O Evangelho e o Pequeno Príncipe
As reflexões abaixo são fruto de sucessivas releituras do clássico "O Pequeno Príncipe" de Antoine Saint-Exupery realizadas no ano de 2021. O gatilho para esta releitura foi uma série de mensagens proferidas pelo Pr Ricardo Agreste em novembro deste ano.
Se você ainda não leu este clássico sugiro que leia antes de dar prosseguimento à leitura das minhas considerações. Se você ficou curioso sobre a série de mensagens do Pr Agreste, clique na imagem abaixo:

Os adultos dissuadiram-me da carreira de pintor
quando eu tinha seis anos e não aprendi a desenhar mais nada [...]
O narrador-aviador
O narador-aviador foi desencorajado a pintar aos 6 anos de idade. No entanto, ao contar sua história ele performa não menos que 46 aquarelas de excelente qualidade. No início do livro o príncipe não aparece para salvar o aviador do deserto, mas sim para fazê-lo retomar sua 'magnífica carreira de pintor'. O encontro com o menino-príncipe fez emergir uma habilidade (ou mesmo um desejo) reprimido há muito tempo.
O encontro com Jesus faz emergir um coração generoso - que passa a enxergar o verdadeiro valor da vida. O cachecol do pequeno príncipe é desenhado sempre como se estivesse voando... Saint-Exupery descobriu a paz ao escrever o pequeno príncipe - uma criança que era na realidade uma recriação dele mesmo enquanto criança.

Lucas 19:8 “Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais”
Por que ele é um príncipe? O narrador-aviador o chama de príncipe, mas ele mesmo não diz isto sobre si. Tenho um palpite que a nobreza do garoto não foi obtida por 'nobre nascimento' mas pela sua 'nobre jornada'.
A espiritualidade de Exupery pode ser compreendida numa de suas cartas de 1956 (Carta ao General X)
[...] Há só um problema, somente um: redescobrir que há uma vida do espírito que é ainda mais alta que a vida da inteligência, a única que pode satisfazer o ser humano. [...] Para ele a vida do espírito, ou espiritualidade, é feita de amor, solidariedade, compaixão, companheirismo e de sentido poético da vida. Pelo fato da vida do espírito vir coberta por um manto de cinzas, egoísmo, indiferença, cinismo e ódio é que as sociedades se tornaram desumanas. Ele chega a dizer: TEMOS NECESSIDADE DE UM DEUS.
[...] as sementes são invisíveis. Dormem no segredo da terra até que uma delas julgue por bem acordar [...]
O Drama dos Baobás
Jesus conta uma parábola dizendo que um homem semeou um campo de trigo. À noite um adversário semeou também um tipo de erva daninha venenosa. Na parábola de Jesus (Mateus 13:24-30) ao ver a erva daninha o dono da plantação diz: “deixe que cresçam juntos”... mas só até um ponto: “até a colheita”.
O semeador não queria ferir a boa semente antes de colher seu fruto e, por isso, tolerou por um tempo, a erva daninha.
No mundo do pequeno príncipe as coisas eram um pouco diferentes. O B612 é um planeta não muito maior que uma casa, um quarto ou mesmo uma pessoa.
O solo do planeta estava infestado delas.
[...] se demorar a agir, a pessoa nunca mais consegue se livrar de um baobá.
Me parece bem claro que o baobá é uma referência ao pecado:
Tiago 1:14-15 “Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ser consumado, gera a morte.”
“É uma questão de disciplina” ... tenho que me virar para arrancar os baobás tão logo os distingo das roseiras...
Discernir o pecado é um trabalho difícil e só pode ser aprimorado pelas disciplinas espirituais.
Salmo 119:11 “Guardo no coração as tuas palavras para não pecar contra Ti”
Salmo 1:2 “...medita de dia e de noite...”
Salmo 51:4 “Pequei contora ti, contra ti somente...”
Zacarias 3:4 “Veja, eu tirei de você o seu pecado e coloquei vestes nobres sobre você.”
Richard Foster reune as discilinas espirituais em 3 grupos:
1. Meditação, Oração, Jejum, Estudo
2. Simplicidade, Solicitude, Submissão, Serviço
3. Confissão, Adoração, Orientação, Celebração
Consigo observar o equivalente a várias destas virtudes no comportamento do pequeno príncipe.
Os Guiness (7 pecados capitais) e Peter Kreeft (Back to Virtue) explicam que desde a antiguidade o homem perseguiu as 'sementes' responsáveis pelos nossos pecados. Evagrius no século IV enumerou oito vícios primordiais. Gregório posteriormente abreviou para sete.
A lista dos sete pecados capitais não abrange todos os pecados existentes, mas apresenta os pecados fundamentais, integrados, que se encontram no centro de nossa natureza humana e dos quais se originam todos os outros pecados. Os Guinness, Os sete pecados capitais
Por que não há outros desenhos tão imponentes como o dos baobás? [...]Quando desenhei os baobás, fui movido por uma sensação de urgência.

Quando desenhou os baobás o narrador-aviador foi tomado por uma sensação de urgência. O assunto 'pecado' costuma esbarrar quase sempre o tema 'procrastinação'. É muito fácil enxergar a falha na conduta alheia enquanto sou complacente com as falhas na minha própria conduta. Enquanto não enxergar o tamanho do mal que o pecado me faz, minha luta com ele será sempre superficial.
[...] aquela germinara, de uma semente vinda não se sabe de onde [...]
Era muito vaidosa!
[...] nasci junto com o sol…
[...] não era lá muito modesta,
[...] ela o atormentou desde o início com sua vaidade cheia de caprichos.
A Rosa
A rosa é a única personagem que interage com o príncipe no asteroide B612. A flor se acha muito especial e, inclusive devaneia sobre a sua origem: lá de onde eu venho..., diz ela ao príncipe após um de seus acessos de vaidade... mas ela não sabe de verdade da onde veio!
A sugestão por trás das suas falas é que ela faz parte de algum tipo de nobreza.
Lá de onde venho…
Rosa, rosa, rosa
Despretensiosa
Vive, murcha e cai em si
Mesmo assim não é capaz de acreditar
Que nada é...
Paulo César da Silva
Apesar de saber de toda biologia por trás da formação do ser humano, só em Crito é possível conhecer minha verdadeira identidade.
Salmo 139:16 “Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir...”
Lucas 3:22 “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado”
Quem é esta rosa? Um ser caprichoso, egoísta, para quem nenhum cuidado é suficiente. Mesmo assim o pequeno príncipe continuava cuidando dela com dedicação. Por que? Enquanto a natureza da rosa era exigir e, consequentemente estar sempre insatisfeita, era da natureza do príncipe amar e cuidar. A rosa se parece muito comigo: xexelento, vaidoso, exigente, inconstante...
O pequeno príncipe sempre vai amar a sua rosa porque é da natureza dele amar e ele costuma ser fiel à sua natureza. Deus ama o meu ser real. Não necessito ser outra pessoa (umm ser iventado). O maior erro que posso fazer é dizer para Deus “Senhor, seu eu mudar, você me amará?” A resposta de Deus será sempre a mesma: “Você não precisa mudar para que eu o ame; eu o amo para que você mude.”
Deveria ter desconfiado sua ternura por trás de suas astúcias banais.
Mas há ainda uma outra citação que me chama a atenção: "Deveria ter desconfiado de sua ternura por trás de suas astúcias banais". O pequeno príncipe, mesmo depois de vilipendiado pela rosa ainda imaginava haver alguma ternura ali.
Deus olha pra mim e vê um santo, mesmo que tudo diante do espelho mostrar o contrário. No meu mundo caído eu olho para as pessoas e penso: “deveria ter desconfiado da sua astúcia banal por tras daquela ternura...” Somos falsos, metidos e impostores e isto nos impede de 'criar laços' puros e verdadeiros.
Os Vulcões
O asteróide B612 é um mundo não muito maior que uma casa, ou mesmo um quarto, ou ainda... maior que eu mesmo...
Mesmo assim este mundo tem 3 vulcões, dos quais 2 estão em atividade enquanto um está extinto - embora nunca se sabe quando ele pode entrar em erupçao. Olho para estes vulcões e vejo minhas próprias emoções. Os ativos são aqueles que estão exercendo influência sobre mim neste exato momento, enquanto o extinto é um elemento aparentemente adormecido (quem sabe até derrotado)...
'... nunca se sabe' é a expressão ocorre 4 vezes no livro todo, ao referir-se ao vulcão extinto.
As erupções vulcânicas são como fogo saindo pelas chaminés.
Aparentemente a limpeza dos vulcões era uma atividade fundamental na rotina do príncipe. 'Limpeza' é uma boa palavra, já que é impossível controlar a atividade de um vulcão, mas é possível canalizar sua energia para algum propósito.
Observe com atenção a história de Caim e Abel (filhos de Adão e Eva).
Gênesis 4:1 Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: “Com o auxílio do Senhor tive um filho homem”.
2 Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor.
3 Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
4 Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, 5 mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou.
6 O Senhor disse a Caim: Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto?
7 Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo.
8 Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: “Vamos para o campo”. Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.
9 Então o Senhor perguntou a Caim: “Onde está seu irmão Abel?” Respondeu ele: “Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?”
10 Disse o Senhor: O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando.
11 Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão.
12 Quando você cultivar a terra, esta não lhe dará mais da sua força. Você será um fugitivo errante pelo mundo.
13 Disse Caim ao Senhor: Meu castigo é maior do que posso suportar.
14 Hoje me expulsas desta terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer que me encontrar me matará.
15 Mas o Senhor lhe respondeu: “Não será assim; se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança”. E o Senhor colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontrá-lo o matasse.
16 Então Caim afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node, a leste do Éden.
Vivemos em uma época na qual é proibido ser triste. É necessário estar sorrindo o tempo todo e em todas as fotos do Instagram. É obrigatório compartilhar sua alegria a todo tempo no Facebook. É preciso passar aquela fachada meticulosamente construída de que tudo é perfeito. O teólogo americano Ben Myers escreve "No Ocidente protestante de hoje, ser sorridente tornou-se um imperativo moral... Tristeza é o fracasso moral."
Jonathan Edwards - teólogo americano - ensinou que "a verdadeira religião consiste em santos afetos". Edwards define "afetos" como nossas emoções mais profundas, nossas aspirações e motivações mais poderosas. Nossas ações, disse ele, são motivadas por nossos afetos e na vida cristã pode ser entendido como o realinhamento em curso de nossas afeições para refletir a realidade de Deus e do nosso lugar no seu mundo. A verdadeira religião, diz Edwards, se manifesta em "afetos corretamente ordenados."
A relação entre a raiva, o medo, repulsa e, especialmente, alegria e tristeza é o enredo do filme Divertida Mente da Pixar-Disney. O filme nos leva para dentro da cabeça de uma menina de 11 anos chamada Riley e descreve suas emoções como personagens antropomórficos.
A função das emoções é abordada de forma muito interessante. Todas elas estão ali por um motivo: a raiva aparece quando alguma injustiça é detectada, o nojo/repulsa previne intoxicações (alimentares e sociais, diga-se de passagem), o medo previne lesões e garante a integridade física e psíquica, a alegria aparece nas conquistas e é um grande fator motivacional.
Em Divertida Mente as emoções trabalham numa sala de controle localizada na cabeça de uma menina de 11 anos chamada Riley. A trama se desenrola justamente quando Riley precisa se despedir do estilo de vida que conhecia para dizer olá a um mundo completamente estranho. O frágil equilíbrio entre as emoções começa a ser abalado. Raiva, Medo, Repulsa, Alegria e Tristeza existem naturalmente na minha mente. Faz parte da minha natureza. Ninguém é feliz o tempo todo.
Sucessivos desapontamentos desafiam o domínio da alegria na mente de Riley. A primeira decepção é a casa nova, totalmente diferente do que ela havia imaginado, com direito a um rato morto. O telefone de seu pai toca e ele precisa deixá-la para ir trabalhar. Os móveis já deveriam ter chegado também, mas houve problemas na mudança. E sequer uma pizza consegue salvar o dia da tragédia. Riley começa a perceber que está em um mundo completamente incomum e inexplorado. E começa a ficar triste por isso.
Inicialmente, Riley se sente na obrigação de ser feliz por seus pais, de continuar a ser aquela garotinha brincalhona. A tentativa da Alegria em manter a Tristeza longe chama a atenção, pois é algo que muitos de nós fazemos no nosso dia a dia: botamos um sorriso no rosto, dizemos para nós mesmos que está tudo bem e seguimos em frente, mesmo que no fundo isso não seja tão verdadeiro assim – ou seja, tendemos a invalidar nossa tristeza.
O filme quer mostrar que a Tristeza estava apenas fazendo o seu trabalho. Quem já passou por uma mudança abrupta e contrária à sua vontade, seja no sentido literal ou figurativo, ou quem já perdeu alguém próximo sabe o que isso significa. Podemos entender que a garota (Alegria e Tristeza) está perdida dentro de si mesma, sem saber o que fazer.
A resolução do conflito começa quando Riley entende que não é errado se sentir triste. É natural a vida ter altos e baixos. Essa obsessão por uma imagem de perfeição e de vitória só nos torna incapazes de lidar com essa imprevisibilidade. Apenas podemos alcançar uma maturidade emocional quando aceitamos a Tristeza como parte fundamental daquilo que somos.
Ninguém é feliz ou infeliz todo o tempo. Existe muito a se aprender com a Tristeza, pois ela nos faz enxergar aquilo que muitas vezes a Alegria não nos permitia ver.
Os personagens-emoções de Divertida Mente não foram escolhidos de forma aleatória. Estudos neuropsicológicos complexos chegaram à conclusão que todos os seres humanos compartilham em comum: medo, raiva, alegria e tristeza. O nojo/repulsa foi incluído no filme - de acordo com o diretor - para mostrar que algumas emoções são uma mistura de sentimentos.
Observe o conflito de Caim: Caim foi um filho desejado. Eva louvou a Deus por ajudá-la durante sua gestação. Afinal, era uma experiência nova, e ela não contava com um médico ou parteira para ajudá-la. Caim cresceu ouvindo seus pais contando a história maravilhosa do Éden, bem como da queda.
Algum tempo depois Eva engravidou novamente. Caim não seria mais filho único, teria agora que dividir a atenção da mãe com um irmão mais novo, Abel. Os irmãos cresceram. Adão ensinou seus filhos a trabalhar. O trabalho era parte do mandamento de Deus na criação [antes da queda], e eles eram colaboradores de Deus (Gn 1:26-31).
Com o passar do tempo cada um seguiu seu rumo. Caim voltou-se para a agricultura. Abel para a pecuária. Trabalhar não foi a única lição que Adão e Eva ensinaram a seus filhos. Seus pais haviam aprendido a se relacionar com Deus durante seus dias no jardim, antes que o pecado trouxesse maldição para a vida deles e para a terra. Certamente, haviam ensinado aos filhos sobre o Senhor e sobre a importância de adorá-lo.
Depois de um tempo, portanto, Caim e Abel decidiram prestar um culto a Deus. Mas alguma coisa deu errado. A oferta de Caim foi rejeitada. A razão para a rejeição da oferta não é imediatamente óbvia no texto.
A oferta de Caim e Abel é um min??h, uma dádiva feita para homenagem ou para aliança e, como termo ritual, podia descrever ofertas de animais e, mais freqüentemente, de cereais (por ex., 1 Sm 2:17, Lv 2:1).
A oferta de Abel e Caim: a oferta e Caim não foi rejeitada por uma questão 'ritual', mas por uma questão 'do coração'. A diferença da oferta de Abel não estava em algo visível, mas no invisível!
Participar de atividades religiosas não é prova da autenticidade do nosso culto. É possível ter uma "forma de piedade" (2 Tm 3:5) e, ainda assim, jamais prestar um culto verdadeiro a Deus. "Este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim" (ls 29:1 3; Mt 15:8). Sem um coração submisso, nem mesmo as mais preciosas ofertas podem tornar o adorador aceitável diante de Deus (Sl 51:16, 17). "O caminho de Caim" (Jd 11) é o caminho da vontade própria e da incredulidade.
O Novo Testamento disse que o diferencial da oferta de Abel estava no invisível (a Fé - Hb 11:4).
Esta rejeição desencadeou uma erupção de tristeza em Caim. Ser rejeitado é bem ruim. Imagina só se esta rejeição vem do próprio Deus! Caim deve ter se sentido muito mal. Quando deparamos com esse tipo de sentimento, podemos reagir de duas maneiras: (1) Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio (Apocalipse 2:5). (2) abrir as portas para o pecado o ameaça [que encontra-se] à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo (Genesis 4:7). Caim escolheu a segunda alternativa. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o rosto (4:5b).
Deus não estava ausente no momento da oferta de Caim (v. 6). O Soberano não ignorou o ritual praticado pelo filho de Adão. Ele estava atento ao que acontecia no coração daquele filho querido. Deus não o condenou sumariamente, mas usou um jogo de palavras para deixar claro a Caim o tamanho do perigo que estava diane dele. A intenção das perguntas de Deus era levar Caim à reflexão e ao arrependimento.
Caim, no entanto, não estava disposto a se arrepender. Também não atentou para a advertência de Deus de que a transgressão deliberada e não confessada conduz a uma transgressão ainda mais grave: se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti (4:7b).
A última sessão do versículo 7 pode ser parafraseada: “Tu deixaste o fogo da raiva arder por dentro; por conseguinte, quando tu deixares meu domicílio, o pecado te tomará. É melhor dominares a raiva para que a destruição não te vença”.
Se Caim tivesse dado ouvidos ao aviso de Deus e aceitado o convite gracioso do Senhor (Gn 4:7), jamais teria se transformado num homicida.
Quanto tempo se passou entre a rejeição das ofertas de Caim e o momento em que ele atraiu seu irmão para longe de casa e o matou? Foi no mesmo dia, ou Caim remoeu a questão durante algum tempo? É provável que, em seu coração, tenha assassinado o irmão várias vezes antes de cometer o ato em si. Invejava o irmão por causa do relacionamento que Abel tinha com Deus (1 Jo 3:12) e, ainda assim, não se dispôs a acertar sua situação com o Senhor.
Ao permitir que a tristeza desse lugar à ira e esta assumisse o controle dos seus atos, Caim criou para si uma vida insuportável. Abriu a porta para a tentação (Gn 4:7) e fechou-a para a família, para Deus e para seu futuro. Não importava onde vivesse ou o que fizesse, Caim seria sempre um homem sem paz, para o qual não havia qualquer saída.
Caim jamais se arrependeu de seu pecado. Suas palavras finais para Deus revelam apenas remorso e pesar. Ele não disse: "Minha culpa é maior do que posso suportar". Estava preocupado apenas com seu castigo, não com seu caráter.
Nossas emoções naturais podem ser uma via para o pecado.
Jesus também teve emoções como nós. Mas em nenhuma ocasião permitiu que suas emoções o levassem a peca
Raiva: Marcos 3:5 Irado, olhou para os que estavam à sua volta e, profundamente entristecido por causa do coração endurecido deles, disse ao homem: “Estenda a mão”. Ele a estendeu, e ela foi restaurada.
Medo: Lucas 22:44 Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão.
Tristeza: Mateus 26:38 Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo”.
Alegria: João 15:11 Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.
Paulo também aplaude o dom da tristeza como instrumento para arrependimento.
O crente com santos afetos - justamente ordenados [Edwards] frequentemente se encontrará com a tristeza. A vida cristã começa com tristeza por nosso próprio pecado e ela continua durante toda a nossa vida como se camada após camada de nossa alma fosse revelada para nós. O desespero e a tristeza de arrependimento é o pré-requisito necessário para a alegria da restauração.
O caminho para a alegria cristã é conduzida através da tristeza. Nas primeiras cenas de Divertida Mente a Alegria mantém-se tentando garantir que os desejos de Riley são supridos e que o equilíbrio é mantido em felicidade. Mas, como a história se desenrola, a própria Alegria passa por uma transformação. Ao permitir a Tristeza ocupar um papel mais fundamental na experiência de Riley, Alegria descobre uma versão mais transcendente de si mesma que ela nunca tinha conhecido antes, ilustrado de maneira pungente no clímax do filme.
2Coríntios 7:8 Mesmo que a minha carta lhes tenha causado tristeza, não me arrependo. É verdade que a princípio me arrependi, pois percebi que a minha carta os entristeceu, ainda que por pouco tempo. 9 Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa.
10 A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte.
Posso assumir uma liturgia de piedade e mesmo assim jamais prestar um culto verdadeiro a Deus (2Timóteo 3:5)
Caim permitiu que a tristeza liberasse a ira e esta assumiu o controle dos atos.
Como eu posso limpar os vulcões que existem em mim:
- Vigiando/Monitorando/Orando (Mateus 26:31)
- Confessando/Arrependendo (1 João 1:9);
- Falando dos meus sentimentos (Tiago 5:16);
- Colocando minhas forças exclusivamente no Senhor porque 'nunca se sabe' quando alguma emoção pode explodir (1 Coríntios 10:12, Oséias 11:7)
A partida
Você decidiu partir. Vá.
A rosa chama de 'partida'. O narrador-aviador chama de 'fuga'. Suponho que seja somente uma questão e ponto de vista. Partidas pressupõem a possibilidade de um retorno enquanto as fugas não.
Por que ele decide sair de seu mundo? Suspeito que neste momento nem o próprio príncipe saiba o que estava procurando; ele precisava se livrar da melancolia de uma vida pequena, e para isso era obrigatório sair do seu mundo para buscar outras oportunidades de relacionamentos.
No brasileiro 'O pequeno príncipe preto' o autor sugere que o motivo da fuga era a necessidade de encontrar 'UBUNTU' ? filosofia africana cuja tradução aproximada é 'minha existência está conectada à sua existência'. Biblicamente faz sentido... não fomos feitos para viver sozinhos. Não significa que não possamos passar momentos a sós... significa que não somos completos se não construirmos 'laços'.
Gênesis 2:18 “Não é bom que o homem esteja só, farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda.”
José, um dos 12 filhos de Israel, viveu a experiência de ter que 'partir de seu mundo' (por 17 anos sua vida girava em torno da sua família). Seus irmãos (rosas ciumentas, como a do B612) o venderam como escravo e ele foi forçado a iniciar uma jornada. Tornou-se mordomo. Tornou-se detento. Tornou-se intérprete de sonhos. Tornou-se político... Toda esta jornada moldou o caráter do antigo José-de-Canaã, fazendo dele nosso conhecido José-do-Egito.
1º Mundo: O Rei
[...] o essencial para o rei era que sua autoridade fosse respeitada.
No mundinho do rei havia só um velho rato - o único que poderia servir ao rei de verdade... mas ele decidiu tratar seu único possível súdito de maneira sádica, condenando-o a morte de tempos em tempos apenas para garantir sua fidelidade... ele deve ter lido Maquiavel: “É bem mais seguro ser temido do que amado”
Para ser amigo de Deus não há uma lista de pré-requisitos. Ezequiel 18:32 diz que “Deus não tem prazer na morte de ninguém.”
A autoridade repousa antes de tudo na razão.
O rei daquele planetinha que se julgava rei do universo finalmente descobriu que não era rei nem sobre si mesmo. Seu planeta não era maior que uma casa, ou mesmo um quarto, ou ainda, uma pessoa.
Condene-o à morte de tempos em tempos. Assim a vida dele dependerá da sua justiça. Mas, para economizá-lo, seja sempre misericordioso. Ele é o único.
O rei se mostra um sujeito carente. Diz ter muita autoridade, mas logo mostra que sua soberania é escrava da racionalidade. Isto limita sua soberania.
Ele queria 'criar laços' com base na obediência cega à uma autoridade alienada. Jesus é um rei que demonstra a verdadeira soberania:
Mateus 8:27 “Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?”
Jesus é um juiz reto que não ignora o pecado, mas também não aniquila o pecador.
João 8:11 “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado.”
2º Mundo: o Vaidoso
Vaidade:
- um pouquinho de fumaça;
- uma rajada de vento;
- um sopro;
- nada que se possa pegar com as mãos;
- a coisa mais próxima do zero;
- o que é banal e passageiro;
Provérbios 29:5 “Quem adula seu próximo está armando uma rede para os pés dele.”
A bajulação é um comércio de mentiras que, pelo lado do bajulador, apoia-se no interesse, e pelo lado do bajulado, apoia-se na vaidade.
Para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores.
O vaidoso se tem em elevada conta. O tamanho deste segundo planeta importava pouco. Seu único habitante era suficiente para ocupá-lo por inteiro!
À procura de sentido para a própria existência e verdadeiros laços o pequeno príncipe esbarra no vaidoso - que em princípio vou chamar de Doutor Zé.
A. Supondo que Dr. Zé fosse um grande nome da medicina e eu um estudante interessado, não seria de admirar querer construir um laço com o Dr. Zé, elogiá-lo por seu profissionalismo e eventualmente até me tornar um discípulo do Dr. Zé.
B. Supondo que o Dr. Zé fosse um médico picareta, em busca de atalhos para suas pesquisas e condutas; em busca dos holofotes da imprensa ao invés do trabalho duro - afinal, 'renomados cientistas' raramente tem tempo para ser pessoas midiáticas. Tornar-me discípulo do Dr. Zé:
B1. Me roubaria tempo e energia que poderia investir em um vínculo profissional e pessoal produtivo ? me roubaria uma chance de ser.
B2. Me diminuiria enquanto profissional: afinal me tornaria semelhante a tal picareta.
B3. Me deixaria esgotado! O pequeno príncipe se cansa de aplaudir!
B4. O vaidoso nunca se permitiria ter um 'aluno' à sua altura - seria incapaz de elogiar um 'aluno' sem fazer uma referência a si mesmo.
Os vaidosos nunca ouvem nada, a não ser elogios.
Os vaidosos se comportam como se fossem coisas - ou ídolos. Olham mas não veem, ouvidos mas não ouvem...
Mateus 13:16 “Mas felizes são os olhos de vocês, porque veem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem.”
3º Mundo: O Bêbado
Não sabemos se o planeta do bêbado é grande ou pequeno. Este é um dos diálogos mais curtos do livro.
Eu bebo [...]
Para esquecer [...]
que tenho vergonha [...]
de beber!
Este sujeito está preso num ciclo e não dá sinais de querer sair. O pequeno príncipe sai rapidamente daquele mundo, absolutamente perplexo. Aparentemente, a única forma de fazer parte daquele mundo era conformar-se a ele, ou seja, começar a beber também.
Um vício é uma tentativa de fuga da realidade, uma forma de buscar solução fácil para um problema difícil.
Romanos 12:2 “Não se amoldem ao padrão deste mundo”
A compaixão do pequeno príncipe o colocou em sério risco de 'entrar no mundo' do bêbado para tentar resgatar quem não queria ser resgatado. Só Jesus é perfeitamente capaz disto sem pecar!
Efésios 5:18 “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito”
A 'embriaguez' só pode ser curada se o vazio do coração do bêbado for preenchido. Com frequência me surpreendo tentando substituir um vício por outro: bebida, comida, açúcar, séries de TV, livros, pregações, cultos, atividades religiosas, ação social, defesa do meio-ambiente, política, etc...
Tudo isto se torna atraente num coração vazio de Jesus... e mesmo um coração que conhece a Deus pode se esquecer que somos 'vasos furados' e que o encher do Espírito precisa ser um ato contínuo.
É preciso do todo para criar um mundo. Mas isso não significa que seja necessário se acomodar com tudo, sob o pretexto de desejar pertencer ao grupo, e ter apenas falsos amigos. Foi assim que o Pequeno Príncipe buscou e escolheu seus amigos, longe do empresário e do bêbado. É assim que, cercado por seus vulcões e sua flor, mesmo longe da raposa, ele nunca mais estará sozinho quando olhar para as estrelas. [...]
A amizade é a única verdadeira relação de igualdade. Ela tem um preço, o da nossa alma infantil, o da nossa sinceridade. Stéphanie Garnier. Agir e pensar como o Pequeno Príncipe Ed. Academia
4º Mundo: O dono das estrelas
Após visitar o mundo do rei, do vaidoso e sair correndo do mundo do bêbado o pequeno príncipe chega ao mundo do homem de negócio. Qual o tamanho deste mundo? O narrador-aviador não fala. Ou não interessa.
No filme “Wall Street: Money Never Sleeps” o jovem corretor confronta o homem de negócios Bretton James (Josh Broloin):
- Qual o seu número?
- Não entendi.
- O valor que você precisa para cair fora do mercado e começar a viver...
- Todos tem um número - geralmente exato... 1 bilhão, 100 bilhões... qual é o seu?
- MAIS.
O mundo do homem de negócios pode ter o tamanho que for. Para ele sempre será do tamanho da sua empresa, ou da sua própria sala, ou ainda, da sua própria cadeira ou, de acordo com Jesus, do seu próprio coração (Mateus 6:21).
Sou uma pessoa séria [...]
O 'homem de negócios' é o que chamamos de um 'homem de ação', enquanto o pequeno príncipe é alguém ocioso. Ele percebe a visita de outros como uma forma de 'importunação'. É bem possível que tenha recebido outras visitas nestes 54 anos, mas tenha desenvolvido mecanismos para ignorá-las.
Nos cinquenta e quatro anos que moro neste planeta, só fui importunado três vezes.
E para que serve possuir estrelas?
Um homem de negócios de férias observou um pescador voltando do mar em um pequeno barco com uma boa quantidade de peixes.
Havia pescado suficiente para separar, vender o pescado e passar o resto do dia tocando violão, brincando com o filho, dormindo na rede e caminhando na praia.
O homem de negócios achou um absurdo!
'Por que você não pesca um pouco mais, compra outros barcos, contrata mais pessoas, controla toda a cadeia de produção de pescado?'E quanto tempo isto vai levar?
Talvez muito tempo. Mas vai valer a pena.
E pra que eu faria tudo isso?
'Você ficaria muito rico, compraria uma casa numa vila de pescadores, passaria seu tempo brincando com seu filho, dormindo na rede e caminhando na praia todos os dias'.
Mas não é isso que eu já faço todos os dias?
Parece que o pequeno príncipe conhecia a filosofia por de 1 Timóteo 6:
1 Timóteo 6:6-10 “Piedade com contentamento é grane fonte de lucro...”
As duas palavras me parecem complementares... ao reconhecer suas 'posses' o príncipe reconhece também 'responsabilidades' em relação a eles. Esta responsabilidade está ligada à eusebeia paulina - a necessidade de fazer o bem que segue aqueles que temem a Deus. O contentamento não me espreme na parede em direção à pobreza compulsória, mas como na relação do príncipe, me coloca em 'shalom' com aquilo que possuo - exatamente o que Jesus veio fazer.
2 Coríntios 5:19 “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo”
Jesus não se importava em interromper uma 'ação importante' para atender uma 'mulher insignificante':
Lucas 8:43-48 “Quem me tocou?”
É ainda mais pertinente quando o homem de negócios diz que uma destas 'importunações' foi por conta de uma crise de reumatismo. Ora, reumatismo é uma doença crônica e costuma ter muitas crises. Possivelmente o homem de negócios ja tinha viajado ao mundo do bêbado e conhecia algumas maneiras de 'enganar a dor'.
Quem é o verdadeiro dono das estrelas?
[...] eu possuo uma flor, que rego diariamente. Possuo três vulcões, que limpo toda semana. Porque também limpo o extinto. Nunca se sabe. O fato de eu possuí-los é útil para os meus vulcões e é útil para a minha flor. Mas você não é útil para as estrelas…
Isaías 40:26 “Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isto?...”
Apocalipse 1:16 Jesus tem em suas mãos todo o universo... Salmo 147
Mateus 8:23-28 “Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem...”
O pequeno príncipe sai rapidamente daquele mundo. Permanecer ali era uma tentação muito grande. Posteriormente, a Terra, após visitar o jardim de rosas ele diz: 'Eu me julgava rico ao possuir uma flor única...' os vulcões, mesmo os extintos, precisam de manutenção, pois 'nunca se sabe': e o pecado da falta de contentamento está sempre à porta... o risco de transformar a eusebeia num fim em si mesmo.
5º Mundo: O Acendedor de Postes
Era o menor de todos. Nele só cabiam um poste e um acendedor de postes.
[...] seu trabalho tem um sentido
Esse sujeito tem um trabalho honesto e não vive para acumular bens e riquezas.
- Ele trabalha com obediência e compromisso;
- As demandas cresceram e tornaram a vida tão sufocante que não era possível descansar.
[...] o planeta deu para girar mais depressa e a norma não mudou!
O acendedor de postes tinha um trabalho digno ? mas precisava urgentemente de ajuda!
As constatações do acendedor de postes está correta: a vida passa cada vez mais rápido e o trabalho precisa ser feito.
Vejo aqui um alerta para aquele que só encontra sentido pra vida quando está trabalhando. Não sabe relaxar, aproveitar a companhia de ninguém. Vive uma vida ética e produtiva, porém é pouco feliz e não consegue enxergar outras opções.
O primeiro a ser visitado é exatamente o rei, que pensa que todos são seus súditos, revelando o esforço humano de controlar os outros. Mera tentativa, condenada ao fracasso. O vaidoso representa os que só ouvem elogios, revelando a necessidade de aprovação externa. Trata-se da fraqueza emocional dos carentes, dos que são excessivamente dependentes. O mundo do bêbado é marcado pela fuga da dor de existir, enquanto o acendedor de lampiões representa a sensação de que somos insubstituíveis em nossas funções. O geógrafo é quem sugere ao principezinho que visite o planeta Terra, mas ele mesmo se mantém no mesmo lugar – é um estudioso que não se aventura no existir para além de sua escrivaninha. Com a raposa, aprendemos o significado profundo de cativar, compartilhando sonhos e afetos. A serpente, diferentemente da personagem do Gênesis, é a figura de maior franqueza. Equilibrar gentileza e franqueza se torna um exercício humano do mais alto nível. Elias Souza. Jesus e o Pequeno Príncipe
6º Mundo: O Geógrafo
Seu mundo era dez vezes maior que os outros. O geógrafo se vê como alguém 'importante demais'. Ele vive num mundo enorme mais só o conhece a partir da experiência de outros. Não lhe falta esclarecimento; não lhe faltam recursos... seu prazer, porém, é viver de registrar a partir da vivência de outros.
Não posso saber [...]
E nao é só isto: ele é um cético. Como o observado nos herdeiros de Immanuel Kant, o geógrafo questiona a validade do que lhe foi relatado, mas é incapaz de experimentar para conferir. Ele espera que outros experimentem e assim, a partir das duas experiências ele decida em qual 'verdade' vai registrar.
O geógrafo estava absorvido pela filosofia kantiana de que o conhecimento é subjetivo e por isso seu pensamento estava reduzido a um infinito salão de espelhos.
O mundo do geógrafo me ensina algumas coisas:
A. Ser um cientista não é algo ruim em si, mas registrar, contar, sistematizar dados e elaborar teorias científicas pode ser uma armadilha - uma prisão (mesmo em um mundo tão grande e cheio de oportunidades do geógrafo ele não conseguia aproveitar nada).
B. Posso ser um explorador - ao mesmo tempo capaz de ler e escrever os livros dos cientistas e capaz de maravilhar com coisas efêmeras. Mesmo o cientista mais esclarecido e brilhante é capaz de se derreter com o sorriso de um bebê, a beleza de uma noiva no altar, a miniatura de um motor a vapor, o crescimento da massa do pão... (Mateus 13:31-35)
O cientista era incapaz de admirar o efêmero por se tratar de um fenômeno passageiro. O pequeno príncipe vê a observação do efêmero como uma 'urgência', precisamente por sua natureza passageira e sua conexão emocional.
[o pequeno príncipe] a vida inteira, nunca desistira de uma pergunta depois de fazê-la.
C. O príncipe nunca desistia de uma pergunta e talvez aqui esteja a natureza do verdadeiro cientista... a capacidade de registrar esses achados e partir na jornada para prová-los. Ha 2.000 anos certos astrônomos orientais viram uma estrela no oriente e decidiram segui-la até o planeta (ops, o reino) de Israel, à cidade de Belém e Nazaré (Mateus 2:2,10-11).
7º Mundo: A Terra
Sete é o número da perfeição. Será que o príncipe vai achar perfeição na terra? Afinal, aquele mundo era tão grande que era possível encontrar espécimes de todos os mundos visitados anteriormente.
De onde o narrador-aviador tirou números tão precisos sobre a terra? Talvez de um dos registros do geógrafo... no entanto, sobre a terra tenho ainda outra reflexão:
O soberano que é além da criação decide escolher um planeta pequeno próximo de uma estrela de quarta grandeza para colocar sua imagem... humilha-se novamente ao apresentar-se à Moisés num arbusto em chamas e ao atrevimento de Moisés em perguntar seu nome (parece que no oriente antigo saber o nome implicava em algum poder sobre a divindade) [...] humilha-se ao permitir que sua glória habitasse num templo feito por mãos humanas (salomão)... humilha-se novamente quando vê este mesmo tempo sendo saqueado por um pagão como Nabucodonosor... e por fim humilha-se afinal na cruz
Deus é um soberano humilde! Dale Ralph Davis, The Message of Daniel
1º Encontro: A Serpente
Os adultos, naturalmente, não acreditarão em vocês. Eles imaginam ocupar muito espaço. Veem-se importantes como baobás. Aconselhem-nos então a fazer a conta. Eles
O narrador-aviador menciona os adultos na terceira pessoa, como se ele mesmo não fizesse parte deste grupo. Por que??
A serpente é tradicionalmente vista como um animal ardiloso, astuto, que tem na mentira seu principal truque. Isso fica claro aqui: ela se diz capaz de levar o príncipe mais longe do que um navio, e enquanto isso, vai se enrolando em seu tornozelo... François D'Agay
O príncipe e a serpente se encontram novamente... este é o primeiro e o último encontro do príncipe no planeta terra.
Este animal asqueroso é o único que entra em cena duas vezes no livro.
Mateus 10:16 “Eu os envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas.”
2º Encontro: Uma florzinha
[...] uma flor que não era de nada…
Até mesmo uma flor sem qualquer glamour é capaz de fazer afirmações teológicas de grande profundidade:
O vento os leva para lá e para cá.
O apóstolo Paulo já havia dito em Efésios que a natureza humana costuma vagar conforme o vento.Efésios 4:14 "O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro."
Felizmente a florzinha oferece um remédio bem eficaz:
Faltam-lhes raízes, o que os atrapalha muito.
E novamente Paulo aos Efésios me ajuda... o contexto do capítulo 4 da carta mostra que a solução para não ser levado pelo vento está na vida em comunidade, em que o cuidado mútuo faz criar e entrelaçar nossas raízes.
3º Encontro: Um jardim de Rosas
Diante de uma 'multidão de rosas' o príncipe começa a se questionar sobre o que tornava a sua rosa única em todo o universo. Externamente ela era igual às outras 500 rosas no jardim.
Após o encontro com a Raposa e a compreensão do significado de 'criar laços' o príncipe retorna ao jardim de rosas. Ele entende que o que tornava sua rosa única no universo é que ele estava disposto a dar a própria vida por ela. E diz às outras rosas do jardim:
É impossível dar a vida por vocês
A raposa atua como uma 'voz que clama no deserto' e abre os olhos do pequeno príncipe para o verdadeiro significado de 'cativar'.
João 15:13 “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos...”
Foi o tempo que você passou com a sua rosa que fez sua rosa tão importante.
4º Encontro: A Raposa
Não posso brincar com você – disse a raposa. – Não fui cativada.
Este é o quarto encontro do príncipie no planeta Terra.
O que você quer dizer com “cativar”?
Significa “criar laços”…
Só conhecemos as coisas que cativamos – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer nada
O que é preciso para criar laços?
Desde o início Deus deseja construir comigo uma relação íntima. Os passeios diários no jardim eram uma forma de “criar laços”. Ah... mas nossos pais fugiram daquelas caminhadas...
1. Passar tempo juntos!
Gênesis 3:8 “O Senhor Deus andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia...”
2. Olhar com atenção antes de buscar intimidade.
Tiago 1:19-20 “Tenham isto em mente: sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira (ou a pressa, ou a ansiedade) do homem não produz a justiça de Deus.”
3. Venha sempre à mesma hora
Daniel 6:10 “e ali fez o que costumava fazer: três vezes ao dia ele se ajoelhava e orava, agradecendo ao seu Deus.”
4. Rituais são necessários
Jeremias 15:16 “Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; e elas são a minha alegria e o meu júbilo.”
Os laços podem vir com lágrimas
Vou chorar.
Culpa sua – disse o pequeno príncipe –, eu não lhe queria mal, mas você quis que eu a cativasse…
Se o príncipe soubese da dor que a despedida causaria antes de cativar a raposa ainda assim a teria cativado?
Deus sabia de toda dor que meu pecado e fuga constantes lhe causariam e mesmo assim não desiste de vir atrás de mim. Ele insiste em me amar mesmo quando eu insisto em empurra-Lo para longe.
Algumas pessoas, por exemplo, diante de uma decepção amorosa (traição, morte, etc...) passam a ter medo de amar novamente - sobretudo pela ansiedade de reviver toda a dor vivida anteriormente.
A rosa, selvagem, não compartilhou os sofrimentos das pessoas. Domesticada, ela compartilhou. Talvez soframos de maneira tão desordenada porque Deus nos ama de forma desordenada e está nos domesticando. Talvez não consigamos entender por que estamos compartilhando tantos sofrimentos por este motivo: somos sujeitos de um amor que não entendemos.
Talvez estejamos até nos tomando mais reais ao compartilhar nossos sofrimentos, que são os sofrimentos de Deus, na terra, como parte do trabalho de salvação iniciado por Cristo, e nos céus, como parte da vida eterna da Trindade, que é a morte estática do ego, essência tanto do sofrimento quanto do prazer.
Aquino, na Summa, cita Agostinho: Já que Deus é o maior de todos os deuses, ele não permitiria que nenhum mal existisse em sua obra, a menos que sua onipotência e bondade fossem tamanhas que promovessem o bem mesmo a partir do mal.
[No paraíso] cada alma, achamos, estará eternamente engajada em devolver aquilo que recebeu. E, no que respeita a Deus, devemos lembrar que a alma é nada mais que uma cavidade que Ele preenche. A união com Deus é, quase por definição, um contínuo abandono de si próprio — uma abertura, um desvelamento, uma entrega... Não precisamos supor que a necessidade de algo semelhante à conquista de si mesmo terá fim, ou que a vida eterna não será também uma morte eterna. Nesse sentido, assim como podem existir prazeres no inferno (Deus nos protege deles), pode existir algo não muito diferente da dor no paraíso (Deus admite que a experimentemos). C.S. Lewis, The Problem of Pain, citado por Peter Kreeft em Buscar Sentido para o Sofrimento
4º Encontro: O Controlador da Ferrovia
O encontro com o manobrista (guarda-chaves, manobreiro, em outras traduções) é o único que não contém ilustração. Será de propósito? A imagem das pessoas que vem e vão sem um propósito mostra os perigos de uma vida automatizada. Esta passagem me traz à memória o encontro de Jesus com Marta e Maria narrado em Lucas 10:38-42.
Nunca estamos satisfeitos onde estamos [...]
Marta e Maria tinham uma rotina automatizada. Acordavam cedo, uma delas ia ao poço buscar água enquanto a outra amassava o pão. Após o desjejum uma delas alimentava os animais enquanto outra moía o trigo para sovar a massa do pão. Após o almoço elas lavavam a louça e arrumavam a casa. Após tudo isso o jantar era preparado e servido. Após toda louça estar lavada elas iam dormir para começar tudo novamente no dia seguinte. Até que...
Jesus veio visitar a casa das irmãs à convite de Marta. Ela recebe Jesus à porta, mas é Maria quem senta aos pés de Jesus para ouvir seu ensinamentos e desfrutar da companhia do Mestre. As urgências da rotina impediram Marta de aproveitar aquele momento único.
Lucas 10:42 Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.”.
Eles não perseguem absolutamente nada [...]
Para desfrutar da presença de Deus é preciso silenciar os ruídos que ressoam no meu coração. Estes ruídos não são necessariamente ilegítimos ou imorais. No entanto, são barulhos que me impedem de me concentrar e desfrutar da boa parte que só está disponível quando estou na presença de Deus.
5º Encontro: O Comerciante
Este episódio me lembra uma antiga piada de um cientista que descobriu como fazer água em pó. Para preparar bastava diluir o pó em um copo d'água!!”
A oferta do comerciante é na verdade uma pílula para “ganhar mais tempo”. E quem não gostaria de ter mais uma hora no dia para fazer o que gosta?
Mateus 6:27 “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à própria vida?”
A pílula da sede me alerta que é muito fácil faltar tempo para buscar o que deveria estar em “primeiro lugar” e não é possível resolver isto sem uma boa disciplina devocional.
Que estranha essa pílula que inventaram que mata a sede para que as pessoas “ganhem” tempo… Não mais estranha do que uma série de invenções, de gadgets, de aplicativos que temos em nossos smartphones, que têm como único objetivo, como aquela pílula, “ganhar” tempo, economizar minutos… que podemos assim preencher com outras atividades… incontáveis minutos e segundos que podemos fracionar para torná-los ainda mais produtivos. Stéphanie Garnier. Agir e pensar como o Pequeno Príncipe Ed. Academia
Frequentemente eu me pego imaginando: quando eu conseguir desacelerar, vou fazer isto ou aquilo...
Lucas 12:19 “direi a mim mesmo: [...] descanse, coma, beba e alegre-se”.Em Mateus 13:44-46 Jesus nos conta uma parábola sobre um homem que descobriu que em certo campo havia enterrado um grande tesouro. Ele vendeu tudo que tinha para comprar aquele campo. Deus estava disposto a pagar o mais alto preço porque queria me comprar pra Si. Ele vê valor onde ninguém mais vê.
20 “Louco! Esta mesma noite a sua vida será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?”
A água também pode ser boa para o coração…
Tudo está preparado...
Gênesis 22 descreve o teste da fé que Abraão teve que passar. Deus havia pedido que ele oferecesse Isaque em sacrifício. Quando tudo estava preparado o jovem disse:
v.7 “As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”
Abraão confiava em Deus e estava decidido a obedecer o pedido de Deus.
v.8 “Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho”
O Poço
Tenho sede dessa água
O Deserto não é conhecido por suas virtudes paradisíacas. É um dos ambientes mais hostis ao desenvolvimento da vida. Calor extremo durante o dia. Frio congelante à noite. Para se desenvolver no deserto a vida desenvolveu adaptações pouco amigáveis. As plantas criaram raizes profundas para buscar água em locais distantes, folhas “carnudas” para reter água. Outras ainda folhas pequenas e espinhos, para evitar a elevada transpiração. A fauna é composta de roedores (ratos e marmotas), répteis (cobras e lagartos), escorpiões e insetos. A maioria destes animais desenvolvem suas atividades no período noturno, quando as temperaturas são mais baixas, e durante o dia permanecem refugiados das temperaturas elevadas. Os camelos e os dromedários podem passar até um mês sem beber água e vários dias sem se alimentar, pois possuem a corcova que serve como reserva de gordura.
A escassez de alimentos fez com que fauna e flora desenvolvessem adaptações para fugir da morte - tanto a causada pelo ambiente inóspito em que vivem quanto a morte causada por algum predador. Deserto é lugar de veneno (cobras e lagartos), ferrões (escorpião), picadas (insetos) e espinhos (cactos). O Pequeno Príncipe nasce a partir de uma terrível experiência de Saint-Exupery diante de um misterioso sentimento de ameaça. É um tipo de terapia literátia. Trata-se de uma reflexão sobre o medo existencial que, de acordo com Kierkegaard, "é o preço qu eprecisamos pagar se quisermos ser indivíduos".
"Quanto menos medo, menos espírito", constata Soren Kierkegaard. Nossa "criança interior" é soterrada sob o peso das pressões e da razão. Morremos em vida. Suprimimos nosso medo em relação à situação do mundo, de Auschwitz, Hiroshima e Chernobyl. A vida humana é permeada de crises. Assim como os primeiros pilotos tinham inevitavelmente que lidar com aterrisagens forçadas, também as crises são inevitáveis... Em termos paradoxais, precisamos dela. É estimulante, uma forma de propulsão, o motor de nosso desenvolvimento.
O filósofo Arthur Shopenhauer - conhecido como o filósofo do pessimismo afirma: “Viver é sofrer”.
“A vida humana transcorre, portanto, toda inteira entre o querer e o conquistar. O desejo, por sua natureza, é dor: a satisfação bem cedo traz a saciedade. O fim não era mais que miragem: a posse lhe tolhe o prestígio; o desejo ou a necessidade novamente se apresentam sob outra forma, que do contrário bem o nada, o vazio, o tédio(…)”
A crise é a lei do sofrimento, que me fortalece e me forma. Sem ela, permaneço inerte e sou uma nulidade emocional. "Uma cobra que não troca de pele morre", afirma Nietzsche. Ao contrário da troca de pele da cobra, a humana é sempre dolorosa. Além diso, precisa frequentemente de solidão.
É precisamente isso que a crise nos proporciona, pois nela somos forçados a pensar sozinhos. Minha crise é, por assim dizer, exclusiva e inédita. Ninguém a vivenciou anteriormente, ninguém jamaiz a experimentará como eu.
Apesar disso, não conheço ninguém que tenha passado - ou esteja passando - por uma escassez pessoal como esta e ainda assim consiga enxergar alguma beleza no processo. O Pequeno Príncipe, porém, é capaz de uma afirmação encantadora:
O que torna bonito o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar…
Saint-Exupery escreve: "Uma vez que o deserto não oferece nenhum bem tangível, pois não há nada para ver ou ouvir ali, nele despertamos para o fato de que o ser humano vive de forças invisíveis, que sua vida interior se fortalece com esses impulsos. O homem é controlado pelo espírito. No deserto, meu valor é o valor de meus deuses." [...] No deserto não posso fugir de mim mesmo. As árduas tempestades de areia me tiram tudo que não é essencial.
É interessante que o autor - declaradamente ateu - seja intelectualmente honesto para fazer uma afirmação como esta e ainda mais: que coloque na boca de seu alterego (o princepezinho de sua história) a certeza infantil que mesmo no deserto é possível encontrar beleza, e que esta beleza é precisamente o que ele precisa para se manter vivo.
O romancista Fiodor Dostoieviski escreve: "há no homem um vazio do tamanho de Deus". O cientista Blaise Pascal afirma a mesma coisa: "há no homem um buraco na forma de Deus". Santo Agostinho em suas confissões afirma: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Immanuel Kant caracteriza bem a preguiça de agir e pensar da nossa geração: "Se tenho um livro que pensa por mim, um pastor que se ocupa de minha consciência, oum médico que me prescreve uma dieta e assim por diante, não preciso me esforçar. Não preciso pensar, se posso pagar por isso; outros se incumbem da tarefas árduas por mim." Saint-Exupery - o ateu - faz coro com estes autores.
Descobrimos e redescobrimos sempre — onde há deserto, existe também uma fonte de água pura. Segundo Hölderlin, “Onde reside o perigo, há também a salvação”. A crise adquire valor quando percebemos que nela se esconde um estímulo ao desenvolvimento. A palavra “crise” vem do antigo termo grego krinein, que significa “julgar”, “decidir”. Na crise, sob o aspecto positivo, encontramos o fim do velho e o início do novo.
A Bíblia - cujas história são ambientadas principalmente em paisagens desérticas - nos mostra diferentes encontros com um poço.
O poço [...] Parecia mais um poço de aldeia. Porém não havia nenhuma aldeia ali [...]
É estranho [...] está tudo preparado: a roldana, o balde e a corda…
Gênesis 21:8-21 nos conta uma história de deserto e poço bastante emocionante e ilustrativa. Deus havia prometido um filho a Abraão, mas não havia perspectivas naturais desta promessa se cumprir. Sara (esposa de Abraão) convence o marido a usar sua serva Agar como substituta. Se ela tivesse um filho com Abraão, eles o adotariam e o criariam como sendo deles.
Agar tem um filho, Ismael.
