As respostas são todas iguais?
A Willow Creek Community Church fez um levantamento, descobriu que alguns membros de sua congregação, e especialmente seus amigos pós-cristãos, acreditavam que todas as religiões do mundo são essencialmente a mesma coisa. Se suas doutrinas são semelhantes e apontam para a mesma direção, por que é importante escolher a “certa”? Em resposta a essa pesquisa, a igreja convidou um representante erudito de cada uma das principais crenças para um culto religioso. Um hindu, um budista, um muçulmano, um judeu e um cristão sentaram-se lado a lado sobre a plataforma e responderam a perguntas feitas pelo mediador Bill Hybels. Vou resumir aqui alguns dos pontos principais:
Qual é o seu entendimento de Deus?
Hindu: Deus era Consciência total, antes da criação, e para sua diversão ele criou o universo. Assim Deus é, de certa forma, a criação; e também, para conferir-lhe vida, ele entrou na criação, inúmeras vezes. De fato, qualquer um pode atingir a condição de divindade seguindo as normas estabelecidas.
Budista: Nós não nos concentramos em Deus ou nos deuses, mas nos ensinamentos de Gautama Buda, que viveu no quinto século a. C. Como Buda, nós nos esforçamos para nos tornarmos seres humanos iluminados, que servem aos outros movidos pela compaixão e tentam acabar com o sofrimento do mundo.
Muçulmano: Deus é um distribuidor de misericórdia. Ele é paz. Ele é o primeiro e último. Ele é o senhor do Dia do Julgamento. Ele é o senhor do universo. Ele é o guia. Ele é a luz. Ele é a misericórdia.
Judeu: Eu suspeitaria que todos aqui reconheceriam o Deus do judaísmo observando as religiões que são filhas dele, o cristianismo e o islamismo: ambas moldaram sua teologia de acordo com a religião-mãe, que é o judaísmo.
Cristão: Deus é todo-poderoso, onisciente e está presente em toda parte. Deus é espírito e existe eternamente em três pessoas, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Deus é também pessoal, o que significa que ele me convida a conhecê-lo e a desenvolver com ele um relacionamento profundo e amoroso.
O que você pensa de Jesus Cristo? De acordo com sua tradição, quem foi Jesus de Nazaré?
Hindu: Este mundo é um teatro de Deus. Ele criou muitas religiões; queria variedade para o próprio prazer. Quando Jesus Cristo apareceu e surgiu o cristianismo, isso foi Deus se manifestando em Jesus Cristo. Nós somos tolerantes com todos os deuses, e pedimos a todo mundo que ore a seu deus, se acreditar nisso, e continue fazendo o que faz.
Budista: Jesus foi um ser humano, um ser humano sábio e compassivo preocupado com o sofrimento da humanidade. E a tradição budista também reconheceria a perspectiva de que Jesus é o filho de Deus, embora não sendo o único caminho para Deus.
Muçulmano: Nós acreditamos nos profetas de Deus, o que inclui Jesus, que a paz esteja com ele. Mas não acreditamos que ele morreu na cruz. O Alcorão diz que ele não foi morto nem crucificado. Ele foi levado para o alto por Deus e voltará um dia para guiar toda a humanidade de acordo com o islamismo.
Judeu: Quanto à primazia de Jesus em relação a qualquer figura central de outra religião, nós deixamos que qualquer um decida isso por si mesmo. Temos a nossa Bíblia e os nossos profetas, e outros têm sua Bíblia e seus profetas, e não discutimos nada além disso.
Cristão: Jesus Cristo é o único Filho de Deus, plenamente humano e plenamente divino, sem pecado, o único digno e qualificado para perdoar o pecado. Ele provou que era Deus quando foi ressuscitado e também provou que podia vencer a morte e perdoar o pecado.
Uma pergunta final: E a vida depois da morte? Se você tivesse de morrer depois deste ato religioso, o que aconteceria?
Hindu: Os hindus acreditam na reencarnação, uma continuação da vida. Antes do meu nascimento, devem ter ocorrido milhares de outros nascimentos meus. Com base em minhas ações e em meu próximo nascimento, eu poderia reencarnar-me numa criatura mais vil, ou poderia elevar-me, pelo menos até atingir o estado de plena consciência.
Budista: A vida após a morte é problemática. Se a iluminação ocorreu antes da morte, então haverá uma libertação completa, ou um completo nirvana, que não se pode descrever ou explicar; não é nem consciência eterna nem eterna aniquilação; não está ao alcance de nossa capacidade intelectual compreendê-lo.
Muçulmano: Todos os seres humanos têm um lugar reservado no céu e no inferno. Os anjos perguntarão a você o que aconteceu na sua vida, quem era o seu Deus, quem era o seu profeta, qual era a sua religião, qual era o seu livro. Assim, na hora da morte, aos que vão para o céu será mostrado o lugar reservado para eles no inferno — e o que aconteceu pela graça de Deus para que eles fossem salvos de ir para o inferno — e em seguida eles serão enviados para o céu. No caso oposto, as pessoas terão o tratamento inverso. Temos todos de estar preparados.
Judeu: Os rabinos têm dito que a qualidade da vida de um indivíduo após a morte depende da natureza de sua vida na terra. “Os justos de todas as nações do mundo terão sua participação no mundo futuro.”
Cristão: A alma viverá para sempre na eternidade, e as escolhas que fazemos aqui e agora determinarão nosso destino eterno. Se escolhemos ignorar ou rejeitar Deus, ou ignorar o problema da separação de Deus, isto é, o pecado, passaremos a eternidade separados de Deus, num lugar chamado inferno. Em contrapartida, se escolhemos resolver o problema da separação de Deus recebendo Jesus Cristo em nossa vida e permitindo que ele perdoe nossos pecados e supere o vão que nos separa, passaremos a eternidade com Deus no céu.
Está claro que nem todas as religiões ensinam as mesmas respostas para as questões fundamentais. (Eu deveria observar que, naturalmente, outros representantes das mesmas religiões citadas poderiam ter expressado suas crenças de modo diferente.)
“Vivemos num mundo muito diversificado, e temos de aprender a aceitar e respeitar pessoas que representam religiões diferentes e mostrar deferência e amabilidade a elas”, disse Bill Hybels no fim do ato religioso. “Espero que, ao deixar este lugar, vocês saiam tendo em mente as palavras de Jesus: a suprema lei ou o supremo valor do reino é a lei do amor. Embora possamos discordar acerca da direção de nossas convicções e crenças, somos chamados a ser compassivos, compreensivos e respeitosos em relação aos que acreditam diferentemente.”
“I Have a Friend Who Thinks All Religions Are the Same”, Willow Creek Association, Week 11, 2001.
Citado por Philip Yancey em O Eclipse da Graça