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Pediatria Simples

Salmo 23 - Parte 4

O Senhor é meu pastor. Nada me faltará... Assim começa o Salmo que, ha milhares de anos, tem sido fonte universal de consolo e coragem frente à dor e a perda. Neste livro, Harold Kushner expõe o que está célebre passagem da Bíblia tem a nos ensinar sobre a vida diária. Cada capítulo discorre sobre um versículo - situando no contexto do tempo em que foi escrito e na atualidade. Todos os capítulos contém lições importantíssimas para a atualidade.

Como não há tradução deste livro para o Português, decidi fazer a tradução aos poucos - usando o Google Translate Toolkit - e publicando seus capítulos aos poucos. Não tenho prazo para concluir o trabalho (quem quiser ajudar na Tradução/Revisão será bem-vindo!)

Harold S. Kushner é Rabino Laureado do Temple Israel, em Natick, Massachusetts, e autor de vários livros de sucesso. Tanto no púlpito quanto por meio de suas obras, vem ajudando as pessoas a enfrentar os acontecimentos difíceis da vida: a perda, a culpa, crises de fé.

Em 1999 foi eleito o Clérigo do Ano pela Religion in American Life. Entre seus livros estão Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas, Quem precisa de Deus?, O quanto é preciso ser bom e Quando tudo não é o bastante.

SALMO 23
Um salmo de Davi:
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranqilas.
Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

CAPÍTULO QUATRO

Deitar-me faz em pastos verdejantes

Uma velha piada fala de pai e filho indo passear no parque. O menino pergunta ao pai: "Papai, por que o céu é azul?"
O pai responde: Que tipo de pergunta é essa? O céu é azul porque é azul! É só isto.
Um momento depois, o menino pergunta: "Papai, por que a grama é verde?"
O pai responde: Como eu vou saber? A grama é verde porque é a cor dela. Se não fosse verde, não seria grama.
Timidamente, o menino pergunta: "Papai, você se incomoda de eu fazer todas essas perguntas?"
Ao que o pai responde: Não, vá em frente. De que outra forma você irá aprender?"

Podemos, de fato, responder por que o céu é azul e a grama é verde, pelo menos teologicamente, e a resposta é que Deus criou o mundo para que pudéssemos viver confortavelmente nele.

Estas são as cores do arco-íris de cima para baixo, de fora para dentro: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho. Para entender como vemos as cores, precisamos lembrar que a luz é uma forma de energia. A luz atinge nossos olhos em freqências diferentes, criando diferentes níveis de intensidade. Para cores brilhantes, vermelhas e amarelas, as ondas são mais longas e batem nos olhos com mais força, assim como as ondas do mar mais altas e mais longas nos atingem com mais força. Você deve ter notado que os taxis são geralmente brancos, amarelos ou vermelhos, em vez de cores mais escuras, mais fáceis para outros motoristas verem e evitarem acidentes. Cores mais escuras, azuis e verdes emitem ondas mais curtas e atingem os olhos mais suavemente.

As cores brilhantes são emocionantes para os olhos, exigindo serem notadas. Vermelho tem conotações de sangue e paixão. Quando o artista John Singer Sargent pintou um retrato de uma mulher da sociedade vestindo um vestido vermelho, ele estava insinuando sua natureza apaixonada. No romance de Nathaniel Hawthorne, A Letra Escarlte, quando a comunidade quer estigmatizar Hester Prynne como uma mulher que não consegue controlar suas emoções, elas a obrigam a usar uma letra A [de adúltera] vermelha em sua roupa. Quando os nazistas começaram a separar os judeus do resto da população, fizeram com que usassem estrelas amarelas em suas roupas para que fossem rapidamente percebidos.

Mas também existem cores calmantes. Os quartos do hospital costumavam ser pintados de branco, refletindo o compromisso dos hospitais com a limpeza completa. Posteriormente, descobriu-se que os pacientes se sentiam melhor se as paredes fossem pintadas de verde-claro ou azul claro, cores suaves, em vez de branco puro.

Deus coloriu Seu mundo em cores predominantemente calmas, céu azul, folhas verdes, água azul esverdeada, árvores marrons, cores que acalmam em vez de excitar. Isso pode explicar um fenômeno que há muito me intriga: por que somos tão atraídos pelas montanhas e pela praia quando saímos de férias? Por que conseguimos nos sentar à beira de um lago por uma hora ou mais, apenas olhando para a água e nos sentindo relaxados?

A resposta, penso eu, é que o mundo de Deus, decorado em azul e verde, nos acalma, banhando suavemente nossos olhos com cores suaves de baixa intensidade. Gastamos tanto tempo de nossas vidas ambientes artificiais, com iluminação artificial, aquecimento e resfriamento artificiais, luzes de néon brilhantes e programas de televisão coloridos, que quando temos um dia livre, um fim de semana prolongado, férias, sentimos instintivamente a necessidade de encontrar o caminho para o mundo de Deus com sua paleta mais tranquila.

Lembro-me de ouvir uma palestra de um arquiteto paisagista que disse que pesquisas indicam que a visão mais satisfatória de uma janela panorâmica era para um ambiente verde com algum elemento de água. Em um artigo intitulado Why Scenery Makes Us Happy ["Por que o cenário nos faz feliz"], a psicóloga Sharon Begley sugere que tal paisagem "nos enche de uma sensação de segurança, fácil acesso a alimentos e baixa exposição a predadores". Quando o salmista agradece a Deus, seu fiel pastor, por fazê-lo deitar-se em pastos verdejantes em águas calmas, talvez ele esteja agradecendo não apenas pela comida e pelo pasto, mas também pela própria sensação que o 'verde' traz. Depois de um dia cansativo, ele pode ter estado em um lugar relaxante que lhe trouxe de calma e descanso. E ele é grato pela oportunidade de se deitar, e ter um momento de parar. Ele entende que se tivesse que estar em movimento o dia todo, o tempo todo, como seus ancestrais - enquanto eram escravos no Egito -, ele se desgastaria. Ele é grato por ter um lugar de descanso verde e fértil, ao invés de seco e duro. Esta é uma forma de Deus estimular nosso senso de segurança, proporcionando um refúgio de um mundo barulhento e intrusivo, uma alternativa à maneira como passamos muitas das nossas horas.

Algum tempo atrás, alguns amigos e eu nos colocamos no quebra-cabeça intelectual de decidir quando o século XX começou. Não estávamos, obviamente, falando sobre o calendário, mas sobre qual era a maior diferença entre a vida no século XIX e a vida no século XX. A sugestão que ganhou o maior apoio foi a invenção da eletricidade. (Menção honrosa seja feita para o automóvel e a Primeira Guerra Mundial.) A eletricidade nos libertou de regular nossas vidas pelos ritmos da natureza, levantando-se de madrugada e acendendo uma vela ou lâmpada a querosene para encontrar nosso caminho para a cama depois do pôr-do-sol. Permitiu-nos dominar a noite enquanto governávamos o dia. Essa capacidade de convocar luz e dissipar a escuridão aumentou muito nossa sensação de domínio sobre o mundo, com boas e más consequências. Este advento permitiu o rádio, o fonógrafo, o cinema, à televisão e à criação de uma cultura popular compartilhada por uma nação inteira. Mas, neste processo, tornou muitos de nós alienados do mundo natural. Gastamos mais de nossas horas acordados sob luzes brilhantes do que no mundo de Deus: sob o céu azul e a grama verde. A vida se tornou mais agitada. Nos sentimos mais ansiosos e emocionalmente exaustos.

Evan Eisenberg, em seu livro "The Ecology of Eden" [A Ecologia do Éden], distingue entre culturas de montanha e culturas de torre. Nas culturas de montanha, as pessoas vivem no mundo de Deus. Eles consideram a natureza com reverência, o tipo de sentimento que nos leva a palpitar o coração ao olhar para uma cadeia de montanhas. Eles buscam se integrar no mundo de Deus. No Salmo 121, o salmista eleva seus olhos para os montes e lembra-se de que Deus é seu auxílio e fonte de suas forças. Por outro lado, nas culturas de torre, as pessoas vivem em um ambiente criado pelo homem. Eles consideram a natureza como matéria-prima; reunindo esforços para reformulá-la e melhorá-la. E gastam muito tempo admirando o trabalho de suas próprias mãos. Como resultado, encontrar Deus fica cada vez mais difícil.