Quando Ismael chega ao seu 13º aniversário, Sara percebe que está grávida, para sua surpresa, e dá um filho a Abraão, a quem chamam de Isaque. Agora que a própria Sara é mãe, ela se ressente da presença de Agar e Ismael em sua casa e convence Abraão a expulsá-los. Ele os manda para o deserto, com suprimento de comida e água para um dia. Assim que a comida e a água acabam, Ismael grita que está com fome e com sede. Um anjo aparece e diz a Agar para pegar Ismael pela mão e levá-lo até um determinado local onde haverá um poço.
Quase sempre, quando comento a história, eu enfatizo o ponto de que o poço estava lá o tempo todo, mas Agar estava deprimida demais para notá-lo. Observe as palavras exatas do anjo para Agar. O hebraico em Gênesis 21:18 é “s’i et ha-na’ar v’hachaziki et yadech bo”, geralmente traduzido como “Levante o menino e tome-o pela mão”. A tradução literal dessas palavras, porém, é “faz tua mão forte na dele”. Essa é a prescrição da Bíblia para encontrar a saída da desesperança. Encontrar outra pessoa para ajudar; encontrar alguém que você possa pegar pela mão e conduzir a um lugar melhor. Harold Kushner. As nove lições essenciais que aprendi sobre a vida
Isaque, fiho de Abraão é um destes personagens. No capítulo 26 de Gênesis o patriarca tem um encontro com Deus. Neste encontro o Senhor reafirma as promessas feitas a seu pai Abraão:
2“Não desça ao Egito; procure estabelecer-se na terra que eu lhe indicar. 3Permaneça nesta terra mais um pouco, e eu estarei com você e o abençoarei. Porque a você e a seus descendentes darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a seu pai, Abraão.
Isaque confiou na palavra de Deus e estabeleceu seus acampamentos no vale de Gerar. Para prosperar naquela terra era preciso encontrar água. O primeiro poço havia sido cavado pelo próprio Abraão e inutilizado pelos filisteus.
19Os servos de Isaque cavaram no vale e descobriram um veio d’água. 20Mas os pastores de Gerar discutiram com os pastores de Isaque, dizendo: “A água é nossa!” Por isso Isaque deu ao poço o nome de Eseque, porque discutiram por causa dele. Gênesis 26
Os filisteus não estavam reclamando do uso irregular do poço (eles mesmo haviam tapado aquele poço). Isaque, porém, não decide pelo confronto.
21Então os seus servos cavaram outro poço, mas eles também discutiram por causa dele; por isso o chamou Sitna. Gênesis 26
Mais uma vez os filisteus disputaram o poço. Mais uma vez, contudo, o direito estava do lado de Isaque. O patriarca mais uma vez não decide pelo confronto. Após uma terceira peregrinação eles abrem um terceiro poço.
22Isaque mudou-se dali e cavou outro poço, e ninguém discutiu por causa dele. Deu-lhe o nome de Reobote, dizendo: “Agora o Senhor nos abriu espaço e prosperaremos na terra”.
A cada situação difícil da vida, é preciso ter discernimento para saber se o Senhor deseja que sejamos confrontadores, como Abraão, ou pacificadores, como Isaque. Deus pode abençoar e usar as duas abordagens. "Quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" (Rm 12:18). As vezes, isso não é possível, mas devemos pelo menos tentar. Devemos, também, depender da sabedoria do alto, que é "pura" e "pacífica" (Tg 3:17). [Warren Wiersbe]
O critério usado para montar acampamento nesta ou naquela região não era a existência de água ou a ausência de conflito. O acampamneto deveria se estabelecer por indicação divina. Isaque sabia que Eseque, Sitna, Reobote e Berseba seriam dele, porque o legítimo dono (Deus) havia prometido.
Isaque tem dois filhos: Esaú e Jacó. Após enganar seu irmão mais velho e roubar seu direito de primogenitura Jacó foge pelo deserto. Ao fim desta jornada árida ele chega a um poço. Gênesis 29 narra o que acontece aí.
1Então Jacó seguiu viagem e chegou à Mesopotâmia. 2Certo dia, olhando ao redor, viu um poço no campo e três rebanhos de ovelhas deitadas por perto, pois os rebanhos bebiam daquele poço, que era tapado por uma grande pedra. 3Por isso, quando todos os rebanhos se reuniam ali, os pastores rolavam a pedra da boca do poço e davam água às ovelhas. Depois recolocavam a pedra em seu lugar, sobre o poço.
4Jacó perguntou aos pastores: “Meus amigos, de onde são vocês?”
“Somos de Harã”, responderam.
5“Vocês conhecem Labão, neto de Naor?”, perguntou-lhes Jacó.
Eles responderam: “Sim, nós o conhecemos”.
6Então Jacó perguntou: “Ele vai bem?”
“Sim, vai bem”, disseram eles, “e ali vem sua filha Raquel com as ovelhas.”
7Disse ele: “Olhem, o sol ainda vai alto e não é hora de recolher os rebanhos. Deem de beber às ovelhas e levem-nas de volta ao pasto”.
8Mas eles responderam: “Não podemos, enquanto os rebanhos não se agruparem e a pedra não for removida da boca do poço. Só então daremos de beber às ovelhas”.
9Ele ainda estava conversando, quando chegou Raquel com as ovelhas de seu pai, pois ela era pastora. 10Quando Jacó viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Labão, aproximou-se, removeu a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas de seu tio Labão. 11Depois Jacó beijou Raquel e começou a chorar bem alto.
Jacó é a primeira, e praticamente a única, figura da Bíblia a apaixonar-se romanticamente por uma pessoa e a tomar medidas para se casar com ela. Naquele momento, porém, aquele choro não era de paixão. Jacó estava exausto. Sua viagem não era de cortesia. Imagino que aquele choro era a demonstrava profundo alívio por completar aquela jornada de 600km o levara a um poço em que ele poderia não só matar a sede, como também aguardar pelo cumprimento das promessas feitas por Deus em Betel.
José, um dos filhos de Jacó vive uma experiência singular com um poço no deserto. A história está registrada em Gênesis 37:18-24, 28; 50:15-20.
José está com 17 anos de idade e é o queridinho do papai, o dedo duro da família, alcaguete dos erros dos irmãos. Seus irmãos passam a odiá-lo por isto e depois de algum tempo decidem matá-lo. Temendo sujar as mãos com seu sangue decidem jogá-lo num poço seco no deserto - para que morra de fome e sede. Convencidos por um dos irmãos, decidem, porém, vendê-lo como escravo a uma caravana egípcia. Quem diria que aquele poço seco - prejuízo para quem o perfurou - serviria pra salvar a vida de José no deserto!
Pense em José no poço, um buraco no meio do deserto quente. A tampa foi tirada da abertura e a venda de seus olhos: la em cima estão seus irmãos, rindo e comendo como se não tivessem feito nada demais, com a intenção de abandoná-lo para passar seus dias com as aranhas e cobras e depois morrer no poço. (LUCADO)
Décadas mais tarde José teve a oportunidade de se vingar de seus irmãos. No entanto, aqueles anos no exílio egípcio produziram uma transformação no caráter de José. Ele não tinha mais sede de vingança. Agora ele tinha sede de salvação.
"Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos." (Gênesis 50:20)
Moisés - descendente direto da providência divina através de José - tornou-se um especialista em poço deserto. Durante sua fuga do Egito (onde havia cometido um assassinato) Moisés (já com quarenta anos de idade) encontra um poço no deserto. O episódio é narrado em Êxodo 2:
15Quando o faraó soube disso, procurou matar Moisés, mas este fugiu e foi morar na terra de Midiã. Ali assentou-se à beira de um poço. 16Ora, o sacerdote de Midiã tinha sete filhas. Elas foram buscar água para encher os bebedouros e dar de beber ao rebanho de seu pai. 17Alguns pastores se aproximaram e começaram a expulsá-las dali; Moisés, porém, veio em auxílio delas e deu água ao rebanho.
18Quando as moças voltaram a seu pai Reuel, este lhes perguntou: “Por que voltaram tão cedo hoje?”
19Elas responderam: “Um egípcio defendeu-nos dos pastores e ainda tirou água do poço para nós e deu de beber ao rebanho”.
20“Onde está ele?”, perguntou o pai a elas. “Por que o deixaram lá? Convidem-no para comer conosco.” 21Moisés aceitou e concordou também em morar na casa daquele homem; este lhe deu por mulher sua filha Zípora.
Moisés precisava aprender os caminhos do deserto. O Moisés de quarenta anos era um homem da cidade. O Moisés octagenário conhece o nome de todas as cobras e a localização de todos os poços de água. Se ele precisa liderar milhares de hebreus pelo deserto, é melhor saber o básico. Como você explica? Removido do Egito aos quarenta e escolhido como libertador aos oitenta. Por quê? O que ele sabe agora que não sabia naquela época? O que ele aprendeu no deserto que não aprendeu no Egito?
