Fabricação e venda de andadores para bebês podem estar com os dias contados no Brasil
A prevenção de acidentes com potencial letal é um dos argumentos do relator do projeto, o deputado federal Diego Garcia (Pode-PR)
Andadores para bebês poderão ser proibidos no Brasil, conforme prevê projeto aprovado nesta quinta (22) pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. A proposta indica a proibição tanto na fabricação quanto na venda e no uso deste tipo de equipamento, por conta do risco elevado de acidentes e a falta de evidências dos benefícios.Além de não contribuir para que a criança caminhe mais rapidamente, o andador convencional (onde a criança é “encaixada”) pode atrapalhar o desenvolvimento motor do bebê:
“Há trabalhos que indicam que as crianças com andadores andam mais tarde do que em relação às crianças que não usam os andadores. E isso é justificável, porque a criança, para começar a caminhar, precisa desenvolver a marcha, a coordenação motora, e o andador evita isso”, explica Edilson Forlin, médico ortopedista pediatra do hospital Pequeno Príncipe e professor da UFPR.
Com relação à deformidades, Forlin explica que não está confirmada a influência dos andadores em algum problema do tipo. No entanto, a dependência que as crianças criam com relação ao objeto pode atrapalhar o caminhar natural.
De acordo com Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico e professor de Ortopedia da PUCPR, “a criança cria o hábito de andar só com o andador, que dá a sensação de segurança para ela, e isso pode deixá-la mais ‘preguiçosa’ para caminhar. Mas não necessariamente vá atrasar o desenvolvimento. Os pais precisam lembrar que a maturidade neurológica da criança vem de forma espontânea, fisiológica, não precisam adiantar nada.”
“O processo de caminhar é fisiológico e cada fase da criança indica uma maturidade neurológica. Primeiro ela sustenta a cabeça, depois senta, depois eventualmente começa a engatinhar e o processo a seguir é o caminhar, cujo tempo é variável”, explica Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico.
Idade certa
Não existe uma idade correta para as crianças se levantarem e começarem a caminhar. Em geral, próximo do primeiro ano de idade, os bebês dão alguns indícios que vão dar os primeiros passos:
“Tem muita variação. Crianças que andam com um ano e três meses, um ano e quatro meses. Os pais precisam ficar cientes que existe essa variação. Se a criança tem um ano e quatro meses e não anda, é normal. Assim como a criança que caminha com 10 meses”, reforça Edilson Forlin, ortopedista pediatra.
Quais andadores são proibidos?
Os andadores circulares, em que a criança é “vestida” ao equipamento são os mais conhecidos e alertados pelos médicos, porque tentam acelerar um processo fisiológico que ela nem sempre está preparada.
“O andador convencional mantém a criança em pé, mas isso não significa que os membros inferiores estejam fortes o suficiente para fazê-la andar. A criança é ‘sustentada’ pelo andador e, como ela começa a ver o mundo de uma posição nova, isso desperta a curiosidade e ela se projeta para frente. Como as crianças nessa fase têm uma cabeça mais pesada, ocorrem as quedas”, explica Lygia Coimbra de Manuel Petrini, médica pediatra e coordenadora da UTI Pediátrica do Hospital VITA Curitiba.
No caso dos andadores que simulam um carrinho de empurrar, não há uma associação maior com a queda, conforme explica Petrini. “Eles nem recebem o nome de andador efetivamente, e esses carrinhos só funcionam se a criança conseguir se levantar sozinha, trocar os próprios passos. O risco de queda é normal ao proceso da criança que está começando a andar. Mas aquele andador tipo um funil, um ofurô vazado, esse tem um risco de queda grande associado”, reforça a pediatra.
Riscos à saúde
Quando está no andador, a criança tem mais liberdade para circular pela casa. Se o ambiente não estiver protegido, o risco de que ela entre em contato com substâncias e produtos proibidos é maior. A Academia americana de Pediatria e o médico ortopedista pediatra Jamil Soni alertam para cinco acidentes comuns:
Queda das escadas. Pela falta de controle sobre o andador, a criança pode se envolver em acidentes de queda de nível importantes, como pelas escadas. Esses podem levar a ossos quebrados e diversas lesões.
Queimaduras. A liberdade de circular pela casa, e a maior altura favorecida pelo brinquedo, faz com que a criança alcance cabos de panelas, bocal do fogão, até mesmo tomadas que antes não conseguia alcançar.
Afogamentos. Sem supervisão dos pais, a criança pode cair em uma piscina ou banheira com o andador, aumentando o risco de afogamentos.
Intoxicação. Mesmo que os pais deixem substâncias tóxicas, como produtos de limpeza, em uma altura que a criança não alcance, o andador favorece esse contato. Sem supervisão, a intoxicação é um risco grande.
Choques contra paredes. Sem controle do objeto, a criança pode ganhar uma velocidade muito acelerada e se chocar contra paredes e objetos. Esses acidentes levam a traumas de crânio e face.
“Alguns pais dizem que adotam o andador porque ele possibilita que façam outras coisas, enquanto a criança fica livre. Mas é aí que surgem os acidentes, os descuidos. Eu indico aos pais para não usarem o andador, mas colocar o filho no cercadinho no chão. A criança vai ficar sentada, vai se levantar sozinha e, sem nenhum objeto perigoso perto dela, vai ser mais seguro”, sugere Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico.