Os dez erros mais comuns dos pais de primeira viagem

No consultório, no rádio e em seminários por vários pontos da América do Norte, falei a inúmeros pais de primeira viagem. Com o passar das décadas, acabei me familiarizando com os erros iniciais dos pais do mesmo modo que os médicos se familiarizam com doenças comuns. Aqui estão os erros que os pais de primeira viagem mais tendem a cometer — e o que você pode fazer caso se veja cometendo alguns deles.

1. OLHAR CRÍTICO

Qual é o seu padrão de comportamento? É a perfeição? Seu objetivo é criar um manequim computadorizado que fará tudo o que você disser, assim que disser?

Se é assim, deixe-me fazer uma pergunta. Quando foi a última vez que você teve um dia perfeito? Quando aconteceu o último período contínuo de vinte e quatro horas em que você não pronunciou uma única palavra torta nem respondeu com um pouco de lentidão a pelo menos um pedido? Quando foi que você manteve uma atitude positiva durante um dia inteiro?

Há uma razão para eu ter escolhido esta como a primeira armadilha na qual os pais de primeira viagem estão propensos a cair. Vocês nunca criaram um filho. Vocês pensam como adultos. Sua tendência será a de tentar criar a criança “perfeita” e vocês podem enterrar seu filho debaixo das elevadas expectativas que têm para ele.

Nunca se esqueça de que educar leva tempo e de que o padrão não é a perfeição. Quando você prepara uma refeição, ela sai sempre perfeita? Quando estaciona o carro, ele fica a exatos trinta centímetros da guia, com os dois pneus milimetricamente paralelos a ela? Quando passa uma calça, os vincos ficam perfeitamente dobrados?

Duvido. Em muitos momentos precisamos nos contentar com o “suficientemente bom”. Então, por que os pais fazem isso com seus filhos?

Veja esta cena comum. A mãe de primeira viagem diz a Rebeca: “Beca, quero que você vá e arrume sua cama”.

A pequena Beca, de 4 anos, faz o que lhe foi dito. Mamãe entra, vê uma pequena elevação, puxa o lençol, percebe que ele está um pouco mais comprido de um lado que do outro, rearranja as cobertas, amacia o travesseiro e se volta para a agora desanimada criança.

“Bom trabalho, Beca”, diz mamãe. Mas suas ações transmitem uma mensagem diferente. Não importa o que essa mãe diga à filha agora, pois o pensamento da menina será: “Errei de novo”. Se suas palavras dizem uma coisa, mas seus atos, outra, adivinhe em qual deles seu filho vai acreditar? Naquele que diz “Você não consegue”.

As mães fazem isso o tempo todo. Daqui a poucos anos, seu filho aprenderá a ler. Ele falou duas frases perfeitamente, mas errou na pronúncia de uma palavra da terceira frase. Um grande número de mães de primeira viagem vai imediatamente se levantar e dizer: “Oh, não, Mateus, o som precisa ser mais aberto. Tente outra vez”.

Quando o filho número quatro cometer um erro semelhante, você e seu marido rirão. “Que bonitinho! Ele diz celebro’ em vez de cérebro’”. A razão disso é que, naquela ocasião, vocês já saberão que, no fim, seu filho acabará acertando. Mas o primogênito raramente recebe essa tolerância.

Espero que você, como mãe, escolha ser uma presença que encoraja e acolhe. Fora de casa, todo mundo vai querer uma parcela de seu filho. Os professores querem que ele coopere e que tenha boas notas. Os companheiros de jogo querem que ele participe. Os irmãos mais novos querem que ele ajude a amarrar o sapato deles. Se seu filho chegar em casa e a mãe fizer as mesmas exigências — “Vamos lá, querido, pule por cima da alta barra da vida uma vez mais!” — ele estará bem cansado quando tiver 18 anos.

Quero em especial enfatizar isso aos pais de primeira viagem, porque seu primogênito já será altamente motivado. Quando você condiciona o amor e lhe pede para fazer malabarismos e saltar sobre obstáculos antes que consiga jantar, você está simplesmente colocando gasolina em um incêndio já fora de controle.

Conheço uma mulher com pouco menos de 40 anos que recentemente sepultou sua mãe. A família tinha várias irmãs e um irmão e, depois do funeral, as irmãs se reuniram e simplesmente conversaram sobre a mãe. “A casa não estava sempre limpa”, admitiram elas, “e as refeições certamente não tinham uma alta qualidade na maioria das vezes. Mas mamãe sempre estava conosco. Ela sempre parava para escutar, fazer perguntas, nos acariciar as costas na hora de dormir e nos ouvir falar sobre os problemas na escola, sobre amigos ou sobre rapazes”.

Que coisa maravilhosa para se dizer sobre você! Aquela mãe dava importância ao que é importante. Ela era acolhedora e amorosa, e é assim que seus filhos se lembram dela. Ora, você gostaria que seus filhos dissessem algo mais ou menos assim a seu respeito: “A casa estava sempre nos trinques. As refeições pareciam pratos da alta gastronomia, mas quer saber? Nunca conseguíamos agradar aquela mulher, não é? Parecia que ela estava sempre mais preocupada se havíamos tirado o sapato do que saber como foi o nosso dia. Se tirássemos três notas A e duas notas B, ela queria saber o porquê das duas letras B. Pelo menos agora ela não vai mais ficar falando em cima de nós”?

A maioria das crianças é muito exigida hoje em dia. Os pais querem que seus filhos sejam o número um em tudo o que fazem. Se o filho fica em segundo lugar em alguma coisa, os pais são rápidos em inscrevê-lo num programa especial ou contratar um professor particular, para manter a ilusão de que a criança é realmente superior em todas as coisas. Uma de minhas filhas e seu marido são professores. Algumas das crianças que frequentam suas classes são medianas em inteligência e obtêm notas medianas — mas isso não é bom o suficiente para os pais. Eles criam todo tipo de movimento na tentativa de arrancar dos filhos algo que simplesmente não está ali.

Por favor, aceite seu filho como ele é. Ele não será excelente em todas as coisas.

Logo no início, assim que seu bebê conseguir sentar e, depois, quando for capaz de empilhar os brinquedos, você terá de escolher qual será o seu padrão. É a perfeição?

Podemos aprender muito assistindo aos jogos da Special Olympics.1 Todas aquelas crianças correndo com um sorriso, vendo todos receberem uma medalha no final — isso é realmente muito tocante. À medida que as crianças crescem, elas podem competir. Quero que meus filhos mais velhos aprendam a perder. Mas, logo no início, não quero enterrá-los embaixo de um desnecessário e elevado padrão de perfeição.

Considere isso como parte da formação de vínculos: você se sente atraída pelas pessoas que têm todas as respostas ou por pessoas que sejam reais? A maioria de nós é atraída por pessoas reais. Seus filhos serão do mesmo jeito.

Uma palavra final sobre isso para você que é esposa. Você terá de ser muito cuidadosa com seu marido nesse aspecto. Os homens têm a tendência de ser excessivamente duros e críticos com os primogênitos. Um rapaz compartilhou comigo o modo como seu pai o criticava o tempo todo quando ele era criança. O pai o repreendia por ser “teimoso feito uma mula” ou por ser um menino simplesmente detestável. O filho não consegue se lembrar de nenhuma palavra de encorajamento.

Por fim, o garoto se cansou. Depois de ser chamado mais uma vez de mula, ele procurou a palavra no dicionário.

— Pai — perguntou ele — você realmente acha que eu sou uma mula?

— Se você não for uma mula — respondeu o pai — então não sei o que é uma mula.

— Eu estava pensando, porque procurei a palavra “mula” no dicionário e lá diz que se trata de um animal que teve uma égua como mãe e um asno como pai.

O filho me disse: “Ele nunca mais me comparou com uma mula outra vez”.

2. EXCESSO DE ATIVIDADES

Talvez eu tenha uma visão preconceituosa da natureza humana, devido ao fato de ser alguém que é chamado quando uma família está se desfazendo. Eu sou a voz no rádio com a qual se conversa quando surgem os problemas. Sou uma das cabeças falantes que o programa The View, da rede ABC, apresenta para discutir questões familiares problemáticas de nossos dias. Estou ciente de que tudo isso pode influenciar a maneira como penso nas coisas, mas, mesmo assim, creio que as estatísticas me apoiam nesse quesito.

Seu bebê vai crescer e se transformar num adolescente. Com 14 ou 15 anos, ela pode usar drogas e morrer de overdose. Aos 16 anos, ele pode beber um pouco demais, ficar com um pouco de medo do que você vai dizer, mas, mesmo assim, resolver pegar o carro e ir dirigindo para casa — e então se envolver num grave acidente. Aos 17 anos, ela pode fazer sexo com um colega do ensino médio e engravidar; aos 18, ele pode se sentir entediado e resolver fazer ligação direta em alguns carros “apenas por brincadeira”, ou talvez sair e explodir uma lixeira ou duas apenas para ser fichado na polícia.

O que impede seu filho de fazer coisas assim? Todos nós sabemos que muitos jovens caem nesse tipo de armadilha, pois lemos sobre isso nos jornais diariamente. Então, o que os pais fazem para manter os filhos longe de problemas?

A coisa mais importante que você pode fazer para impedir isso deve ser feita nos primeiros anos de vida de seu filho. Crie um ambiente do qual ele se sinta parte e uma atitude de proximidade familiar. Quando estou diante de um grupo de mil pessoas e digo “Quero que cada um aponte para si mesmo”, 999 delas apontam para o coração. O que você precisa cativar como mãe é o coração de seu filho. Você precisa conhecer, ajudar a treinar, proteger e ouvir o coração de seu filho. Isso é mais importante do que fazer que seu filho ou filha de 2 anos se socialize, jogue futebol, comece cedo no balé e tenha aulas de musicalização. Passem os primeiros anos desfrutando da companhia um do outro; use esse tempo para cativar o coração de seu filho.

Embora as crianças sejam hedonistas por natureza, elas querem ser parte de uma família e se identificar com seu lar. A maioria de nós, adultos, já experimentou algo bem semelhante. Na volta de uma longa viagem ou de uma reunião longa, exaustos e cansados, um de vocês diz:

— O que você acha de pararmos para comer alguma coisa?

O outro responde:

— Estou morto de fome, mas quer saber? Só quero chegar logo em casa. Mesmo que seja para comer apenas uma tigela de cereal, quero chegar em casa.

E você diz:

— Olha, você está certo. Vamos para casa.

O mesmo desejo reside em seus filhos. O lar é um lugar especial onde estar. Ao escolher uma vida cheia de compromissos, você estará treinando seu filho para identificar o coração dele com o que está fora de casa. Por que você quereria fazer isso?

Outro problema de lares muito ocupados é que as lições mais profundas são deixadas de lado por falta de tempo. Em vez de conversar sobre o que é realmente importante, os casais passam a maior parte do tempo definindo quem vai levar quem a qual lugar. Os jantares em família são eliminados e, não demora muito, ninguém conversa de fato com ninguém. Cansados demais, pai e mãe ligam a televisão e continuam a viver vidas separadas.

Os filhos observam tudo. Eles verão que você fica mais animada por assistir ao próximo episódio de CSI — Investigação Criminal ou por conversar sobre coisas como seus valores e sua fé pessoal? Você permitirá que o que não é importante no longo prazo atropele o que tem importância eterna? É fundamental que os pais que professam alguma religião não apenas digam que têm fé, mas que a pratiquem de uma maneira que os filhos possam ver — todo dia. Foi preciso acontecer o Onze de Setembro para que muitos norte-americanos acordassem para a importância de Deus na vida de nosso país, e espero que essa seja uma lição da qual não nos esqueçamos logo.

Contudo, aqui está o desafio: não é porque os pais têm fé em Deus que seus filhos terão a mesma fé. Você precisa daquilo que chamo de “transferência poderosa”. A melhor maneira de alcançá-la é viver essa fé na frente de seus filhos, de modo constante e persistente. Deixe que eles a vejam e ouçam orar — e não apenas antes das refeições. Integre sua fé ao seu dia, como se você estivesse numa “conversa constante” com Deus, em vez de simplesmente esperar para falar com ele sobre “coisas importantes”. Mostre a seus filhos que não é preciso esperar até domingo ou quarta-feira à noite para conversar com Deus; ele é parte de sua família todos os dias. Mas, se você estiver muito ocupada e tentar cortar caminho colocando a religião garganta abaixo de seus filhos, provavelmente vai fazer que eles se rebelem. Uma família que aconselhei se surpreendeu quando o filho adolescente passou a se recusar a ir à igreja. Mas eu não pude culpar o filho — ele era forçado a entrar no prédio da igreja sempre que a igreja estava aberta, não importando qual fosse o evento. Não é de admirar que, aos 15 anos, ele estivesse cansado de toda aquela “socialização” da igreja.

Entretanto, se você se mantiver próxima o suficiente de seus filhos, se eles virem como você confia em Deus e o inclui em seu dia e observarem pessoalmente quanto Deus é relevante em sua vida, então podem responder a um convite autêntico. À medida que seus filhos ficarem mais velhos, você logo descobrirá que, assim como eles raramente dão ouvidos aos discursos — em particular aos discursos morais —, eles também raramente perdem as lições da vida: o modo como papai fala quando leva uma fechada no trânsito; se mamãe incentiva ou faz fofoca quando está ao telefone.

Se você investir tempo em sua família e fizer as coisas certas, seu filho, acredite ou não, desejará agradá-la. Se sua filha tiver uma forte identidade familiar, quando alguém lhe oferecer maconha, dizendo “Experimente, você vai gostar”, ela dirá “Sou uma Carvalho, e nós não fazemos isso”.

Se um grupo de garotos estiver atormentando um menino menor e um dos amigos de seu filho segurar o infeliz colega e disser “Vamos lá, Júlio, é sua vez — acerte um soco nele enquanto eu o seguro”, seu filho dirá: “Sou um Andrade, e nós não tratamos as pessoas dessa forma”.