Séculos mais tarde o profeta Jeremias também experimentou a experiência de ser jogado em um poço. No início de seu ministério profético sua denúncia era clara:
“O meu povo cometeu dois crimes:
eles me abandonaram,
a mim, a fonte de água viva;
e cavaram as suas próprias cisternas,
cisternas rachadas que não retêm água." (Jeremias 2:13)
Esta denúncia irritou profundamente os líderes rebeldes de Israel. Jeremias foi acusado de desencorajar o moral das tropas e do povo. Os líderes, no entanto, não compreenderam que as palavras de Jeremias eram a manifestação do pathos divino para aquela geração e decidiram matar o profeta.
38:4Então os líderes disseram ao rei: “Este homem deve morrer. Ele está desencorajando os soldados que restaram nesta cidade, bem como todo o povo, com as coisas que ele está dizendo. Este homem não busca o bem deste povo, mas a sua ruína”.
5O rei Zedequias respondeu: “Ele está em suas mãos; o rei não pode opor-se a vocês”.6Assim, pegaram Jeremias e o jogaram na cisterna de Malquias, filho do rei, a qual ficava no pátio da guarda. Baixaram Jeremias por meio de cordas para dentro da cisterna. Não havia água na cisterna, mas somente lama; e Jeremias afundou na lama.
7Mas Ebede-Meleque, o etíope, oficial, ouviu que eles tinham jogado Jeremias na cisterna. Ora, o rei estava sentado junto à porta de Benjamim, 8e Ebede-Meleque saiu do palácio e foi dizer-lhe: 9“Ó rei, meu senhor, esses homens cometeram um mal em tudo o que fizeram ao profeta Jeremias. Eles o jogaram numa cisterna para que morra de fome, pois já não há mais pão na cidade”.10Então o rei ordenou a Ebede-Meleque, o etíope: “Leve com você três homens sob as suas ordens e retire o profeta Jeremias da cisterna antes que ele morra”.11Então Ebede-Meleque levou consigo os homens que estavam sob as suas ordens e foi à sala que fica debaixo da tesouraria do palácio.
Com lama até o pescoço Jeremias não podia fazer nada para se salvar. Deus, porém, conhecia a fidelidade do seu mensageiro, e moveu o coração de outras pessoas para libertá-lo daquela situação.
Durante seu ministério terreno Jesus encontrou um homem à beira de uma cisterna (poço). Ele mendigava às margens daquela cisterna ha 38 anos. Jesus trava o seguinte diálogo com aquele homem:
João 5:1Algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos judeus. 2Há em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, um tanque que, em aramaico é chamado Betesda, tendo cinco entradas em volta. 3Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas. 4De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitadas as águas, era curado de qualquer doença que tivesse. 5Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. 6Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?”
7Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.
8Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”. 9Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar.
Na conversa com o paralítico Jesus faz uma pergunta crucial: “Você quer ser curado?” A transformação da vida passa pela vontade.
Há um provérbio gaélico que diz: “Nada é fácil para os que não estão dispostos.” Sem a disposição, a jornada será impossível. (DESMOND TUTU)
Se as águas daquele poço, ao serem agitadas por um anjo, podiam curar qualquer doença, ali estava alguém que podia, a qualquer momento, dar ordem para que as águas se movessem - e curar quem Ele quissse. Jesus diz, inclusive, que há um poço seco dentro do nosso próprio coração de onde Ele é capaz de fazer fluir água viva.
“Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. João 7:38
Num outro destes encontros no poço, Jesus se encontra com uma mulher retirando água sozinha sob o sol escaldante do meio dia. Ela estava se escondendo dos outros. Mas ninguém pode se esconder de Jesus.
João 4:6 “Havia ali o poço de Jacó.”
Aquele poço sempre havia estado ali. Pelo menos ninguém daquela geração teve o trabalho de cavar aquele poço. Suas águas sempre tiveram o mesmo gosto. Mas não naquele dia. Não para aquela mulher. Jesus tem com aquela mulher uma conversa transformadora.
João 4:10 “Se você conhecesse o dom de Deus e quem está pedindo água, você lhe teria pedido e dele receberia água viva”
v.28 Então, deixando o seu cântaro, a mulher voltou à cidade...
Que festa maravilhosa aquela mulher fez quando voltou do poço naquela tarde!!! Reuniu seus vizinhos (com os quais possivelmente gozava de má-reputação) e contou tudo o que lhe ocorrera! Ela havia bebido da água viva e, como o Pequeno Príncipe, teve uma sensação singular.
Ergui o balde até seus lábios. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa.
Na cruz, Jesus também teve sede. Naquele momento a água de qualquer poço poderia aliviá-lo.
João 19:28 “Jesus disse: tenho sede”
v.29 “Estava ali uma vasilha cheia de vinagre”.
Na cruz a água do poço de Jacó poderia aliviar a sede do crucificado, mas não havia quem molhasse a boca do Mestre; preferiram lhe oferecer um entorpecente... queriam usar a velha solução do planeta do bêbado.
O Retorno
Não posso carregar este corpo até lá. É muito pesado.
Existem aqueles que enxergam no desfecho do livro uma espécie de oráculo fúnebre pessoal: “Quando [Saint-Exupéry] terminou a narrativa, leu o final para mim chorando, como se houvesse pressentido o próprio fim, que seria parecido com o do pequeno príncipe.”
A morte do protagonista foi julgada forte demais para as crianças americanas. Os editores chegaram a sugerir uma nova versão do final. Saint-Exupéry não cedeu: “As crianças aceitam tudo que é natural. E a morte é natural… Nenhuma criança ficará transtornada com a partida do pequeno príncipe.”
O livro, afinal de contas, explicitamente afirma que a partida da criança, embora provoque a dor da separação, não necessariamente é sinônimo de morte. Nesse caso, o arquétipo seria uma solução necessária aos prejuízos causados pela racionalidade extravagante dos adultos e resgatar neles o encantamento do mundo e de suas relações com tudo e todos. Vale lembrar que, no início do livro, o pequeno príncipe não aparece para salvar o aviador do deserto, e sim para fazê-lo retomar sua “magnífica carreira de pintor”.
Munidos de sabedoria e alegria, o piloto e o pequeno príncipe devem encarar o retorno, o que significa que devem também se separar. Um capítulo mais longo é dedicado ao encerramento da jornada. É chegado o momento em que o principe aceita a oferta da serpente para livrar?se do peso de seu corpo e retornar a seu planeta. Ora, essa forma de “retorno às origens” é alusão à morte física, que no contexto da obra é transformada em “rito de passagem”. E não é indolor.
Recentemente participei de um serviço fúnere de um parente querido. Fazia muito calor e durante o serviço religioso não menor que três pastores se revesaram em longos sermões proselitistas - afirmando a necessidade absoluta de entregar-se a Cristo enquanto ainda estavamos vivos. Todo aquele palavrório me deixou pensativo. Ninguém estava ali para ouvir uma palavra proselitista. Estavam lamentando um querido que partiu sob circunstâncias tristes e lamentáveis.
Conversando casualmente com uma tia que também estava presente compartilhei com ela que o melhor sermão que ouvi aquela tarde foi proferido por um passarinho que ia e voltava do seu ninho provavelmente trazendo alimento para sua cria. Me lembrou bem do universo de Aristóteles, todo ele encaixadinho, o vento venta cumprindo o seu papel, a maré mareia, o sapo sapeia, a girafa girafeia, o pássaro passareia e assim por diante? Aquele passarinho passarinhando estava fazendo exatamente aquilo que o Criador preparou pra ele.
Dentre todas as criações o homem foi a máxima de Deus. O homem é a única criação de Deus que se apropria da imagem e da semelhança divina. Ele não só é um ser vivente criado por Deus, ele também é a imagem e a semelhança de Deus no universo. Assim, podemos inferir que se há um propósito específico para cada criação de Deus; que dizer então da criação do homem? Se você está lendo esse texto não há dúvidas que você não só é uma criação de Deus, mas também é a sua máxima criação. Isto lhe deve dar o senso de que sua vida tem um propósito divino e este foi estabelecido por Deus antes da fundação do mundo.
Naquela tarde quente o sermão daquele passarinho me lembrou que Deus me criou com um propósito. Num dos sermões favoritos do Rabi Harold Kushner - Commanded To Live ele diz "A tradição judaica nos ordena a viver. Mesmo antes de dizer como viver; nem mesmo ainda onde viver. A tradição nos ordena a viver, porque o próprio ato de viver é um mitzvah, uma obrigação religiosa.
Deuteronômio 30:19b não é uma opção: é um imperativo categórico: escolhe, pois, a vida
Só conseguiremos descobrir exatamente o porquê fomos criados se debruçarmos seriamente sobre as Escrituras Sagradas e na Oração. Segundo Mark Twain “Os dois dias mais importantes da sua vida são: o dia em que você nasceu, e o dia em que você descobre o porquê.” Cada homem e cada mulher foram criados por Deus para cumprir um papel específico na existência. Tal cumprimento de papel é de fundamental importância para que se leve uma vida feliz e plena diante de Deus e diante dos homens. Ser para o que somos diante de Deus, eis o caminhar da felicidade!