Jotão disse que poderia chamar a atenção do rei Pul e precipitar uma invasão.
E Judá não tem mais general.
O comandante Hananias foi afastado do comando porque... seu caráter foi revelado após a morte de outra jovem sob circunstâncias semelhantes às que Gômer descreveu a Yuval. "
O coração de Oséias se apertou.
Eles poderiam deixar Gômer quieta e se concentrar no Senhor e na missão diante deles. Não preciso de escolta, senhor.
Lembre-se", disse ele, seguindo seu próprio conselho: “O Senhor prometeu resgatar Judá sem arcos, espadas, guerras, cavalos ou cavaleiros. Talvez signifique que Ele usará um profeta simples ". Ele tentou sorrir.
Uzias assentiu, aparentemente dominado pela emoção.
Isaías pôs o braço sobre os ombros de Oséias e despediu-se do primo.
Os dois homens voltaram ao acampamento. Isaías estava quieto, quase pensativo.
“Confie no Senhor, meu amigo", disse Oséias, na esperança de aliviar o medo do amigo.
“Não tenho dúvidas de que ele me chamou para Arpad. Ele vai me abrigar debaixo de suas asas."
Isaías parou, seus olhos cheios de lágrimas.
“Quando você ouviu a mensagem do Senhor, eu vi o rosto de Gômer."
As palavras roubaram seu fôlego.
Isaías o ajudou.
“Você a verá em Arpad."
39
Oséias 13:15–16
Um vento oriental virá da parte do Senhor, soprando desde o deserto;
Sua fonte falhará, e seu poço secará.
Eles serão mortos à espada; seus pequeninos serão pisados e despedaçados, suas mulheres grávidas terão rasgados os seus ventres.
O general Eitan recostou-se na pilha de travesseiros que Gômer havia arrumado quando ela lhe entregou um espelho.
“Você vai ficar na minha tenda novamente esta noite", disse ele, pegando o pulso dela.
“Não me importo de compartilhar você com meus oficiais, mas não quero que Menahem tenha um vislumbre de você." Ele apertou mais forte, cavando sua pulseira de prata em sua carne.
“Você entendeu?"
Ela tremeu, mas forçou um sorriso.
“Eu tive nosso bom rei Menaém. Não quero sair sua barraca."
“Ha!" Ele soltou o braço dela e agarrou o pescoço, puxando-a num beijo rápido e severo.
“Você faz bem para o meu ego."
“Agora faça minha barba. Não posso encontrar o rei Pul parecendo um pagão incivilizado."
Gômer se inclinou para frente, segurando a adaga perto da garganta.
A lâmina captou um brilho da tocha e ele segurou o pulso dela novamente.
“Me corte, e eu te enterro com os cidadãos de Arpad."
Ela se afastou.
“Deite-se. Você parece uma velha. Eu não vou cortar você. " Gômer fingiu raiva para esconder o medo, desejando que sua mão parasse de tremer.
Um sorriso malicioso surgiu sob a lâmina.
“Por isso você é minha prostituta. Você tem fogo no sangue."
Como gelo nas minhas veias.
O ódio mantinha Gômer viva.
Ela odiava os deuses, odiava as outras prostitutas no campo e odiava os assírios bárbaros.
Acima de tudo, ela odiava aquele homem sob fio de sua adaga.
Eitan, o soldado covarde que a espancara, agora era seu mestre.
Era seu dono.
O destino era quase tão cruel quanto Eitan.
“O que você fará enquanto eu estiver no banquete de Pul hoje à noite com Menaém?" Suas mãos a violaram enquanto falava.
Como ela poderia raspar sua barba se ele não ficasse quieto?
“Seus homens trouxeram dois antílopes da caçada hoje. As outras prostitutas nunca tiram toda a carne do couro. Vou esticar os couros e descer até o riacho para lavar algumas roupas."
Ele levantou a cabeça com um brilho nos olhos.
“Eu não fui claro? Eu disse que você vai ficar na minha tenda esta noite. "
“Mas só há dez mulheres para servir cem soldados.
Se eu ficar na tenda, como os outros vão se vestir, preparar o banquete, lavar as roupas e divertir Menaém?
Ele pegou a lâmina da mão dela e a atirou no mastro da tenda, afundando-a na madeira.
“Sua tarefa é obedecer seu senhor!"
Seu temperamento era quente e rápido, mas ela não se atreveu a demonstrar medo.
Qualquer sinal de fraqueza era um convite ao castigo.
Ela ficou de pé, frustrada.
“Não consigo te barbear se você continuar interrompendo!" Ela foi buscar a adaga quando foi agarrada pela cintura e a arrastada de volta para as almofadas.
“Mmm."
O olhar malicioso fez sua pele arrepiar.
As outras prostitutas do campo a invejavam, odiavam-na por monopolizar o belo e jovem general.
Ela desejou que ele as levasse.
Ela tentou lutar, e ele riu de suas tentativas.
Exausta, finalmente desistiu, seus hematomas da noite passada ainda doloridos.
“Faça o que for preciso, mas seja rápido." Ela desviou o rosto, suspirando.
“Você não quer ficar apresentável para o seu primeiro encontro com o rei da Assíria."
Ele riu e se enterrou no pescoço dela.
Ela fingiu prazer, pensando no que poderia fazer com as peles de antílopes.
Oséias deixou Tecoa no dia seguinte ao encontro com Uzias, estimulado pela urgência do chamado do Senhor e pela perturbadora profecia de Isaías.
“Você a verá em Arpad."
Por que o Senhor disse a Isaías e não a ele? E por que ele deveria ver Gômer novamente?
Ele se adiantou na primeira etapa da viagem, pressionando com força o camelo de Uzias.
Quando chegaram ao norte de Hazor o animal começou a mancar.
Oséias negociou com um astuto comerciante arameu, trocando por um belo dromedário jovem com um olho cego.
A fera galopou nos quinze dias seguintes em todo tipo de terreno, seguindo a faixa de morte e destruição que a Assíria deixara em seu rastro pelas terras ao norte de Israel.
Na décima sexta noite da jornada, Oséias dormiu nos arredores de Alepo, uma pequena cidade a apenas uma manhã de viagem de Arpad.
Ele passou a noite fria entre os comerciantes que forneciam provisões aos soldados durante o cerco de um ano.
Seus cofres estavam cheios de dinheiro estrangeiro. Tropas convidadas para testemunhar a crueldade do rei Pul.
Seu camelo seguia para o norte, na estrada para Arpad, e ele procurou o uniforme do exército de Israel.
O cheiro da morte o assaltou.
Ele olhou para os lados em busca de corpos em chamas.
Nada.
Se virou na sela do camelo, verificando a direção do vento à procura da origem do cheiro.
Ao chegar no topo de uma colina, o animal parou por vontade própria.
Seus pés afundaram no solo, suavizados pelas chuvas de inverno e sangue fresco.
Oséias seguiu a pela borda da colina, olhando para a cidade conquistada.
“Elohim, não."
A oração sussurrada foi dita e ele correu para esvaziar o estômago.
Nunca tinha visto algo tão horrível.
Arpad estava aninhada num vale. Os arredores estavam banhados com o sangue de seus cidadãos.
Grandes estacas de madeira, do tamanho da muralha da cidade, foram colocadas no perímetro como flores em um jardim.
Corpos empalados em cada haste, alguns ainda se contorcendo.
Como alguém poderia fazer isso com outro?
A guerra de nervos Assíria se tornara lendária.
Se um rei se recusasse a se tornar vassalo de Pul, a Assíria marchava sobre a cidade para destruí-la.
Se o rei ousasse fechar os portões da cidade, o rei Pul fazia um cerco.
Sem água ou comida. E mantinha ataques constantes aos portões e na parede.
Seus soldados era os mais cruéis e usavam as máquinas de guerra mais avançadas do mundo.
Os relatos de Jerusalém a Alepo eram consistentes.
A Assíria era implacável.
Arpad durou um ano até ter seus portões violados.
Quando os soldados finalmente entraram na cidade sitiada, pessoas famintas foram torturadas enquanto o rei de Arpad e seus oficiais observaram, impotentes.
Pul exibia seu poder diariamente, poupando o pior para o rei da cidade e seus oficiais.
Em Alepo, Oséias entendeu que o entretenimento no banquete seria a morte do rei de Arpad.
Os convidados eram membros da realeza - os reis da coalizão fracassada de Uzias.
O rei faria uma exibição final e eloquente de sua vitória. E eles ficariam com medo de recusar um tributo como o rei de Arpad havia feito.
“Você está aqui para entregar o estandarte de Israel?" um soldado de uniforme israelita segurou o freio do camelo de Oséias.
“Com licença?"
Vejo pelo tecido de sua túnica que é hebreu.
O rei Menaém esperou o dia todo pelo estandarte israelita no banquete desta noite.
Ele vai arrancar sua cabeça se tiver acontecido alguma coisa."
O coração de Oséias estava em sua garganta.
O Senhor acabara de prover um guia para o acampamento de Menaém.
“Não trouxe o estandarte, mas trago uma mensagem ao rei."
O soldado desconfiou.
“Com certeza. E eu sou o irmão gêmeo do rei."
Ele se virou para se afastar, mas Oséias estendeu um pergaminho e ele parou.
Tem o selo do rei Uzias de Judá.
Tenho mesmo uma mensagem.
Me leve a Menaém."
O soldado pensou por um momento.
“Me dê suas rédeas."
Oséias entregou a rédea do camelo e orou enquanto o guarda o conduzia para dentro de um dos campos.
O cheiro familiar de alimentos israelitas encobriam o cheiro da morte.
Soldados descansavam ao redor de fogueiras e mulheres entravam e saíam das tendas.
Um riacho corria na parte de trás do acampamento. Oséias pensou ter visto alguém de cabelos ruivos sobre as rochas.
Senhor, é Gômer? Seu coração trovejou.
Ela está morta para mim.
Ele quase caiu da sela, tentando ver atrás dele quando o guia virou uma esquina e parou em uma grande tenda preta.
Ele não saberia quem estavava no rio.
“Desça do camelo e espere do lado de fora. Direi ao general que temos um visitante e ele pode decidir o que fazer com você. " O homem desapareceu dentro da bela tenda.
Não era uma tenda muito elegante, mas era bem melhor que a tenda rústica usada por Menaém enquanto saqueava Tifsa.
Oséias deu um tapinha no camelo e sinalizou para que ele se ajoelhasse.
Ele estremeceu com a menção do general - sem dúvida, Eitan.
Senhor, proteja-me.
Seus pés mal tocaram o chão quando ele ouviu o familiar som do principal soldado de Israel.
“Pensei que o rei Menaém havia sido claro durante sua última visita a Samaria."
Oséias se virou, apoiando o nariz no peito do general.
Ele levantou a cabeça e viu Eitan sorrindo para ele.
“Você é um homem morto, Profeta."
“Eu sugiro que você espere para me matar depois que eu entregar a mensagem de Uzias." Ele ergueu o pergaminho selado.
Eitan pegou-o da mão.
“O último quase matou você. Por que eu deixaria você viver para entregar este?"
“Porque parte da mensagem não está no pergaminho." Oséias bateu em sua testa.
“Está aqui."
Eitan ergueu uma sobrancelha e começou a andar.
Oséias o seguiu, assumindo que estavam se dirigindo a Menaém.
“Aprendemos algumas estratégias de tortura desde que chegamos aqui em Arpad, Profeta. Talvez possamos praticar com você depois que sua mensagem for entregue. " O general riu, claramente divertido com sua própria inteligência.
Oséias engoliu seco, agradecido por já ter esvaziado o estômago.
Chegaram a uma segunda tenda, de tamanho igual, mas com soldados nas portas.
Eitan afastou a aba da tenda, expondo o interior escuro. O aroma do incenso flutuava por dentro.
Oséias hesitou, os guardas olhavam da mesma forma que Sansão olhava para roedores.
“Venha!" uma voz rouca gritou de dentro da tenda.
Oséias entrou no santuário sombrio do homem que prometera matá-lo na próxima vez que se encontrassem.
Ele deu três passos adiante, parou e curvou-se, permitindo que seus olhos se ajustassem antes de prosseguir.
Permaneceu no arco reverente, olhando para a direita e para a esquerda.
Oito homens cercavam o rei. Todos vestiam armadura, exceto um.
Oséias assumiu que fosse um escriba uma vez que ele segurava o pergaminho de Uzias.
“O rei Uzias pede que eu me recuse a pagar tributo e diz que devo reinstalar a coalizão." Menahem olhou para ele perigosamente, depois riu.
Ele gargalhou alto, quase estourando uma veia do pescoço, tamanha a sua loucura.
Os demais arriscaram risadas nervosas até o humor do rei desaparecer.
“Diga-me, Profeta. Por que você arriscaria sua vida para trazer uma mensagem tão ridícula?" Envergonhado por sua aparência, Oséias limpou o queixo.
“Eu também trago uma mensagem verbal." Ele fez uma pausa, o único reconhecimento foi um aceno lento do rei.
“Uma mensagem do Senhor."
“Tenha cuidado, Profeta", disse Menaém.
“Você só está respirando porque eu permaneço de bom humor."
Oséias se aproximou, e o general Eitan se colocou entre eles, erguendo um sorriso perigoso e tomando a adaga.
Oséias engoliu seco, orando enquanto falava.
“O Senhor te diz, rei Menaém, 'O povo de Israel foi para a Assíria.
Eram como burros selvagens vagando sozinhos.
Mas Efraim vendeu-se para os seus amantes.
Embora tenham se vendido às nações, agora os ajuntarei.
Começarão a definhar sob a opressão do grande rei. "Oséias ficou em silêncio, prendendo a respiração, esperando a ordem do rei - vida ou morte.
“Eu não entendo." A voz de Menahem era tão ilegível quanto sua expressão.
“O Senhor é por nós ou contra nós?"
“Você se alinhou com a Assíria, mas o Senhor promete a você mais alguns anos de alívio da destruição. Serão anos de sofrimento sob reis e príncipes estrangeiros - mas pelo menos você ainda terá um reino, rei Menaém."
Oséias tinha certeza que as próximas palavras seriam sua sentença de morte.
Em vez disso, o rei sorriu.
“Seu deus está perdendo o controle da realidade, porque os outros deuses estão sorrindo para nós.
As chuvas estão chegando na estação certa, os pomares e campos produzem colheitas exuberantes.
Nossas cisternas estão cheias e nossos silos estão transbordando.
Paz com a Assíria significa aumento do comércio com nações vassalas e maior acesso aos portos de Tiro, Sidon e Biblos.
Israel nunca esteve tão forte, Profeta."
Oséias respirou fundo para repetir a profecia que Senhor havia lhe dado antes.
Ele havia ensaiado muito, preparando-se para este momento.
Mas um vento forte entrou na tenda, apagando todas as tochas, exceto uma.
Os guardas sacaram as espadas e Eitan se jogou na frente de Menaém - como se carne e sangue pudessem deter o vento.
Oséias permaneceu em silêncio, permitindo que o Senhor falasse por si mesmo.
O escriba sentado com a pena estava tremendo.
Seus olhos arregalados encararam o rei em busca de instruções.
Como alguém registra o sopro de Deus?
“Fale, Profeta." A voz de Menahem era um rosnado.
“Não sou idiota.
Sei quando um deus é real.
Mas antes de falar em Seu nome, lembre-se de lembrar a Ele que você sentirá a espada de Eitan se Suas palavras me desagradarem. A ameaça do rei tinha pouco veneno quando ele tremia.
Uma nova mensagem veio ao espírito de Oséias.
Bem mais pessoal. Dirigida diretamente ao cruel rei de Israel.
“Esta é a palavra final do Senhor ao rei Menaém de Israel: 'Um vento oriental virá da parte do Senhor, soprando desde o deserto; sua fonte falhará, e seu poço secará.
Todos os seus tesouros serão saqueados dos seus depósitos.
O povo de Samaria carregará sua culpa, porque se rebelou contra o seu Deus.
Eles serão mortos à espada; seus pequeninos serão pisados e despedaçados, suas mulheres grávidas terão rasgados os seus ventres.'"
“Vou rasgar você ao meio, Profeta!" Eitan avançou.
“Pare!" A única palavra de Menaém interrompeu o general de Israel.
“O profeta está ofendido por nossas táticas usadas em Tifsa. Deixe ele completar a profecia, e então eu decidirei seu destino."
Eitan abaixou a arma e deu um passo para trás.
Oséias soltou o fôlego que ele estava preso e voltou sua atenção para Menaém - observando atentamente o general faminto por sangue.
O Senhor lhe deu uma chance final de arrependimento, rei Menaém.
Volte ao Senhor e diga: 'Perdoa todos os nossos pecados e, por misericórdia, recebe-nos'. Confesse que a Assíria não pode salvá-lo. não montaremos cavalos de guerra.
Nunca mais diremos: "˜Nossos deuses àquilo que as nossas próprias mãos fizeram"™,
O coração de Oséias bateu ainda mais forte do que quando Eitan o atacou com a adaga.
A misericórdia do Senhor nunca foi tão extravagante.
“Embora você tenha pecado e difamado repetidamente, o amor do Senhor por Israel permanece mais forte do que Sua ira.
Escolha o Senhor, rei Menaém.
Sem ele, você enfrentará a destruição.
Ele está oferecendo vida - a você e sua nação. "
Eles permaneceram em silêncio por um longo período. As implicações da misericórdia de Deus na mente de Oséias.
Israel poderia ser salvo após gerações de apostasia? Senhor não os declarou incuráveis? E se um único rei - uma decisão fiel - levasse ao renascimento de uma nação? A excitação correu por suas veias.
Então haveria salvação para Gômer?
“Vou considerar isso." As palavras de Menahem enviaram uma onda de choque pela tenda escura.
“Meu Senhor?" A pergunta de Eitan foi interrompida pelo comando do rei.
“Mande um guarda acompanhar o profeta a uma tenda vazia. Ele passará a noite no acampamento. Tomarei minha decisão depois de pensar um pouco."
Oséias notou uma troca de olhares entre o rei e o general antes que Eitan obedecesse.
Quando Oséias se virou para sair, Menaém advertiu: “Permaneça na tenda esta noite. O general e eu estaremos no vale, participando da festa do rei Pul perto da cidade. Não posso garantir sua segurança se você ficar passeando pelo acampamento."
Seu estômago apertou com a menção.
Menahem não ofereceria sua homenagem hoje à noite na festa? Ele estudou a quase alegria no rosto de Menahem.
Você não tem intenção de se arrepender. Muito menos me libertar.
O que quer que o rei tivesse planejado, não foi um bom presságio para Oséias - ou Judá.
“Não tenho vontade de passear", disse Oséias.
“Eu vou aonde Iavé me direcionar." Ele fez uma reverência ao rei e depois seguiu dois guardas - sabe-se lá onde.
40
Oséias 9:7–8
O profeta é considerado um tolo, e o homem inspirado...
Um louco violento.
O profeta, junto ao meu Deus, é a sentinela que vigia Efraim.
Contudo, laços o aguardam em todas as suas veredas, e a hostilidade, no templo do seu Deus.
Lembre-se - disse Eitan, enquanto afiava a adaga -, você deve permanecer na tenda a noite toda.
As outras prostitutas transportarão comida para o banquete, e o guarda designado para o profeta cuidará de suas necessidades ". Quando Gômer permaneceu em silêncio, ele parou sua adaga na longa tira de couro e lançou um olhar perigoso.
“Você entendeu?"
Ela queria correr para a tenda do profeta.
Eitan havia retornado da tenda de Menaém de bom humor. Ele havia prendido um profeta do Senhor, a quem torturariam após o banquete de hoje à noite.
“Quero toda a minha armadura polida quando eu voltar." Ele ficou sobre ela, ameaçando com sua proximidade.
O general de Israel era tão meticuloso com sua aparência quanto letal em batalha.
Suas mãos tremiam, deixando pingar óleo enquanto esfregava no peitoral de couro.
“Sua armadura não está sempre impecável?" Ele a agarrou pelo braço, forçou um beijo e saiu da tenda.
Ela cuspiu e espiou para fora da tenda, tomando cuidado para não ser vista.
Eitan se reuniu com os demais oficiais assobiando uma melodia assíria estranha usada nos sacrifícios e cerimônias de tortura.
Embora Eitan tivesse feito Gômer participar de um ritual medonho, seu estômago não estava disposto a outra degustação.
Mesmo à distância, ela podia ouvir os gritos e gemidos de homens, mulheres e crianças.
Aquela música a assombraria para sempre.
Ela sentiu um calafrio ao observar a fila de prostitutas seguir os soldados para fora do campo.
Cada uma carregava comida em cestas na cabeça e nos dois braços.
Duas delas transportaram um antílope assado, suspenso em hastes apoiadas nos ombros.
O rei da Assíria havia convidado os reis visitantes e seus oficiais para o banquete noturno, deixando claro que seus presentes de ouro e prata deveriam ser acompanhados de comida suficiente para a refeição.
Pul proveria o entretenimento.
Ela se afastou da tenda, cobrindo o pescoço com um cobertor.
Era inverno e o frio era intenso, mas foi o frio de Arpad que causou um arrepio.
“E se Oséias estiver naquela tenda, esperando para morrer?"
Seu sussurro foi recebido com o silêncio sombrio familiar.
