O Cristão e a Cultura
Philip Yancey em O Eclipse da Graça fornece Cinco Sugestões para os cristãos da atualidade sobre a interação com a cultura. Compartilho da preocupação de Yancey sobre como vamos responder a outros num ambiente cheio de opiniões que se chocam. Me preocupo com o apagamento da graça, a erosão de um evangelho que, para muitos, soa cada vez menos como uma boa-nova. É estranho que os seminários se esforcem para formar líderes capazes de responder a perguntas que já não são feitas no nosso tempo, enquanto ignoram temas mais relevantes para nossa geração.
Cinco sugestões
A mudança na sociedade americana, que depois de admirar os cristãos passou a temê-los e a criticá-los, oferece uma oportunidade de autorreflexão. Como temos apresentado a mensagem em que acreditamos? Poderia haver uma forma mais imbuída de graça para isso?
Alguns querem concentrar-se na moral pessoal e deixar a moral pública ao cuidado dos políticos seculares. Outros procuram maneiras de guiar a cultura mais ampla e ao mesmo tempo comunicar a graça. Em vez de propor apenas um caminho, prefiro fazer uma série de observações e sugestões para consideração dos cristãos enquanto interagimos com um mundo que nem sempre compartilha nossos pontos de vista.
1. Choques entre Cristo e a cultura são inevitáveis
John Howard Yoder contou 51 situações distintas em que o próprio Jesus enfrentou injustiças,? e durante toda a história os seguidores dele percorreram o mesmo caminho. Os primeiros cristãos ajudaram a acabar com as práticas romanas das lutas de gladiadores e do infanticídio e, a partir dessa época, eles lideraram campanhas morais contra abusos como a escravidão e o tráfico sexual. Até mesmo grupos separatistas precisam se envolver com a cultura o pacifismo dos anabatistas, por exemplo, se impõe como uma poderosa declaração moral.
Os cristãos devem sempre discernir quais injustiças merecem um embate, mas uma retirada completa é ruim tanto para a igreja como para o estado. A Alemanha nazista submeteu ao mais rigoroso teste a doutrina dos dois reinos proposta por Lutero, um teste em que a igreja na sua maior parte fracassou. Praticando uma fé pessoal, sem nenhuma tradição de oposição ao estado, os líderes da igreja alemã esperaram até que fosse tarde demais para protestar. De fato, muitos líderes protestantes de início saudaram os nazistas como uma alternativa ao comunismo, e alguns adotaram um lema que hoje parece obsceno: A Suástica no peito, a Cruz no coração.?
No fim, alguns cristãos tomaram consciência da ameaça. Martin Niemller publicou uma série de sermões desafiadoramente intitulada Christus ist mein Fhrer (Cristo [e não Hitler] é meu Guia).? Niemller passou sete anos num campo de concentração; num outro, Dietrich Bonhoeffer foi executado. Acabou que cristãos fiéis integravam um dos poucos grupos dentro da Alemanha a opor-se a Hitler. Sindicatos, parlamento, políticos, médicos, cientistas, professores universitários, advogados todos capitularam. Uma pequena mas determinada minoria de cristãos conscientes de sua lealdade a um poder superior resistiu, e sua corajosa atitude atraiu a atenção do mundo: de 1933 a 1937 o jornal The New York Times publicou cerca de mil reportagens sobre a luta da igreja alemã.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o lado oriental da Alemanha viu-se sob uma espécie diferente de governo totalitário: foi o início de quatro décadas de dominação soviética. Alguns anos atrás, entrevistei um pastor da Saxônia que relembrou as dificuldades que os cristãos enfrentaram sob o comunismo. Naquele tempo, seus filhos tinham limitadas oportunidades de educação, e ele precisava trabalhar como encanador para suplementar seu parco salário de pastor. Com a queda do muro de Berlim, tudo mudou. Embora menos de 20% dos cidadãos da Saxônia fizessem agora parte da igreja, o pastor estima que 70% dos parlamentares são cristãos ativos, praticantes. Tendo vivido sob o nazismo e depois sob o comunismo, os cristãos rapidamente ocuparam um vácuo cultural para ajudar a recém-libertada sociedade a lançar os fundamentos da moral e do direito. Eles conhecem a fundo o que pode ocorrer quando os cristãos são excluídos da esfera pública.