Durante a maior parte do século XIX, nos Estados Unidos, as pessoas viviam em culturas de montanha. Trabalhavam ao ar livre, agricultura, extração de madeira, cavalgando de um lugar para outro a cavalo, cercados por árvores e campos verdes, céus azuis e lagos. O trabalho era fisicamente exigente, mas o ambiente contribuía para o relaxamento. O mundo ao redor era, de certa forma, calmante. Para quebrar a rotina e obter alguma agitação os americanos do século XIX eram atraídos por espetáculos de cores vivas, atores e palhaços em trajes vermelhos e amarelos, atos emocionantes com fogo e animais selvagens. Com o progresso do século XX, cada vez mais americanos passaram a viver nas cidades, a apoteose da cultura da torre. Passaram a viver e trabalhar entre prédios altos e em fábricas escuras, quase sem um lampejo do céu e praticamente sem grama para serem vistos. Hoje, passamos os dias sobrecarregados com estímulos, assaltados por luzes fortes e ruídos altos o dia todo, e quando buscamos alguma diversão - como um programa de televisão -, o ritmo é barulhento e acelerado, filmes são cheios de explosões e acidentes de carro. Chega um momento em que este tipo de divertimento não nos atrai mais como antes. Cores brilhantes e atos estimulantes passam a ser as últimas coisas de que precisamos. É aí que precisamos entender a necessidade de uma pausa. Nossas almas anseiam os relaxantes azuis e verdes da beira-mar, do lago, da floresta. Isso também explica por que tantos moradores da cidade, assim que podem, fogem das cidades e se mudam para os subúrbios calmos, cortando a grama, deixando as crianças livres na vizinhança e aceitando viajar uma hora para trabalhar. A paleta de cores de Deus, em vez da do homem.

Como muitos leitores podem saber, os judeus celebram o festival de inverno de Hanukkah acendendo velas na época mais escura do ano. Acendemos uma vela na primeira noite do feriado de oito dias, duas no segundo e assim por diante. Em dezembro, recebi um telefonema de um membro de minha congregação que me disse que recebera uma menorá elétrica (o candelabro de Hanukkah) como presente, uma que usava lâmpadas em vez de velas. Ela queria saber se seria apropriado usá-la para o feriado. Eu disse a ela que, enquanto menorahs elétricas são aconselháveis para celebrar Hanukkah em quartos de hotel, dormitórios de faculdade e outros locais onde a queima de velas pode ser um risco à segurança, não se recitam as tradicionais bênçãos de Hanukkah sobre uma lâmpada. Ligar uma luz elétrica é estar na presença de um artefato humano. Acender um fogo, acender uma vela, é estar na presença de um dos dons de Deus para o mundo.

Da mesma maneira, trabalhar em um escritório totalmente climatizado e totalmente elétrico é habitar um mundo que é produto de mentes e mãos humanas. Eu aprecio o conforto, mas devo lembrar que isso me tira do mundo que Deus criou, e ao fazer esta troca eu perco algo precioso. Deitar-se em pastos verdes é viver no mundo de Deus. O barulho das buzinas e dos carros de bombeiros nos mantém acordados à noite. O som dos grilos cantando e as ondas batendo na praia nos acalmam.

Então, por que o céu é azul? Por que a grama é verde? Uma resposta é que Deus em Sua sabedoria antecipou um tempo em que as pessoas seriam superestimuladas por luzes fortes e cores fortes, e Ele nos forneceu uma fuga de toda esta estimulação, um mundo formado em cores que relaxam o olho e a alma. Quando estamos exaustos pelas tensões de viver num mundo artificial, quando ansiamos pela paz e serenidade que o salmista conheceu e valorizava, sem serem perturbados pelo barulho dos automóveis e pelo clangor das risadas da televisão, sabemos onde encontrá-lo. Deus nos deu pastos verdes para nos deitar, árvores verdes para contemplar, um céu azul para elevar nossas almas. E devemos agradecer a Ele por isso.

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