Ela se envolveu no cobertor e observou a única tocha na tenda escura.
Uma luz minúscula.
Na escuridão consumidora.
Ela olhou para a chama e fechou os olhos.
Ainda consigo ver.
A impressão da chama ainda brilhava nos olhos de sua mente.
Um sorriso satisfeito vincou seus lábios, abrindo um pequeno corte do tapa de ontem.
Naquele momento, ela sabia duas coisas: Oséias era o profeta que Eitan havia mencionado, e ela tentaria ajudá-lo.
“Se eu avisar Oséias e ele escapar, talvez eu tenha deixado um pouco de luz no mundo - mesmo depois que Eitan me matar." E ela sabia, sem dúvida, que seu mestre a mataria.
Tomada a decisão, ela vasculhou a pilha de armas de Eitan e encontrou uma adaga bem parecida com a que carregava enquanto se prostituía em Jerusalém.
Ela encontrou uma bainha adequada e amarrou acima do joelho direito.
Colocou alguns víveres numa bandeja para criar uma cena, e escondeu uma bolsa debaixo do roupão.
Então ela partiu às pressas, em missão, tentando parecer o mais natural possível para uma prostituta.
Ela caminhou pelas tendas, tentando encontrar um abrigo vigiado.
Ela não encontrou nada na segunda fileira além de soldados descansando ao lado das fogueiras.
Ela passou, observando a próxima fileira.
“Está dizendo que eles não entraram aqui com você?"\n
Pare!"
Seu coração disparou quando seus pés pararam.
Um soldado se aproximou por trás, agarrando seu ombro e encarando.
“Você não é a mulher do general Eitan? Por que você não está com o resto das prostitutas na festa?"
Ela sorriu e estendeu a mão para traçar a linha da barba em volta dos lábios.
“O que você quer que eu responda primeiro?"
Ele olhou para ela, pasmo.
Ela o provocou ainda mais.
“Sou a mulher de Eitan, mas ele me compartilha com seus oficiais. Quanto tempo até você se tornar oficial, hum?"
“Eu hum... bem eu... "
“Eitan me mandou trazer comida para o profeta", disse ela, “não consegui acompanhar a carvana para o banquete do rei Pul, ele não me disse em que tenda o profeta estava. Você pode me acompanhar até lá?" O soldado era barro nas mãos de Gômer.
“Claro. Siga-me."
Ele a levou para o lado sul, numa tenda normal, guardada por um único soldado.
O soldado sussurrou algo para o homem, que então se afastou sem hesitar.
“Direto pra dentro. Ele está orando em voz alta ao seu deus desde que chegou. É muito irritante."
Você está me dizendo? Respirou fundo e Gômer endireitou seu manto.
Ela olhou para as unhas sujas e as mãos calejadas, imaginando o que Oséias pensaria quando a visse.
O que ele pensa não importa.
O que importa é que ele viva.
Ela se sentiu encorajada e entrou na tenda.
“Senhor Adonay, eu te seguirei na vida e na morte.
Eu Te adorarei na plenitude e na escassez.
Eu irei ... Oséias sentiu seu perfume antes de abrir os olhos.
Seu nome saiu num sussurro.
Ele se levantou para ver a esposa que havia exilado, lembrando-se da previsão de Isaías.
Ela parecia silenciada pelo passado deles.
Seu queixo tremia, os lábios pressionados.
Ela estava ossuda e machucada, tinha cortes no lábio na maçã do rosto.
Os cabelos estavam desgrenhados, sujos e emaranhados.
Uma justa indignação cresceu dentro dele.
“Quem fez isso -"
Ela baixou a voz.
“Por favor, Oséias. Não temos tempo!"
Eitan disse que Menaém o manteria aqui durante a noite para torturá-lo após o banquete de hoje à noite.
Ela se ajoelhou, tirou a bolsa de viagem do roupão e embrulhou a comida para a viagem.
“Espere", disse ele.
Ela estava tremendo.
Você voltou para Eitan? Raiva lutava com pena.
Como ela poderia escolher tal abuso?
Seus olhos se encontraram.
Ele viu fúria em seus olhos, mas a faísca apagou com desespero do momento.
Eu não voltei para ele, Oséias.
Uma tropa de soldados me encontrou no deserto, e os deuses continuaram seus jogos doentios com a minha vida. " Ela enxugou uma lágrima errante e olhou por cima do ombro, sussurrando: “Agora pegue esta comida e cavalgue o mais rápido e longe que puder. Eitan não virá ao acampamento para persegui-lo, mas ele pode enviar um destacamento.
Fique longe das rotas comerciais e volte para Judá. " Ela afastou os cachos perdidos de sua testa.
“Nunca mais chegue perto de Menaém ou Eitan, Oséias. Eles vão matá-lo."
Ele manteve o olhar dela. Pela primeira vez em anos, ela não se virou.
Compaixão parecia ter substituído a amargura.
“Eu sou o profeta de Senhor, um vigia sobre Israel e pronto para morrer pelo Senhor, se for preciso." Ele tocou sua bochecha, mas ela se assustou como um potro assustado.
“Mas por que você está arriscando sua vida para me salvar, Gômer? Eitan vai te matar se descobrir que você me ajudou."
Ela riu sem entusiasmo e se levantou, segurando a bolsa de viagem.
“Eu já estou morta para você. Lembra?"
Oséias se levantou e pegou a bolsa.
“Sim. Lembro-me muito bem."
“Eu estava morta por dentro muito antes de você e seu deus declararem isso. Quando percebi que Eitan planejava matá-lo, pensei que, se o ajudasse, minha morte pelo menos significaria alguma coisa."
As palavras perfuraram a alma de Oséias.
“Então, se eu fugir, Eitan saberá que foi você quem me ajudou? Por que você não subornou os guardas ou se esgueirou aqui sem ser notado?"
Um sorriso lento e triste se surgiu por seu rosto.
“Não tenho dinheiro para subornar os guardas, e nunca fui boa em passar despercebida."
“Eu não posso te deixar aqui", ele sussurrou.
“Eu não vou te deixar."
“O que você quer dizer com não vai? Tens de sair!"
Oséias se aproximou do seu rosto.
“Shh, os guardas vão ouvir você." A bolsa de viagem caiu no chão, e ela derreteu contra o peito dele.
Oséias a embalou e sentiu suas lágrimas silenciosas molharem seu manto.
O que eles fizeram a sua esposa que poderia fazê-la escolher o sacrifício em vez da sobrevivência? Senhor, o que devo fazer agora?
Gômer afastou-se e limpou o rosto na roupa.
Não posso ir com você, Oséias.
Eu sou uma prostituta.
Até mesmo seu deus disse que eu seria sempre uma prostituta."
Ele não queria mais nada além de levá-la de volta pra casa e amá-la.
Por favor, Senhor.
Ela é mesmo incurável?
A luz da tocha dançava com o vento frio e suave.
Gômer ficou parada como uma estátua.
Oséias fechou os olhos, sorvendo a voz familiar em seu espírito: eu os curarei da sua infidelidade. e os amarei de todo o meu coração. pois a minha ira desviou-se deles.
Oséias ofegou e enterrou o rosto nas mãos, aliviado.
Obrigado, Senhor, Adonay Elohim.
A brisa do Senhor encheu a tenda, balançando o vestido de Gômer, fazendo-a choramingar.
Seu deus me matará antes que Eitan tenha a chance?"
Oséias a abraçou.
“Não. Não. Não sei o que Eitan fará, mas você viverá. O Senhor prometeu."
Ela se afastou dele. Sua expressão exibia uma cautela renovada.
“Não seja tolo, Oséias. Desobedeci as ordens de Eitan. O guarda lá fora é uma testemunha contra mim. Não viverei para ver o amanhecer."
O peso do sacrifício dela o esmagou novamente, mas uma memória gentil aqueceu seu coração.
Você a verá em Arpad.
Ele se lembrou das palavras de despedida de Isaías.
“Como você pode sorrir em um momento como este?"
“Porque estou tentando imaginar como vou confessar a Isaías que ele estava certo e eu errado." Sua sobrancelha franziu na confusão que ele esperava.
“Senhor disse a Isaías que você estaria aqui, mas eu disse que Senhor não se preocuparia com o nosso casamento quando a Assíria ameaçou o mundo inteiro." Ele pegou a mão dela e embalou-a com a palma para cima.
“O Senhor sabia que você estaria aqui, Gômer. Embora nem sempre esteja com você, Ele está. " Então ele dedilhou os dedos dela como fazia quando eram crianças.
Ela inclinou a cabeça, escondendo o rosto.
Depois de algumas fungadas, ela enxugou os olhos e o nariz novamente na roupa.
Pegou a bolsa de viagem e entregou para ele como se ele não tivesse falado nada.
“Vou distrair os guardas enquanto você leva seu camelo para fora do acampamento. Se você se comportar bem, ninguém notará. No momento em que chegar à estrada, pegue o animal e vá o mais rápido que puder."
Oséias olhou mais uma vez para aqueles olhos castanhos que ele conheceu e amou.
“Obrigado, Gômer. Eu..."
“Vamos."
Ela se virou e deixou a tenda, deixando Oséias com um nó na garganta e um buraco no coração.
41
Oséias 10:11–12
Efraim era bezerra treinada, gostava muito de trilhar.
Por isso colocarei o jugo sobre o seu belo pescoço.
Jacó fará sulcos no solo...
Semeiem a retidão para si, colham o fruto da lealdade e façam sulcos no seu solo não arado; pois é hora de buscar o Senhor, até que ele venha e faça chover justiça sobre vocês.
Gômer estava deitada em seu tapete a tenda de Eitan, esperando o general retornar.
A almofada estava molhada com suas lágrimas, esperando - até orando a todos os deuses, exceto um - que Oséias conseguisse sair do acampamento sem ser visto.
Era melhor que Oséias orasse a Senhor. Aquele deus em particular parecia especialmente irritado com prostitutas em geral e com ela em particular.
Como Oséias pôde dizer que Senhor estava com ela quando cada dia havia novas torturas? Que tipo de deus permite esse tipo de dor? Que tipo de mulher se rebela tão descaradamente e sobrevive? Ela empurrou os pensamentos problemáticos de lado.
“Como assim ele não está na tenda?" A voz elevada de Eitan rompeu a noite.
“Como um profeta e seu camelo podem desaparecer de um acampamento israelita? Traga-me o guarda dele!" A porta da tenda se abriu, a força de sua fúria sacudindo a estrutura.
Gômer se sentou, observando a tocha ser acesa.
“Me dê um pouco de vinho!"
Ela correu de seu tapete para atender ao comando dele. Suas mãos tremiam enquanto pegava o odre.
Ela serviu o vinho, notando a falta da taça de madeira. Eitan estava andando e não percebeu.
Graças aos deuses.
“Seu vinho, meu senhor." Ela estendeu a taça com a mão trêmula.
O guarda apavorado entrou, escoltado por dois oficiais, e imediatamente caiu de joelhos.
“Sou seu fiel guerreiro, general. Obedeci sua ordem para escoltar a prostituta de volta à sua tenda e, quando voltei, o profeta havia fugido."
Gômer exalou o ar que estava prendendo.
Pelo menos foi rápido.
Talvez a execução seja assim também.
Eitan voltou os olhos para ela, mas falou com o guarda.
“Então, minha prostituta te distraiu para que o profeta pudesse escapar?"
“Não ... hum, bem, eu não pensei ... hum ..." Gômer notou a expressão abatida do guarda.
“Ha!" Eitan bateu as mãos num aplauso estridente.
“Parece que minha prostituta foi mais esperta que você." Ele acenou para seus oficiais.
Eles arrastaram o guarda para fora, gritando.
Eitan focou o olhar perverso em Gômer.
“Por que você arriscaria sua vida por um profeta do Senhor?"
Ele ainda estava sorrindo.
Talvez ela ganhasse uma surra se bancasse a prostituta atrevida.
“Prefiro não explicar."
O sorriso dele desapareceu e ela sabia que tinha calculado mal.
Ele agarrou os cabelos dela, colocando a adaga contra a garganta.
“Satisfaça minha curiosidade."
“Ele é meu marido." Ela sentiu um fio de sangue quente escorrer pelo pescoço e ficou maravilhada com a lâmina afiada dele.
Talvez a morte fosse rápida.
Eitan a soltou e deixou as mãos caírem ao lado do corpo.
Ele olhou sem expressão.
“Seu marido?"
Ela viu um oceano de raiva pelas janelas de sua alma.
Por que essas palavras o perturbam? “Eu estava fugindo dele quando um de seus oficiais me encontrou no deserto a caminho de Arpad."
“Ahhhh!" Eitan lançou a adaga no mastro central, e Gômer sentiu um golpe simultâneo no rosto.
Um grande estrondo e o interior da sala estava coberto de estrelas.
Você não estava junto do profeta!"
Ele a alcançou, e ela tentou se desvencilhar.
Por que você está com tanta raiva!"
Ele a agarrou pelos braços, levantando seus pés do chão e cuspiu as palavras em seu rosto.
“Menaém me proibiu de tocar no profeta ou em qualquer coisa que lhe pertencesse. Recebi ordens para soltá-lo e deixá-lo ir ileso em seu maldito camelo. Agora nem posso te matar, porque se o rei descobrir que você é a esposa do profeta, minha cabeça será servida em uma bandeja."
Ela sentiu uma costela quebrar, mas não ousou gritar.
Ele ameaçou sair, e ela não queria dar outros motivos para voltar.
Ela caiu no chão, sem saber o que sentir.
Alívio? Medo? Vitória?
“Você vai sair pela manhã." Assustada, ela olhou para cima para encontrar Eitan observando-a da abertura da tenda, um sorriso sinistro tornando sua raiva ainda mais assustadora.
“Obedecerei ao rei. Você desejará ter morrido."
O palácio de Samaria podia ser visto à distância.
Gômer se lembrou da estrutura brilhante de calcário, seus móveis de marfim e ébano.
Ela já tinha passado por um julgamento no palácio, nos tempos do rei Jeroboão. No momento, era melhor que as algemas que prendiam seus tornozelos e pulsos.
Eitan estava certo.
Matá-la teria sido mais misericordioso do que a jornada de quarenta e dois dias de inverno na caravana de escravos da Araméia.
Os escravos usavam capas de couro sobre as sandálias para proteger os pés do gelo e da neve, mas usavam apenas mantos de lã para se proteger dos ventos gelados do inverno.
Gômer lembrou-se do calor intenso do deserto de Judá e decidiu que o frio era bem pior do que o sol ofuscante.
Ao entrar em território israelita, o clima se tornou mais ameno e seus pés estavam machucados pelo couro.
“Novos escravos, carne de primeira." O vil pequeno arameu abriu um amplo caminho que conduzia à colina de Samaria.
Ele parou ao norte de Siquém, mandando homens e mulheres para água gelada da nascente.
Era refrescante e torturante para as feridas descobertas.
Eles entrariam na cidade nus, mas limpos.
“Continue andando", ele gritou, chicoteando um dos homens.
A jornada de Arpad começou com vinte escravos - doze mulheres, oito homens.
Restavam sete homens, três mulheres.
Quando alguém reduzia o ritmo, o comerciante cortava a mão e o pé do escravo, deixando para trás para morrer.
Os restantes foram deixados para arrastar uma algema - motivação suficiente para se manter em movimento em terrenos escorregadios.
Gômer reuniu forças e levantou a cabeça, aproximando-se dos portões de Samaria.
Ela estava tremendo e se perguntou se era por causa do estômago vazio ou da garoa leve.
Ela tinha comido apenas os restos dos arameus.
Algo chamou sua atenção, deixando-a boquiaberta como uma garota visitante no portão da cidade de Samaria.
Estavam em ruínas. Seus metais finos manchados e a madeira exposta apodrecendo.
Ela olhou para o leste, esperando ver o bosque de Aserá, seu antigo refúgio.
Mas o caminho estava todo desarrumado.
O mato era exuberante.
Os comerciantes conversavam sobre o tributo opressivo que a Assíria exigia das nações “vassalas."
Ela se confundia com a diferença entre uma nação vassala e uma cooperativa.
Agora ela entendeu.
Palavras diferentes para a mesma realidade.
Os efeitos eram os mesmos. Era só observar a decadência de Samaria.
A companhia de escravos entrou na cidade, e Gômer olhou para a colina, desejando bater nos portões de seu antigo bordel.
O rosto perverso de Tamir brilhou em sua memória, e ela sentiu forte repulsa.
Sua vida era mesmo patética para ela desejar voltar a sua antiga senhora.
“Fiquem juntos, ou vou cortar quem está atrasado." O odioso pequeno arameu estalou o chicote novamente e Gômer se apertou contra o homem à sua frente.
Qualquer tipo de autoestima que ela mantinha até então ficou perdida em algum lugar entre Arpad e Samaria.
Os espectadores zombavam deles quando passavam.
Alguns jogaram pedras e paus.
Outros gritaram obscenidades.
Gômer desejou que jogassem comida, embora ela duvidasse que pudesse pegar com os pulsos algemados e ensanguentados.
A fila de escravos se arrastava por um beco estreito, e Gômer entrou em pânico.
Para onde o comerciante os estava conduzindo? As tumbas eram a única coisa ao norte da cidade.
Ela sabia que havia um mercado de escravos em Samaria, mas nunca tinha visto.
Ela respirou fundo... cheirava como ela.
Sujeira.
Excremento.
Escravos.
Ela entendeu por que eles colocaram o mercado de escravos ao lado do cemitério.
Por que continuar vivendo quando a vida é viver a morte?
“Forme uma linha para que o mestre de escravos possa inspecionar você." O arameu estalou o chicote de novo e Gômer saltou, alinhando-se ombro a ombro com homens de ambos os lados.
“Veja este exemplar", disse ele ao mestre.
“Ela está meio bagunçada agora, mas ela era a prostituta particular do general Eitan."
Gômer parou de tremer e se concentrou em uma nuvem no céu, permitindo que o homem a inspecionasse da cabeça aos pés.
“Ela já foi linda, tenho certeza, mas foi montada com força - como uma égua velha. Quem compra meus escravos está a procura de potros melhores."
Gômer se esvaziou de tudo o que era humano, tornando-se uma coisa.
Ela levou a mão à bochecha dele, puxando a mão algemada do escravo ao lado dela.
“Você faz idéia do que uma mulher é capaz de aprender com tantos professores?" “Posso demonstrar meus dotes para qualquer cliente. Eu não vou desapontá-lo - ou a você. " Ela engasgou com as palavras e pela primeira vez agradeceu que seu estômago estivesse vazio.
Voltou à fila, notou o olhar do mestre e sabia que ele estava falando dela.
“Solte as algemas. Eu vou resgatá-la. " Um senhor mais velho imponente saiu das sombras.
Ele bateu palmas lentas e constantes.
“Performance excelente."
Ela inclinou a cabeça, numa reverência.
“Vejo por que Eitan gostou de você."
“Ele não gostou de mim. Eu era só dele. " Ela ergueu uma sobrancelha.
“Você conhece o general?"
O mestre removeu os grilhões de seu pulso.
O alívio foi esmagador.
Ela fechou os olhos e respirou profundamente.
Seus olhos se abriram e o pânico voltou.
Um cliente potencial estava esperando.
Ele se irritou com a demora?
Ele estava olhando, com um sorriso agradável e uma expressão enigmática.
Conheci o general Eitan e o rei Menaém.
Eu os conheço o suficiente para ficar fora do caminho deles e manter meu tesouro trancado."
Gômer sentiu as algemas do tornozelo caírem no chão e ela quase caiu junto.
+ livre
Ela não havia entendido aquela palavra até o momento.
Ela olhou o intrigante nobre, percebendo que nunca mais estaria livre.
Ela curvou-se até o chão.
“Como posso servi-lo, meu senhor?"
O homem entregou cinco moedas de prata na mão do mestre e a ergueu em seus braços.
“Primeiro, eu vou servi-lo."
Envergonhada - mais pela fraqueza que pela nudez -, ela empurrou as mãos resistentes no peito dele.
“Por favor, meu senhor, eu posso andar."
Ela se inclinou para a frente, pensando que ele a colocaria no chão.
Em vez disso, ele a tomou nos braços.
“Pare de lutar." Sua voz era firme, mas não zangada.
Ela ficou quietinha, com medo de que ele a levasse de volta ao mercado.
Ele retomou o passo e repetiu gentilmente: “Você pode parar de espernear agora."
Seu tom gentil deixou-a confusa.
Ela deitou a cabeça no peito dele, decidida a obedecer ao seu comando, escondendo as lágrimas.
Ele diminuiu a velocidade quando se aproximaram de um carrinho de madeira ornamentado.
Quatro rodas, quase tão altas quanto Gômer. Havia ouro na ornamentação dos raios.
Uma pilha de tapetes alinhava-se na carroça, e quando ele a ergueu sobre eles, ela afundou como se fosse uma nuvem.
“Vamos cobrir você", disse ele, desenrolando um cobertor pesado sobre ela.
“Você deve estar congelando. Não precisamos desfilar novamente -"
“Não, espere!" Ela pensou nas coisas bonitas que estava sujando de sangue.
“Estou impuro." A palavra familiar do rei Uzias ecoou em sua memória.
Imundo! Imundo! Um nó de emoção sufocou qualquer argumento adicional.