Como o pastor aprendeu, trabalhar no seio da democracia apresenta uma espécie diferente de desafio. Implica trabalho cansativo e compromissos complicados. Stephen Monsma, um cristão que prestou serviços a uma legislatura do estado de Michigan, escreveu sobre as penosas lutas para aprovar em seu estado uma lei sobre dirigir embriagado uma questão que pede um claro consenso moral. Ele compara sua visão original de fazer o bem a ficar sentado junto a uma aconchegante lareira em sua sala de estar escolhendo deliciosas verduras e lindas flores num catálogo de sementes; o verdadeiro trabalho, disse ele, se parece mais com as atividades do jardineiro cavando a terra, arrancando ervas daninhas e combatendo insetos.?
Há várias maneiras de envolver-se com a cultura. Alguns cristãos expressam suas convicções pró-vida fazendo piquetes; outros, fazendo trabalho voluntário em casas de saúde e em centros de orientação para grávidas; ainda outros trabalham para a organização Mothers Against Drunk Driving [Mães Contra Dirigir Alcoolizado] ou fazem campanhas contra a pena de morte. Alguns debatem questões éticas no seio da academia, enquanto outros assumem a tediosa tarefa de redigir leis.
A democracia sempre exige negociação e compromisso. Enquanto ocupava a chefia do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, C. Everett Koop foi alvo da ira de colegas conservadores que defendiam a abordagem tudo ou nada em questões morais e se opunham a qualquer acordo sobre o aborto. Koop, que compartilhava com eles a férrea convicção de que todo aborto é errado, chegou a esta conclusão: Um dos problemas do movimento pró-vida é que seus defensores são cem porcentistas. Historicamente, é verdade que se o movimento pró-vida se tivesse sentando à mesa em, digamos, 1970 ou 1972, com os defensores do movimento pró-escolha, nós poderíamos ter chegado a um acordo sobre o aborto em casos de riscos de morte da mãe, de bebês defeituosos, estupros e incestos, e nada além disso; o que teria evitado 97% dos abortos cometidos desde aquela época.? Foi só depois de perder a batalha absoluta que o movimento pró-vida mudou de tática visando restringir em vez de abolir o aborto; depois disso, centenas dessas leis foram aprovadas em legislaturas estaduais.
A democracia moderna, que cresceu em solo cristão, nos obriga a reconhecer direitos de outros mesmo quando discordamos frontalmente das posições deles. Procuramos persuadir, mas não coagir. Mais ainda, o evangelho manda que eu ame o meu inimigo bem como o meu próximo. Nós cristãos podemos trabalhar com instituições, mas sendo sempre cautelosos com as limitações e sempre conscientes de nossa obrigação primária de amar. As instituições não podem realmente expressar amor; justiça é o máximo que elas conseguem.
2. Os cristãos deveriam escolher suas batalhas com sabedoria
O sociólogo Peter Berger escreveu sobre duas funções da religião: manter o mundo e sacudir o mundo.? Os fundadores dos Estados Unidos reconheceram que a democracia, com menos controle de cima para baixo e mais liberdade, precisa de uma fundamentação religiosa para orientar e motivar seus cidadãos. Nas palavras de John Adams: Nossa constituição foi feita apenas para um povo moral e religioso. Ela é totalmente inadequada para o governo de qualquer outro povo.? Os líderes da nação contavam com a igreja para o papel de manter este mundo, ensinando e equipando os cidadãos para um comportamento responsável.
Entretanto, quando a igreja assume a função de sacudir o mundo, ela deve fazê-lo com sabedoria e cuidado. Infelizmente, os cristãos envolvidos com a política tenderam a sair pela tangente. Nas décadas de 1840 e 1850, o apropriadamente denominado movimento do Não-Sei-Nada demonizou os católicos e despertou histéricos temores contra eles. O historiador Mark Noll escreveu sobre a onda de protestos que surgiu em 1844 quando um bispo católico solicitou que as escolas católicas tivessem a permissão de ler sua própria versão da Bíblia em vez da versão King James; vândalos da Filadélfia queimaram várias igrejas católicas e mataram mais de uma dezena de pessoas. Já em 1960, a Associação Nacional de Evangélicos incentivou todo o clero evangélico a proclamar, no Dia da Reforma Protestante [31 de outubro], os perigos de ter um presidente católico. Faltavam poucos dias para a eleição de John F. Kennedy.
