O retorno da boneca Momo em vídeos infantis não passa de boato
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Reportagem IstoÉ
Em 2016, a escultura de silicone Momo foi exibida em uma galeria de Tóquio, capital do Japão. A obra do artista Keisuke Aiso, de 46 anos, rapidamente ficou conhecida nas redes sociais, mas agora nem existe mais, pois seu criador a jogou no lixo. Ele diz que se sente responsável pelo uso negativo que fizeram da imagem. As informações são do jornal O Globo.
“Ela não existe mais, não foi feita para durar. Estava desgastada e joguei fora. As crianças podem ter certeza de que Momo está morta. Ela não existe e a maldição se foi”, disse o artista ao jornal britânico The Sun.
A escultura fazia parte da série batizada ‘Aversão’ e imagens dela viralizaram nas redes sociais no ano passado. Inicialmente, internautas compartilhavam números de celular dizendo que Momo enviaria mensagens macabras e desafios que poderiam ser fatais, gerando preocupação no mundo todo.
O desafio da Momo teria voltado este ano, dessa vez em vídeos infantis no YouTube que teriam trechos da boneca ensinando crianças a se suicidarem. A plataforma, no entanto, nega que esse tipo de conteúdo tenha sido publicado.
Reportagem SuperInteressante
As feições bizarras da boneca Momo alcançaram fama mundial em 2018. Em julho daquele ano, o YouTube foi inundado por vídeos de adolescentes unidos em um mesmo desafio: entrar em contato com a tal personagem, representada pela escultura de uma cabeça humana em cima de pés de pássaro, e que supostamente respondia a quem a “invocasse”.
Quem fosse “corajoso” o suficiente deveria contatar Momo por um número de WhatsApp com DDD do Japão. O retorno, quando existia, envolvia frases sinistras e ameaças, além de imagens violentas que incitavam o suicídio. Especulou-se à época de que esta seria uma forma de roubar dados pessoais e que a brincadeira de fato acabou causando a morte de crianças ao redor do mundo. Nada nunca confirmado de fato pelas autoridades. O nome de quem estava por trás do suposto número, alimentando a história, jamais foi descoberto.
Mas a origem da personagem não tinha nada de obscuro. Trata-se da escultura Mother Bird (mãe-pássaro, em inglês), feita pelo artista plástico japonês Keisuke Aiso, que foi exposta em uma galeria de Tóquio em 2016. Ela tem um metro de altura e mescla uma figura humana com um pássaro, inspirada em uma lenda japonesa de uma mulher morre no parto e retorna para assombrar os vivos.
Aiso, que sempre negou qualquer envolvimento na propagação desse fenômeno pela internet, afirmou recentemente que havia jogado a Momo original no lixo poucos dias antes da escultura viralizar pela primeira vez.
Entre os recados principais de Momo estariam falas instruindo os pequenos a se automutilarem ou usarem objetos cortantes para ferir os pais e familiares, por exemplo. O problema foi atribuído à ação de trolls de internet, que estariam usando a figura para inserir conteúdo no site e impressionar crianças.
Mas há provas de que a coisa não foi bem assim. Especificamente no Youtube Kids, todas as evidências indicam que os trechos com a boneca, mesmo supostamente “disfarçados” em vídeo infantis, nunca existiriam.
Mais do que fazer os pequenos terem pesadelos, a história acabou colando especialmente com os pais - após circular em grupos de redes sociais nos últimos dias. Como a maioria dos mistérios envolvendo a tal Momo, porém, a história envolvendo o YouTube Kids nasceu mal contada. E alguns motivos ajudam a explicar isso.
O que prova que é boato
O Google, que responde pelo YouTube, afirmou que não existem vídeos circulando no YouTube Kids que façam qualquer menção a Momo.Ok, mas e os pais e crianças que teriam visto o vídeo? O mais provável é que tenham encontrado a boneca em outra plataforma - no WhatsApp, no Facebook, ou, no máximo, em um vídeo do ambiente geral do Youtube, e não no Youtube Kids.
A informação foi confirmada também por outras fontes. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, declarou ter passado dois dias analisando o conteúdo disponibilizado no YouTube Kids à procura de algum indício da Momo sem encontrar nada. Outro sites como UOL e o português MAGG também conduziram investigações e não acharam registros do tipo.
A afirmação que circula em correntes do WhatsApp, de que os vídeos originais foram “hackeados” também não procede. Para que alguém mal intencionado alterasse o conteúdo já existente, precisaria tirar o vídeo do ar e subir novamente para o YouTube Kids - o que comprovadamente não aconteceu.
Como se tem tanta certeza disso? É que o YouTube é muito bom em encontrar coisas que não deveriam estar nos vídeos, como imagens que ferem direitos autorais. Eles tem algoritmos precisos e especializados nisso. No YouTube Kids - um ambiente criado especificamente para que crianças pudessem navegar por horas sem esbarrar em conteúdo mais adulto do Youtube em geral - esse controle é assumidamente maior, com filtros bastante rígidos.
Cauã Taborda, gerente de comunicação do YouTube na América Latina, disse em entrevista à revista Crescer que “além da análise automática, que existe também no YouTube convencional, no YouTube Kids, contamos com a curadoria humana feita por mais de 10 mil pessoas. Elas, basicamente, pegam o conteúdo que está disponível no YouTube e filtram os conteúdos infantis, certificando-se que, de fato, são adequados para esse público. Só então aquele conteúdo fica disponível para o Kids”. Sendo assim, qualquer coisa contendo violência explícita dificilmente passaria batido.
Desde o dia 1º de março o YouTube decidiu desmonetizar qualquer vídeo relacionado a Momo - o que se aplica, em geral, a um número enorme de vídeos sendo produzidos por youtubers e canais de imprensa, explicando a história da boneca toda. A ideia tem como objetivo como forma de diminuir o apelo do assunto e o número de postagens do tipo na plataforma, mas sem “censurar” as notícias sobre o tema.
Com tudo isso, os pais assustados com a Momo podem se sentir mais tranquilos. O Youtube Kids segue como um ambiente seguro para crianças. Outros ambientes digitais, como o Whatsapp, de fato, não filtram o conteúdo de seus usuários, porque não tem acesso direto a ele. As mensagens, afinal, são confidenciais. Nesse caso, é importante que o uso infantil dessas redes seja supervisionado de perto. Mas não (só) por causa de uma boneca assustadora.