O homem se inclinou na lateral da carroça, beijou o dedo e encostou na testa dela.
“Tudo nesta carroça pode ser lavado, pequenina. Inclusive você."
Ele desatou as rédeas, e subiu no lugar do cocheiro.
Gômer ficou maravilhada com a força e a agilidade do velho.
Ela estimou a mesma idade de Amós e Yuval. Pra falar a verdade, seus traços lembravam Yuval.
Ela relaxou nos tapetes, colocando o braço sobre os olhos.
Será que vou ver o rosto de Yuval em todos que me tratam gentilmente?
Seu novo mestre estalou as rédeas, cutucando o boi que estava atrelado.
Ele se inclinou para trás e explicou: “A maioria das pessoas acha esquisito eu usar um boi para puxar minha carroça na cidade, mas as colinas de Samaria são muito pesadas para um burro ou mula. Sou comerciante, e o amigo Sansão aqui me ajuda a transportar mercadorias nas ruas lamacentas."
“Sansão."
O nome do gato de Gômer.
Sua melancolia foi substituída pela raiva.
Se os deuses queriam pregar peças, ela se recusava fazer parte do joguinho deles.
Sem mais lembranças sentimentais sobre Uzias, Yuval ou o gato estúpido.
“Desculpe-me, meu senhor, mas você se importaria dizer seu nome?"
Se ele dissesse que se chamava Oséias, ela se jogaria sob os cascos do boi.
Ele se virou sorrindo, seus dentes brancos.
Ele era bem bonito para um homem velho.
“Sou Ezri, pequenina. Perdoe-me por não me apresentar antes. " Ele parecia satisfeito por ela ter iniciado.
“E qual é o seu nome?"
“Gômer!"
Meu nome é Gômer.
De repente ela se sentiu agradecida pelo soldado que a encontrou no deserto e seu conhecimento sobre nomes.
“Completo", disse ele, voltando sua atenção para a estrada.
“Gômer, acho que você deve servir aos planos que tenho para você. Minha esposa morreu há três ciclos lunares e eu mantenho alguns servos em minha casa. Você deixará minha casa completa."
Gômer imaginou que Ezri teria sido um dos comerciantes ricos em Samaria enquanto ela morava no bordel de Tamir.
Ele havia sido um cliente? “Meu senhor, eu morei em Samaria - na casa de Tamir. Você conhece o negócio dela?"
Ele suspirou.
Conheço o bordel de Tamir.
A proprietária do bordel antes de Tamir era amiga da minha família.
Mas eu nunca paguei pelo serviço de uma prostituta.
Permaneci leal à minha esposa durante os trinta e dois anos em que nos casamos. " Ele lançou um sorriso por cima do ombro.
“Tenho certeza que nunca nos conhecemos."
Ela notou uma covinha na bochecha direita, acima da barba grisalha bem cuidada.
“Mas você sabe quem eu sou - o que eu sou?"
“Como disse antes, a maioria das pessoas me acha esquisito, Gômer. Atrelo um boi à minha carroça na cidade e compro uma jovem prostituta para ser minha companheira na velhice."
“Acho que nós dois estamos trilhando novos caminhos, não é?"
42
Isaías 6:1
No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado. e a aba de sua veste enchia o templo.
O cortejo do rei Uzias se estendia desde o portão de Jerusalém, através do vale de Hinom e subia a colina em direção a En Rogel.
Todo o reino de Judá estava reunido para lamentar o rei leproso.
Oséias notou a agitação de Isaías e seu coração se partiu.
Iasías sentia a morte de Uzias com força. O rei havia sido um segundo abba para ele.
“Abba Amoz tinha se reconciliado com Uzias antes da morte?" A voz de Oséias saiu abafada.
Isaías escolheu andar entre os profetas, em vez de se juntar à realeza à frente do cortejo.
Em respeito ao desejo de Amoz, Isaías e Uzias permaneceram calados sobre sua idolatria, sob a condição de que sua adoração cessasse.
Os profetas mais jovens não tinham como notar a tensão naquele relacionamento familiar.
“Abba visitou Uzias no dia anterior à sua morte, mas eu não estava presente. Eles conversaram em particular. Quando ele voltou para casa, seu semblante estava mais brilhante, então presumo que ele e o primo Uzias fizeram as pazes. " Isaías olhou para Oséias, sorrindo em meio às lágrimas.
“Eu acredito que Aya amoleceu o coração de Abba de muitas maneiras enquanto ele viveu em nossa casa." Eles caminharam em silêncio através da sujeira de Hinom, a fumaça acre de fogos persistentes irritando olhos já chorosos.
“Ontem, ao jogar o lixo fora, encontrei os pedaços de um ídolo, Oséias. Eu acredito que foi o Asherah de Abba. " Suas feições eram uma mistura de alegria e medo.
“E se ele fez todo esse progresso, abriu seu coração - e então minha profecia hoje rejeita Abba novamente? Não sei como poderia continuar sabendo que o deixei amargo no momento em que ele começou a acreditar ... "
Oséias deteve Isaías por um instante, permitindo que outros profetas passassem por eles na marcha em direção ao cemitério.
- Você tem certeza da sua chamada, Isaías? Você ouviu a voz de Senhor?"
“Você sabe que sim."
“Você crê que o Senhor o chamou para pregar aqui hoje, no enterro do rei Uzias?"
Isaías olhou para o cortejo, onde o rei Jotão montava seu burro e a casa real seguia a uma distância respeitosa, Amoz e Aya entre eles.
Oséias e Isaías se juntariam a eles para a cerimônia, a pedido de Jotão, mas o rosto de Isaías era um misto de emoções conflitantes.
Finalmente, a razão assumiu o controle.
O templo do Senhor permanece em ruínas.
Jotão não fez nada para guiar o povo de volta à presença do Senhor.
Estamos no vale de Hinnom, onde os sacrifícios pagãos ainda queimam, e os homens que hoje lamentam Uzias amanhã estarão no alto de En Rogel.
Este é o melhor lugar e o melhor público para marcar minha pregação da mensagem do Senhor. "Isaías respondeu: “Sim. Hoje eu falarei pelo Senhor, meu amigo.
Devo confiar nEle para continuar trabalhando o coração de abba."
Oséias deu um abraço em Isaías e os dois homens retomaram a caminhada.
“O sepultamento de Uzias não foi permitido nas tumbas reais, por isso, talvez Jotão se sinta consolado com as palavras do Senhor no túmulo de seu abba."
“Tomara", disse Isaías com um tom duvidoso e uma sobrancelha levantada.
Quando o cortejo parou no campo dos descendentes de Davi, Isaías se aproximou de Oséias.
“Eu estou aterrorizado. Eu prefiro me esconder aqui com os profetas ou ficar despercebido perto de Abba e Aya - lamentando Uzias com o resto de Judá. " Oséias respirou fundo para encorajá-lo, mas a determinação de Isaías falou primeiro.
“Mas eu serei obediente, meu amigo. O fogo dentro de mim não se apagará até que eu fale a mensagem do Senhor."
Oséias deu um tapinha no ombro dele enquanto caminhava para ficar ao lado de Jotão.
“Confie no Senhor", Oséias sussurrou enquanto caminhavam.
Você vai ser obediente, Oséias? Você confia em Mim para liderá-lo? A voz era um mero sussurro em seu espírito, sem brisa fresca, sem fogo em seu corpo.
Podia ser sua imaginação.
Ele continuou seguindo Isaías, se dirigindo para a frente do cortejo.
Antes de chegarem à ao grupo da realeza, Oséias ouviu novamente o som suave do Senhor: mostre seu amor a ela novamente.
“O que?" Ele parou no meio do caminho, e Isaías se virou, intrigado.
“Você está bem?" ele gritou alguns passos à frente.
Eu vou ficar bem.
Isaías retomou o ritmo, mas Oséias diminuiu a marcha.
“Como assim, 'mostre seu amor por ela'?" ele sussurrou.
Compre-a de volta.
A voz falou numa brisa suave desta vez.
Medo.
Raiva.
Expectativa.
Frustração.
Ele sentiu tudo enquanto se apressava pela multidão.
Já fazia quatro anos desde que Gômer o ajudara a escapar de Arpad.
Ele reconstruiu sua vida em Tecoa.
As crianças estavam bem adaptadas e contentes. Passavam o dia com Aya e Yuval, as noites em casa com ele.
Como Senhor poderia pedir a ele para perturbar suas vidas novamente? Ammi nem se lembrava da ima que o abandonou.
Por que trazê-la de volta agora, Senhor?
Sem resposta.
Ele continuou andando. A mente divagava, murmurando razões pelas quais ele certamente havia entendido mal a palavra do Senhor.
Finalmente, chegou ao local do sepultamento, uma projeção de rochas onde uma caverna natural seria selada com uma grande pedra.
Oséias se colocou entre Isaías e seu abba Amoz.
Antes de começar sua oração, o sumo sacerdote ergueu a sagrada Neustã, a serpente de bronze que Moisés criou no deserto para curar aqueles que foram mordidos por serpentes.
Mas, ao invés da voz do velho sacerdote, ouviu-se o tom ressonante de Isaías.
“Rei Jotão, tu sabes como amei seu abba e que meu amor por Judá flui do sangue real de Davi - o mesmo que o teu."
O único aceno de cabeça de Jotão deu permissão para continuar.
“Recebi uma mensagem do Senhor para Judá. Posso falar?" Ele curvou-se humildemente, aguardando a aprovação de seu primo.
“Abba, não!" O príncipe Acaz gritou.
“Não deixe ele falar, abba. Ele não deveria ter permissão para falar no enterro da minha saba. " O menino, muito próximo da idade de Jezreel, já exibia o arrogante título de realeza.
Jotão acalmou o filho, voltando sua atenção para Isaías.
“Estou sempre disposto a ouvir a mensagem do Senhor. Fale, Isaías."
Isaías olhou brevemente para Jotão antes de fechar os olhos e abrir a boca.
“Eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas. com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. Eles chamaram uns aos outros e disseram: 'Santo, santo, santo é Senhor Tsebaoth! A terra inteira está cheia de Sua glória. ' Suas vozes abalaram a base das ombreiras das portas e o templo se encheu de fumaça. "
“Isaías", Jotão interrompeu, “o templo de sua visão é o mesmo que o templo do Senhor aqui em Jerusalém?"
“Sim, meu senhor - exceto que era bem conservado e brilhava com a luz celestial."
O rei franziu a testa, descontente com a lembrança da negligência com o templo.
“Continue."
“Então eu disse: 'Oh, não! Eu estou condenado. Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!"
“Logo um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: “Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado".
“Então ouvi a voz de Adonay, dizendo: 'Quem enviarei? Quem irá por nós?' E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me!"
A multidão permaneceu em silêncio, envolvida na cena celestial da visão de Isaías.
Oséias também se imaginou na própria sala do trono de Deus, purificada pelo fogo santo, oferecendo-se novamente.
Que representação incrível do poder e da misericórdia de Deus.
A majestade do Senhor - tão infinita que apenas a aba de suas vezes enchem o grandioso templo da cidade dourada.
O propósito do Seu fogo sagrado era sempre purificar, não destruir.
Oséias caiu de joelhos, enterrando o rosto nas mãos.
Me envie! Senhor, envie-me! Vou mostrar meu amor a Gômer e comprá-la de volta.
Eu obedecerei. Eu também sou um homem de lábios impuros no meio de um povo de lábios impuros.
Limpe-nos, Adonay, e me envie.
A voz do rei Jotão interrompeu o momento sagrado de Oséias.
“Você pode interpretar sua visão para nós, Isaías? Diga-nos o que você acredita que Senhor pretende que eu faça com uma visão tão vaga. "
Oséias ficou estupefato.
Ele procurou a decepção no rosto de Isaías.
Em vez disso, um brilho confiante iluminava a face de seu amigo.
“O Senhor disse: '“Vá e diga a este povo: “Estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam; estejam sempre vendo, e jamais percebam. Rei Jotão, você foi avisado repetidamente para destruir os altos e retornar ao templo do Senhor para adorar. Até que você obedeça, nenhuma explicação adicional será dada."
E com o peso destas palavras no coração de Oséias, Isaías estendeu a mão para Aya, que voluntariamente se juntou a ele.
“Vamos pra casa," ele disse.
“Espere!" Amoz ficou confuso, olhando primeiro para Jotão e depois para Isaías.
As emoções misturadas no seu coração.
“Seu abba foi um bom homem", ele disse ao jovem rei.
“O poder do Senhor não o destruiu. O sofrimento o tornou mais forte no final."
Ainda lutando com as palavras, os olhos de Amoz se voltaram para Aya.
Suas feições suavizaram.
“Perdi anos com raiva e medo." Ele voltou sua atenção para Jotham e acrescentou: “Não cometa meus erros. Não deixe seus pecados machucarem seu filho."
Jotão não disse nada. Ele observou os profetas acompanhando Isaías e sua família.
A multidão reunida permaneceu em silêncio.
Oséias ouviu apenas o choro de Amoz - e o sussurro reconfortante de Isaías enquanto caminhava de braços dados com seu abba.
Oséias se sentou ao lado da cama de Amós, olhando para as feições de seu amigo e professor.
O profeta havia sido uma rocha durante anos.
“Você não vai trazer aquela prostituta de volta para este acampamento!"
“Você desafiará a palavra do Senhor e me forçará a viver como mentiroso diante dos meus alunos?" Oséias combinou o tom.
“Ensino a eles que devem obedecer ao que o Senhor lhes fala - sempre, onde e da forma que forem chamados a profetizar."
“E os seus filhos?" Yuval sussurrou e ele se virou para encontrá-la esperando com uma xícara de vinho regado.
“Eles estão finalmente resolvidos, e se algo acontecer com você quando tentar encontrar Gômer? Eles já perderam um dos pais. "
Ele recusou a bebida, desejando beber a tristeza dela.
Ela deixou o copo de lado e se ajoelhou no ombro do marido.
“Prefiro ser mordido por uma serpente do que trazer Gômer de volta, mas devo obedecer ao comando do Senhor. O Senhor disse para comprá-la de volta e mostrar-lhe meu amor novamente. " Ele apertou a mão de Amos e soltou um suspiro de frustração.
“Mas primeiro eu preciso encontrá-la. O Senhor está em silêncio desde que voltamos do sepultamento de Uzias. Não faço ideia para onde procurar."
Oséias vislumbrou a troca de olhares de seus amigos.
Yuval pegou um bordado, enquanto Amós dobrou e alisou os cobertores.
O silêncio gritava conspiração.
“O que vocês estão escondendo?"
Yuval levantou uma sobrancelha, insistindo que Amós se explicasse.
“Gômer está em Samaria", o velho profeta resmungou.
“O Senhor me disse esta noite."
“Você só me diz isso agora?" Oséias gritou, levantando-se tão rapidamente que o banco caiu.
“Sente-se, jovem!" Os olhos de Yuval brilharam e ela apontou para o banquinho.
Oséias respirou fundo e recuperou a calma.
“O que mais o Senhor disse?" ele perguntou enquanto se sentava no banquinho.
A expressão de Amós parecia birra de criança.
Ele parecia perturbado com a notícia.
“O Senhor não disse mais nada, mas eu mantenho contato com alguns espiões, e eles me dizem que Samaria é uma panela pronta para derramar a destruição."
“Eu sei o perigo, mas pelo menos eu não preciso mais temer os dois homens tentando me matar." Oséias sentiu um certo alívio quando soube da morte de Menahem, mas quando seu filho, o rei Pecahiah, substituiu Eitan por um novo comandante chamado Pekah, Israel agitou-se em turbulência.
Os olhos de Amós ficaram nublados.
“O perigo vai além das questões pessoais, meu filho. Jotão está enviando espiões para botar lenha na fogueira, apoiando um golpe em Efraim, enquanto o filho de Menaém ainda está vulnerável em Samaria."
Oséias fez uma pausa, considerando a implicação da iminente guerra em Israel.
“Não ouvi nada disso."
“Você vai ter que viajar pelo deserto e permanecer no esconderijo em Siló", disse Amós.
“Até onde sabemos, continua sendo um bom esconderijo para os espiões de Judá."
“Você não saberá que não é seguro até que a ameaça seja iminente!" O argumento de Yuval era mais emoção que razão.
“Se o Senhor revelou que Gômer está em Samaria" - Oséias segurou a mão de Yuval - “você não acha que Ele pode me proteger nessa jornada?"
Ele viu os pensamentos se formarem nos olhos dela.
O medo se transformou em perguntas, e suas perguntas fizeram surgir algo novo.
“Eu vou com você!" ela ofegou, tão surpresa quanto os homens.
“Oh, Yuval." Oséias preparou sua objeção imediata.
“Creio que não."
Não vou deixar!" O grito de Amós desencadeou uma crise de tosse.
“Você vai ficar... bem aqui ... naquela cama - ele disse, apontando para o tapete enrolado ao lado dele."
Yuval esperou que ele se acalmasse, enquanto Oséias observou em silêncio.
Ele sentiu que a companhia de Yuval teria a aprovação do Senhor, mas não ousou interferir nos assuntos de marido e mulher.
Quando a tosse de Amós diminuiu, sua testa permaneceu franzida e Yuval beijou.
Em vez de se dirigir ao marido, porém, ela se voltou para Oséias.
“Você já considerou a reação de Gômer à sua chegada? Pelo seu relatório em Arpad, ela está determinada a permanecer uma prostituta. Embora Senhor tenha ordenado que você mostrasse seu amor e a comprasse de volta, Ele não disse que ela voltaria com prazer para Tekoa com você. " Seus olhos turvos perfuraram sua alma, e a confusão se estabeleceu como uma pedra em seu estômago.
“Em Arpad o Senhor prometeu que 'os curaria da infidelidade deles'."
“Eu pensei que você viria comigo."
“Quero que você pense como Gômer pensa - considere Senhor como alguém que não conhece e não acredita em Suas palavras." Ela apertou a mão de Oséias e disse a dura verdade.
“O Senhor disse que Israel era uma prostituta incurável e que desistira de Gômer. E agora Ele diz para você comprá-la de volta."
Gômer poderia interpretar isso como mais uma brincadeira de um deus distante, mas sabemos que o Senhor é verdadeiro e seus caminho são perfeitos."
“Então qual é a resposta, Oséias? Como pode Senhor dizer que desistiu de uma mulher que ordena que você compre de volta?"
Ele não conseguia falar.
Ele não tinha resposta.
Ele sempre vira o Senhor como uma rocha inabalável, sua fortaleza nas tempestades da vida.
Oséias questionou o Senhor. Não para se opor a Ele, mas em busca de esclarecimento.
E por que ele não considerou a possibilidade de outra rejeição de Gômer? O chamado de Senhor tinha sido tão claro, tão inflexível.
Ele era ingênuo, ignorante, ou ambos?
De repente, querendo conhecer os pensamentos de Yuval, ele tocou a mão dela.
“O que foi que você me disse uma vez? As mulheres ouvem mais porque suas bocas estão fechadas quando os homens falam. "
“Bem, eu não sei se eu disse isso, mas certamente merece ser dito." Uma risadinha e então ela continuou.
“Oséias, meu filho, o Senhor conhece cada uma das nossas emoções. Nada O pega de surpresa. Toda palavra que procede da boca de Elohim é verdade. Tentar compreendê-Lo a partir da nossa própria perspectiva é impossível."
Oséias sentiu a boca seca e o coração cheio.
Ele olhou para Amós e viu um sorriso irônico no rosto de seu professor.
“Por que ela não está ensinando os profetas?"
O velho deu um tapinha na mão da esposa.
“Ela é minha professora particular."
O coração de Oséias se derretia diante do amor daquele casal.
Confortável.
Bruto.
Real.
“Irei para Samaria com você", afirmou Yuval novamente.
“Não, você não vai, mulher!" O humor de Amós desapareceu.
Yuval se sentou no lugar apontado por seu marido.
“Amos, meu amor, olhe nos meus olhos." Quando ele se recusou, ela se inclinou, colocando seu rosto redondo e doce diante dele.
“Olhe para mim e diga que não sente o Espírito cutucando seu coração. Você sabe que devo ir com o menino. " Ela acariciou sua testa novamente.
“Você só grita comigo quando está assustado."
Oséias observou uma lágrima escorrer pelos olhos de Amós.
“E se o Senhor tirar você de mim?"
“Senhor nos protegerá, meu amor." Yuval se virou para Oséias, sua calma parecendo permear a sala.
“Gômer sempre me ouviu. Quando nos conhecemos, ela me associou a uma velha amiga chamada Merav. Você terá mais chances de convencê-la a voltar para casa se eu estiver com você."
Oséias assentiu.
“Obrigado, Yuval. Poderíamos fingir que somos comerciantes. Encontro você ao amanhecer. Podemos recolher a lã recém-tosada e um pouco do tecido do ano passado. Vamos fingir que somos ima e filho no mercado de Samaria."
Ela piscou.
“Não é muito difícil para nós."
Oséias se inclinou para dar um beijo na testa de Amós.
Vou trazê-la de volta em segurança.
Confie em mim."
Amós agarrou a mão de Oséias e a apertou com força.
“Confio em alguém bem maior para trazer vocês dois de volta em segurança. E se Gômer decidir voltar, o Senhor também me ajudará a recebê-la."