A campanha moral da igreja que marcou sua época foi a lei da proibição da venda de bebidas alcoólicas, a Lei Seca, que absorveu dos cristãos protestantes mais energia que qualquer outro esforço político. Os líderes entendiam bem como funciona a democracia e como se consegue um consenso público. Seus defensores persuadiram o grande público de que o álcool tinha altos custos em termos de saúde, expectativa de vida, pobreza, colapso da família, trabalhadores ineficientes e deterioração social. A Lei Seca obteve êxito por causa da rígida educação e do habilidoso trabalho nos bastidores. As primeiras feministas juntaram-se à causa, engrossando as fileiras do movimento. Um partido da Lei Seca chegou a apresentar candidatos à presidência, e em duas décadas os Estados Unidos, que inicialmente contavam com cinco estados em que vigorava a Lei Seca, aprovaram uma emenda constitucional para toda a nação, que apenas dois estados deixaram de ratificar.
Durante cinco anos, a nação em geral obedeceu. Depois, o consumo de bebidas começou a aumentar, junto com o crime organizado e a corrupção. A legislação era severa demais e indispunha outros grupos religiosos, como os judeus e os católicos, que não viam nenhum problema na ingestão moderada de bebida. Em última análise, opina o historiador Paul Johnson, o que inicialmente pareceu a maior vitória para o evangelicalismo americano transformou-se em vez disso em sua maior derrota. O fracasso dessa cruzada moral tirou os protestantes da arena política, e somente no final do século 20 eles voltariam em grande número.
Quanto mais os cristãos se concentram em questões tangenciais, tanto menos seremos ouvidos em questões verdadeiramente importantes. Pouco ouço falar, da parte dos evangélicos, sobre o impacto da proliferação de armas em crimes violentos; menos ainda sobre uma questão como o desarmamento nuclear. Não ouço quase nada sobre serviços de saúde para os pobres e proteção de viúvas e órfãos, coisas ordenadas pela Bíblia. Apenas recentemente os evangélicos assumiram a causa do cuidado para com a criação. Os evangélicos alardeiam valores da família, mas quando uma administração propôs uma lei permitindo que mães tirassem licenças não remuneradas depois do parto, grupos religiosos conservadores se opuseram a ela.
Com demasiada frequência, a pauta de grupos religiosos se assemelha muito à de políticos conservadores ou liberais , e não às prioridades da Bíblia.
3. Os cristãos deveriam travar suas batalhas com sensatez
Mais uma vez os evangélicos não têm o melhor histórico. Certa ocasião, um engenheiro que trabalhava para a Christian Broadcasting Netword [Rede de Televisão Cristã] usou um equipamento de transmissão via satélite para interromper o Canal da Playboy durante sua apresentação do filme American Ecstasy [Êxtase americano] com a seguinte mensagem: Assim diz o Senhor seu Deus. Lembrem-se do dia de sábado para santificá-lo. Arrependam-se, pois o reino de Deus está próximo!. (Ele foi depois processado num tribunal federal.) O chefe dele, Pat Robertson, fez várias declarações estranhas ao longo dos anos, inclusive uma citação famosa sobre a agenda feminista: o movimento político social contra a família que incentiva as mulheres a deixar o marido, matar os filhos, praticar a bruxaria, destruir o capitalismo e tornar-se lésbicas.?
Para sermos ouvidos por uma sociedade pós-cristã já cética em matéria de religião, será necessária uma estratégia cuidadosa. Devemos, nas palavras de Jesus, ser astutos como as serpentes e inocentes como as pombas. Temo que nossos descabidos pronunciamentos, nossos xingamentos e nossa gritaria em suma, nossa falta de graça se mostraram tão perniciosos que a sociedade já não nos procurará em busca da orientação de que ela precisa. Essas táticas, sem falar nos comentários acerca de furacões e atos terroristas como manifestações do julgamento de Deus,? minam a credibilidade de cristãos que se envolvem em questões de cultura.