Não há antídoto mais poderoso contra a pressão negativa da sociedade do que criar um forte senso de família e de valores.

“Mas, dr. Leman, meu filho tem 9 meses! Não é um pouco cedo para falar sobre todas essas coisas?”

De modo algum, porque esse forte senso de família e de valores é criado desde o primeiro dia, fazendo os sacrifícios necessários para criar vínculos firmes como família, mantendo seu filho em casa em vez de colocá-lo em quatro ou cinco (ou, mesmo aos 9 meses, em uma ou duas) atividades extracurriculares.

Antes que você perca o controle de sua agenda, passe a faca nela; comece a picá-la. Reserve as melhores horas e os dias mais importantes para sua família. Arranje todo o restante em função disso. Se não couber mais nada, então você já sabe: vai precisar dizer não a todas as outras opções.

3. FALTA DE VITAMINA N

Talvez você tenha comprado vidros de vitaminas B, C, D e E para garantir que seu filho tenha aquilo de que precisa. Podem ser de uma marca ou de outra, ou você pode muito bem ter escolhido a rota da moda antiga e simplesmente garantir que seu filho tenha uma dieta equilibrada.

Meus parabéns.

Apenas não se esqueça da vitamina N.

“Essa é nova, dr. Leman. Nunca ouvi falar dela!”

Vitamina N é N de “não” — não apenas a palavra, mas o conceito. Os pais de primeira viagem caem na armadilha de achar que podem deixar seu filho mais feliz e mais bem ajustado por meio daquilo que dão ao seu filho e das experiências que permitem que ele tenha. Em diversas ocasiões, esses esforços podem simplesmente sair pela culatra.

Não quero ser injusto demais com o Mickey, mas, quando você leva seu filho de 3 anos à Disney, compra aquelas orelhas do Mickey, uma camiseta do Pateta, uma espada do Aladim, pijamas do Rei Leão e óculos escuros do Pato Donald — além de empurrar o carrinho da criança pela Flórida inteira —, não se surpreenda se, à meia-noite, vocês esfregarem seus pés doloridos, olharem um para o outro e concluírem que aquele pode ter sido o pior dia da vida de vocês.

Não dar coisas ao seu filho é muito importante. É comum que o ato de dar coisas de presente às crianças se torne um substituto para o ato de ser pai. Não passamos tempo suficiente em casa, de modo que tentamos consertar isso levando as crianças à Disneylândia— a qual, de fato, não nos permite ter um tempo juntos na mesma medida em que nos distrai do mundo real.

Esse é um padrão de comportamento que os pais podem aplicar para toda a vida. Queremos que nossos filhos sejam ocupados dos 8 aos 12 anos; sendo assim, o que fazemos? Adquirimos filmes e video games para eles, comprando tempo para nós mesmos e, no meio do processo, alienamos nossa família. Quanto mais coisas uma criança tiver, menos tempo ela normalmente passa com papai e mamãe.

As crianças não precisam de metade das coisas que damos a elas. Conheço um jovem pai que tinha vontade de dar à sua primogênita tudo o que ela queria. Contudo, ele e a esposa estavam com um orçamento bastante apertado e não tinham condições de comprar quase nada. Certo domingo, deixaram sua filha no berçário da igreja. Quando a pegaram de volta, uma hora depois, papai notou como ela estava feliz brincando com uma bola com sininhos dentro. Ele foi até a loja e a encontrou por 40 reais. Isso pode não parecer muito para mim ou para você, mas eles não tinham nenhuma folga no orçamento. Sem consultar a esposa, o pai comprou a bola. Ele queria que sua filha ficasse feliz.

Imagine seu desapontamento quando, ao chegar em casa, abriu a caixa e colocou a bola no chão. Sua filha jogou a bola para o lado e começou a brincar com a caixa.

“Não, querida!”, disse ele. “Olhe para a bola! Viu só como ela faz barulho? É igualzinha àquela que você viu na igreja.” Mas a pequenina estava vidrada na caixa; ela nem sequer olhava para a bola.

A maioria dos bebês se cansa dos brinquedos depois de mais ou menos cinco minutos. Se você levar seu filho à casa de um amigo e ficar de olho enquanto ele brinca com o brinquedo do amigo e, então, sair para comprar um igual, achando que seu filho terá horas de diversão, você está cometendo um erro clássico dos pais de primeira viagem. Os brinquedos duram quase o mesmo tempo que as sobras de comida. Os bebês perdem interesse mais rapidamente do que você pode imaginar. Portanto, invista sua energia e suas finanças em passar tempo com seu filho e em interagir com ele, em vez de dar-lhe coisas.

Veja a questão da seguinte maneira: uma criança infeliz é uma criança saudável. Essa declaração surpreendeu você? As crianças precisam aprender como lidar com a negação; elas precisam aprender como tratar um desapontamento. Que melhor lugar para fazer isso do que o lar? E que melhor pessoa para ensinar isso do que o pai ou a mãe?

4. FALTA DE VITAMINA E

Um dos maiores mitos atualmente é a preocupação com a autoestima. Costuma-se pregar hoje que a autoestima nada mais é que um pó mágico que você joga no caminho de seus filhos. São todos os “U-hu! Você é ótimo, você é um grande isso, você é um ótimo aquilo, é realmente especial”, toda essa tagarelice que os “especialistas” sugerem para produzir filhos saudáveis.

O problema que enxergo nessa abordagem é que ela não está ligada a coisas como integridade e caráter. Nem à ideia de retribuir à família. É estima construída em cima de ilusão! O princípio é que, se você fizer todas aquelas coisas maravilhosas por seu filho e enriquecer a vida dele dessa e daquela maneira, de alguma forma ele será a borboleta mais linda que você já viu, totalmente apaixonado por todas as manchas de suas asas. O fato é que esse tipo de pó mágico dura quase tanto quanto uma mosca de banana: não se sustenta.

Em vez de dizer a uma criança quão bela ela é simplesmente por ser criança, você quer ensinar seu filho a pensar de maneira construtiva e positiva. A estima vem da realização de algo e de receber alguma coisa em troca. Se uma criança faz por merecer algo, ou aprende a fazer alguma coisa e, então, seus pais a elogiam sobre o ótimo trabalho que realizou ou o grande esforço que fez ou como ela deve estar se sentindo bem por aquilo que concluiu, essa criança começa a pensar: “As pessoas mais importantes da minha vida — mamãe e papai — percebem o que eu fiz e o que realizei, e reconhecem que eu tenho um papel a desempenhar”. É isso que constrói autoestima, porque ela é construída sobre algo substancioso.

Escute: as crianças não são tão bobas quanto achamos que sejam. Quando você diz a um menino como ele é maravilhoso e ele sabe que não é, como você acha que isso cai na mente dele? A única coisa que isso diz à criança é que ela não pode confiar em papai e mamãe, de modo que, quando um feito genuíno merecer elogios, ele não conseguirá recebê-los. Afinal de contas, ele sabe que seus pais mentiram antes; como ele pode ter certeza de que não estão mentindo agora?