43
Oséias 3:1
O Senhor me disse: “Vá, trate novamente com amor sua mulher, apesar de ela ser amada por outro e ser adúltera. Ame-a como o Senhor ama os israelitas."
Ezri estava sentado numa almofada perto da mesa de marfim, a última peça de mobília que ele possuía.
“Vinte e um, vinte e dois, vinte e três." Ele ergueu um olhar derrotado para Gômer.
“Será que basta?" ela perguntou, sabendo a resposta, mas precisando ouvir de qualquer maneira.
A decisão de pagar tributo à Assíria havia salvado Israel da invasão imediata, mas estava esgotando o país.
Menaém morreu dormindo após um reinado de dez anos, e seu filho, rei Pecaías, herdou o tesouro vazio do palácio.
A cada ano, quando os assírios aumentavam o valor do tributo, Pecaías repassava o fardo para os comerciantes de Israel.
Os cofres dos comerciantes ficaram tão vazios quanto do palácio.
Ele pegou o odre de vinho, mas estava vazio.
“Se você economizasse o dinheiro gasto em vinho, não precisaria vender sua propriedade para atender às demandas do rei."
“Se eu vender você, talvez tenha o suficiente para pagar o rei e comprar mais vinho!" Ele bateu o punho na mesa.
Gômer virou-se para não demonstrar o medo.
Ele nunca a espancou.
Eles nunca discutiram até poucos ciclos da lua atrás.
O consumo de vinho aumentou à medida que o dinheiro diminuiu, e o homem gentil que ela conhecera se tornou irritado.
Gômer conhecia os sinais.
Os espancamentos começariam em breve.
Ela provavelmente merecia.
“Sinto muito ter gritado." Suas mãos deslizaram ao redor de sua cintura, e ele acariciou seu lugar favorito em seu pescoço.
“Você sabe que eu te amo, Gômer."
“Eu sei. Você está cansado. Talvez você deva descansar. " Ele foi o único homem - além de Oséias - a dizer que a amava.
Se ela não tivesse desistido do amor, poderia ter acreditado nele.
Quaisquer que fossem seus defeitos - e ele tinha poucos -, Ezri tinha sido gentil.
No início ele a encheu de presentes, mas como abba que como marido.
Oferecer-lhe prazer ocasional parecia justo. Ele a tratava como a principal amante entre as três outras.
Mas os outros criados haviam sido vendidos junto com a maioria dos móveis, jóias e roupas de Gômer.
Apenas os dois restaram.
Ezri passou parte do tempo se desculpando e o resto do tempo descansando.
Pelo menos ela estava segura e bem alimentada.
Uma batida na porta interrompeu seu devaneio.
Ele cambaleou enquanto ela se afastava de suas mãos.
As batidas ficaram mais intensas antes de Gômer chegar à porta.
“Abra em nome do rei Pecaías!"
Ela se virou para Ezri ofegante, em busca de orientação.
Ele deu de ombros, muito bêbado para pensar em alguma coisa.
Ela abriu a porta, mas se escondeu enquanto Ezri permanecia mudo.
“Como posso servir aos senhores?"
Dois soldados vestindo armaduras estavam de pé, lanças prontas.
“Fomos enviados para coletar os impostos do comerciante Ezri ou confiscar quaisquer objetos de valor que ele possua."
“Meu mestre está descansando." Ela descaradamente examinou cada soldado do topo do capacete até a ponta das sandálias.
“Ele está idoso e bastante exausto após atividades extenuantes do meio-dia." Ela lambeu os lábios e encostou-se na porta, esperando que mordessem a isca.
Os soldados trocaram sorrisos.
Talvez devêssemos apreendê-la para pagar a dívida de Ezri."
Ela os chamou para mais perto, mantendo a voz baixa.
“Por que você não volta amanhã a essa hora. Eu estarei esperando. Posso conseguir alguns objetos de valor e garantir que meu mestre esteja dormindo."
O soldado mais alto coçou a barba após um breve pensamento.
“Amanhã então."
Ela esperou até que dobrassem a esquina antes de deslizar pela porta.
Ezri estava parado como uma estátua.
“Você roubaria de mim e me deixaria enquanto eu dormia?"
“Não!" Ela bateu o pé, aumentando a frustração.
“Pense bem, Ezri. Eu sabia que você estava ouvindo. Além disso, o que sobrou para eu roubar?"
Sua dor se transformou em vergonha.
“O que vamos fazer, Gômer? Eu falhei com você - assim como falhei com todos. Não consegui encontrar um médico para tratar minha esposa. Não protegi minhas irmãs anos atrás. Talvez tudo isso seja uma maldição dos deuses. " Ele a tomou em seus braços, chorando as lágrimas babadas de tristeza saturada de vinho.
“Se eu te vender para um dos meus amigos, posso mantê-la fora do mercado de escravos. Pelo menos eu poderia escolher quem ... quem ... "Sobs sacudiu seu corpo envelhecido.
“Sinto muito ... sinto muito."
“Pare de se desculpar!" Ela o empurrou para trás, agarrando seus ombros e sacudindo.
“Pense, Ezri! Pensar. Existe algum outro lugar onde possamos ir? Você tem amigos comerciantes em outra cidade ou país que podem nos ajudar?"
A cabeça dele pendia, apesar dos esforços dela.
“Não, Gômer. Construí minha vida aqui em Samaria com minha esposa. Paguei a um funcionário de confiança para viajar para mim. Eu ficava em casa e administrava o negócio."
Ela o soltou, deixando-o amassar seu travesseiro favorito.
A lealdade que fez dele um marido maravilhoso agora o tornava um péssimo fugitivo.
Outra batida na porta fez com que ambos ofegassem e olhassem.
“O que faremos agora?" ele sussurrou.
Gômer olhou nos olhos arregalados e assustados do homem que a resgatara da morte quatro anos atrás.
Ela deu um beijo rápido enquanto caminhou em direção à porta.
“Não temos o que fazer, Ezri. Você já fez o suficiente. Os soldados estavam dispostos a se contentar comigo. Espero que eles o deixem em paz."
Uma segunda batida.
Pelo menos eles não estavam gritando pra todo mundo ouvir.
Ela abriu a porta, começando a responder antes de conferir os visitantes.
“Eu irei com vocês se prometerem..."
Ela deu de cara com rostos familiares, em choque.
Ela engasgou.
“Oséias!" Yuval abriu a porta, assustada com a presença dele.
Oséias ficou impressionado com a beleza de Gômer.
Os cabelos caíam nos ombros.
Se Yuval não tivesse dado um empurrão ele teria ficado ali, boquiaberto.
Ela pegou a mão de Gômer.
“Fico feliz em saber que você virá conosco. Estamos aqui para levá-la para casa, filha."
A confusão de Gômer se transformou em pânico.
“Pensei que eram os soldados. Eles vieram... Quer dizer ... Como vocês me acharam?"
“Da mesma maneira que te encontrei em Arpad", disse Oséias.
“O Senhor? Soubemos que estava em Samaria e, depois, perguntamos no mercado sobre uma linda mulher de cabelos vermelhos. Você não foi difícil de encontrar."
“Não posso sair daqui. Sou escrava. Eu..."
Oséias colocou a mão na porta para que ela não fechasse na cara deles.
“Eu sei. O Senhor me disse isso também. Se você nos deixar entrar, eu posso explicar."
“Quem é Gômer?" Um homem mais velho surgiu na na porta, cheirando vinho.
Seu rosto perdeu toda a cor quando viu Yuval.
“Merav, é você?"
“Como você a chamou, Ezri?"
O velho não conseguiu desviar os olhos de Yuval.
“Merav, é realmente você depois de todos esses anos?"
O rosto de Yuval era da cor do mármore.
Oséias colocou o braço em volta dos ombros dela, olhando para os lados.
“Gômer, por favor. Podemos entrar?"
Ela assentiu, abrindo a porta.
O homem, Ezri, parecia acordar do estupor.
“Sinto muito, não tenho sofá para oferecer", disse ele, “mas por favor, sentem-se nas almofadas ao redor da mesa. Gômer, traga um pouco de vinho para nossos hóspedes."
“Não quero vinho", disse Yuval.
“Eu quero saber quem é esta Merav e como vocês dois a conheceram." Oséias a observou amolecer enquanto os dois residentes confusos procuravam suas próprias explicações.
“Como você conheceu Merav?" Gômer perguntou a Ezri.
“Você disse que nunca visitou o bordel de Tamir."
“Merav não era prostituta!" ele gritou.
“Ela estava? Foi isso que aconteceu com ela?"
Oséias percebeu que Yuval tremia enquanto a história era narrada.
Senhor, dá-me sabedoria para saber quando falar, ouvir e reafirmar a tua vontade.
Ele esperou, enquanto Gômer e seu mestre desenrolavam um mistério incrível demais para ser coincidência.
“Merav era parteira no bordel de Tamir. Ela ajudou a me criar quando fui levada para lá aos doze anos. Ela era como uma ima para mim, mas foi morta no sacrifício infantil de Jeroboão. Ela estava tentando salvar a criança da morte. " As lágrimas correram pelo rosto de Gômer, e Oséias ficou maravilhado com a ternura em sua voz.
“Como você a conheceu, Ezri? O que você quis dizer quando perguntou o que havia acontecido com ela?"
O velho tocou levemente o rosto de Gômer.
Ele a tratava com ternura, não como escrava, mas como uma amiga.
Oséias observou com admiração - e inveja.
Ele não ousava pensar em tudo o que haviam compartilhado, seu vínculo evidente e sincero.
O velho se virou para Yuval, incluindo-a em sua explicação.
“Meu abba era um homem rico. Quando ele se apaixonou por uma escrava doméstica, minha ima tolerou a indiscrição até mostrar favor aos filhos do escravo. Ela deu a ele duas gêmeas - Merav e Yuval - e elas se tornaram muito queridas para mim."
Gômer ofegou, e Oséias agarrou os ombros de Yuval.
Ele encontrou um travesseiro no chão e a escorou nele.
Gômer apoiou a cintura e sentou-se ao lado dela.
Yuval manteve o olhar em Ezri.
“Continue."
Ele engoliu seco.
“Quando eu tinha doze anos minha ima ordenou que as gêmeas fossem vendidas. Supliquei a abba que não o fizesse, mas ele não cedeu. A família de ima era muito influente e esse escândalo teria arruinado os negócios."
Oséias ajoelhou-se ao lado de Yuval, encontrando admiração, e lágrimas.
“O Senhor sabia o tempo todo", disse ela.
“Então, Mestre Ezri, quantos anos suas irmãs tinham? Quer dizer, quantos anos tínhamos quando fomos vendidas?"
O velho estremeceu.
“Você e Merav tinham cerca de cinco anos." Os olhos de Ezri eram gentis, parecendo procurar algum reconhecimento.
“Você se lembra de algo do seu passado?"
“Muito pouco. É como se minha vida fosse um pergaminho em branco antes de minha jornada para Tecoa. Não me lembro de nenhuma família."
Ela se inclinou para abraçar Gômer. Suas lágrimas fluiam sem controle, soluços silenciosos sacudindo seus ombros.
“Eu gostaria de ter tido um irmão e uma irmã."
Ezri se ajoelhou diante dela.
“Se eu contar alguns detalhes, talvez você consiga se lembrar. Abba costumava me levar aos aposentos dos escravos para brincar com vocês enquanto ele visitava sua ima. Eu sempre trazia figos cristalizados para você e Merav escondidos no bolso. Ficava cheio de fiapos, mas você os amava mesmo assim."
Yuval riu.
“Talvez seja por isso que minha vida se sente mais realizada quando estou cuidando de figos." Mas a faísca de repente esmaeceu em seus olhos.
“Eu sei que fui vendido e enviado para Judá, mas o que aconteceu com Merav? Você pareceu surpreso com o relatório de Gômer. " Ela prendeu Ezri com um olhar.
“Qual é a última lembrança que você tem de nossa irmã?"
Ele fechou os olhos antes de responder.
“Quando abba voltou do mercado de escravos no meu décimo segundo aniversário, o forcei a me dizer o que havia acontecido com vocês duas. Ele disse que um fazendeiro de Judá comprou você e a levou a Tecoa. Merav permaneceu em Samaria para aprender o ofício com uma parteira respeitável. Tinha esperanças de algum dia encontrar Merav e ajudá-la. Talvez mesmo resgatá-la se ela se metesse em apuros. Mas..."
“Mas o que?" Gômer disse.
“Você chegou a vê-la?"
Ezri abaixou a cabeça sob um pesado manto emocional.
“Minha esposa ainda não tinha filhos depois de dez anos de casamento, procurei Merav, que havia se tornado a parteira mais estimada em Samaria. Ela auxiliou o nascimento dos oficiais do rei. Então confiei nela quando ela prescreveu um tônico para tornar o ventre de minha esposa fértil."
Ele levantou o olhar, com os dentes travados.
Oséias tentou decifrar a expressão do homem.
Tinha mudado de óbvia dor e arrependimento para ... Ele estava com raiva?
“Minha esposa teve dores terríveis por três dias. Cólica e hemorragia graves. Nós quase a perdemos. Merav nunca mais trabalhou entre os nobres - e minha esposa nunca mais menstruou."
Oséias ouviu Yuval ofegar.
“Mas ela não machucou sua esposa de propósito."
“Não!" Gômer respondeu antes que Ezri.
“Merav nunca teria feito uma coisa dessas. Como você pode ..."
Ele levantou a mão, calando Gômer.
“Merav me procurou um ano depois, jurando que o tônico de prímula que ela usara teria sido contaminado por alguém mal-intencionado. Dei a ela uma quantia dinheiro e disse que nunca mais queria vê-la. Soube mais tarde que ela comprou um bordel com a minha prata. " Ele olhou para Gômer.
“O bordel que mais tarde foi vendido para Tamir."
O ambiente estava repleto de emoção.
“Entendo", Yuval finalmente disse, com dor evidente em sua voz.
Oséias virou-se para Gômer e viu uma expressão firme.
“Eu não entendo", ela disse sem rodeios, dirigindo um olhar acusador para seu mestre.
“Por que você não acreditou em Merav e a ajudou a limpar seu nome para que ela pudesse continuar seus negócios entre a realeza? E como ela acabou como parteira de Tamir - dificilmente melhor do que uma empregada em um bordel que ela possuiu?"
“Não sei", disse ele, completamente derrotado.
“Eu era fraco. Se pudesse, faria as coisas diferente hoje."
Oséias teve pena desse homem que parecia castigado pelas circunstâncias.
Ele era mesmo fraco ou havia usado a força de outras pessoas para esconder seu caráter?
“Venha aqui, pequena." Ezri puxou um travesseiro em sua direção e direcionou Gômer até ele.
Ela hesitou a princípio, mas, a pedido dele, se aninhou perto.
Ele passou um braço em volta da cintura dela e Oséias observou enquanto ela amolecia como o barro na roda de Amoz.
Tudo dentro dele gritava: Tire suas mãos da minha esposa! Mas antes que ele abrisse a boca, uma voz gentil sussurrou ao seu espírito: Ame sua esposa novamente, mesmo que ela seja amada por outros e tenha cometido adultério.
Ame-a como o Senhor ama os israelitas, apesar de eles se voltarem para outros deuses e de amarem os bolos sagrados de uvas passas.
Oséias avaliou aquele homem a quem Gômer deu mais do que a obediência de um escravo.
“Fui governado pelas correntes da riqueza e pelos caprichos da minha família." Ezri falou com as mulheres, atraindo-as com terno charme.
Embora ele fosse mais velho, seus belos traços sem dúvida o ajudaram nos negócios.
“Não quis arriscar desagradar meu abba com o escândalo de defender uma mulher contaminada. Minha esposa ficou tão arrasada após perder a esperança de ter filhos que eu não consegui contar que Merav era minha irmã. Os anos se passaram e meus pais morreram. Logo o segredo era mais fácil de guardar do que contar. " Ele focalizou olhos lamentáveis em Yuval.
“Fui leal à minha esposa em todos os sentidos até sua morte. Tinha esperança que, ao ouvir da morte da minha esposa, Merav me procuraria. Pensei que você poderia ser ela."
Gômer estendeu a mão e acariciou sua bochecha.
“A última vez que você esteve com Merav foi na compra do bordel?"
“Sim, minha querida. Anos atrás, ouvi de um amigo comerciante que o bordel de Merav era agora administrado por uma mulher chamada Tamir. Pensei que Merav tivesse ganhado dinheiro suficiente para se aposentar ou se mudar para outra cidade."
Gômer olhou para Yuval e depois dirigiu o olhar de Ezri.
“Merav tinha um coração tão bondoso quanto seu irmão. Não sei como Tamir adquiriu a propriedade do bordel, mas Merav era o coração e a alma que mantinham as meninas vivas - nos deu esperança. " Ela juntou as mãos de Ezri e Yuval nas suas, ligando os irmãos através dela.
“Conheço todos os três e posso garantir: o mesmo coração carinhoso partilhado entre vocês."
Oséias não estava convencido de que o coração de Ezri seria tão bondoso se tivesse que fazer um sacrifício. O sorriso constrangido de Yuval sugeria a mesma coisa.
Oséias pigarreou alto, sinalizando o fim do momento emotivo.
Gômer lançou um olhar de desaprovação, mas Yuval se aproximou de Oséias, em busca de carinho.
Ele se virou para o anfitrião e ofereceu um sorriso amigável.
“Ezri, somos os únicos nesta sala que não foram apresentados. Eu sou Oséias. " Ele esperou até que o homem acenou com a cabeça e sorriu.
“Sou o marido de Gômer."
44
2 Reis 15:23–25
No quinquagésimo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecaías, filho de Menaém, tornou-se rei de Israel em Samaria e reinou dois anos.
Pecaías fez o que o Senhor reprova.
Um dos seus principais oficiais, Peca, filho de Remalias, conspirou contra ele.
Com 50 homens de Gileade, Peca atacou Pecaías... na fortaleza do palácio em Samaria.
Peca o matou e o sucedeu como rei.
O sorriso de Ezri desapareceu, como esperado.
“Quando sua esposa morreu, você perdeu um tesouro maior que as irmãs gêmeas."
A resposta aguda confirmou as suspeitas de Oséias.
O velho comerciante era mesmo um guerreiro.
Oséias soltou Yuval e ergueu os ombros.
“Vim comprar minha esposa de volta. Quando o Senhor me chamou para ser profeta anos atrás, seu primeiro mandamento foi que eu fizesse de Gômer minha esposa. Ele ordenou que a reivindicasse e lhe mostrasse meu amor."
A sala ficou em silêncio, a batalha traçada - Yuval ao lado de Oséias, Gômer ao lado de Ezri.
“Não conheço você ou seu deus", disse Ezri, “mas eu amo Gômer há quatro anos. Se não fosse pelo tributo do rei, eu nunca a venderia para você ou para mais ninguém."
O rosto de Gômer perdeu a cor, mas ela permaneceu calada, resignada.
Ela olhou para um ponto na parede atrás de Oséias. Sua respiração tão irregular quanto a bainha de sua túnica.
Ela estava triste por deixar aquele homem - ou ter que voltar para casa de Oséias?
“Talvez sua proposta seja oportuna", continuou Ezri.
“Ela é o meu maior tesouro, Profeta. Se quiser comprá-la, pagará caro."
O pensamento de pechinchar por sua esposa irritou Oséias.
“Trago seiscentos gramas de prata e dez alqueires de cevada - o valor de um escravo."
Ezri zombou.
“Consigo o dobro no mercado de escravos."
Gômer começou a tremer com a menção do mercado de escravos.
“Oséias, por favor." Ela fechou os olhos, liberando torrentes de lágrimas pelo rosto.
“Pecaías exigiu tributo de todos os comerciantes. Ezri precisa ..."
O velho fez sinal para que se calasse.
“Quieta agora. Eu nunca o mandaria de volta ao mercado, mas um comerciante sempre blefa. " Ele ergueu a mão dela, beijou-a e voltou sua atenção para Oséias.
“Aceito sua oferta, embora ela valha mais do que qualquer riqueza. Você não deveria tê-la deixado da primeira vez. Não cometa o mesmo erro novamente. Agora, onde está meu dinheiro e a cevada?"
Antes que Oséias pudesse explicar que Miquéias esperava do lado de fora com pagamento, gritos foram ouvidos do lado de fora.
Oséias tentou falar, para concluir o negócio antes que o comerciante pudesse mudar de idéia.
“Meu mensageiro está aguardando um sinal -"
“Viva o rei Peca!" Os gritos interromperam a negociação de Oséias.
“Morte a Pecaías e seus homens!" Gritos de gelar o sangue seguiram o chamado da morte.
Ezri se levantou e correu para a varanda.
Oséias e as mulheres acompanharam de perto.
Um olhar para a estrada revelou o início sangrento de um golpe.
Soldados de armadura e a cavalo abriam os portões da cidade, enquanto guardas palacianos assustados corriam pelas ruas como cordeiros para o matadouro.
“Pelos deuses, era verdade!" Ezri gritou enquanto Gômer protegia os olhos de Yuval da carnificina adiante.
“Precisamos levar as mulheres de volta para casa!" Oséias gritou, levando-os para dentro.
Ele procurou algo para bloquear a porta.
O caos viria com saques e começaria em breve.
