Calmaria na saúde
Viroses e infecções diminuem com a melhora do sistema imunológico
No útero os bebês recebem da mãe os primeiros anticorpos para chegar ao mundo protegidos e essa transferência continua durante a amamentação. Depois, é o contato com vírus e bactérias que ajuda a criança a fortalecer o sistema imunológico. Até os 6 anos, são comuns as ocorrências de infecção de garganta, virose de vários tipos, otite. A boa notícia é que, depois dessa fase, as crianças se tornam mais resistentes às doenças.
Guardados na memória
Os maiores de 5 anos ficam menos doentes porque adquiriram o que os especialistas chamam de memória imunológica. Ela se desenvolve à medida que o organismo é exposto a agentes infecciosos. Eles estimulam a produção de células de defesa para combater vírus, bactérias e outros germes. "Num segundo contato com esses agentes, o corpo já sabe como se proteger e consegue eliminar o invasor rapidamente, sem que ocorra uma doença" (Regina Harue Yada Leite, do Hospital e Maternidade São Camilo, em São Paulo). Caso os pais não percebam essa mudança no filho, é importante procurar um imunologista. "A criança ficar doente com freqüência nessa idade pode ser sinal de alguma imunodeficiência", diz Regina.
Os dez sinais de alerta para imunodeficiência primária na criança são:
1. Duas ou mais pneumonias no último ano
2. Quatro ou mais novas otites no último ano
3. Estomatites de repetição ou monilíase (sapinho) por mais de dois meses
4. Abscessos de repetição ou ectima
5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia)
6. Infecções intestinais de repetição/diarreia crônica;
7. Asma grave, doença do colágeno ou doença autoimune
8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por micobactéria
9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à imunodeficiência
10. História familiar de imunodeficiência.
Caso a criança apresente 1 ou mais desses sinais de alerta, o pediatra deverá considerar a investigação laboratorial e o acompanhamento especializado com um imunologista.
Até a adolescência
Uma criança de 2 a 3 anos que convive com outras contrai mais infecções porque, embora sadia, sua memória imunológica é pequena. Estudos feitos em São Paulo, segundo o departamento de Pediatria do Hospital Albert Einstein, verificaram que a criança dessa idade pode ter mais de uma doença respiratória por mês e que uma em cada quatro que freqüentam creches apresenta coriza ou tosse. "Hoje, como as crianças entram muito pequenas na escola, esse repertório imunológico é estimulado mais cedo, mas só irá se igualar ao de um adulto na adolescência", ressalta a pediatra Maria Cecília Aguiar, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Proteja seu filho
• Mantenha o Calendário Vacinal sempre atualizado.
• Estimule alimentação saudável.
• Priorize passeios e brincadeiras ao ar livre ou em locais ventilados. Ambientes fechados são mais propícios à contaminação por vírus e bactérias.
• Não mande seu filho doente para a escola.
MITOS E VERDADES
Devo dar cápsulas de vitamina C e multivitamínicos
Mito. Os suplementos só ajudam quando há recomendação médica para eles. “O uso de vitaminas é muito controverso e relativo”, comenta Karina Moreira Silva de Abreu, pediatra da DaVita Serviços Médicos. As vitaminas e minerais são importantes para o sistema imune da criança, mas é preciso obtê-los através da alimentação e só suplementar quando há uma deficiência nutricional comprovada.
“Em alguns tabletes de vitamina C é possível encontrar uma dose 300 vezes superior à recomendada ao adulto, imagine para as crianças”, explica Márcia Yamamura, médica pediatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Entre eles, podemos citar as vitaminas C, D e A, zinco, ferro, ácidos graxos e as fibras”, comenta Adriana Garofolo, do GRAAC. Para fornecê-los, aposte em frutas cítricas como o limão e a laranja, vegetais verde-escuros, leite e derivados, ovos, carnes, feijão, oleaginosas, aveia e carnes.
Criança que se suja fica menos doente
Verdade. Claro, não estamos falando para ninguém deixar o filho na sujeira pura, mas é fato que ele precisa ter contato com agentes patógenos presentes no ambiente para desenvolver seu sistema imune adequadamente. “Hoje nossa rotina mudou e muitas crianças não tem mais esse contato com a natureza, de sentar no chão, estar em áreas externas. E o que vemos é um índice maior de alergias”, aponta Karina.
Se meu filho fica gripado toda hora, tem a imunidade baixa
Depende. É normal crianças contraírem infecções virais com frequência pelo contato próximo . “O que deve chamar atenção são as infecções bacterianas de repetição, que exigem o uso de antibióticos várias vezes ao ano”, aponta Karina. Baixo peso e pouco crescimento também indicam que as defesas podem estar prejudicadas.
O estado emocional influencia na imunidade
Verdade. A exposição constante ao estresse desencadeia a liberação de cortisol no corpo, um hormônio que desequilibra o sistema imunológico. Nas crianças pequenas, o mais comum é que o estresse seja uma consequência (e não uma causa). “Pais que são muitos estressados acabam passando um pouco disso para a criança, que absorve a tensão”, explica Karina.
Se meu filho comer mais alho, cebola, mel ou gengibre ficará mais protegido de doenças
Mito. Esses alimentos são saudáveis e benéficos, mas não obrigatórios. “Não existe nenhuma recomendação de aumentar o consumo de alimentos específicos para prevenção de doenças, o que conta mais é uma dieta balanceada”, explica Adriana. O mesmo vale para fitoterápicos como chás e o propólis. Pode consumir, mas não espere milagres. “Não existe uma receita mágica para subir a imunidade, é um conjunto de fatores”, esclarece Fabianne.
Parto normal e leite materno são importantes para a imunidade
Verdade. Na descida pelo canal vaginal da mãe, o bebê é coberto de bactérias e fungos presentes ali, o que é ótimo porque eles serão os primeiros habitantes da microbiota intestinal do bebê — o conjunto de bactérias e microorganismos que mora no órgão e atua no sistema imune. Uma microbiota saudável está associada, por exemplo, ao risco menor de alergias.
Vacinas sobrecarregam o sistema imunológico do bebê
Mito. Esse é um dos principais argumentos do movimento anti-vacina. As vacinas são seguras e isso já foi comprovado por muitos estudos científicos. Para se ter ideia, estima-se que a criança seria capaz de responder a 10 mil vacinas oferecidas simultaneamente. Se 11 vacinas fossem aplicadas ao mesmo tempo, isso acionaria 0,1% do sistema imune, como mostrou um estudo clássico de 2002 publicado no periódico Pediatrics da Associação Americana de Pediatria.