Um pai riu quando sua filha pequena chamou aquelas fitas de “participação” em corridas de “fitas de parabéns por nada”. Ela rapidamente se cansou dessas tiras sem sentido, e com razão. Terminar uma maratona é um grande feito; não é uma realização especial para uma criança de 10 anos concluir uma corrida de cinquenta metros (a não ser nos jogos paralímpicos, ou algo assim, é claro).

O guia da criação permissiva de filhos, que defende a condescendência, baseia-se em sentir-se bem. Esse tipo de criação fortalece as crianças em todas as coisas erradas. As crianças são hedonistas, e você será manipulada por elas caso caia nas armadilhas de que lançam mão. Se você deixar que pensem, ainda que por apenas um instante, que a felicidade delas é o seu principal objetivo de vida, elas vão mexer com suas emoções, choramingar com toda a força e acabar se tornando adultos egoístas que deveríam se envergonhar, e não se orgulhar, da ênfase que dão a si mesmos. Seu trabalho é garantir que você é o pai, não um tipo de bobo do qual elas se aproveitam e cospem fora.

Em vez de se concentrar na autoestima de seu filho, concentre-se em criar uma pessoa doadora, em vez de uma tomadora. Uma maneira bastante prática de fazer isso é ensinar seus filhos a escrever bilhetes de agradecimento. Nem mesmo um presente da vovó é um “direito”; é um privilégio, e deve ser tratado como tal. Ensinar as crianças a dizer “obrigado” é eficiente contra a mentalidade do “tomador”, uma vez que é uma forma de “retribuir”.

Outra abordagem que eu e Sande gostamos de usar é envolver nossos filhos em atos de caridade. Se você conhece uma família que esteja necessitando comprar algum alimento, escreva um cartão, separe um pouco de dinheiro, coloque tudo num envelope e peça ao seu filho que coloque na caixa de correio daquela família. O que você está ensinando à criança é que mamãe e papai estão preocupados em contribuir em favor dos necessitados.

Como família, sustentamos um menino em El Salvador através da organização Compassion International; e Lauren aprecia muito escrever cartas para ele. Além do apoio regular, gostamos de ser criativos. Certa vez fomos a uma feira de usados e compramos um monte de bastões de beisebol, luvas e diversas bolas, o suficiente para que toda a vizinhança pudesse jogar! Lauren ajudou a encontrar e comprar o equipamento, assim como a embalar e despachar o pacote.

Tudo se resume a isto: se você quiser criar um filho compassivo, dê a ele algo pelo que se compadecer. Seu objetivo maior é criar um filho que seja independente depois da universidade, capaz de ser bem-sucedido sem que papai e mamãe estejam olhando por cima dos seus ombros e constante mente dizendo quão especial ele é por ter tirado aquela nota C na prova final de química.

Embora eu não seja fã de encher a agenda da criança, o que gosto muito em atividades como o clube 4-H2 é que nelas a criança é envolvida num projeto — cuidar de um bezerro, por exemplo — e desde o início aprende a conhecê-lo como um todo. No final, se fizer um bom trabalho, recebe a merecida faixa de congratulação durante a mostra dos projetos. Esse senso de realização e orgulho é uma coisa boa, pois se baseia numa realidade substantiva. Eles não apenas se esforçam — são bem-sucedidos. No mundo real, essa é uma diferença significativa e uma distinção altamente relevante. Conheço um homem adulto que, após seu time perder um jogo importante, conversou com seu pai. O filho cometera alguns erros que realmente não deveriam ter existido. O pai não o repreendeu nem o castigou por não ter sido perfeito, mas disse: “Filho, quero que você se lembre do que sentiu quando perdeu, e que nunca mais se esqueça disso. Essa é a motivação de que você precisa para se esforçar ainda mais da próxima vez”. Embora isso possa parecer duro para alguns de vocês, considere, ainda que por um instante, como esse rapaz responderá quando for preterido em sua primeira entrevista de emprego. Em vez de chorar porque a empresa não conseguiu ver suas qualidades “especiais”, ele terá aprendido como se esforçar para ser ainda mais atraente em sua próxima entrevista. Essa é uma lição muito valiosa.

O real encorajamento significa identificar o que uma criança faz e reconhecer sua verdadeira realização — quer esses feitos aconteçam na escola quer em casa. Trata-se de notar aquelas coisas que merecem ser notadas e separar um tempo para mencioná-las.

Veja um exemplo da minha própria família. Há não muito tempo, Hannah e eu tivemos uma conversa. Eu lhe disse como me sentia orgulhoso pelo modo como ela estava escolhendo boas companhias, e mencionei quão feliz me sentia por ela mostrar-se tão sábia ao escolher pessoas com quem dividir suas horas livres. Como Hannah se sentiu depois de ouvir isso? Ela experimentou um cordial senso de realização: “Meu pai está apoiando minhas escolhas, o que deve significar que sou capaz de tomar decisões sábias”. Comentários assim feitos a crianças vão apenas aumentar-lhes a confiança e ajudá-las a continuar a fazer escolhas sábias no futuro.

É assim que se constrói estima verdadeira e saudável nas crianças: encoraje uma boa maneira de pensar (vitamina E). Destaque o que elas estão fazendo certo. Preste atenção às escolhas e às ações que sejam dignas de encorajamento, e não seja econômica. Deixe de lado aqueles comentários do tipo “Hã-hã” ou “Você é especial porque você é você”.

O que de fato interessa é que a coisa mais importante a ensinarmos aos nossos filhos é que devem fazer escolhas corretas, razão pela qual normalmente leio o jornal perto o suficiente dos meus filhos para que possa ouvi-los. Leio sobre acidentes de carro causados por negligência, estudantes universitários que se envenenam com álcool e, então, conversamos sobre isso.

— O que você acha que esse rapaz estava pensando? — pergunto.

— Esse é o problema — um de meus filhos pode dizer. — Ele não estava pensando.

Com uma criança bem pequena, você precisa adaptar um pouco: “Jeferson, mamãe ficou muito feliz por você ter compartilhado seus brinquedos com a Aninha hoje. Isso mostra que você será um grande rapaz!”.

É sabido que isso pode ser um pouco enganoso. Você precisa se aproximar de seu filho e incentivar o que ele fez, sem exagerar e sem comunicar a inverdade de que mamãe e papai o amam porque fez aquilo. Não estou pregando o amor condicional. Estou apenas dizendo que a autoestima é mais bem construída quando se fundamenta em realizações substantivas, não em mediocridades vazias.