Pela primeira vez ele notou a simplicidade da casa. Uma única mesa e algumas almofadas eram os únicos móveis.
Ezri não tinha mais nada que roubar.
“Gômer, pegue um pouco de vinho." Ezri gritou a ordem, as mãos tremendo.
Eles voltaram para suas almofadas, e Gômer serviu um pequeno copo de vinho para cada um.
Oséias lançou um olhar de aprovação para a esposa.
Ezri não precisava de mais impedimentos se quisesse escapar vivo de Samaria.
“Quando você viu os soldados entrando pelo portão", disse Oséias, tentando acalmar o comerciante bastante abalado, “você disse: 'Era verdade.' O que você quis dizer? Qualquer notícia que você tenha ouvido pode nos ajudar a escapar. "
Ezri não respondeu, aparentemente atordoado.
Gômer tentou pegar seu copo de vinho, mas ele agarrou o copo como uma tábua de salvação, dando um sorriso fraco.
“Há quase um ano, começaram a circular rumores de que o general Peca estava tramando uma rebelião em Gileade. O filho de Menaém não era um guerreiro como o seu abba e tinha sido mimado a vida inteira. Ele deixaria seus conselheiros tomarem a maioria de suas decisões. " O comerciante encontrou o olhar de Oséias.
“Parece que o general Peca decidiu se tornar rei."
Yuval ofegou e assustou a todos.
Ele está seguro fora da cidade? Lágrimas demonstravam seu pânico, e Gômer se aproximou para confortá-la.
“Sei um pouco sobre soldados", ela sussurrou, “Meu palpite é que Miquéias está mais seguro fora da cidade do que dentro dessas muralhas." Ela olhou para os dois homens, erguendo as sobrancelhas em busca de apoio, enquanto Yuval afundou a cabeça no ombro de Gômer. “Isso não está certo, Oséias? Ezri? Miquéias está seguro?"
“Não é verdade, Oséias? Ezri? Micah está seguro, não é?"
Oséias já tinha pensado em Miquéias e acreditava que ele estava mais seguro do lado de fora dos portões.
“Com certeza. Miquéias é um jovem brilhante e profeta do Senhor. O Senhor o protegerá, assim como Ele nos protegerá. " Ele sustentou o olhar de Gômer enquanto dizia as palavras e sentiu a cutucada de Senhor.
Não uma voz, apenas um toque.
Era hora de apresentar sua oferta a Ezri.
“Miquéias é meu mensageiro, e espera um sinal para entregar o pagamento na casa que vir essa faixa vermelha da varanda."
“Ele entregará o valor acordado. Deixaremos Samaria com Gômer imediatamente."
As mulheres ofegaram, mas o comerciante riu com total descrença.
“Você não pode pensar em sair enquanto o sangue flui livremente do lado de fora da minha porta!" Ezri ergueu o olhar para Oséias.
“Você deve ter percebido que já não preciso tanto assim do dinheiro. Peca passará muitos ciclos lunares limpando a bagunça política antes de se preocupar coletar impostos de seus comerciantes. Não preciso mais vender Gômer."
“Você não precisa mais vender Gômer agora", Oséias corrigiu.
“Há uma diferença, Ezri, e ambos sabemos disso. Você é um comerciante e está tentando aumentar o preço."
“Entendo. Eu sou profeta, e a oferta do Senhor permanece."
O velho soltou um suspiro profundo.
“Não quero deixá-la ir."
Oséias fechou os olhos com força.
“Sei como você se sente. “Então, o que fazemos, Profeta?"
Oséias respirou fundo, acalmando-se.
Senhor, senti seu toque para pedir uma resposta.
Oséias prendeu a respiração ao sentir uma brisa, esperando que o cheiro da batalha subisse da rua.
Em vez disso, sentiu cheiro de cravo - e sentiu a paz fluir através dele.
“Uma brisa no calor do verão? Pekah deve ser abençoado pelos deuses. " Ezri começou a se levantar, sem dúvida para espiar pela varanda novamente.
Oséias segurou firmemente seu braço.
“Sente-se, Ezri. O que você sentiu não tem nada a ver com seus falsos deuses. Era a presença do Senhor."
O velho sorriu, olhando primeiro para Gômer e depois para Yuval.
“Não acredito em toda essa bobagem mágica, Profeta."
Gômer fechou os olhos, a cabeça pendendo para a frente.
Ela sabia, e o coração de Oséias disparou.
O vento soprou novamente, o cheiro de cravo mais forte desta vez.
O rosto de Ezri perdeu a cor e Oséias riu.
“Bem, essa "˜bobagem mágica"™, como você diz, soprou desta vez com um perfume distinto. Você pode me dizer que cheiro é este?"
“Cravo." Ezri engoliu em seco.
“Significa alguma coisa para você?" Oséias olhou para Gômer e a viu engolir alguma coisa.
Dessa vez, ele e Yuval riram.
“Sim. Gômer sempre tem cravo na boca. Pelo menos desde que não pude mais comprar seu perfume."
“Você entendeu que o Senhor quer falar sobre Gômer?"
Ele assentiu, mas Gômer manteve a cabeça baixa.
“Você está disposto a ouvir minha interpretação completa do vento do Senhor e do cravo?"
Outro aceno de Ezri.
Seu vocabulário parecia esgotado depois que o Senhor se fez presente.
“O cuidado do Senhor se estende àqueles que fazem parte das nossas vidas. Parece que Ele fez uma grande demonstração de misericórdia ao trazer Yuval de volta para sua vida. O Senhor está oferecendo salvação, meu amigo, não importa quais tenham sido suas decisões no passado. Se você o abraçar hoje, será salvo dos falsos deuses e da desgraça política de Israel."
A testa de Ezri estava profundamente franzida.
“Como abraçar um novo deus me livrará da morte e opressão de Peca?"
“Você pode voltar conosco para Tecoa."
A cabeça de Gômer virou, os olhos brilhando.
Foi raiva? Confusão? Desespero? Oséias não sabia e Ezri não percebeu.
“Por que você me levaria com você? Não tenho nada além das poucas peças de prata que você vê naquela mesa. " Ele apontou um dedo trêmulo para as pilhas desgrenhadas.
“Convido você para uma nova vida. Adorar e servir somente ao Senhor. O marido de Yuval, Amos, é dono de uma fazenda de sucesso, e tenho certeza que podemos encontrar uma maneira de você ganhar seu sustento. " Oséias olhou para Yuval, que acenou em aprovação.
“Você receberá o pagamento por Gômer", acrescentou, “porque, embora eu lhe ofereça a salvação do Senhor, não ofereço minha esposa. Ela pertence a mim tão certamente quanto Israel pertence a Iavé. " Oséias estendeu a mão em juramento.
“Estamos de acordo?"
Ezri hesitou.
“Gômer pode escolher? E se ela não quiser se tornar sua esposa novamente?"
Oséias estava tão focado em Ezri que perdeu de vista a esposa.
Ele viu as lágrimas dela e sabia que de alguma forma a ferira - novamente.
Gômer se sentia uma bugiganga no mercado, todas as falhas e defeitos expostos.
Nem tanto.
Uma bugiganga era apreciada e exibida com orgulho.
Gômer era uma prostituta, uma escrava, uma esposa - apenas uma mulher que podia ser comprada, usada e deixada de lado.
Lágrimas de raiva queimaram seus olhos e apertaram sua garganta.
Se Ezri tivesse coragem, poderíamos ficar em juntos Samaria.
Mas ela sabia que não duraria.
Em algumas luas cheias, Ezri estaria mendigando pão ou à beira da morte, e ela ficaria à mercê dos soldados de um novo rei.
Um calafrio a atravessou.
Não posso servir a outro mestre como Eitan.
A voz de Oséias interrompeu seus pensamentos, e ela o encarou.
“O Senhor me disse para comprá-la de volta e amá-la novamente."
“Não!" ela gritou em um soluço.
“Você não tem o direito de dizer que me ama. Se você quer me comprar - tudo bem. Torne-se meu mestre. Mas não finja que me ama, Oséias. " Qualquer controle que ela tinha foi perdido em seu apelo final.
“Você me deve isso. Não finja que me ama."
Ele passou as mãos no rosto, os olhos vermelhos quando a olhou novamente.
“Nunca fingi qualquer coisa referente a você, Gômer. Eu disse a verdade desde o início e farei o mesmo agora. " Ele fez uma pausa, parecendo esperar sua permissão para continuar.
Ela assentiu e ele suspirou como se estivesse embarcando numa longa jornada.
“Pretendo comprá-la de volta - como o Senhor ordenou. É uma ordem que obedeço de bom grado, porque, acredite ou não, eu te amo. Senhor encheu meu coração de amor por você. " Ele respirou fundo novamente, olhando para o teto, lutando contra a emoção.
“Quero que você volte comigo para Tecoa, mas você precisa voltar com um novo coração. Você nunca mais adorará - sequer mencionará os nomes - outros deuses, nem na minha presença ou quando estiver fora."
O coração dela ardia.
“Quando você estiver ausente." Foi a cunha que dividiu seus corações em dois.
“Sou o profeta do Senhor, Gômer. Obedeci meu chamado e parti em obediência. Você foi chamada para esperar por mim, mas se recusou. Você traiu meu amor como Israel traiu o Senhor."
“Fui chamada para esperar?" ela gritou.
“Estou cansado de esperar pelo Senhor! Ele me trai toda vez que leva embora as pessoas que amo. Ele tirou minha ima e depois você. Ele toma tudo o que tenho!" As últimas palavras saíram em meio a soluços.
Ela sentiu o abraço de Ezri e ouviu sua voz suave.
“A vida é toda espera, pequeno Gômer, e aqueles que amamos são inevitavelmente levados embora - alguns prematuramente, outros pela idade e morte." Ele agarrou os ombros dela com firmeza, forçando-a a encontrar seu olhar.
“A vida também é sobre escolhas. Não vou abandonar minha casa nem os deuses que conheço desde criança. Você pode ficar comigo, se quiser. Mas seu marido... Oséias está certo. Em pouco tempo precisarei vendê-la para pagar impostos. Você é o único tesouro que tenho, meu amor."
Gômer olhou para ele.
Ezri havia limpado as feridas, despertado sua humanidade e jurado seu amor.
Mas ela ainda era escrava dele.
O amor não significava nada.
Ela se virou para Oséias.
Ele ainda estava lá diante dela.
Seus olhos se uniram profundamente...
Por favor, Gômer."
Você precisa tomar uma decisão.
Você aceita voltar para Tecoa como minha esposa?"
Ele segurou seu rosto e o calor de seu toque estremeceu suas defesas.
Ela não conseguia pensar.
A antecipação nos presentes a dominou.
“Não", disse ela, ouvindo um suspiro coletivo.
“Voltarei como sua escrava, mestre Oséias."
Oséias deixou as mãos e a cabeça cair.
Ele respondeu com um misto de malícia e determinação.
“Então, vamos esperar um pelo outro, você e eu." Ele olhou para cima então, encontrando o olhar dela novamente.
“Você não se oferecerá a nenhum outro homem, e esperarei para me oferecer a você até que Senhor tenha conquistado sua lealdade." Sorrindo, ele se inclinou e beijou sua testa.
Ezri pigarreou.
“Parece que a revolta está se afastando do meu portão, subindo em direção ao palácio. Se você vai sinalizar ao seu mensageiro, agora é a hora, Profeta. " Ele se levantou abruptamente e caminhou até a varanda, deixando Gômer com seu novo mestre.
Seu coração quase parou.
Foi do beijo de Oséias? Ou era porque eles deveriam escapar pela zona de batalha de Samaria?
45
Oséias 2:19–20
Eu me casarei com você para sempre.
Serei honesto e fiel a você.
Eu vou te mostrar meu amor e compaixão.
Serei fiel a você, minha esposa.
Eu me casarei com você com fidelidade, e você reconhecerá o Senhor.
Gômer ouviu a respiração lenta de Yuval.
A mulher estava exausta depois de fugir da casa de Ezri esta tarde.
A agilidade e raciocínio de Miquéias tornaram sua fuga possível.
Ele trouxe o pagamento de Ezri ao mesmo tempo que a revolta caminhava para o palácio. Praticamente carregou Yuval quando seu corpo cansado não conseguiu mais correr.
Uma vez fora de Samaria, Miquéias os levou para onde havia escondido a lã e o tecido restantes que não haviam sido vendidos no mercado.
Eles iriam trocar as mercadorias por provisões e se juntar aos fugitivos em direção à Judá.
Ao norte de Siquém, eles seguiram para as montanhas, evitando patrulhas israelitas.
Gômer olhou para a lua, tentando contar o número de vezes que dormiu no deserto.
Yuval roncava.
Gômer sorriu e colocou uma mecha de cabelo cinza atrás da orelha da amiga.
“Yuval?" ela sussurrou.
A mulher não se mexeu.
Graças aos ... ela interrompeu o pensamento, lembrando das instruções de Oséias para não mencionar os antigos deuses.
Isso significava que ela também não conseguia pensar em seus nomes? Ela esperava falar com Oséias durante a viagem, mas ele parecia estar muito perdido em pensamentos para ser interrompido com suas perguntas.
Ela se levantou silenciosamente e pegou um graveto da fogueira deles.
A tocha iria protegê-la de animais - embora estragasse o elemento de surpresa ao se aproximar de Oséias.
Ela surgiu das rochas, encontrando Oséias sentado em uma outra fogueira. Miquéias roncava em seu cobertor.
Oséias olhou para cima.
A luz do fogo dançava em seus olhos, lançando sombras em seu rosto.
Ela pensou em Ezri, suas débeis declarações de amor.
Na decepção de Hananias.
A crueldade de Eitan.
Os olhos de Oséias a consumiram com desejo - não apenas desejo físico.
& Mais
Muito mais.
Nenhum outro homem jamais a olhou assim, e um pensamento atravessou.
E se ele realmente me amou todo esse tempo - e eu o desperdicei? Seus joelhos pareciam odres de água, mas ela ordenou que suas pernas a carregassem.
Parou a alguns passos do fogo, inclinando a cabeça em direção a outro afloramento de rochas a alguns côvados deles.
Oséias ergueu as sobrancelhas e sorriu.
Parecia o garoto de dez anos que havia se metido em problemas.
Seu coração torceu.
Ele não tinha dez anos.
Ela não era mais aquela garota.
O sorriso dele morreu, assim como a brincadeira dela, e ele foi ao seu encontro.
Eles deram as mãos e ele se inclinou para sussurrar: “Yuval está bem?"
Ela mal podia respirar, sentindo a mão dele deslizar nas costas dela.
Ele olhou nos olhos dela esperando uma resposta.
Sem fôlego, Gômer só conseguiu acenar com a cabeça e apontar, convidando-o para uma caverna próxima.
Ela sacudiu a cabeça.
“Você está sendo ridícula! É Oséias. Fale com ele." Eles se sentaram em uma pedra grande e ficaram perto para se aquecer. Ele a aninhou sob o braço, e eles relaxaram no banco de pedra perfeito.
“O que você está pensando?" ele disse enquanto olhava para as estrelas.
“Tenho algumas perguntas sobre a nossa... relação."
Ele assentiu, mas não falou.
“O que você quis dizer quando disse que devo esperar por você?" Suas bochechas coraram como uma noiva virgem.
“Meus outros mestres esperavam que eu cumprisse as tarefas domésticas, mas eu também visitava suas camas regularmente. Estava imaginando..."
Ele retirou o braço e se curvou sobre os joelhos.
Hesitante.
Foi torturante.
“Bem, eu não quero forçá-lo a nada tão horrível." Ela se empurrou da pedra, tentando correr, mas ele agarrou sua mão - e então agarrou sua cintura.
Ele a puxou para o colo, segurando-a como uma criança.
“Você não vai fugir desta vez."
Ele se inclinou sobre ela, e ela se inclinou para beijá-lo, querendo conferir seu desejo.
Ele virou o rosto e encostou a bochecha na dela.
“Não quero que você me chame de 'mestre'." Ela sentiu o gosto salgado da lágrima dele.
“Quero que você me chame de 'marido' e adore meu Deus de todo o coração. Quando você puder fazer essas coisas de boa vontade, vou desfrutar de você como minha esposa como nunca antes. " Ele enxugou os olhos no ombro e falou como se estivesse jurando.
Não tratarei você como prostituta ou escrava da minha cama.
Eu te amo demais por isso."
“Mas você disse que eu era uma prostituta incurável, morta para você."
Ele procurou nas janelas da alma dela.
“Se não fosse pela misericórdia de Deus, todos seríamos incuráveis. E você não se sente morta por dentro há algum tempo?"
Ela sentiu suas defesas pedregosas subir.
“Caminho perto da morte desde que me lembro. É assim que eu sobrevivo. " Ela escorregou de seu colo para a rocha, sentando-se ao lado dele.
Ele se inclinou e limpou as lágrimas do rosto dela.
“O Deus vivo deseja lhe dar vida, Gômer. Ele ama você."
Suas palavras foram como um gole de vinagre para uma alma sedenta.
Gômer quase foi sido enganado novamente, embalada pela esperança de Oséias.
Ela endireitou os ombros curvados e fungou.
“Senhor me odeia - ou você não deu ouvidos às suas próprias profecias? Ele planeja destruir Israel por causa de sua prostituição. Eu sou uma prostituta. Certamente você vê a ligação."
Ele agarrou o rosto dela entre as mãos.
“Pare com isso!" ele sussurrou.
“Pare de dizer isso. Você não é uma prostituta - pelo menos não precisa ser. Paguei seu dote anos atrás. Por que você se recusa a se ver como uma noiva? Ele esperou mas ela não conseguiu falar por causa da vergonha."
Ela se virou, mas ele pressionou.
“O que te faz acreditar que Senhor te odeia? Dê-me uma prova e eu declararei Seu amor. "
Gômer lutou para expressar as razões pelas quais ela acusou Senhor todos aqueles anos.
“E a minha infância? Abba me vendeu para o bosque de Asherah, e então fui abandonado em um bordel. Como poderia um deus amoroso ..."
“E a minha infância?" Oséias rebateu.
“Minha ima morreu no parto - como a sua - e abba morreu dois anos depois que chegamos a Tecoa."
“Mas você tem Jonas, Amós e Yuval. Meu abba me vendeu. Os sacerdotes me trairam. Os homens me usaram. As mulheres me irritavam."
“E o Senhor me enviou a Samaria para te amar." Seu único argumento a paralisou.
Após algumas segundos, ele acrescentou: “Aí você me traiu, Gômer, como Israel traiu o Senhor. E fui chamado para expor publicamente meu coração partido. " Uma lágrima escorreu por sua bochecha e se escondeu em sua barba encaracolada.
Gômer não tinha resposta.
O medo dela se confirmou.
Oséias a amava - e ela desperdiçara seu amor.
Lágrimas jorraram de algum lugar profundo e escuro em sua alma.
Lágrimas represadas, contidas por anos de negação e abuso.
Ela escapou em uma nuvem de tristeza, inconsciente de seu entorno.
Ela se viu deitada nos braços de Oséias, chorando muito na madrugada.
Seu abraço foi... bem, indescritível.
Nunca um homem a tocou tão pouco e mesmo assim tão profundamente.
Esse amor era tão estranho, tão diferente de qualquer outro que ela conheceu.
E então outra conclusão.
Ela sentia esse mesmo amor de Aya e Yuval.
Poderia realmente ser o amor do Senhor?
Pouco antes do amanhecer, ele retornou para onde Yuval dormia.
Estava exausta e ainda confusa - mas melhor.
Oséias era um bom homem, um bom amigo.
Ele iria olhar para ela com nojo depois do nascer do sol? Ele tinha visto o funcionamento interno de seu quebrantamento.
Ninguém poderia amá-la depois daquilo.
Ela se encolheu com a lembrança de suas repetidas traições e sentiu as velhas pedras se acumular em torno de seu coração.
Ele diz que me ama agora, mas quando chegarmos ao acampamento, ele ficará envergonhado.
E vai me deixar de novo.
Vai me abandonar.
Quem poderia culpá-lo?
Ela observou Yuval dormir, e uma nova paz penetrou a muralha de seu coração.
“Se puder acreditar que Senhor não me odeia, talvez eu possa aprender a amar como você, minha amiga."
E talvez, ao dar amor, eu aprenda a recebe-lo.
Desde que deixaram Jerusalém, Oséias passou o tempo imaginando o que sua esposa estava pensando.
Ele a levou perante o rei Jotão para defendê-la das acusações do comandante Hananias de assassinar a menina grávida.
Ela foi rapidamente absolvida. Hananias havia sido dispensado de seus deveres por um escândalo semelhante.
Jotão estava distante, e Oséias notou que o templo continuava em mau estado.
Senhor, tem piedade deste homem e do teu povo Judá.
Miquéias os liderou no caminho para casa.
Gômer ajudou Yuval no terreno acidentado, e Oséias ficou na retaguarda para se proteger de animais ou bandidos.
A cada passo em direção a Tecoa, sua esposa ficava mais distante.
Oséias desejava pegar Gômer nos braços e tranquilizá-la.
Suas lágrimas na primeira noite fundamentaram uma amizade renovada, mas cada dia da caminhada de três dias parecia empurrar Gômer de volta a sua couraça.
