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Pediatria Simples

Tratamentos Alternativos

Qual a minha relação profissional com as chamadas Terapias Alternativas? Tenho profundo respeito pelos colegas médicos que não medem esforços para beneficiar seus pacientes. No entanto, após avaliar cuidadosamente a história e os princípios destes tratamento é possível observar que pecam em relação ao ceticismo científico. A seguir reproduzo trechos extraídos de dois excelentes livros sobre A História da Medicina.


UMA GOTA NO OCEANO

O doutor John Brown (1735-88), de Edimburgo, ex-teólogo, resolveu o mistério da vida. A vida acontecia e continuava por meio do estímulo fornecido ao corpo humano por alimento, movimento, calor, emoção, pensamentos e coisas semelhantes. Se o estímulo fosse exageradamente aumentado, provocava doenças estênicas, que podiam ser tratadas com sedativos. Se fosse diminuído, causava as doenças astênicas, que exigiam excitação. Esse era o Sistema Brunoniano, que dividiu de tal modo a opinião da classe médica a ponto de a cavalaria de Hanover ser chamada em 1802 para dispersar uma manifestação violenta que durou dois dias, na Universidade de Gttingen. O tratamento recomendado por Brown era ópio e álcool, em grandes quantidades. Ele próprio se tratava com vinho, cinco copos em rápida sucessão, e isso o matou. Mais tarde, com grande ingratidão, atribuíram a ele um número de mortes superior ao da Revolução Francesa e das Guerras Napoleônicas combinadas.

A reação ao método de Brown veio de Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843), de Leipzig, que em 1810 inventou a homeopatia. Ele concluiu que os medicamentos só deviam ser tomados em doses mínimas. Como Paracelso (1493-1591), Hahnemann acreditava no adágio a mordida do cão cura-se com o pêlo do próprio cão". Se a beladona provoca manchas avermelhadas, toma-se beladona para a escarlatina. Com mais lógica, ele afirmava que só se devia fazer um tratamento de cada vez.

A doutrina homeopática viajou para a América onde, mais tarde, foi classificada pelo doutor Oliver Wendell Holmes como uma mistura confusa de engenhosidade perversa, falsa erudição, credulidade imbecil e hábil deturpação. Mesmo assim, seu criador morreu milionário, em Paris. Existem ainda adeptos de Hahnemann na medicina que, como religiosos, têm sua catedral no Hospital Real Homeopático de Londres. Quando a rainha Adelaide consultou um homeopata, Guilherme IV ordenou ao médico real, Robert Keate (1777-1857):

Examine a receita que ele der a ela para ver se a rainha pode tomar sem perigo.
Prometi fazer isso, e quando recebi a receita, disse: Ah, majestade, ela pode tomar durante sete anos que, no fim desse tempo, não terá tomado nem um grama de medicamento.

A realeza é sujeita a distúrbios como qualquer um de nós. Todos temos o mesmo corpo, como lamentava Henrique V na noite anterior à batalha de Agincourt.

FICÇÃO CIENTÍFICA

A medicina alternativa deve ser vista em perspectiva. Do contrário, ela desaparece sob o horizonte.

Alternativa é a palavra da moda para fazer parecer importante o que não tem nenhum significado. Ela serve para enfeitar um misto de misticismo medieval, herbalismo, modismo dietético, brinquedos elétricos, superstição, sugestão, ignorância e pura fraude.

Podemos tentar a aromaterapia, que cheira bem, a dançaterapia, que é divertida, a ioga e a meditação, que nos proporcionam uma noite tranqila, a iridologia, quando temos à mão olhos que valem a pena ser olhados, a quiromancia, que submete nosso destino às linhas fibrosas nas palmas das nossas mãos, o exorcismo, quando se consegue convencer o padre e a ciência cristã, para quem quer viver perigosamente.

Podemos evocar da fumaça do dragão da história chinesa as forças vitais do yin e do yang e apunhalá-las, efetuando com a acupuntura a contra-irritação do antigo cataplasma de mostarda, que os médicos aplicavam no peito, na barriga e no traseiro. Podemos mandar uma gota do nosso sangue ou do sangue do nosso gato para uma caixa negra com um mostrador e botões, a qual nos dá um diagnóstico. Esse instrumento foi defendido na alta corte de justiça em 1960, porque seu inventor acreditava nele, como exemplo do antigo princípio legal de que, se você pensa que é inocente, então deve ser inocente.

É realmente seguro para mim procurar uma pessoa sem qualificação para a medicina?, pergunta o guia ricamente ilustrado da saúde alternativa. E responde: "Fico tentado a sugerir que faça a você mesmo outra pergunta, em lugar dessa: Será seguro procurar o meu médico? Os medicamentos atuais são tão poderosos que se alguma coisa sair errada, os efeitos do remédio podem ser piores do que a doença. Resumindo, a medicina natural é mais segura simplesmente porque não confia tanto nos medicamentos artificiais.

Minha nossa! Se você está doente, precisa de tratamento científico. As únicas doenças que os curandeiros curam são as que seus clientes imaginativos não têm.

A relação da medicina com o charlatanismo é a mesma da astronomia com a astrologia. O que as estrelas predizem para os leitores de jornais é inofensivo, mas o lançamento de um ônibus espacial ou de um satélite, orientado pela astrologia, ao invés da astronomia, seria desastroso. Mas a humanidade sofre de uma fascinação eterna pelos charlatães. Talvez porque todos nós gostemos de pensar que sabemos mais do que nossos médicos. Talvez porque:

O paciente, como um homem que se afoga, agarra qualquer graveto e espera encontrar no mais ignorante o alívio que o médico, com toda sua ciência, não pode dar,

como observou o Spectator; em 26 de julho de 1714.