Praticamente toda atividade que seu filho executa no dia a dia dá a você a oportunidade de suplementar o caráter dele com vitamina E. Tomemos como exemplo algo tão simples quanto ensiná-lo a guardar seus brinquedos. Com uma criança de 8 anos, você pode dizer: “Querido, quero que você guarde todos os seus brinquedos assim que acabar a reprise deste episódio de Todo mundo odeia o Chris”, e ele deve ser capaz de fazer isso. Com uma criança de 2 anos, você não pode simplesmente dizer “guarde seus brinquedos”. Você precisa abaixar-se fisicamente no chão junto com seu filho e ajudá-lo a guardar as coisas. Você também precisa ter expectativas realistas. A ideia dele sobre guardar suas coisas pode ser pegar aquele pequeno caminhão de plástico e jogá-lo numa caixa. Diante disso, você pode dizer algo como “Obrigado por ajudar a mamãe”, talvez até mesmo batendo palmas juntos. Na maioria dos casos, uma criança dessa idade vai responder batendo palmas também e sorrindo. O resultado, por mais simples que possa parecer, é que a criança pensa: “Posso ajudar a mamãe. Mamãe percebeu que eu estava ajudando!”. A criança já está sendo preparada para a ideia de que pode devolver alguma coisa para sua família. É impossível mensurar quão importante será esse senso de estima e de participação na família quando essa criança chegar à adolescência.

5. ENVOLVIMENTO NO JOGO DE COMPARAÇÕES

Você está criando o tipo de bebê que só usa roupas de grife de lojas caras? Sua preocupação é se seu filho tem os mais recentes brinquedos de estimulação cerebral, se apresenta desenvolvimento físico mais rápido que o de outras crianças da mesma idade, se está falando mais cedo também?

Já conversei com pais que procuram brinquedos educacionais planejados para crianças de 2 ou 3 anos de idade e os compram para o filho de 9 meses e, então, explodem de alegria quando o bebê brinca com eles. “Vejam só!”, dizem. “Ele é tão avançado para sua idade! Logo, logo, ele não vai mais brincar com isso!”

Não tente empurrar seu filho. Uma criança de 9 meses pode gostar de praticamente qualquer coisa se sua mãe estiver vibrando de alegria por cima de seus ombros; ou seja, isso não significa muita coisa. Além do mais, o desenvolvimento humano é um processo longo: se prematuro, não garante que uma criança ficará acima da média por toda a sua vida; ela pode muito bem ser ultrapassada por seus colegas no jardim de infância ou talvez somente no ensino médio. Quando chegamos à casa dos 20 anos, alguns de nós estão acima da média, alguns estão abaixo da média, e a imensa maioria está exatamente no meio. No final, será que isso realmente importa alguma coisa?

Fuja do jogo “bem, o meu filho” como você foge de um incêndio. O jogo “bem, o meu filho” é mais ou menos assim:

Mãe 1: “Meu filho disse a primeira palavra aos 9 meses!”.

Mãe 2: “Bem, o meu filho deu os primeiros passos aos 8 meses e meio!”.

Mãe 3: “Bem, todos os meus filhos deixaram a fralda quando tinham um ano e meio!”.

O desenvolvimento humano não é uma corrida; não se trata de quem chega primeiro a determinado lugar! O caráter exige amadurecimento e, de fato, não é notado até que nos tornemos adultos.

Eu certamente posso fazer propaganda de centenas de crianças que se viraram sozinhas no berço antes de todos os seus colegas — e terminaram na cadeia. Não se preocupe com o progresso de seu filho em relação ao de outras crianças e não fique entusiasmada demais se o progresso dele parecer avançado. Isso não importa.

Seja cuidadosa. A boa motivação pode gerar uma criação de filhos desastrosa. Se você está determinada a ser uma mãe perfeita, do tipo que lê três revistas diferentes sobre criação de filhos, todos os livros mais recentes e registra o progresso do seu filho mês a mês, levando tudo para o lado pessoal (essa é a questão), seu filho terminará usando isso contra você. Ele perceberá que você lhe deu uma boa dose de poder sobre você mesmo.

Ele pode muito bem aguardar até que tenha 8 ou 9 anos. Talvez ele espere até a adolescência para se rebelar. Pode até ser que ele espere até a hora de ir para a universidade, mas é inevitável que até mesmo um filho com inteligência normal perceba ansiedade em sua motivação e pense: “Mamãe dá muita importância a esse assunto; creio que vou assumir isso como motivação pessoal!”. Os filhos têm uma compreensão intuitiva e bastante precisa daquilo que queremos que eles façam, e os mais enérgicos vão de fato tentar derrotá-la se perceberem sua intenção de ser a mãe perfeita que produz os filhos perfeitos.

Em vez de comparar seu filho, desfrute dele. Assim como um jacinto, plante a semente, aguarde um tempo, mantenha os olhos focados, desfrute da primeira florada e, então, deixe-se enamorar pela beleza daquilo que por fim resulta: vinte anos estrada afora.

Você perde muita coisa quando se deixa levar pelo jogo da comparação. Seu primogênito nunca será tão pequeno quanto é agora. Lembro-me de segurar minha quarta filha, Hannah, que nasceu pesando 2,3 quilos. Ela cabia na palma da mão, e eu ficava dizendo a mim mesmo: “Não raramente, costumo pescar peixes com esse peso!”.

Talvez pelo fato de eu já ter criado três filhos até a idade quase adulta, quando Hannah chegou consegui curti-la durante toda a jornada.

Eu a amei com pouco mais de 2 quilos; diverti-me com ela aos 10 quilos. Nunca deixei de adorá-la mesmo quando parecia ter parado nos 27 quilos por dois anos; e a amo agora quando ela se aproxima dos 45 quilos. Quando ela se casar e estiver no nono mês de gravidez, tenho certeza de que a amarei mesmo com 70 quilos!

Ontem mesmo (um dia antes de eu escrever isto), nós dois fingimos que dançávamos na festa de seu casamento. Hannah pode vir a se esquecer desse momento, mas eu nunca me esquecerei. Sei que os dias passam depressa e por isso estou me apegando a toda e qualquer lembrança, sem deixar que nenhuma sequer seja roubada por meio de comparações entre Hannah e suas amigas. Francamente, não me importo que a amiga dela seja 5 centímetros mais alta, 30 segundos mais rápida numa corrida ou 20 pontos mais adiantada no teste de Q.I. De todas as crianças do mundo, incluindo cantoras famosas, atrizes, autoras, âncoras, o que for — eu escolheria Holly, Krissy, Kevin, Hannah e Lauren cem vezes em cem oportunidades.

6. EXCESSO DE AGITAÇÃO

Já voei milhões de milhas. Isso não é exagero; só na American Airlines, já ultrapassei a marca de três milhões. Já passei por todo tipo de turbulência e inconveniente que se possa imaginar.

Mas ainda me lembro da primeira vez em que enfrentei uma turbulência. Estávamos voando, o avião começou a chacoalhar, e eu entrei em pânico. “O que está acontecendo?”, pensei. “O que se passa?”

Mas então olhei à minha volta. O homem ao meu lado continuou lendo seu jornal, como se nada tivesse acontecido. A mulher do outro lado do corredor nem piscou. Ver a calma deles ajudou-me a ficar calmo. Aprendi que a turbulência é uma parte normal de uma viagem de avião, como os solavancos ocasionais na estrada quando você está dirigindo; não há nada a temer.

Hoje, ocasionalmente, vejo alguns principiantes enfrentando seu primeiro golpe de turbulência. A ansiedade toma conta de sua face até que eles olham ao redor e veem que todo mundo está bastante calmo. Então, eles também se acalmam.

