Estimulantes de Apetite
Temos um bebê de quase onze meses que nos preocupa muito. Desde que ele nasceu não come bem (só pude amamentá-lo por um mês e meio) e aos três meses já tínhamos que dar a mamadeira com colher porque ele não queria comer e era a única forma de meter alguma coisa dentro. Aos cinco meses o levei a um pediatra novo que me receitou um estimulante de apetite chamado Pantobamin, que funcionou muito bem durante o mês e meio que estivemos dando, mas quando paramos de dar, voltamos ao problema. Depois, aos nove meses, voltamos a dar e não teve o mesmo efeito, mas ele comia melhor. Mas agora, desde que paramos de dar, é muito pior, porque ele faz o que nunca tinha feito antes, que é vomitar. Além disso, desde que enfiamos a colher (desde a primeira) ele começa a dar umas arcadas que me preocupam, porque o dia que ele não vomita o café da manhã, vomita o almoço, e se não o lanche, e se conseguimos passar por todas as refeições, ele com certeza vomita o jantar. A hora das refeições se transformou em um inferno. Sua mãe, que é a que passa mais tempo com ele, precisa de um psiquiatra, porque o tema da comida a angustia muito, porque ela diz que ele não crescerá como os outros.
Existem no mercado dois tipos de estimulantes de apetite:
os que funcionam e os que não.
1. Os que não funcionam são combinações mais ou menos fantasiosas de vitaminas e coisas estranhas, habitualmente com um nome impactante que faz referência ao metabolismo, ao crescimento, ao dinamismo, às transfusões ou alguma coisa desse tipo. São o equivalente moderno daquele “Tônico-Cura-Tudo-do-Doutor-Fulano” que os charlatães vendem nos filmes do velho oeste (de fato, alguns também contêm álcool). Em geral, em doses pequenas e durante períodos curtos eles são bastante inócuos, mas nem sempre estão isentos de perigo. Sempre pode haver uma alergia a algum dos componentes ou aos seus excipientes e colorantes, e foram descritos efeitos tóxicos de algumas plantas “estimulantes”, como o ginseng. Além disso, algumas vitaminas e minerais podem ser tóxicos se forem consumidos em excesso.
Quase todos os médicos concordam que esses “tônicos” são absolutamente inúteis, mas muitos os receitam como placebo. Um placebo (em latim complaceré) é um falso medicamento que é dado ao paciente para que ele fique feliz. Às vezes, dar uma receita “para que ele se cale” é mais fácil e rápido do que explicar ao paciente a verdade. Também é verdade que alguns pacientes exigem um medicamento de qualquer maneira, e às vezes o médico tem que se render e receitar um placebo inofensivo por temer que o paciente compre por conta própria um medicamento mais perigoso (na Espanha, por exemplo, infelizmente é fácil conseguir os medicamentos sem receita). Aliás, se você não quer que lhe receitem placebos nessa ou em outras situações, é uma boa ideia dizer isso ao médico desde o primeiro momento e lembrá-lo de vez em quando: “Não gosto de dar remédios a ele sem necessidade. Se você acha que o que ele tem vai se curar sozinho, não precisa receitar nada”. Muitos pediatras responderão com um amplo sorriso de alívio.
2. Os que funcionam são farinha de outro saco. Quase todos contêm cipro-heptadina (misturada com diversas vitaminas para distinguir uma marca das outras).
É importante lembrar que a “vontade de comer” não está no estômago, assim como o amor não está no coração. O apetite está no (ou está controlado pelo) cérebro. A cipro-heptadina (e algum parente, como a di-hexazina) atua sobre o centro cerebral do apetite, da mesma maneira que os comprimidos para dormir atuam no cérebro. A cipro-heptadina é, na verdade, um psicofármaco e seus principais efeitos secundários vão nesse sentido: sonolência (um efeito frequente, que pode afetar o rendimento escolar), sequidão da boca, dor de cabeça, náuseas e, mais raramente, crises hipertensivas, agitação, confusão ou alucinações e diminuição da secreção do hormônio de crescimento (baixinho e gordo, para arrematar o sucesso do tratamento!). A intoxicação (se a criança pega o frasco e decide tomar tudo) pode produzir sono profundo, debilidade e incoordenação muscular, convulsões e febre.
É claro que esses efeitos secundários graves são muito raros. Não os citamos aqui para que você se assuste se algum dia teve que dar um desses xaropes ao seu filho (se lhe contássemos todos os possíveis efeitos secundários de medicamentos tão ordinários como a amoxicilina ou o paracetamol, você também levaria um bom susto). Sempre que você toma um medicamento está assumindo um risco. O importante é que, quando uma criança está doente e precisa de tratamento, o risco é muito inferior ao benefício. O problema dos estimulantes de apetite é que as crianças que os tomam não estão doentes, nem precisam de tratamento. O benefício é nulo e qualquer risco, por menor e mais remoto que seja, é inadmissível.
Mas sem dúvida o maior perigo da cipro-heptadina é justamente que ela de fato funciona: a criança come mais. Mais do que ela precisa, mais do que convém. Por sorte, o efeito desaparece assim que a criança para de tomar o medicamento, e a maioria das crianças volta a perder em poucos dias o peso que tinha ganhado (se é que tinha ganhado algum). Esse “efeito rebote” costuma demonstrar à família que o medicamento é inútil, e assim param de usá-lo. Mas alguns caem na tentação de continuar usando continuamente, durante meses e até mesmo anos. Que efeito pode ter para uma criança comer além da conta durante meses ou anos, e além disso fazer menos exercícios físicos por causa da sonolência? Certamente nada bom.
Também foram usadas ervas e diversos produtos “naturais” para fazer com que as crianças comam. Todos eles, por mais “naturais” que sejam, podem ser classificados em um dos grupos anteriores: os que funcionam e os que não (o problema é que às vezes não temos dados suficientes para distingui-los). Se não funcionam, para que perder tempo e dinheiro? E se funcionam, seus perigos serão similares aos da cipro-heptadina. Primeiro, porque se eles realmente aumentam o apetite, provavelmente atuam sobre o cérebro. Segundo, porque não se pode fazer com que uma criança coma além do necessário sem que, a longo prazo, isso prejudique sua saúde.
Felizmente, parece que já saíram de moda as quinquinas e outras bebidas alcoólicas que eram usadas há uns anos para abrir o apetite. Não é preciso nem dizer que nunca se deve dar álcool a uma criança.
Em resumo, os estimulantes de apetite são inúteis quando não funcionam e perigosos quando funcionam, seu efeito é passageiro e têm um efeito rebote. Não devem ser usados jamais.