Ela ficava à vontade com Yuval, mas enquanto a esposa dele confiasse em outra pessoa, jamais confiaria totalmente nele.
Uma faixa preta atravessou o caminho à sua frente.
“Serpente!" ele gritou.
As mulheres gritaram e Miquéias voltou correndo, com o cajado pronto para atacá-la.
Oséias observou o comportamento pouco natural da cobra.
“Ele não tentou me morder e não está fugindo." A cobra do deserto se contorceu ao lado do caminho, mas não se enrolou para atacar.
Suas ações pareciam lentas.
Então ela parou de se mover ao sol do deserto.
Miquéias cutucou-a com seu cajado e Gômer gritou: “Não acorde!"
Oséias riu.
“Não acho que as cobras do deserto cochilem em uma trilha com quatro humanos assistindo." Ele recebeu um brilho, mas o apagou com uma piscadela.
Um vento frio soprou e ele inclinou o rosto para o sol, pronto para receber a mensagem do Senhor: Você deve reconquistá-la.
Eu a conquistarei de volta; ao deserto a levarei e lhe falarei com carinho.
Devolverei suas videiras e transformarei o vale de Acor numa porta de esperança.
Ali ela me responderá como nos dias de sua infância.
“Naquele dia você me chamará de rsh - "˜meu marido"™. Farei um acordo com os animais do campo, com as aves do céu e com os animais que rastejam pelo chão."
O vento subiu aos céus e deixou o deserto imóvel.
Oséias abriu os olhos e encontrou três rostos esperando.
Miquéias e Yuval sorriam.
Gômer - um pergaminho surpreendentemente branco.
“O que Ele disse sobre mim desta vez?" ela perguntou, sem o veneno de sempre.
Pelo menos ela não tinha dito que Senhor queria matá-la como das outras vezes.
“O Senhor disse que eu deveria cortejá-la, conquistar seu coração."
Yuval deu um pulo e, sem sucesso, sufocou um suspiro.
Miquéias riu alto.
Um sorriso irônico vincou os lábios de sua esposa.
“É um truque. Nunca é tão simples como parece."
Ele assentiu, concordando com seus instintos.
“Eu devo levá-la ao deserto e deixá-la lá. Voltarei todos os dias com comida e provisões."
O rosto de Gômer perdeu a cor e a comemoração de Yuval cessou.
“O Senhor nunca te deixará", disse Oséias, apontando para a serpente.
“Ele nos mostrou a serpente como parte de Sua promessa. "˜Farei um acordo com os animais do campo, com as aves do céu e com os animais que rastejam pelo chão."™ Ele irá protegê-la. Eu vou te proteger."
Isso é loucura!" Gômer virou-se para Yuval e Miquéias - suas feições também estavam em choque.
“E se você não voltar por mim? E se Senhor te chamar para profetizar enquanto estou no deserto e você se esquecer de mim? O que então? Você sempre vai embora, Oséias. " As lágrimas começaram a cair.
“Você sempre me abandona."
Ele correu para ela, agarrando seu pulso.
Ela se encolheu e fechou o braço, tentando se afastar.
Mas ele se manteve firme.
“Relaxe", disse ele.
Quando ela encarou seu desafio, ele balançou sua mão.
“Relaxe, eu disse!"
Sua teimosia se transformou em confusão, mas ela finalmente obedeceu.
Ele levantou a mão, acariciando-a uma vez - e depois tocou os dedos como uma harpa.
“Algumas vezes precisei sair, Gômer, mas sempre voltei. Eu sempre voltarei para você. Você me ouviu?"
Ela afastou a mão para evitar um soluço, mas não recuou dele.
Oséias viu uma centelha de algo novo nos olhos de sua esposa.
“Você precisa confiar em mim, Gômer - o suficiente para permanecer sozinha no deserto. Eu me casarei com você para sempre. Serei honesto e fiel a você. Eu vou te mostrar meu amor e compaixão. Serei fiel a você, minha esposa. Então você conhecerá o Senhor."
“Eu irei com você para o deserto, Oséias." Ela deu um passo em direção a ele, selando seu voto.
“Mas se você partir meu coração novamente eu morrerei."
Ele permaneceu em silêncio.
Se você soubesse quantas vezes pensei a mesma coisa.
46
Oséias 2:21–22
Naquele dia, eu responderei", declara o Senhor.
... a terra responderá ao cereal, ao vinho e ao azeite. e eles responderão a Jezreel."
“Você vai ficar bem, filha. " Era a terceira vez que Yuval a assegurava, e Gômer estava começando a pensar que sua amiga era quem precisava de consolo.
“Oséias disse que a visitaria todos os dias. Significa que ele vai deixá-la em algum lugar a menos de uma caminhada do acampamento, certo?" Ela olhou para Oséias.
“Você vai escolher um lugar perto do acampamento, não é?"
Oséias beijou seu rosto.
“Yuval, precisamos ir antes de escurecer. Não sei para onde Senhor nos levará, mas sabemos que podemos confiar Nele ". Ele ergueu as sobrancelhas punitivas.
“Não confiamos?"
“Claro que confiamos em Senhor." Ela descartou a pergunta.
“É você quem deve acertar as coisas."
A resposta de Yuval despertou o peso do medo do tamanho de uma rocha do peito de Gômer.
Passar longos e assustadores dias no deserto vagando, rodeada de chacais atormentava seus sonhos.
Yuval a abraçou mais uma vez.
“Você vai ficar bem"
“Yuval." A paciência de Oséias havia se esgotado.
“Miquéias está esperando."
Os olhos dela ficaram marejados.
“Eu amo vocês."
Ela abraçou Oséias e virou-se para alcançar o jovem no topo da colina.
“Estou indo."
Oséias olhou para Gômer e ofereceu sua mão.
“Você está pronta?"
Seu coração batia forte e a pedra rolou de volta para o coração.
“Estou tentando estar pronto." Hesitante, ela colocou sua mão na dele, e ele a beijou antes de embalá-la em seu coração.
Eles deixaram a estrada e começaram a caminhar para o leste, no deserto.
Oséias tinha uma expressão satisfeita fixada no rosto.
“Como você pode ser tão calmo?" ela perguntou, confusa.
“Você sabe onde está me levando?"
Ele continuou andando, mantendo aquele sorrisinho.
“Mais uma coisa. Você pensou um pouco sobre como nossos filhos se sentirão a meu respeito?"
Ele beijou a mão dela novamente e interrompeu a caminhada.
“Pensei em muitas coisas e quero falar sobre cada uma delas, mas não precisamos falar sobre isto neste momento. Simplesmente temos que andar na direção que Senhor nos guiar. " Ele a beijou levemente e então passou os dedos pelos cabelos dela.
“Vamos andar mais um pouco?"
Ela estava sem fôlego novamente.
Dessa vez não era uma pedra no peito.
Era aquele homem que tocou seu coração.
Ela assentiu e se inclinou para ele, tentando deixar outra pessoa se preocupar com ela.
“Oséias, aquilo foi imprudente e cruel. O que você estava pensando? Para deixar sua esposa no deserto sem armas para se defender ou qualquer tipo de suprimentos se algo o impedir de fornecer? É irresponsável! Inconsciente! "
Oséias soltou um longo suspiro.
Ele retornou de uma incursão de quatro dias pelo deserto para deixar Gômer em sua caverna.
Uma jornada bem-sucedida.
Eles permaneceriam castos como o Senhor ordenara. Um milagre tão grande quanto a abertura do Mar Vermelho.
Levava meio dia de viagem da caverna até o acampamento, o que significava que precisava sair antes do amanhecer para entregar seus suprimentos e retornar ao cair da noite.
O compromisso de vê-la todos os dias e suprir suas necessidades não seria um esforço pequeno.
“Amós, meu amigo, eu não fui o único que viu a serpente. Miquéias e Yuval ... "
“Não se atreva a tentar transferir a culpa por uma decisão que você tomou! Se você vai ser o profeta líder neste acampamento, você vai ter que ... "
“Amós, chega!" Oséias gritou com seu professor, fazendo com que o casal ofegasse.
“Sinto muito, mas você não estava me ouvindo. Estava dizendo que Miquéias e Yuval viram os sinais do Senhor tão claramente quanto eu. Não havia dúvida de que deveria levar Gômer ao deserto para cortejá-la. Se você tiver problemas com o Senhor, grite com Ele."
Yuval colocou a mão no ombro de Oséias e falou em voz baixa.
Senti o vento da presença do Senhor quando Oséias recebeu a mensagem sobre Gômer, querido.
Conhecemos nosso filho do coração o suficiente para acreditar que ele conhece a voz do Senhor."
A voz do velho rabugento se transformou em um rosnado.
“Mas o que você vai dizer aos seus filhos, Oséias? Quando Yuval voltou sem você, eles ficaram apavorados. Garantimos que você voltaria, mas não dissemos nada sobre Gômer. Como você vai explicar que está escondendo a ima deles em uma caverna?"
Oséias pressionou os polegares nos olhos, contando até dez antes de falar.
“Direi a eles que a ima deles está voltando, mas ela precisa aprender sobre o Senhor antes de voltar. É a verdade, Amós. Vou contar a verdade."
O velho apertou os lábios.
“É a sua versão da verdade. E se Gômer fugir? E se você voltar para a caverna um dia e ela se for?"
“Então eu obedecerei ao próximo comando de Senhor." Ele bateu nos joelhos, colocando-se de pé.
“Vou buscar meus filhos e agradecer a Isaías e Aya por ter cuidado tão bem deles."
“As crianças sentem sua falta", disse Yuval.
“Eles ficarão felizes em vê-lo."
Os braços de Oséias estava com saudade de segurá-los.
Ele se inclinou para beijar a testa do professor e sussurrou: “Me desculpe por ter gritado."
Amós agarrou sua mão enquanto ele se levantava.
“Me desculpe, eu fiz você gritar para ser ouvido."
Oséias saiu pela porta, atravessou o pátio e se dirigiu para casa.
Ele pensou em descansar um pouco primeiro, mas resistiu.
A luz da lua projetava sombras irregulares sobre o que costumava ser a casa de Jonas, agora de Miquéias.
Os tempos mudaram.
As pessoas mudaram.
Ele pensou na fraqueza de Jonas até a morte e a estrutura jovem e flexível de Miquéias.
A vida era um ciclo interminável de ajustes, alguns mais fáceis que outros.
Ele empurrou o portão, bateu e abriu a porta da frente.
“Shalom esta casa!"
“Abba, você voltou!" Rahmy, a princesinha, deslizou pela sala para cumprimentá-lo, braços erguidos.
Ele a levantou nos braços e roçou a barba no pescoço dela, em meio a risadas e gritos.
“O abba sempre volta", disse ele, admirando as semelhanças entre a filha e a esposa.
Os cabelos ruivos e brilhantes de Rahmy emolduravam seu rosto, e ela constantemente desafiava a autoridade de Aya.
Mas ela era a mais compassiva de seus filhos, alimentando os irmãos e amando cada um.
Ami se aproximou, seus punhos davam socos alternados na coxa de Oséias.
“Saudações, meu pequeno soldado. Com quem estamos lutando hoje?" Perguntou Oséias.
Ami era um guerreiro nato - Hananias ficaria orgulhoso se não fosse um tolo tão arrogante.
“Estou matando filisteus", declarou orgulhosamente, “como o rei Uzias!"
“Não haverá matança nesta casa!" Aya repreendeu a distância, enquanto preparava o pão.
Um sorriso e uma piscadela disseram a Oséias que suas palavras eram um refrão familiar.
“Como você está meu amigo?" ela perguntou, afastando uma mecha de cabelo enquanto continuava sua tarefa.
Um bebê enrolado permanecia deitado na mesa ao lado dela.
“Diria que estou cansado, mas depois de ver o que você faz todos os dias - eu teria vergonha de dizer isso."
Os dois riram.
Ela acenou com na direção de Isaías, qu estava sentado perto do forno com Jezzy debaixo do braço.
Oséias colocou Rahmy no chão, e seu irmãozinho imediatamente a considerou filisteu.
A guerra começou e Aya se tornou o comandante.
“Onde está Saba Amoz hoje à noite?" Oséias perguntou a Isaías, tentando manter uma conversa casual antes de pegar seu filho.
“Por que você não diz onde Saba Amoz está, Jezzy?" Isaías persuadiu.
Uma silenciosa negativa com a cabeça foi a única resposta.
“Bem, Saba Amoz está bem onde você pode imaginar."
“Na olaria", disse Oséias com um sorriso.
Ele cruzou as pernas e sentou-se ao lado de Jezreel.
“Então é por isso que você está triste? Você sente falta de Saba Amoz?"
Ele levantou os olhos cheios de lágrimas.
“Ele não é meu saba de verdade, você sabe."
Oséias trocou um olhar com Isaías.
“Sim, eu sei, já conversamos sobre isso. Amoz, Isaías e Aya amam você como se fossem nossa família de sangue. Saba Amós e Savta Yuval também."
Lágrimas caíram nas bochechas do garoto.
“Alguns dos meninos pastores zombaram de mim hoje." Ele enterrou a cabeça no peito de Isaías.
“Eles disseram que Jezzy é como uma árvore sem raízes porque seu abba sempre se foi e ele não tem ima." Isaías deve ter visto o efeito das palavras em Oséias.
Ele colocou uma mão firme no ombro.
“Crianças podem ser cruéis. Devemos usar esses momentos para ensinar Jezzy onde estão suas raízes."
Oséias sabia que ele estava certo, mas naquele momento ele só queria encontrar aqueles pastores e dar uma surra neles.
As crianças não teriam inventado uma imagem tão elaborada.
Uma árvore sem raízes, de fato.
“Venha aqui, Jezzy."
Seu filho pulou em seus braços, sufocando-o com um abraço.
“Eu te amo, abba. Não ligo para o que eles dizem. Você é minha raiz."
Ele o segurou com força, sussurrando: “Eu te amo muito, Jezreel." O menino chorou e sentou-se entre os dois homens.
“Em breve você será um homem, então acredito que é hora de você saber algumas coisas sobre sua ima e eu."
“Oséias!" A cautela de Aya estava atrás dele.
Oséias levantou a mão para silenciá-la e continuou.
“Pode ser que sua ima volte para casa para nós."
“O que?" Jezzy saltou, sorrindo instantaneamente.
“Ela já está voltando?"
Oséias pôs a mão no joelho do filho.
“Jezreel, você não é mais uma criancinha. Você tem ouvir com sua mente, não com a emoção."
Jezzy parecia confuso.
“Ouça com o meu o quê? Achei que estava ouvindo com meus ouvidos. "
Isaías tentou esconder o riso, mas falhou.
“Você deve ouvir minhas palavras e não deixar seu coração atrapalhar. Disse que sua ima pode voltar. Significa que ela pode. Se ela ouvir o Senhor falar com seu coração."
A alegria fugiu do rosto de Jezzy.
“Ima não gosta do Senhor. Não me lembro muito dela, mas me lembro do dia em que você disse que ela rejeitou Senhor. " Ele olhou para Isaías e depois de volta para Oséias.
“O Senhor é bom e Seus caminhos são corretos, mas nunca ouvi a voz dEle. Ima poderá ouvi-Lo, mesmo tendo rejeitado?"
Oséias engoliu seco.
“Nós oramos, Jezzy."
“Eu tenho orado, abba, mas acho que o Senhor não me ouve. Só ouço o silêncio quando oro."
Isaías passou a mão no rosto, ergueu as sobrancelhas e olhou para Oséias como se dissesse: Responda, instrutor de profetas!
Oséias desejou que Yuval estivesse na sala.
Senhor, o que eu digo?
Enquanto orava, o vento suave do Senhor soprou pela casa, agitando as chamas em cada lâmpada.
“Abba, está ventando em casa!" Os olhos de Jezzy estavam arregalados.
Naquele dia, eu responderei, declara o Senhor.
Responderei aos céus, e eles responderão à terra; e a terra responderá ao cereal, ao vinho e ao azeite. e eles responderão a Jezreel."
Eu a plantarei para mim mesmo na terra"™." tratarei com amor aquela que chamei Não amada.
Direi àquele chamado Não meu povo: Você é meu povo. e ele dirá: "˜Tu és o meu Deus"™."
Oséias olhou para os outros, esperando que eles tivessem ouvido.
Jezzy começou a chorar e correu em direção a Isaías. Medo estampado em seu rosto.
Isaías o acolheu.
“Acho que seu abba acabou de ouvir a voz do Senhor, mas todos sentimos o vento de Sua presença."
Oséias estendeu as mãos, chamando o filho para mais perto.
Após um momento de hesitação, Jezzy se aconchegou, ainda tremendo.
“O Senhor fala a cada um de maneira diferente", explicou Oséias, “e de várias maneiras para uma única pessoa. Nosso Elohim é tão grande e criativo que consegue pensar em muitas maneiras de conversar conosco.
Era Ele! Uma brisa na casa! "
Jezzy sentou-se. Seus olhos agora brilhavam.
“Foi incrível!" Ele se desvencilhou das mãos de seu abba e sentou-se entre os homens novamente.
O Senhor se revelou a sua ima várias vezes.
Quando Ami nasceu, e algumas outras vezes."
“Ele veio para Ima quando eu nasci?"
O coração de Oséias se partiu.
Um dia ele contaria ao filho a história de seu nome e o significado da profecia.
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“Não. Mas Senhor falou de você agora. Gostaria de saber o que Ele disse?"
Ele assentiu, encantado, sem demonstrar mais medo.
Você ainda se lembra?"
Oséias riu.
O Senhor dá a Seus profetas a capacidade de ouvir e lembrar as Suas palavras.
Mas primeiro preciso fazer uma pergunta.
Você sabe o que quer fazer quando se tornar homem?"
O garoto olhou para Isaías, questionando em silêncio.
“Conte ao seu abba", Isaías persuadiu.
Jezzy manteve a cabeça baixa.
“Eu contei a Isaías ontem, mas tinha medo que você ficasse decepcionado. Quero ser um agricultor como Saba Amós, trabalhar no solo e cuidar dos bosques. "
Oséias não conteve as lágrimas.
“Não estou decepcionado. Você vai entender como o Senhor ouve suas orações quando ouvir a mensagem sobre você: "˜Responderei aos céus, e eles responderão à terra; e a terra responderá ao cereal, ao vinho e ao azeite. Responderei aos céus, e eles responderão à terra; e a terra responderá ao cereal, ao vinho e ao azeite. e eles responderão a Jezreel."
Eu a plantarei para mim mesmo na terra"™."
“O Senhor disse isso sobre mim?" Os olhos do garoto se encheram de admiração.
Oséias despenteava seus cabelos pretos.
“Sim, ele disse. Diga a aqueles meninos pastores que você tem raízes, Jezreel, e ore por sua ima. O Senhor responderá às suas orações. Ela voltará para casa algum dia."
47
Isaías 64:8–9
Contudo, Senhor, tu és o nosso abba..
Nós somos o barro; tu és o oleiro.
Todos nós somos obra das tuas mãos...
Não te lembres constantemente das nossas maldades.
Gômer olhava os vasos de barro alinhados na prateleira natural de sua caverna.
Um para cada dia que ela estivera naquele buraco da montanha.
Oito, na verdade.
Ontem tinha sido o sábado, por isso Oséias não veio.
Ele trouxe provisões suficientes para dois dias.
Quando esse tédio vai passar?
Ela nem contou os dias em que eles vagaram a procura da caverna “certa", esperando a aprovação do Senhor.
Quando a divindade finalmente se decidiu, Oséias voltou para Tecoa e ela passou a noite mais longa de sua vida na caverna fria e escura.
Sem adaga.
Sem comida.
Um único cobertor e um cantil de água.
Quando Oséias voltou no dia seguinte, o sol estava alto e ela estava exausta.
“Onde você esteve?" ela gritou em lágrimas.
“Eu pensei que você não viria! Eu não posso fazer isso, Oséias. Tenho que ir. Me dê os mantimentos que você trouxe. Irei para oeste, em direção ao Grande Mar, e você nunca mais precisará me ver."
Ele a abraçou e a abraçou enquanto ela chorava.
Foi quando Sansão saiu da bolsa de Oséias, lambeu a mão dela e a assustou.
Ela pulou para trás e quase caiu do penhasco.
O pequeno animal ronronou em seus braços, e ela sentiu-se agradecida por sua companhia.
No dia anterior ela saiu da caverna para explorar um pouco, mas o vento do Senhor agitou a poeira do deserto, perseguindo-os de volta para o interior.
O que ela era? Seu prisioneiro?
A acusação silenciosa marcou seu coração.
Ela não fez nada além de acusar o Senhor a vida toda.
E se as escolhas humanas fossem a fonte de suas feridas, e o Senhor tivesse sido seu protetor, não o instigador de todos os erros?
“Shalom, nesta caverna!" Oséias riu da saudação inusitada.
Gômer achou irritante, mas estava agradecida por ouvir qualquer voz humana.
Ela aguardava ver a silhueta dele na entrada da caverna.
“Bom Dia meu AMOR." Sua voz gentil apertou seu coração, mas ela não conseguia esquecer sua raiva.
“Ainda é de manhã? Achei que já era noite. Fiquei com medo de comer Sansão."
Ele entrou na caverna com passos lentos e firmes.
Cinco lâmpadas iluminavam seus belos traços.