Numa tática inteligente e digna de louvor, os cristãos protestantes formaram alianças com católicos, judeus e muçulmanos em torno de algumas questões. Todos esses grupos compartilham a crença num único Deus que revelou princípios morais que deveriam nortear nossa vida, e cada grupo tem alguma contribuição a fazer envolvendo a cultura. Tim LaHaye, que se apresenta como fundamentalista, concorda que temos mais coisas em comum entre nós do que jamais teremos com os secularizadores deste país.? Não é nenhuma novidade ver rabinos ortodoxos, sacerdotes católicos e pastores evangélicos de braços dados em protestos diante de clínicas de aborto.
Cinquenta evangélicos e católicos romanos se encontraram com cinquenta judeus para identificar áreas de interesse mútuo: reforma da adoção, reforma do divórcio, oposição ao sexo e à violência gratuitos, educação do caráter nas escolas. E rabinos judeus provocaram alguns dos mais estridentes alarmes acerca dos perigos de uma sociedade puramente secular. O rabino Joshua Haberman escreveu um artigo muito discutido na revista Policy Review no qual ele, um sobrevivente da Alemanha de Hitler, disse: Como judeu, eu divirjo daqueles que acreditam na Bíblia no que se refere à teologia, à agenda social de nosso país e a questões de políticas públicas. Às vezes me repugnam ataques de fanatismo e mesquinhez, assim como o rígido dogmatismo entre extremistas fundamentalistas. No entanto, muito maior que essas diferenças e objeções é o quadro comum de referência espiritual e moral que eu compartilho com os cristãos, inclusive com os fundamentalistas. A Bíblia deu à nossa nação sua visão moral. E hoje o cinturão bíblico dos Estados Unidos é nosso cinto de segurança, a garantia permanente de nossos direitos e liberdades fundamentais.?
Um amigo meu da Inglaterra agitou um ninho de marimbondos entre os internos quando contratou um capelão para uma escola particular voltada para a formação do caráter. Muçulmanos e hindus saíram em sua defesa, embora o capelão fosse cristão. Esses líderes religiosos estão dispostos a deixar de lado suas diferenças em prol de uma causa comum porque sentem uma desesperada necessidade de uma visão moral compartilhada.
4. Ao envolver-se ativamente com a cultura, os cristãos deveriam distinguir o imoral do ilegal
O presidente Bill Clinton tentou estabelecer essa distinção. Como cristão, disse o presidente, ele procurava na Bíblia sua orientação em questões morais. Como presidente dos Estados Unidos, todavia, não podia propor automaticamente que tudo o que fosse imoral fosse declarado automaticamente ilegal. Um conhecido colunista americano aproveitou esse comentário e dedicou uma coluna inteira para atacar a ética situacional e a falsa religiosidade de Clinton.
Mas o presidente, sem dúvida nenhuma, estava certo. Não cobiçarás é uma questão moral que tem seu lugar como um dos dez mandamentos. Que municipalidade ou que governo nacional poderia impor uma lei contra o ato de cobiçar? A soberba é um pecado, é até mesmo a raiz do pecado, mas podemos nós torná-la ilegal? Jesus resumiu a lei do Antigo Testamento neste mandamento: Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento que autoridade humana poderia policiar um mandamento dessa natureza?
Embora os cristãos tenham a obrigação de obedecer aos mandamentos de Deus, isso não significa que devemos ipso facto decretar esses mandamentos como leis. Nem mesmo a Genebra de João Calvino ousaria transformar o Sermão do Monte num código legal. O satírico autor americano já falecido Kurt Vonnegut escreveu: Por alguma razão, os cristãos que mais se pronunciam nunca mencionam as bem-aventuranças. Mas muitas vezes com lágrimas nos olhos eles exigem que os dez mandamentos sejam afixados em prédios públicos. E obviamente isso é Moisés, e não Jesus. Eu não ouvi nenhum deles exigindo que o Sermão do Monte, o das bem-aventuranças, fosse afixado em algum lugar.?