Como mãe de primeira viagem, você passará por muitas provações e ansiedades pela primeira vez. Com o filho número dois, você não sentirá tanto essas mesmas provações, uma vez que já terá passado por isso e aprendido que seu bebê sobreviverá a um aumento na temperatura ou a um surto ocasional de diarreia.

Mas, uma vez que, diferente mente de estar num avião, você, mãe de primeira viagem, não tem ninguém na sua própria casa para quem olhar, sua tendência será ficar preocupada demais em relação a coisas pequenas.

Por que isso é um problema?

Bem, lembra-se de quando falamos sobre vínculos? Eu disse que não apenas você será capaz de ler seu filho, como ele também será capaz de ler você. Você não conseguirá esconder de seu filho sua ansiedade, mamãe — ele conhece você. Quando o segurar, ele ouvirá seu batimento cardíaco de 150 batidas por minuto e pensará: “Por que tudo isso? Algo deve estar errado!”. Quando sua voz está tensa ou preocupada, ele percebe como se fosse um detector de mentiras. Nada escapa dele porque, por vários meses, você foi o mundo inteiro para ele. Ele estudou você e a conhece. Ele é a última pessoa que você pode enganar.

Os bebês se saem melhor com mães calmas e confiantes. Isso lhes dá um senso de segurança, serenidade e paz. Aprenda a falar palavras tranquilizadoras em vez de assustar seu filho diante da menor lamúria. Seu bebê seguirá o seu exemplo. Se ele ouvir você falando calmamente com ele, ele pensará: “Bem, mamãe não está preocupada; tudo deve estar bem. Talvez eu devesse me acalmar também”.

O que vejo acontecer com muita constância entre as mães de primeira viagem é que o bebê fica agitado, fazendo que a mãe fique agitada, então o bebê fica ainda mais agitado, o que, é claro, deixa a mãe ainda mais agitada, e assim por diante.

Relaxe. Fique calma. Seja uma presença tranquilizadora para seu filho. Não trate coisas pequenas como se fossem questões de vida ou morte.

Outra coisa que deixa as mães de primeira viagem extremamente afobadas é tratar desenvolvimentos normais como se o filho delas tivesse suplantado Einstein. Você não vai fazer isso com seu filho número dois nem com o número três, mas garanto que fará isso com seu filho número um.

Por exemplo, vamos falar sobre a primeira vez em que o bebê vai ao banheiro, sem fralda. Não é segredo que, quando você alimenta uma criança com leite materno, leites industrializados especiais ou potes de papinha para bebê, tudo isso terminará saindo pelo outro lado. Isso acontece sempre. Na China. No Peru. Na República Tcheca. E, sim, no seu velho e bom país. Os bebês comem. Os bebês fazem cocô.

Nada de mais, certo?

Bem, para pais de primogênitos, isso é muita coisa!

Frederico, com seus 20 meses de vida, finalmente consegue escalar o grande vaso sanitário — não aquela pequena cadeira plástica com um penico, imagine você, mas aquele de cerâmica, com a marca do fabricante impressa. Depois de um minuto ou dois de contemplação, ele termina “fazendo”, e adivinhe quem aparece no banheiro? A mãe de primeira viagem, ora!

A mãe de primeira viagem olha duas vezes para se certificar do que viu Frederico fazer no “penico de gente grande”. Então, olha para dentro do vaso e descobre que o filho criou uma obra-prima de 10 centímetros, a qual flutua pacificamente na privada. Orgulhosa como um pavão, a mãe de primeira viagem chama seu marido. “Heitor, Heitor, venha aqui, rápido! Venha ver o que o pequeno Frederico acabou de fazer!”

O pai de primeira viagem joga no chão o caderno de esportes do jornal, olha para a privada e diz: “Meu garoto! Bom menino. Que trabalho excelente!”.

O que Frederico, em seus 20 meses, está pensando? “Sabe, isso foi muito fácil; um pequeno barulho e lá estava ele. Essas pessoas farão qualquer coisa em troca de diversão.”

Se exagerar nas pequenas coisas da vida, você está se preparando para ter grandes desapontamentos, e também se arriscando a criar no seu filho um complexo de messias. Quando você se preocupa demasiadamente com as coisas básicas — criança comendo, criança molhando e sujando as calças, dormindo etc. — é como se estivesse latindo para uma árvore na qual não há nenhum gato. Depois de algum tempo, se você exagerar em relação a essas coisas naturais, a criança reagirá de volta. Lá no fundo, ela pensará: “Oh, eles realmente se importam com isso, não é?”. E, então, seu filho usará esse novo poder contra você.

Se você exagerar, estará transformando situações normais em lutas de poder. Já vi pais com título de ph.D. se fazerem de bobos com uma colher infantil, tentando convencer a criança a comer: “Aqui vai o aviãozinho, querido; abra bem a boca para o avião entrar!”. Tão logo o avião se aproxima do espaço aéreo diretamente à frente da boca da criança, os lábios dela se fecham, bem apertados. O hangar está fechado!

Ou as mães de primeira viagem ficam tensas porque seu filho está chorando. Os bebês devem chorar; é isso o que eles fazem! Você, mamãe novata, já abraçou, beijou e cantou para seu filho o dia inteiro. Ora, trate-me assim e também vou chorar quando você se afastar de mim!

Uma ida ao banheiro não é uma grande realização. Descobri ainda pequeno, fazendo experiências com as bonecas da minha irmã Sally, que aquilo que entra tem de sair. Eu sei porque experimentei pepsi, leite, chá gelado (e algumas outras substâncias que preferia que minha mãe não ficasse sabendo), e tudo isso saiu do corpo plástico de Betsy, a boneca que chora e vai ao banheiro.

Portanto, ainda que possa ser a primeira vez para você, mamãe, as reações naturais que você vê acontecer em seu filho acontecem todo dia há milhares de anos.

7. EXCESSO DE DISCIPLINA

Como mãe de primeira viagem, você provavelmente não está tão familiarizada com o comportamento próprio da idade quanto uma mãe de segunda ou terceira vez. Assim, você tende a se exceder na disciplina sobre seu filho.

Ouço histórias como esta o tempo todo: uma criança de 3 anos rouba um biscoito e então mente sobre isso; a mãe de primeira viagem bate na criança, coloca-a na cama sem jantar e, depois, trata a criança como um cidadão de terceira classe por quatro dias. “Você está mentindo para a mamãe de novo? Tem certeza? Vou contar os biscoitos mais uma vez, porque você sabe que mamãe não pode mais confiar em você.”

Com crianças bem pequenas é muito mais benéfico aproveitar a oportunidade para treinar, em vez de envergonhar e marginalizar. Se minha filha de 3 anos roubasse um biscoito e depois mentisse em relação a isso, eu simplesmente a chamaria de lado e diria:

— Querida, ouça, fiquei sabendo que isso não é verdade. Havia três biscoitos aqui há apenas cinco minutos e agora existem apenas dois. Ninguém mais esteve aqui, a não ser eu e você. Você pegou esse biscoito, não foi?

— Talvez.

