Meu filho fica muito doente!


As infecções de repetição são queixa frequente nos consultórios pediátricos, principalmente as infecções respiratórias. Rinite, Sinusite, Amigdalite, Bronquite e Gastroenterite fazem parte deste vasto repertório.

Por que eles ficam tão doentes?

O ser humano possui dois tipos de resposta imune: a imunidade inata ou natural (resposta imune inata) e a imunidade adquirida ou adaptativa (resposta imune adquirida).
A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, com a qual ele já nasce. A pele, as secreções do trato respiratório, a tosse/espirro, as mucosas oral, vaginal e retal fazem parte da imunidade inata.
A imunidade adquirida é ativada pelo contato do organismo com agentes infecciosos. Este contato estimula a produção de anticorpos e células de combate aos agentes invasores. Os anticorpos produzidos tendem a ser específicos para cada agressor.
O Sistema Imunológico inicia sua formação durante a gestação. Células-tronco aparecem primeiro no feto com 2,5 a 3 semanas de idade gestacional, migram para o fígado fetal com 5 semanas de gestação e depois residem na medula óssea, onde permanecem durante toda a vida. Mais de 1.600 genes estão envolvidos na produção de anticorpos! Evolution of the immune system in humans from infancy to old age. Proc Biol Sci. 2015 Dec 22; 282(1821): 20143085.

Durante a gestação o feto recebe anticorpos maternos pela placenta. Estes anticorpos serão responsáveis pela imunidade do bebê nos primeiros 6 meses após o nascimento - reforçados pelos anticorpos recebidos através do Leite Materno.
Ao nascimento o sistema adaptativo funciona de forma imatura. Esta imaturidade justifica a frequência elevada de infecções em crianças saudáveis nos primeiros anos de vida.

Até quantos episódios pode ser considerado normal?

A quantidade de infecções é pouco importante. Para se dar um exemplo, só da família dos rinovírus existem mais de 100 tipos de vírus diferentes que podem causar o resfriado comum!
Estudos estimam que uma criança menor de 6 anos tenha em, média, de 6 a 8 episódios de resfriado comum por ano!
Estatísticas (menos otimistas) chegam a afirmar que, no primeiro ano de escola, a criança possa adoecer até 12 vezes!

Será que ele(a) tem imunidade baixa?

A frequência elevada de infecções nos primeiros anos de vida não indica, necessariamente, deficiência imunológica.

Aproximadamente 50% das crianças com infecção respiratória de repetição são saudáveis, 30% tem alergias, 10% são portadores de doenças crônicas e até 10% podem ter algum tipo de imunodeficiência primária.
Os dez sinais de alerta para imunodeficiência primária na criança são:
1. Duas ou mais pneumonias no último ano
2. Quatro ou mais novas otites no último ano
3. Estomatites de repetição ou monilíase (sapinho) por mais de dois meses
4. Abscessos de repetição ou ectima
5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia)
6. Infecções intestinais de repetição/diarreia crônica;
7. Asma grave, doença do colágeno ou doença autoimune
8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por micobactéria
9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à imunodeficiência
10. História familiar de imunodeficiência.
As imunodeficiências primárias (IDP) ocorrem em 1 para cada 2 mil nascidos vivos, tratando-se de distúrbios de um ou mais componentes do sistema imunológico, sendo a quase totalidade dos casos de caráter hereditário. São patologias graves que exigem tratamentos sofisticados e especializados. Se seu filho apresenta infecções de repetiçao que respondem aos tratamento usuais (mesmo que apresente recaídas) é pouco provável que tenha deficiência imunológica.

O que é possível fazer para ele(a) não ficar tão doente?

Vários fatores podem predispor as infecções nessa fase, como frequência a creche ou escolinha, ter irmãos mais velhos, exposição a fumaça de cigarro e poluição atmosférica, desmame precoce, baixa condição socioeconômica, além de residir com muitas pessoas.

» Amamentação

O Leite Materno e o alimento mais completo que você pode oferecer ao seu filho. Só ele é capaz de suprir todas as necessidades de nutrientes e sais minerais do seu bebê até os 6 meses. Colabora para a formação do sistema imunológico da criança, previne muitas doenças, como alergias, obesidade, anemia, intolerância ao glúten etc.

» Promova uma alimentação variada

Seguir uma dieta rica em nutrientes garante que o estado nutricional da criança se mantenha dentro do esperado, nem abaixo nem acima. É por meio de uma alimentação variada que a criança consegue suprir todas as suas necessidades de ferro, proteína, cálcio, fibras, vitaminas e minerais. “Carnes, especialmente as vermelhas, oferecem nutrientes importantes para o desenvolvimento das crianças e são absorvidos facilmente pelo organismo”. É importante incluir também vegetais verde-escuros, vermelhos e laranjas, para garantir as vitamina A e D.

» Vacinação

O calendário brasileiro de vacinação é um dos mais completos do mundo. Por isso, deixar de proteger o seu filho está fora de questão. Ao manter a caderneta de vacinação da criança em dia, você garante não apenas a saúde dela, mas da população ao redor e ajuda a diminuir a mortalidade infantil. As vacinas estimulam a produção de anticorpos específicos para vírus e bactérias de maior potencial agressivo.

» Lavar as mãos

Simples e eficaz. Lavar as mãos com água e sabão é uma das formas de evitar o contágio de doenças infectocontagiosas. Segundo a Unicef, no Brasil, lavar as mãos, principalmente após usar o banheiro, antes de comer e depois de brincar ao ar livre, ajuda a reduzir em mais de 40% os casos de doenças diarreicas, e em quase 25% os casos de infecções respiratórias.

» Dormir bem

Uma boa noite de sono é fundamental para o seu filho estar disposto para mais um dia pela frente. Só que, para isso, ele precisa ter uma rotina saudável, o que inclui horários para comer, dormir, estudar, praticar atividades físicas. Isso tudo vai impactar diretamente na saúde da criança. Vale reforçar aqui que estudos já mostraram que a privação de sono aumenta o risco de obesidade.

» Brincar mais ao ar livre

É dessa forma que seu filho vai trocar o ar dos pulmões, ter contato com o sol - para aumentar a produção da vitamina D no organismo - e até com novas bactérias que vão ajudá-lo a fortalecer o sistema imunológico.

Cuidado com os modismos

Diversos estudos controlados não conseguiram comprovar a eficácia da imunoterapia ou dessensibilização no tratamento da asma. A imunoterapia com alérgenos múltiplos não tem qualquer indicação. A imunoterapia pode ser uma alternativa (controversa) em pacientes com doenças moderadas/graves que não respondem às medidas de controle de ambiente e ao uso da medicação usual. Nestes poucos casos em que está indicada, deve ser administrada por especialista treinado e em ambiente em que o paciente possa ser imediatamente tratado em caso de reação anafilática grave.