Sua túnica, molhada de suor, grudava no peito e seu cabelo pendia em volta do rosto.
Aquele era Oséias, todo ele, toda visão, cheiro e som dele.
Ela percebeu então.. ela o amava.
Apesar do aborrecimento, dos fracassos passados - com todo o coração, ela o amava.
Ele parou a uma curta distância dela, e ela desejou segurá-lo.
“Trouxe outro vaso de barro para sua coleção." Ele abriu sua mochila, retirando os suprimentos primeiro.
Pão, queijo, azeitonas e tâmaras.
“Amoz disse que ensinaria você a fazer esse tipo de jarro quando voltasse para o acampamento - se você quiser aprender." Ele puxou um jarro de água polido da altura do antebraço de uma mulher, fino como uma cabaça.
Ela engasgou.
Então ela olhou para as peças simples de barro alinhadas em sua prateleira - duas tigelas, dois pratos, um jarro e duas xícaras.
“Por que você está me dando uma peça tão fina hoje?"
Ele suspirou.
“Como você fez isso?"
“Fiz o quê?"
“Saber quando tenho más notícias."
Ela pegou a jarra das mãos dele e caminhou até a prateleira para juntá-la ao resto de sua coleção.
“Sempre penso que você trará más notícias. Assim você não me pega de surpresa."
O silêncio confirmou que suas palavras o feriram.
Ela fechou os olhos com força.
Por que sua língua é tão afiada?
Hoje não posso ficar muito tempo.
É colheita de figo, e Yuval depende da minha ajuda, já que Amos está acamado. " Ela o ouviu suspirar novamente.
“Sinto muito, mas voltarei amanhã."
Gômer virou-se e deu um passo para trás, assustada.
“Yuval depende de você? Israel depende de você? E quanto a mim, Oséias? Quando posso contar com você?"
Ela pegou a peça polida e jogou na cabeça dele.
Ele se abaixou e a ânfora bateu contra a parede da caverna, quebrando em uma dúzia de pedaços.
Ela gritou com as mãos sobre a boca.
“O que eu fiz?"
Oséias não disse nada, simplesmente se curvou e começou a recolher os pedaços enquanto Gômer permanecia em silêncio.
Ele colocou todas as peças em sua bolsa, e beijou sua testa.
“Pedirei a Amoz um projeto para mantê-la ocupada. Parece que existe alguma energia reprimida para gastar."
Ela assentiu, segurando os soluços até ele desaparecer do lado de fora da caverna e depois derreter em lágrimas no chão.
Ela imaginou Amoz sentado na roda, as mãos firmes deslizando pelos lados da ânfora, moldando o barro de maneira submissa.
Agora estava arruinado.
Um vento suave levantou o cabelo de seus ombros.
Eu sou o oleiro.
Você é o barro.
Você foi quebrada.
“Eu sei! Eu sei!" ela gritou.
Aaahhhh! Ela gritou como uma louca, batendo os punhos no chão, liberando a raiva, a energia, a alma.
Deitada contra a parede da caverna, ela só conseguia sussurrar: “Se eu estou quebrada, por que Você não me deixa em paz? Por que você ainda trabalha com fragmentos quebrados?"
Silêncio.
Sem voz.
Sem vento.
Gômer fechou os olhos, mas mesmo na escuridão, ela percebeu... ela não estava sozinha.
Sua pergunta não era por que o Senhor tinha ido embora, mas por que Ele ainda se importava.
Embora Senhor permanecesse calado, ela sabia que Ele não a abandonara.
Da mesma forma que Oséias voltou para o acampamento e ela sabia que ele retornaria.
O Senhor era tão real para ela naquele momento quanto Oséias.
Ela abriu os olhos e olhou para os vasos de barro na prateleira - tigelas, pratos, xícaras - e riu.
Na verdade gargalhou.
A Aserá que ela escondia debaixo do colchão era tão inútil e sem valor quanto aqueles pratos de barro.
Como ela pôde ser tão cega? Quando Asherah agitou o vento? Quando a deusa mãe a salvou do perigo? Algum ritual pagão a encheu com a paz que ela sentia neste momento?
“Você é o único Deus verdadeiro." Foi um sussurro que ressoou como um grito.
Lágrimas frescas molharam suas bochechas. Desta vez eram lágrimas de alegria.
Sansão surgiu de debaixo de uma almofada, onde estava escondido.
Ele se enrolou no colo dela, sua presença aumentou a paz dela.
Seu coração desacelerou, sua respiração se aprofundou.
O sono a envolveu como um cobertor quente em uma noite fria.
Oséias voltou ao acampamento e foi direto à olaria solicitar um projeto para Gômer.
Como ela pôde ouvir o Senhor falar se estivesse completamente exausta?
“Amoz, meu amigo", disse ele, subindo as escadas, “quantos potes você pode me dar para Gômer trabalhar naquela caverna?"
Isaías sentou-se diante de seu abba, enquanto Amoz se curvava sobre a roda, molhando o pedaço de barro, puxando os lados para deixá-lo mais alto.
O oleiro continuou em silêncio enquanto Isaías expunha o coração de seu amigo.
“Por que distrair Gômer com cerâmica quando o Senhor a colocou em uma caverna para remover todas as distrações?"
Oséias ficou satisfeito que a olaria estivesse vazia.
Manter o retorno de Gômer longe das fofocas do campo tinha sido difícil.
“Eu não aguento mais, Isaías. Ela está aterrorizada naquela caverna. O Senhor prometeu protegê-la mas eu sinto falta dela. “E então você decidiu resgatá-la do plano de Senhor." Isaías cruzou os braços sobre o peito.
Não estou resgatando.
Estou...
Estou...
Isaías levantou uma sobrancelha e esperou.
“Ela está entediada, mas ainda não teve um encontro profundo com o Senhor... aquele encontro que muda a perspectiva sobre a vida, o amor e o mundo ao seu redor. Então, qual o problema em dar-lhe algo para fazer enquanto ela espera?"
“E se a distração funcionar como um curativo sobre uma ferida infectada?"
Amoz retirou as mãos do barro e levantou uma sobrancelha, deixando claro quanto seu filho parecia com ele.
“Meu encontro com o Senhor veio a partir da convivência com Isaías e Aya. Você espera que Gômer saia da pele de prostituta como uma cobra do deserto, tornando-se uma esposa quieta e submissa?"
“Talvez ela fique naquela caverna para sempre."
Os olhos de Isaías encaravam primeiro Oséias e depois para seu abba que havia ficado tão eloquente.
“Acho que isso é mais do que você já disse em uma única conversa." Ele riu, e seu abba deu um sorriso irônico.
“E você levantou um bom ponto." Então ele perguntou a Oséias: “Que mudanças você espera? Como você saberá quando ela está pronta para voltar para casa?"
Oséias observou o oleiro voltar ao seu projeto.
“Pra falar a verdade, não sei. Só sei que ainda não aconteceu."
Amoz apontou para uma estante de secagem próxima.
“Dê a ela um desses vasos e uma daquelas pedras lisas ali. Não vai demorar um dia inteiro, mas vai dar a ela um propósito. " Ele ergueu os olhos novamente.
“O que ela achou da ânfora?"
Oséias apertou os olhos, temendo a reação dele.
“Ela adorou - até o momento em que jogou em mim."
“O que?" Amoz arrastou os pés, freando a roda.
“O que você fez para deixá-la com tanta raiva?"
“Por que a culpa é sempre minha?" Oséias fingiu ofensa.
“Foi ela quem jogou o vaso."
“Era uma ânfora."
“Tanto faz - eu estava pensando...," Oséias hesitou, agora que Amoz parecia perturbado.
Ele tirou os pedaços quebrados da bolsa.
“Existe uma maneira de consertar isso?"
Amoz estudou os cacos e uma faísca de excitação iluminou seus olhos.
“Talvez possamos fazer isso", ele sussurrou.
“Então, isso é um sim? Você pode consertar o vas - quero dizer, o jarro?"
“Oséias, podemos consertar a olaria!" Ele trocou um olhar com Isaías.
“O que há de errado com a olaria?" Oséias perguntou.
Amoz ficou sério e espiou por cima do parapeito, garantindo que estivessem sozinhos.
Desde a profecia de Isaías no sepultamento de Uzias, o palácio parou de comprar sua cerâmica.
No começo, pensei que seria apenas uma briga de família. Mas quando as vendas no mercado de Jerusalém caíram para metade, percebi que era uma retaliação do povo de Judá pela mensagem que meu filho recebeu do Senhor."
A raiva fez o estômago de Oséias revirar.
“Não tinha idéia do rei Jotão estava levando as pessoas para longe do Senhor."
“Jotão permanece obediente às ordens do Senhor", acrescentou Isaías rapidamente.
“Tão fiel quanto seu abba Uzias, com a mesma infeliz fraqueza - ele se recusa a derrubar os altos."
“Ouvi rumores de que o príncipe Acaz tem deixado explícita sua rebelião contra a adoração ao Senhor. Ele permanecerá obediente enquanto Jotão reinar, mas precisamos nos preparar para o dia em que Acaz assumir o trono."
“Vocês podem discutir os problemas políticos de Judá em outra ocasião", disse Amoz.
“No momento, devemos nos concentrar em como manter esta loja produzindo cerâmica, embora tenhamos poucos mercados que vendem o que produzimos." Apontando o dedo coberto de argila para Oséias, ele acrescentou: “E eu acredito que a birra de sua esposa pode ter fornecido nossa resposta."
Oséias olhou os fragmentos e vislumbrou o sorriso satisfeito de Amoz.
“Um jarro quebrado ajudará sua olaria a se manter ativa?"
O oleiro fez um aceno confiante.
“Quando eu trabalhava em Laquis, meu maior concorrente desenvolveu um processo de colagem para consertar cerâmica quebrada. Ao ferver uma mistura de sangue, seiva de árvore e claras de ovos, ele colou os pedaços, deixou-os secar e depois recolocou o vaso no forno. Os resultados deixaram o vaso resistente, embora não impermeável. As cicatrizes das rachaduras adicionaram uma nova dimensão à sua beleza."
O coração de Oséias disparou quando Amoz descreveu o processo, e o calor do Senhor surgiu através dele.
“Poderíamos criar um negócio único de restauração de vasos quebrados. Nunca ouvi falar de outro artesão que fizesse isso podemos estabelecer um novo comércio em Jerusalém."
Oséias ficou maravilhado com o plano e a provisão do Senhor.
Ele levantou-se para ir.
“Espere, Oséias!" Amoz apontou para uma fila de panelas à espera de polimento.
“Não se esqueça de levar uma panela e uma pedra de polir para Gômer. Me perdoe se não pude ser mais útil."
Oséias voltou e estendeu a mão.
Amoz ergueu as sobrancelhas e mostrou as mãos cheias de barro.
Oséias persistiu e Amoz o abraçou todo enlameado.
“Você foi mais útil do que pode imaginar", disse Oséias.
“Senhor usou você poderosamente esta noite." Ele deixou um Amoz chocado e feliz pensando em suas palavras.
“Onde você vai?" Isaías gritou.
“Visitar Amós e ajudar Yuval com os figos. Então vou reunir meus filhos e agradecer a sua esposa. " Ele se virou antes de desaparecer pela porta com cortinas.
“Preciso visitar todo mundo agora. Quando minha esposa voltar para casa, você não nos verá por muitas luas!"
Ele saiu ao som da risada alegre de seus amigos.
Que ela volte para casa em breve, Senhor.
Em breve.
Gômer olhou para a chama da última lâmpada, com o coração acelerado.
Oséias havia esquecido de trazer mais óleo.
Ele já devia estar em casa, aproveitando a noite com as crianças.
Ou talvez visitando Yuval e Amós.
Quem sabe jantando com Amoz, Isaías e Aya.
A chama cintilou - e apagou.
Escuridão total.
Espesso.
Pesado.
Roubava a respiração.
“Senhor, me ajude!" ela gritou, produzindo eco nas paredes da caverna.
Me ajude, me ajude, me ajude.
Ela tentou ouvir o silêncio. Sentiu Sansão aconchegado ao lado dela.
Um, dois, três, quatro...
Ele começou a ronronar.
A respiração dela suavizou.
Estou aqui.
Não era uma voz.
Era um entendimento.
Um mero pensamento, talvez.
Você é minha.
Era mais que um pensamento. Gômer sabia que era o Espírito do Senhor falando com seu coração.
Como ela soube? Ela engasgou, quebrando o silêncio.
Ela não tinha ideia de como sabia.
Mas tinha certeza.
Ela fechou os olhos e viu a mesma escuridão.
Então ela abriu novamente e falou em voz alta.
“Por que você não me salvou da dor?"
Silêncio.
“Por que você mandou Oséias me abandonar depois que Jezzy nasceu?"
Te abandonar?
Seu coração torceu dentro dela, e ela se lembrou da repreensão de Yuval pela frieza de Gômer.
“Eu sempre volto", Oséias disse repetidamente.
Ele estava certo."
Ele sempre voltou pra ela.
“E por que você deixou Oséias esquecer o óleo para as lâmpadas?" Era uma queixa boba mas ela queria saber.
Seu coração ficou cheio de paz; a escuridão repentinamente se tornou um travesseiro recheado com a lã mais macia.
Essa foi a resposta.
Ela precisava ficar na escuridão absoluta para ouvir Sua voz mais íntima.
“Não gosto da escuridão", disse ela, passando a mão pelo chão frio de pedra.
Ela encontrou o cobertor e o travesseiro. Deitou-se e acariciou o pêlo macio de Sansão.
“Mas eu gosto de ouvir a Sua voz." Ela fechou os olhos e, no que pareceu um momento, acordou com o canto dos pássaros e o brilho do novo dia da madrugada.
“Obrigado, Senhor, pelas trevas - e pela luz."
48
Oséias 14:5, 8
Serei como orvalho para Israel ...
O que Efraim ainda tem com ídolos?
Eu os responderei e cuidarei deles.
Oséias despertou o filho ainda à noite.
“Jezzy?"
“Abba, eu quero ver a Ima."
Ele se aninhou na cama ao lado de Oséias.
“Ela precisa de nós - agora."
As crianças estavam dormindo na sala.
Oséias o abraçou, seus pensamentos agitados.
Gômer parecia mais pacífica desde o incidente do jarro quebrado, mas se recusou a contar o que estava ocorrendo em seu coração.
Ele não poderia deixá-la voltar à vida das crianças até que seu coração estivesse aberto ao Senhor.
“O que te faz pensar que ima precisa de nós agora?"
“Tive um sonho. Ela estava em uma caverna, orando que o Senhor trouxesse sua família de volta."
Ele começou a tremer.
“Precisamos acordar Rahmy e Ami para encontrá-la. Ela está perdida, abba? E se ela for encontrada por um leão ou uma serpente?"
Oséias abraçou o filho.
Impressionado.
Maravilhado.
Seu coração acelerou.
Senhor, Gômer está realmente em perigo, ou o senhor enviou este sonho para falar com meu filho?
Sem vento.
Sem voz.
Uma profunda sensação de paz e um lembrete da promessa do Senhor.
Farei um acordo com os animais selvagens...
“Creio que ima está em segurança, Jezzy. E também acredito que Senhor falou com você em seu sonho."
Ele ainda estava tremendo.
“Gostaria mais que fosse um vento."
Oséias beijou sua cabeça.
“Também gosto do vento, mas não escolhemos o modo como o Senhor fala."
Ele sentiu o filho concordar.
“Ima está numa caverna há dois sábados. O Senhor a mantem em segurança, protegendo-a de todos os animais, pássaros e cobras."
Jezzy pulou sobre o colchão.
“Sozinha - numa caverna?" Oséias observou seu menino murchar.
“Ela está com medo, abba? Temos que ir até ela!" Ele voltou a chorar, e Oséias o abraçou mais uma vez.
“Jezreel, escute", disse ele severamente.
“Se o Senhor pode falar com você em um sonho, ele também pode colocar uma proteção em torno de sua ima em uma caverna."
Jezzy se acalmou.
“Tenho levado provisões dela todos os dias. Sansão também está com ela."
“Eu me perguntei onde ele tinha ido."
Oséias sorriu na escuridão.
A abençoada inocência de uma criança.
“Jezzy, vou lhe contar uma história sobre seu nome e de seus irmãos. Você já ouviu a voz do Senhor. Creio que está na hora de conhecer o plano Dele para a nossa família."
Ele sentou-se e enxugou o nariz na roupa.
“Ok, abba. Estou pronto."
Seus olhos castanhos arregalados capturavam a luz da lua. Oséias desejou capturar o momento para compartilhar com Gômer.
Ela ficaria tão orgulhosa do filho.
“Seu nome significa -"
— Eu sei.
Meu nome significa 'Deus semeia'."
“Desculpe, abba. Aya diz que eu não deixo ninguém falar."
Oséias deu uma risada.
“É bom dar ouvidos a Aya. Sim, filho, seu nome significa 'Deus semeia'. Sabemos que o Senhor o chamou para ser agricultor. Seu nome também tem um significado mais amplo. Fomos escolhidos para contar a história do amor do Senhor pela casa de Israel. Assim como nós, Israel e Judá foram separados. Assim como ima e eu, a relação de amor entre o Senhor e Sua nação amada tem sido difícil. Na noite do nascimento de Ami, porém, o Senhor prometeu que Judá e Israel se reuniriam novamente. O dia de Jezreel seria um grande dia."
Jezzy ofegou.
“O dia de Jezreel. Sou eu!" Sua sobrancelha franziu.
“O Senhor estava realmente falando de mim?"
Oséias brincou com ele até que o cobertor desse um nó. Então os dois se deitaram lado a lado.
“Você precisa perguntar a Yuval o que Senhor quis dizer sobre Israel e Judá serem reunidos", disse Oséias, rindo.
“Ela entende algumas coisas melhor que Saba Amós e eu."
Ele se virou de lado, encarando Jezreel.
“Quando seus irmãos acordarem, traremos sua ima para casa. Este dia de Jezreel será ótimo!"
Gômer enfileirou as seis panelas vazias.
Oséias trazia todos os dias da semana junto com uma jarra de barro.
Ela pegou uma pederneira e fez outra marca na parede, contando os dias.
Quinze.
Ontem foi o sábado. Ela ficara sozinha o dia todo - sozinha com o Senhor.
Foi maravilhoso.
As memórias do dia refrescaram seu coração e ela levantou Sansão nos braços, dançando com a melodia celestial.
Sem aviso o rosto de Jezreel surgiu em sua mente, fazendo seus pés pararem de dançar.
Em seguida Rahmy.
Então Ami.
Um lamento tentou roubar sua alegria.
A memória das crianças tomava muito de seu tempo nos últimos dias.
Senhor, ensina-me a viver além do meu fracasso. Que a Tua presença ocupe os escombros do meu passado.
Ela largou o gato, pegou um vaso e uma pedra lisa.
O vaso já estava brilhando, mas ela começou a polir novamente para se distrair.
Lágrimas teimosas embaçaram sua visão.
Como ela podia trabalhar se não podia ver?
Teve vontade de jogar o vaso, mas se lembrou dos cacos da jarra quebrada que Oséias levara de volta a Amoz.
Horas de trabalho meticuloso foram destruídas num único momento de destempero.
Como ela tinha sido infantil.
Jezzy já deveria ter crescido!
Oséias disse que a cabeça dele já estava batendo no queixo dela.
E Rahmy?
Seus cabelos eram ruivos quando Gômer a viu pela última vez.
Tinha escurecido ou ainda permaneciam ruivos?
E o bebê Ami.
Um soluço escapou.
Ele não era mais um bebê. Provavelmente nem se lembrava dela.
A antiga amargura tentou estrangulá-la, mas ela pensou nas pessoas carinhosas que haviam criado seus filhos enquanto viajava a Israel.
Ela pensou nos sacrifícios de Yuval.
Isaías e Aya amavam seus filhos como se fossem seus.
A lembrança do amor incondicional de Oséias por Rahmy e Ami rompeu suas últimas defesas.
Como um homem poderia amá-los e tratá-los como filhos legítimos, sabendo que foram concebidos em adultério?
Se um dia ela saísse daquela caverna seria muito cuidadosa com aquelas crianças. Ela não gostaria de destruir a obra-prima do amor que outras pessoas moldaram com tanto cuidado ao longo do tempo.
“Gômer?" Oséias surgiu na abertura da caverna.
“Qual é o problema? Você está chorando. Você está machucada?" Seu rosto aparentou preocupação.
Ele correu para ela e a abraçou. Enxugou suas lágrimas com os dedos.
“Não, não. Estou bem. As crianças..."
Ela queria contar a ele, mas não conseguiu encontrar as palavras.
Como poderia expressar a profunda restauração de seu coração partido. A infinita misericórdia de um Deus que procura reconstruir, não destruir?
Oséias acreditaria nela?
Ou pensaria que ela estava tentando manipular para sair da caverna?
Ele a beijou gentilmente e olhou em seus olhos.
“Nossos filhos serão abençoados pelo Senhor. Como Israel também um dia será. O Senhor promete: 'Serei como a chuva para Israel. e ele dará flores, como os lírios. As suas raízes serão profundas como as das árvores do Líbano. "Seus olhos se encheram de lágrimas.