— Querida, como você se sentiria se me perguntasse se poderiamos sair para tomar um sorvete e eu dissesse sim, mas, quando você saísse do seu quarto com os sapatos calçados, pronta para ir, eu dissesse “Eu nunca disse que lhe daria um sorvete. Volte para o seu quarto e tire os sapatos”? Você não iria gostar, não é?

— Não.

— Sabe, numa família é muito importante que todos digam a verdade. Dessa maneira podemos depender uns dos outros. Portanto, vou perguntar outra vez: você pegou aquele biscoito?

— Sim.

Depois dessa discussão, talvez você queira proibi-la de comer a sobremesa do almoço ou do jantar, mas qualquer coisa além disso é exagerar na dose. Não transforme uma espinha no rosto no monte Everest!

Às vezes nos esquecemos de que as crianças pequenas são pessoas; elas não são robôs. Elas ficam cansadas e, consequentemente, mal-humoradas. Às vezes somos culpados pelo mau humor delas; nós as deixamos acordadas até tarde, tentamos fazê-las realizar demais e então ficamos pensando por que estão se comportando mal.

Muito frequentemente, o melhor a fazer é apenas colocar a criança para tirar uma soneca quando ela está irritadiça, em vez de tentar extrair uma lição de vida de um ato de impaciência. Aprenda a reconhecer as limitações humanas de seu filho e pare de esperar que ele sempre reaja com regularidade robótica. Espere um pouco para descobrir o que está acontecendo: “Você está assustado, querido? Alguma coisa está machucando você? Acho que você está bem cansado, não é?”.

Há muitos pais e mães de primeira viagem que leem no comportamento de uma criança coisas que simplesmente não estão ali. A criança está cansada, mas os pais agem como se a criança fosse um criminoso em formação. Em vez disso, simplesmente trate o cansaço, e a aparente rebelião desaparecerá. Assim, você poderá lidar com a verdadeira rebelião quando ela surgir.

Já vi até mesmo a curiosidade saudável e normal ser interpretada erradamente como rebelião. Certa vez, enquanto apresentava um programa de entrevistas numa rádio, recebi uma ligação da mãe de uma criança de 9 meses.

— Dr. Leman — disse a mãe — esta manhã minha filha estava propositalmente desobediente, e quero saber como fazer para que ela aprenda a se comportar.

— O que ela fez? — perguntei.

— Ela foi até o sofá e pegou algumas almofadas decorativas. Eu lhe disse que não as jogasse no chão, mas ela olhou direto nos meus olhos e

Price observou enquanto Jason estava filmando um comercial — uma tarefa longa, árdua e normalmente entediante. T.J. estava ficando sem paciência, e Joumana estava fazendo o que podia para impedir que o filho entrasse no local de gravação, o que somente atrasaria a filmagem e faria que começassem tudo de novo.

Numa tentativa desesperada de distrair o menino, Joumana o agarrou e perguntou: “Como foi sua aula na escola hoje?”.

T.J. se virou e “acertou um direto no rosto” dela, com a mão direita.

Joumana simplesmente segurou a mão dele e repetiu a pergunta.

T.J. acertou-a novamente e, então, foi embora. Em vez de disciplinar seu filho, Joumana simplesmente jogou uma bola na direção dele. T.J. riu, pegou a bola e começou a brincar com ela, tal como seu pai.

Esta história ensina a importância de duas coisas. Primeiro, as crianças estão assistindo e elas imitarão não apenas nossos bons hábitos, mas também os ruins. Segundo, as mães não podem ignorar um desrespeito tão flagrante.

Agora que adverti você de não exagerar na disciplina do seu filho, quero apresentar um contraponto, insistindo para que não o discipline de menos. Existe um limite entre esperar perfeição e deixar seu filho fazer tudo o que quiser sem consequências; nem sempre é fácil, mas você precisa encontrar a paciência para disciplinar de maneira consistente.

Quando as crianças vão mal, normalmente costumo apontar para um dentre dois problemas: ou elas foram excessivamente disciplinadas por pais rígidos, ou lhes foi permitido seguir livremente. As duas pontas do espectro arruinam o caráter de qualquer um.

Com os primogênitos em particular, você precisa definir claramente quais são as regras — precisa segui-las. As regras devem ser justas e têm de estar de acordo com a idade (isto é, guardar um brinquedo para que seu filho fique sem brincar com ele durante um dia), e deve haver consequências para o não cumprimento dessas regras. A razão de isso ser tão importante para os primogênitos é que o primeiro filho não tem o benefício de observar os irmãos mais velhos; ele não tem em quem se espelhar para lidar com suas roupas sujas, por exemplo. Você precisa lhe dizer.

Ora, é certo que existe uma diferença entre ser específico e exagerar. Quando seu filho lhe pergunta que horas são, você não deve fazer uma palestra sobre a história do relógio, desde o relógio de sol. Por outro lado, como eu já disse, com um primogênito você talvez tenha de dizer mais que simplesmente “quase meio-dia”. Outra maneira de colocar a questão, para usar alguns clichês, é dominar as coisas maiores e não exagerar nas pequenas. Uma criança que derruba uma almofada não é algo tão sério; uma criança de 3 anos que dá um tapa no rosto de sua mãe é uma coisa séria, que deve ser tratada, e não ignorada.

9. DEIXAR OUTRAS PESSOAS CRIAREM O FILHO

Este é o seu filho. Ninguém mais o amará como você o ama. Ele pode ter chegado num momento inconveniente. No que se refere à sua carreira, ele pode representar um grande contratempo para seu crescimento profissional. Talvez você não esteja financeiramente pronta. Mas ele está aí. O que você vai fazer em relação a isso?

Você não pode colocar seu filho no “modo espera” por cinco anos até que você esteja financeiramente mais segura e sua carreira tenha se estabilizado. A cada segundo, as crianças marcham cada vez mais rápido pela estrada da independência — e raramente retrocedem. Um bebê estará nos braços o dia inteiro; uma criança de 2 anos ficará no colo só um pouco de tempo, até que queira descer para correr.

Se você não diminuir o ritmo nos primeiros três anos, adivinhe só? O “cimento fresco” da vida de seu filho já terá começado a endurecer. De fato, os primeiros cinco anos serão os mais importantes da vida de seu filho, em termos de desenvolvimento. Você está disposta a desprezar essa fase até que consiga deixar seu emprego em ordem? Espero que não!

Se houvesse outra maneira, eu ficaria bem feliz em lhe dizer qual seria, mas não há. A pessoa que passa a maior parte do tempo com seu filho nesses primeiros cinco anos é aquela que mais influenciará seu desenvolvimento. O local onde seu filho cresce terá um grande impacto sobre seus valores, crenças e atitudes. Se você criar um ambiente sadio e harmonioso em torno de seu primogênito, essa criança provavelmente terá uma perspectiva saudável e bem equilibrada da vida.

Isso significa que você terá de tomar algumas decisões difíceis — e fazer alguns sacrifícios. Mas, no final, valerá a pena. Este assunto é tão importante — e tão calorosamente discutido pelos pais de primeira viagem — que merece um capítulo inteiro (veja o capítulo 6, “Trabalhar fora de casa ou não?”).

