Sobre a alternância de antitérmicos
A prática de combinar drogas antitérmicos simultânea ou alternadamente, embora desaconselhada pelos especialistas, é bastante popular entre profissionais de saúde e cuidadores. A revisão criteriosa da literatura revela apenas seis estudos randomizados que compararam diversos modos de combinação de acetaminofeno e ibuprofeno com monoterapia.
Em dois estudos, compararam-se monoterapia com ibuprofeno e acetaminofeno e a administração simultânea de ambas as drogas. Verificaram que a combinação seria marginalmente superior ao acetaminofeno e não mais efetiva do que o ibuprofeno sozinho. Porém, ambos os estudos tinham problemas de validade, seleção de amostra e aferição de temperatura além de duas horas.
Os autores de um dos estudos concluíram pela não recomendação da combinação de drogas. Três estudos mostraram superioridade da alternância de acetaminofeno e ibuprofeno em relação a ambas as drogas isoladas. Além de problemas de validade e tamanho das amostras, houve vieses causados por doses inadequadas e as diferenças médias da redução de temperatura, ainda que estatisticamente significativas, eram clinicamente insignificantes, não passando de 1ºC. Neste grupo, os autores de dois estudos concluíram pela não recomendação da alternância.
Um estudo mais recente mostrou que tanto a administração simultânea como alternada de acetaminofeno e ibuprofeno teria efeito antitérmico mais prolongado do que o ibuprofeno sozinho, mas - de novo - a magnitude da redução da temperatura não passava de 1ºC, além de não haver diferença nas primeiras quatro horas e, portanto, concluíram pela não recomendação da alternância. Além das diferenças clinicamente desprezíveis, as maiores críticas aos regimes de drogas combinadas apontam o risco nefrotoxicidade e de erros de dosagem por confusão dos cuidadores. Sobretudo, segundo Edward Purssell, estudos como os descritos acima podem ser lidos sem cuidado e usados por aqueles que não entendem os riscos e benefícios de tal abordagem para apoiar um tratamento que não é necessário, para um sintoma que na verdade não precisa de tratamento, nas mãos de pessoas que têm uma chance relativamente alta de fazer o tratamento errado. Com essas ressalvas em mente, sugere que os médicos devem continuar a seguir as principais diretrizes de especialistas e aconselhar os pais a usar somente uma droga antitérmica por vez.