Talvez porque:

Sua vantagem enorme sobre a ciência é o falo de o amor pelo mistério estar profundamente implantado no coração humano,

como sugeriu a Revista Britânica de Medicina em 1911.

Talvez porque:

O mundo geralmente é contrário

A todas as verdades que vê e ouve,

Mas engole as bobagens e a mentira

Com avidez e gula

como observou Samuel Butler. Talvez porque, como suspirava Plínio:

Minus credunt quae ad suam salutem pertinent, si intelligunt. (As pessoas acreditam menos em assuntos relativos à sua saúde quando os compreendem.)

O doutor Carl Reinhold August Wunderlich (1815-77), de Leipzig, previa em 1858:

Se o médico sofre às vezes injustiça ou incompreensão, se seu trabalho honesto uma vez ou outra é ignorado ou até desdenhado, ele deve lembrar que aos olhos majestosos da Natureza o indivíduo não é nada. E por mais deprimido que possa se sentir quando intrigantes e charlatães anunciam em altas vozes seus sucessos efêmeros, ele pode estar certo de que esses presunçosos serão suplantados, no fim, pelos espinhos da consciência. Pois a ciência natural é uma força que avança orgulhosa e silenciosamente, da qual as esferas mais ameaçadas por ela sequer têm conhecimento.

Não perca seu tempo com os vagabundos na praia selvagem da ciência.


O início da era vitoriana presenciou uma miríade de movimentos médicos, como a homeopatia, naturopatia, botânica médica e espiritualismo. A frenologia crença em que o caráter é determinado pelo tamanho relativo de diferentes partes do cérebro, sendo assim conhecido através da palpação dos abaulamentos da cabeça e o mesmerismo (e sua forma híbrida, frenomesmerismo) foram outras. Todas entraram em conflito com a medicina convencional. Cada uma falava, em sua própria linguagem, que todo o sistema da medicina alopática estava radicalmente errado. Caracteristicamente elas acusaram o ortodoxo de lutar contra as doenças corriqueiras com drogas venenosas. Cada uma delas oferecia um novo plano de vida baseado nas tendências da natureza e defendia o uso de métodos mais naturais de cura usando ervas apenas ou água pura. Cada uma declarava investir no indivíduo com o novo controle sobre sua saúde, como parte de uma cultura de automelhora e realização. Os médicos hereges duplicaram tal qual os políticos hereges e também na fé, ao mesmo tempo que cultivavam estilos de vida nada ortodoxos.

O holismo estava novamente na moda, prometendo não a abordagem da pílula para todos os males, mas, em vez disto, uma saúde mais positiva. A cura alternativa promete perspectivas entusiasmadas: medicações leves tonificantes da vida, provenientes do seio da mãe natureza terapias livres do impessoal high-tech. Porém, como é evidente, ao atacar as simplicidades da medicina convencional, a medicina alternativa cria, ela própria, uma filosofia simplista do tipo branco no preto. Eles estão ameaçando seu bem-estar com produtos químicos e pesticidas, alimentos processados e poluição. Você pode ficar livre e seguro disto, seguindo a mãe natureza comendo alimentos naturais e, assim fazendo, recuperando suas energias naturais e forças vitais.

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Até onde as drogas são concebidas, as terapias alternativas ou complementares são a homeopatia e o herbalismo. Os princípios da homeopatia envolvem a rejeição de toda a base da física e da química ortodoxas, e o uso homeopático de remédios não depende da ação dos mesmos como estudada pelos farmacologistas, mas de um sistema nada convencional de crenças. Remédios vegetais existem desde muito antes que qualquer avaliação de medicamentos fosse pensada. Vieram muitas drogas importantes de plantas, incluindo a beladona, o curare, a codeína, o digital, a ipecacuanha e a nicotina. Todas estas são potentes, e as plantas que as produzem são reconhecidas como tóxicas. Muitos outros remédios de plantas permanecem de valor não provado, ao menos por padrões científicos.

Sem uma ação demonstrável, nenhum ingrediente ativo pode ser identificado. Muitas preparações de ervas disponíveis não oficialmente não contêm qualquer substância potente e, como remédios homeopáticos, dão conforto se agradam o paciente. Contudo, um bom número de plantas de jardim são venenosas, e qualquer autotratamento com estas plantas é perigoso. Com a inclinação para um modo verde de vida, o auto-envenenamento com ervas naturais está sendo visto mais freqentemente. Mesmo ervas aparentemente leves como chás podem causar dano, se tomadas regularmente por longos períodos de tempo. Também, remédios de plantas são ocasionalmente adulterados com drogas químicas para adquirirem maior potência, a despeito da segurança, e a falta de controle da venda de remédios de plantas é uma causa de preocupação crescente. Homeopatia e herbalismo, assim como a fé em vitaminas, têm favorecido principalmente condições em que sintomas mais do que mudanças objetivas são proeminentes. A medida do beneficio é difícil, e a avaliação por estudos controlados sérios é rara.

Drogas potentes são tão perigosas como o bisturi afiado do cirurgião e devem ser manipuladas com igual cuidado para fazerem o bem. O uso apropriado de remédios ortodoxas trouxe grandes triunfos em prolongar a vida e aliviar o sofrimento, e é bobagem desprezar ou subestimar esta aquisição. Quanto maior o poder do remédio, maiores os riscos do seu mau uso.