Outra maneira de deixar que outra pessoa crie seu filho é ceder muito facilmente aos conselhos de seus pais ou sogros. Como mãe de primeira viagem, pode ser que leve um tempo até que você assuma seu papel como adulta, responsável pelas decisões que toma. Mas lembre-se de que você não está mais debaixo da autoridade de seus pais. Você precisa fazer o que você achar melhor — não importa o que seus pais ou sogros pensem (ou o que digam na sua frente ou nas suas costas). É você quem está no comando, de modo que deve assumi-lo. Ninguém conhece seu filho melhor que você.

10. PERMITIR QUE O FILHO SEJA O CENTRO DO UNIVERSO

Até os 2 anos de idade, a palavra preferida de uma criança é meu. Isso é especialmente verdadeiro em relação ao primogênito, que raramente precisa compartilhar alguma coisa. Uma criança que começa a andar está começando a se identificar consigo mesma e com as coisas ao redor, e associa a si mesma toda pessoa e todo objeto. Uma pessoa que a trata de maneira agradável é uma pessoa agradável (até que aquela pessoa faça algo que a desagrade). Um brinquedo que ela quer é um brinquedo que ela tem de ter, simplesmente pelo fato de que ela o quer.

A mãe esperta ensinará a seu filho a importância de compartilhar e de dar.

Ei, mamãe, dê uma olhada em volta: o que você vê no supermercado ou no shopping center? Você vê o que eu vejo? Você vê crianças de pouco menos de 1 metro fazendo todo tipo de exigência aos adultos? “Não, eu não quero Batavinho; eu quero Danoninho!” Ao olhar ao redor, vejo um monte de crianças pequenas, hedonistas e egocêntricas, com um único propósito: “Tudo para mim!”.

Você consegue culpá-las? Pense naquilo que lemos. Revistas como People, Self, US, até mesmo o jornal USA Today, na seção Vida— todos eles estão cheios de histórias sobre pessoas que olham para a vida e dizem “Tudo para mim!”. Por nossa própria natureza, nós nos importamos primeiramente conosco. Mas não é bom ler sobre alguém que se entregou sacrificialmente por outra pessoa? Talvez um irmão tenha doado um rim à sua irmã menor; talvez um presidiário que, ao sair no indulto de Natal, encontra uma carteira com 1.000 reais e a devolve. Como podemos criar filhos para que sejam assim?

Felizmente, penso que essa mentalidade do “eu primeiro” está chegando ao fim. Ou pelo menos estamos finalmente acordando para o fato de que outras pessoas são importantes, têm necessidades e desejos. Essa é uma lição que precisa ser ensinada às crianças pequenas.

Contudo, você deve ter consciência de que as crianças com menos de 2 anos passam naturalmente pelo estágio do “meu”. Tentar forçá-las prematuramente a deixar isso não vai funcionar. Há pouco tempo, estive num restaurante onde havia uma mãe e seu filho de 1 ano e meio sentados logo atrás de mim. Além da criança de um 1 ano e meio, a mãe tinha consigo um bebê de colo. Por alguma razão, a mãe insistia que a criança mais velha compartilhasse seu livro com o bebê, que obviamente não podia lê-lo. Isso só fez a criança de 1 ano e meio gritar ainda mais alto: “Meu livro, meu livro, meeuuu liiivrooo!”.

Embora eu compreendesse, e até mesmo apoiasse, o desejo dela de criar um filho capaz de compartilhar, minha vontade era me virar e dizer-lhe que seu filho estava passando por um estágio de desenvolvimento psicológico e social observado em qualquer criança. A insistência da mãe sobre o compartilhamento do livro com o irmão menor — que não podia ler ou que nem mesmo gostaria do livro — era não apenas um esforço inútil, como também não ajudaria seu filho em nada.

Você não pode forçar todas as lições — nem mesmo as mais importantes. À medida que se aproximar dos 3 anos, a criança vai melhorar na questão do compartilhamento, contanto que você não a tenha levado a se ressentir do processo antes disso! Compartilhar é algo que você ensina por meio da demonstração. Você deixa seu filho ficar com alguma coisa sua e diz: “Viu só, Jorginho? Mamãe divide com você, papai divide com você, vovô e vovó dividem com você. Às vezes você precisa dividir com a bebê Alice”.

A medida que passam dos 3 para os 4 anos, as crianças ficam mais agressivas em relação a isso. Ajude seu primogênito a desenvolver a autodisciplina, esperando sua vez, sem furar a fila do quiosque de sorvete de casquinha: “Querido, precisamos esperar. Está vendo as outras pessoas à nossa frente? Aquele menino vai pegar o sorvete dele, depois aquela menina vai pegar o dela, depois aquele papai com seus dois filhos vai pegar os sorvetes deles e então será a nossa vez. Agora, precisamos pensar: qual é o sabor que vamos querer quando chegarmos lá na frente?”. Você precisa ensinar seus filhos a ter consciência dos outros e não furar a fila de maneira egoísta.

É por isso que, se seu filho for a única criança da família, você pode considerar o jardim de infância como uma opção interessante pela seguinte razão: quando uma criança chega aos 3 anos, ela precisa ser ensinada a compartilhar, a esperar a vez, a competir e a trabalhar com outras crianças. Se seu filho não tem irmãos, a escolinha é um bom lugar para aprender essas lições. Se não frequentar o jardim de infância, certifique-se de reservar momentos de brincadeira nos quais ele possa interagir com outras crianças — e de que você nem sempre virá em seu socorro antes que ele tenha tempo de desenvolver suas próprias interações com as demais crianças.

ARREDONDE OS CANTOS

Todos esses dez erros giram em torno das mais prováveis deficiências de caráter de um primogênito. Você pode criar um líder ou um tirano, dependendo de como a criança aprende a ser altruísta ou egoísta. Você pode criar um influenciador ou um delinquente juvenil, dependendo do fato de seu primogênito ser disciplinado de maneira excessiva ou de não receber disciplina. Você pode criar um primogênito hábil ou ressentido, conforme você olha para ele em tom de crítica ou lhe fornece uma dose saudável de vitamina E.

Portanto, aceite as qualidades singulares de seu filho, abrace as tendências que os primogênitos desenvolvem em razão de seu lugar na árvore genealógica da família, mas depois arredonde os cantos mais ásperos. Elimine as pontas afiadas. Ele já está programado para o sucesso. Seu trabalho é simplesmente apontá-lo na direção certa.

Os dez erros mais comuns dos pais de primeira viagem

  • Olhar crítico
  • Excesso de atividades
  • Falta de vitamina N
  • Falta de vitamina E
  • Envolvimento no jogo de comparações
  • Excesso de agitação
  • Excesso de disciplina
  • Falta de disciplina
  • Deixar outras pessoas criarem o filho
  • Permitir que o filho seja o centro do universo
Trecho do livro: 
Mãe de primeira viagem: Como lidar com os desafios da maternidade - do nascimento ao primeiro ano da pré-escola