Um presidente do Supremo Tribunal do Alabama ganhou as manchetes em 2001 quando desafiou as autoridades instalando em seu tribunal um monumento de granito de quase três toneladas que exibia os dez mandamentos. Os dez mandamentos são um fundamento pétreo no qual as leis devem se basear, explicou ele. Sendo cristão, eu também aceito os dez mandamentos como uma regra de vida estabelecida por Deus, especialmente desde que Jesus os reafirmou. Mas, enquanto contemplo a fotografia do juiz de pé ao lado do seu monumento, ocorre-me que apenas dois dentre os dez (Não matarás e Não furtarás) foram decretados como leis. Os outros oito, independentemente de sua importância, não podem ser codificados como leis por nenhuma sociedade pluralista.
Os cristãos atualmente debatem os prós e os contras dos direitos dos homossexuais uma questão moral, como concordam os dois lados. Algumas décadas atrás, a Igreja da Inglaterra debateu uma questão com paralelos muito semelhantes: o divórcio. A Bíblia tem muito mais a dizer sobre a santidade do matrimônio e o erro do divórcio do que diz sobre a homossexualidade. C. S. Lewis chocou muita gente de sua época quando saiu em defesa da permissão do divórcio, considerando que nós cristãos não temos o direito de impor nossa moral a uma sociedade em todo o seu conjunto. Embora continuasse a se opor ao divórcio por razões morais, ele sustentou a distinção entre moral e legalidade.?
5. A igreja deve ser cautelosa em suas negociações com o estado
O historiador Edward Gibbon disse que na Roma antiga todas as religiões eram igualmente verdadeiras para o povo, igualmente falsas para os filósofos e igualmente úteis para o governo.? A sociedade precisa do comedimento que a religião proporciona, e o estado a acolhe muito bem desde que ele possa dar as cartas.
Os cristãos que apoiaram Hitler assustaram-se um dia ao saber que o governo alemão passaria então a indicar as autoridades da igreja. Logo se exigiu que todos os pastores prestassem um juramento de lealdade a Hitler e seu governo. Na Rússia, Stalin obrigou a igreja a ceder ao partido o pleno controle da instrução religiosa, a educação seminarística e a indicação de bispos. Na China de hoje, o governo comunista paga os salários dos pastores oficiais da Igreja das Três Autonomias, uma forma de mantê-los sob seu controle, e nomeia bispos católicos ilícitos, que não têm a aprovação do Vaticano.
A igreja funciona melhor como uma força independente, sendo uma consciência para a sociedade que se mantém a uma distância segura do estado. Quanto mais perto ela chegar, tanto menos efetivamente ela pode desafiar a cultura ao seu redor e tanto mais perigosamente corre o risco de perder sua mensagem central. Jesus deixou aos seus seguidores a ordem de fazer discípulos em todas as nações. Nós não temos a obrigação de cristianizar os Estados Unidos ou qualquer outro país o que, de qualquer modo, é um objetivo impossível.
Quando a igreja aceita como seu objetivo principal a reforma da cultura mais ampla, nós corremos o risco de obscurecer o evangelho da graça, tornando-nos mais um dos comerciantes de poder. É assim que muitos do mundo secular nos veem atualmente: como uma conspiração de direita decidida a aprovar leis contra eles. Nesse processo, eles perdem a boa-nova do evangelho de que Cristo morreu para salvar pecadores, para nos libertar da culpa e da vergonha a fim de que pudéssemos prosperar da maneira planejada por Deus
O estado com frequência usará a religião visando seus propósitos, mas quando isso acontece o próprio evangelho muda. A religião civil nos convida a compartilhar a glória militar; o evangelho nos chama para tomarmos a cruz. A religião civil nos oferece prestígio e influência; o evangelho nos convida a servir. A religião civil recompensa o sucesso; o evangelho redefine o sucesso e perdoa o fracasso. A religião civil valoriza a reputação; o evangelho nos chama para sermos loucos por causa de Cristo.
Durante a época de Brezhnev, no ápice da Guerra Fria, Billy Graham visitou a Rússia e teve um encontro com o governo e os líderes da igreja. Os conservadores ocidentais o criticaram acerbamente por tratar os russos com tanta cortesia e respeito. Ele deveria ter assumido um papel mais profético, disseram eles, falando claramente contra os abusos dos direitos humanos e a liberdade religiosa. Um dos críticos disse: Dr. Graham, o senhor fez a igreja retroceder cinquenta anos!. Graham abaixou a cabeça e respondeu: Sinto-me profundamente envergonhado. Eu estava tentando fazê-la retroceder dois mil anos.