“Todas as vezes que você sentiu abandonada... "
Ela o calou com um beijo. Os olhos dele permaneceram fechados enquanto ela falava.
“Eu te abandonei muito antes de você me abandonar."
Ela engoliu seco, percebendo pela primeira vez.
“Nunca te dei uma chance para me amar. Não podia correr o risco que dissesse não."
Então ele abriu os olhos estudando a expressão dela.
“Venha comigo."
Ele a levou a uma grande pedra na entrada da caverna e a ajudou a subir e se sentaram.
Ficaram em silêncio, olhando o horizonte.
Após um tempo ele ficou frente a frente com ela e sussurrou reverentemente.
“Posso ver profundas mudanças em você. Paz onde havia raiva, esperança onde o desespero existia."
Ele pegou a mão dela e voltou a encarar o horizonte.
“Por que não me conta sobre as mudanças em seu coração?"
Ela fechou os olhos e sentiu os raios quentes do sol.
O Senhor havia preparado aquele momento.
Maravilhada pelo cuidado extravagante do Senhor, ela sentiu a segurança da presença dele tão firme quanto a pedra sobre a qual estavam assentados.
“Depois de quebrar o lindo jarro de Amoz, percebi o quanto estava quebrada. Nos dias seguintes o Senhor começou a aquecer meu coração com pequenos sinais de Sua presença. Até que uma noite ele me consumiu na escuridão."
A testa de Oséias franziu, preocupado.
“O Senhor não consome ninguém com a escuridão, Gômer."
Ela respondeu à sua preocupação com uma leve risada.
“Espero que você ouça o Senhor melhor do que me escuta!" A mão dela descansou na bochecha dele.
“Não disse que o Senhor consumiu pela escuridão. Disse que ele me consumiu na escuridão. Há uma diferença, marido."
Ela deixou o polegar roçar os lábios dele.
“Ele me buscou e encontrou na escuridão. Eu estava com muito medo de entrar na Sua luz. Ele veio ao meu encontro na minha escuridão"
Oséias levantou a mão e beijou a palma da sua mão.
“Sim. Sim, meu amor. Parece mesmo com a voz do Senhor."
Ela o puxou pela barba, beijando-o profundamente.
Ele manteve os olhos fechados.
“Agora sei como o Senhor é.", disse ela, “Mesmo quando Ele está em silêncio."
Um sorriso lento e satisfeito vincou os lábios do homem que ela amara a vida toda.
“Você gostaria de ouvir o que o Senhor me disse esta manhã?" ele perguntou.
Ela concordou e o rosto dele brilhou.
“O povo de Israel dirá: "˜Os ídolos não valem nada!"™. Vou respondê-los e cuidar deles. Como um pinheiro verde, eu lhes dou abrigo, e de mim eles recebem todas as bênçãos."
Ela fingiu fazer beicinho.
“O Senhor lhe disse que havia mudado meu coração. Será que um dia conseguirei te surpreender?"
“Me surpreendo cada vez que olho para você. Fico maravilhado que o Senhor tenha dado você para mim."
Ele segurou o rosto dela, roçando sua bochecha, lágrimas caindo de seus cílios escuros.
“Eu tenho uma surpresa pra você."
Ela inclinou a cabeça para adivinhar, mas antes que pudesse pensar, ouviu o som mais lindo do mundo.
“Ima?"
Ela engasgou.
Ela gritou.
Tremeu.
Tudo ao mesmo tempo.
Seus bebês estavam em fila. Como eles haviam crescido!
Rahmy segurava o braço do irmão mais velho.
Ami a esquerda.
Jezzy, firme como um pilar do templo, segurava o jarro reformado que ela quebrara dias atrás.
Jezzy deu um passo à frente. Era o porta-voz.
“Saba Amoz disse pra trazer esse jarro e não deixá-lo cair."
Ele franziu a testa e balançou a cabeça.
“Alguém o deixou cair, e ele teve que consertar, mas não fui eu."
Ela riu entre lágrimas e viu Oséias se aproximar dos filhos.
Ele levantou a jarra dos braços de Jezzy e sussurrou algo, fazendo com que os três olhassem diretamente para Gômer.
Jezzy deu outro passo à frente.
“Viemos levá-la para casa, ima - se você quiser."
Gômer cobriu a boca, incapaz de falar.
Ela assentiu, mal conseguindo falar: “Quero muito voltar para casa".
Ela abriu os braços e Jezzy correu para ela apertando forte.
“Oh, Jezzy."
Ela beijou a cabeça dele, que já chegava em seu queixo como Oséias havia dito.
“Você está tão grande! O que Aya está te dando pra comer?" Ela ouviu uma risada abafada surgir de seu abraço. Oséias se aproximou, segurando a mão de Ami, enquanto Rahmy olhava para sua ima.
“Seu cabelo é igual ao meu."
Gômer tomou as outras crianças em seus braços com Jezzy, apreciando a proximidade da família que o Senhor havia restaurado.
Oséias se inclinou para beijar sua bochecha.
“Jezzy me acordou esta noite depois de um sonho. O Senhor lhe mostrou uma imagem de joelhos na caverna, orando."
O coração de Gômer quase explodiu.
Ela fora acordada a noite por um barulho do lado de fora da caverna.
Ela ouviu Sansão miar quando tentou entrar na caverna.
Gômer sentiu medo do que quer que seja que o gato vira.
“Obrigado, Jezreel, por ouvir o Senhor", ela sussurrou em seus ouvidos - iguais aos do seu abba.
“Agora o Senhor fala com você em sonhos?"
Ele fungou e enxugou o nariz na roupa.
Gômer sorriu.
“Não. Foi a primeira vez, mas abba diz que o Senhor na noite do nascimento de Ami que eu iria reunir nossa família. Então achei que era hora do Senhor fazer alguma coisa."
Oséias e Gômer riram, orgulhosos por testemunhar a crescente fé do filho.
“Você gostaria de contar a ima sobre a outra surpresa?"
“Outra surpresa?" Gômer ofegou, emocionada. “O que mais poderia surpreender."
“Saba Amoz tem um monte de jarros quebrados na olaria, esperando você para consertá-los."
Jezreel encolheu os ombros.
“Não sei por que ele e abba estão tão animados com isso. Toda vez que quebro um jarro de Aya fico em apuros."
Gômer abraçou o filho novamente.
“Acho que eles estão animados para consertar aqueles jarros, querido. Saba Amoz me ensinará como torná-los úteis novamente."
Ela olhou para cima, fixando o olhar no marido.
“Se o Senhor pode tomar uma alma tão quebrada quanto a minha e restaurá-la, talvez seja possível resgatar outros vasos quebrados. Estou disposta a passar o resto da vida tentando."
Epílogo
2 CRÔNICAS 29: 1,3
Ezequias tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar...
No primeiro mês do primeiro ano de seu reinado, ele reabriu as portas do templo do Senhor e as consertou.
Ima, por que você ainda está trabalhando? Jezzy correu para a olaria e subiu as escadas.
Gômer permaneceu sobre a bancada, tentando encontrar pequenos defeitos.
“Abba e Isaías estão mostrando o acampamento ao rei Ezequias. Eles estão quase chegando."
Ela manteve o foco no trabalho, um pouco frustrada com o pedaço que faltava em seu último projeto.
“Bom! Vamos dar um avental pra cada um e colocá-los para trabalhar. Isaías não se transformou em pão só porque o príncipe Ezequias o nomeou embaixador. "
“Ima, não dificulte as coisas."
Um sorriso surgiu em sua face.
Ela adorava provocar o filho.
Assim como Oséias, ele se tornara um marido e abba maravilhoso, dando-lhe netos gordinhos e cuidando do acampamento dos profetas durante os anos de perseguição do rei Acaz.
Quando o rei Jotão morreu deixou o reino para seu filho rebelde Acaz de apenas vinte anos.
O impetuoso príncipe havia se tornado um rei perigoso e idólatra, levando Judá para a pior prática do paganismo - o sacrifício de crianças.
A aversão de Jotão ao templo do Senhor se tornou ódio em seu filho, e Acaz mostrou todo seu desprezo erguendo um altar assírio, no lugar da presença mais sagrada do Senhor.
“Esta, então, é a casa de vasos quebrados."
Uma voz profunda e ressonante penetrou pela porta.
“Ima, eles estão aqui", Jezzy sussurrou. “Mostre tudo pra eles, querido."
Ela piscou. Ele revirou os olhos e depois deu um sorriso.
Jezreel desceu os degraus com uma graça real.
“Bem-vindo, rei Ezequias, à olaria de minha ima."
Ela observou seu cumprimento e sentiu o mesmo orgulho de quando era um bebê.
Ele mantinha a produção das figueiras de Yuval e as lucrativas ovelhas de Amós. Sua colheita era suficiente para produzir azeite e vinho para as famílias no acampamento.
Era o bastante.
E um milagre - depois que tudo que os profetas passaram nas mãos de Acaz.
“Meu filho me lisonjeia."
Ela se levantou e olhou por cima do mezanino, vislumbrando o jovem rei de Judá.
“Esta sempre será a escola de Amoz."
Inspecionou as novas vestes de Isaías e fez um longo aceno para sua amiga de longa data.
“Bem-vindo, rei Ezequias e ministro Isaías. Shalom, marido."
Oséias curvou-se e deu uma piscada.
“Shalom, Gômer."
A voz de Isaías parecia fraca.
Ele e Oséias compartilhavam a tarefa de ensino, mas agora Isaías precisaria viajar entre o palácio e o acampamento para desempenhar seu papel de embaixador de Judá.
Ela perguntaria a Aya como ele estava.
“Você já encontrou a peça que faltava?" Ele riu, e ela devolveu um sorriso irônico. “Vou enviar Aya para ajudá-la."
“Saudações à senhora oleira."
O olhar do rei Ezequias disse a Gômer que ela já gostava dele.
“Devo subir, ou você vai descer?"
“Se você vier, vou colocá-lo para trabalhar."
Todos riram e ela considerou cumprir sua ameaça.
Com estrutura robusta, ela poderia colocar uma pá na mão dele para alimentar o forno.
“Eu vou descer", disse ela, descendo as escadas, admirando sua túnica branca."
Oséias estendeu a mão, chamando-a para seu lado.
Ela obedeceu alegremente, assumindo seu lugar debaixo do braço dele.
“Mostramos ao nosso novo rei o acampamento dos profetas - o que resta dele."
“Eu disse a seu marido que admiro a coragem deles. Seu ensino será uma parte importante do processo de restauração de Judá."
A voz de Ezequias parecia amável e sincera.
“E sua cerâmica é conhecida por todo lado, Gômer. É um símbolo do que nossa nação pode se tornar. Estou comprometido em reformar e purificar o templo do Senhor. Meu abba removeu todo ouro e substituiu o altar do Senhor por aquela abominação assíria."
Gômer deixou a proteção do marido para pegar seu vaso favorito restaurado.
“Essa foi uma das primeiras peças que o abba de Isaías me ajudou a consertar. Você conhece o processo, rei Ezequias?"
“Não, mas gostaria de aprender."
Ela sorriu, feliz em compartilhar os segredos da restauração.
“Fervemos a cola e juntamos as peças. Depois aplicamos um esmalte fino para selar as rachaduras. O esmalte ressalta a marca da quebradura."
Ela garantiu que ele estava prestando atenção. As emoções tão frescas quanto no dia em que ouviu a voz do Senhor.
“Este vaso está restaurado. Ele é útil novamente. Ele não serve para armazenar água, mas pode guardar grãos ou se tornar um belo enfeite."
A ideia a fez rir por dentro.
“Judá pode nunca ser o que era nos dias de Davi ou Salomão", disse Oséias.
Ele adorava contar essa parte.
“Mas se você deixar o Senhor restaurar sua nação, Ele a tornará útil no plano da eternidade."
Ela observou o jovem rei absorver as palavras de Oséias como água fresca.
“Um velho profeta me disse uma vez que quando lutamos por vitórias eternas, não devemos nos sentir derrotados por lutas temporárias. Se você se provar fiel, rei Ezequias, a idolatria do seu abba será apenas uma luta temporária."
A expressão de Ezequias ficou melancólica.
“Gostaria de conhecer os outros grandes profetas. Elias, Eliseu, Jonas e Amós. Isaías me diz que Saba Uzias era um rei fiel antes da lepra. Saba Jotão e abba Acaz nunca me contaram estas histórias. Fui assombrado por imagens aterrorizantes da terrível ira do Senhor. Depois fui forçado a assistir os terríveis rituais pagãos - coisas que nenhuma criança deve ver."
Isaías colocou a mão no ombro do jovem rei.
“Sempre é possível lamentar as coisas do nosso passado. Meu abba Amoz perdeu metade de sua vida adorando ídolos, mas conheceu o Senhor através do testemunho de minha esposa e nossa família. Embora tenha perdido anos por causa de sua amargura, pude vê-lo abraçar o Senhor antes que ele fechasse os olhos na morte."
Gômer deu seu precioso vaso ao jovem rei.
“Oh, eu não posso aceitar", disse ele.
“Sei que é muito especial para você."
“É especial, mas quero que também seja pra você. Todos somos vasos quebrados, rei Ezequias. A redenção vem quando nos submetemos às mãos do Senhor e somos consertados por Sua misericórdia. Só então podemos ser cheios do Seu amor e ser usado para derramar sobre as vidas desoladas que nos rodeiam."
O rei beijou a mão dela.
“Creio que você está certa, Gômer. Todos carregamos o amor do Deus em vasos quebrados."
Nota da Autora
Mark Twain disse: A realidade é mais estranha do que a ficção, porque a ficção precisa fazer sentido.
E a verdade não.
Talvez essa seja a única razão pela qual a Bíblia é tão impressionante - porque ela é completamente verdadeira.
Poderia haver uma história mais absurda do que Oséias e Gômer - um homem que repetidas vezes ama e perdoa sua esposa prostituta?
É verdade que o chamado profético na antiguidade incluía viver uma vida que refletisse o amor do próprio Senhor por Israel.
Mas o relato não é só sobre Israel, não é?
Esta também é nossa história.
Acreditamos que a história de Gômer e Oséias no Antigo Testamento seja verdadeira. Como você e eu podemos confiar em um Deus tão insondável?
Por que confiar num Deus cuja ira é tão dura?
Porque Seu amor é mais que extravagante.
Quando as pessoas descobrem que escrevo ficção bíblica, a primeira pergunta que fazem é: "Quanto é baseado nas Escrituras e o quanto é ficção?" Tento dividir a resposta em três partes.
O ponto de partida é sempre a verdade absoluta das Escrituras.
Se você encontrar algo no meu romance que discorde da Palavra de Deus, posso garantir que foi um descuido, não foi nada intencional.
O livro de Oséias, no entanto, é bem complicado a esse respeito.
Em seu comentário The Books of Amós and Hosea, Harry Mowvley explica que o número de notas de rodapé nas traduções da Bíblia indicam ao leitor a dificuldade que os tradutores encontraram ao interpretar os manuscritos originais.
Traduções diferentes de Oséias às vezes retratam mensagens diferentes.*
Dito isto, li por diversas vezes a Nova Versão Internacional e a Nova Versão King James enquanto refletia sobre essa história.
Depois de iniciar uma extensa pesquisa sobre o panteão dos deuses cananeus e o engodo que culminou na ruína de Israel e Judá (sobretudo os falsos conceitos de El), comecei a estudar o livro de Oséias na tradução “The Names of God", editado por Ann Spangler (Revell, 2011) .
Se estiver procurando uma sinopse rápida e bem feita de Oséias, veja o capítulo um de A Bíblia “The Names of God". Como acontece com todos os livros proféticos das Escrituras, algumas das profecias de Oséias foram cumpridas ainda durante sua vida, outras foram cumpridas mais tarde na história de Israel, e algumas serão cumpridas no futuro.
Mas uma das minhas lições favoritas da pesquisa de Ann Spangler é encontrada em Oséias 1:9, quando Senhor se recusa a ser chamado de Ehyeh - eu sou - pelos israelitas.
Ele se recusa a ser chamado de Deus poderoso e errante.
Quão devastador, certo?
Mas no versículo seguinte, Ele promete um dia ser El Chay - o Deus vivo.
Meu coração simplesmente dispara com essas palavras!
Esse é o meu Jesus!
Ele não é mais o Deus distante, seco e árido do Sinai.
Ele é o Salvador ressuscitado - o Deus misericordioso, santo, vivo e gracioso do Novo Testamento - bem ali no primeiro capítulo de Oséias.
2 Reis14: 1–18: 12 apresenta os relatos bíblicos dos reis de Israel e de Judá.
2 Crônicas se concentra no reino de Judá com muito mais detalhes.
Você pode ler sobre os reinados do rei Amazias, Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias nos capítulos 25–32.
Um comentário final na lista de reis em Oséias 1:1.
Embora Oséias fosse israelita, este versículo menciona quatro reis de Judá e apenas um rei de Israel.
Minha história descreve a vida de Oséias, como sugerem muitos comentaristas.
Acredita-se que Oséias (ou seu escriba) tenha registrado suas profecias depois que ele havia saído de Israel e vivendo em Judá.
Vários especialistas foram um passo além, no entanto, dizendo que o escritor de Oséias provavelmente adicionou Judá a muitas das profecias de que Oséias originalmente falava apenas ao povo de Israel.
Eles argumentaram que durante o reinado de Acaz, a idolatria de Judá se tornou tão vil quanto a de Israel.
As palavras de Oséias para Israel sem fé eram igualmente relevantes para a nação idólatra que Judá sob o reinado de Acaz.
Ao ler esses comentários, percebi que as palavras de Oséias para Israel eram igualmente relevantes para o nosso mundo hoje.
Eu também parti o coração de Deus com muita frequência.
Que todos possamos voltar ao Senhor e dizer: “Perdoa todos os nossos pecados e, por misericórdia, recebe-nos, para que te ofereçamos o fruto dos nossos lábios.
Nunca mais diremos: "˜Nossos deuses' àquilo que as nossas próprias mãos fizeram
* Harry Mowvley, The Books of Amós & Hosea (Londres: Epworth Press, 1991).
Agradecimentos
Escrever este livro foi um pouco diferente dos meus dois anteriores.
Eu sabia que ia exigir mais pesquisa e tinha metade do tempo para escrevê-la.
Felizmente, Jesus sabia tudo isso também.
Minha equipe de oração ajudou bastante nisto.
Enviei vários alertas vermelhos quando me encontrava sem saída ou me sentia sobrecarregada.
A bibliotecária de pesquisa da Universidade Multnomah, Suzanne Smith, foi incrível neste processo.
Com apenas alguns detalhes ela conseguiu uma enorme lista de livros e periódicos que me mantiveram ocupada por semanas.
E quando não consegui devolver os livros no prazo, Pam Middleton me ajudou.
Outra bênção foi minha primeira Conferência Nacional da ACFW.
Além das pessoas que conheci lá (muitas para citar), participei de workshops cruciais que simplificaram o processo deste livro.
A lição contínua de Jeff Gerke, “Enredo vs. Personagem ", valeu a pena toda a taxa da conferência, mas o incentivo de Karen Ball aos autores presentes também foi uma dádiva de Deus.
Mary DeMuth me deu uma visão incrível da infância desolada de Gômer.
Obrigado por seu ministério bonito e transparente.
Para meus fiéis parceiros de crítica, Meg Wilson e Michele Nordquist - vocês são uma perfeita harmonia de editores.
Quando clico em “Combinar" na guia Revisão do MS Word, recebo gramática, plotagem, caracterização...
Adoro os comentários encorajadores, e sua atenção sempre torna a história mais forte.
“Obrigado" nunca é suficiente para o que vocês fizeram.
A Vicki Crumpton, minha editora.
Nunca conheci alguém que possa dizer as coisas difíceis com tanta gentileza.
Amo sua inteligência, e você sempre parece encontrar o coração de um ponto problemático que não consigo explicar direito.
Você é incrivelmente talentosa e a pessoa mais humilde que eu já conheci.
Te admiro profundamente, minha amiga.
Para Jessica English, Michele Misiak e toda a equipe da Revell - que privilégio finalmente conhecer tantos de vocês pessoalmente!
Vocês são fabulosos no que fazm!
Aprecio muito o coração e a alma que vocês colocam em seu trabalho, a alegria com a qual vocês encorajam e servem.
Muito obrigado.
À minha família.
Obrigado por ter pacientemente perdido tempo durante as férias para que eu pudesse me hospedar em um hotel e escrever.
Agradeço ao meu filho apaixonado, Brad King, por seu trabalho nos trailers"™ de meus livros.
Para minha doce mãe, Mary Cooley.
Ela gosta de falar sobre qualquer coisa que tenha a ver com seu Deus, e ela sempre tem uma visão especial quando se trata de amar a Jesus.
Finalmente, ao meu marido, Roy.
Eu não conheceria o verdadeiro amor a menos que conhecesse você.
Eu te adoro.
Mesu Andrews se dedica ao estudo apaixonado e intenso das Escrituras.
Aproveitando sua profunda compreensão e amor pela Palavra de Deus, Andrews traz o mundo bíblico vivo para seus leitores.
Após catorze anos de ministério pastoral eles se mudaram para o noroeste do Pacífico para dar o próximo passo no chamado de Deus.
Eles têm dois filhos casados e moram em Washington, onde Mesu escreve em período integral.